Solidão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ''Pensamento no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão''. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 218.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: '''Pensamento no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão'''. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 218.
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: O [[sou]] do [[eu]] nunca pode ser ocupado por qualquer [[outro]] [[sou]]. Caso isso acontecesse algum [[sou]], algum [[próprio]], seria anulado, deixaria de [[ser]] o que [[é]], porque todo [[sou]] é único e abismalmente [[solitário]], porque [[possibilidade]] de [[plenitude]], ''[[eros]]''. A [[solidão]] do [[eu]] é o [[sou]] que todo [[eu]] [[é]]. A [[solidão]] [[é]] o [[eu]] incorporado ao [[sou]] e este a [[plenitude]] de [[sentido]] e [[corpo]]. Nessa [[solidão]] o [[outro]] só pode ser acolhido amorosamente como o [[não-eu]] do [[eu]], como o [[não-sou]] do [[sou]], mas jamais se pode tornar [[outro]] [[sou]] que não o que ele [[é]], ou seja, [[ser]] ocupado e habitado pelo que não é ele mesmo: seu [[próprio]].
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: '''Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão'''.  SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 219.
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: (1) Filme ''A mulher canhota''. Direção e roteiro: Peter Handke, 1978. Produção de Wim Wenders.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista '''Tempo Brasileiro - Globalização, pensamento e arte''', 201/202. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 22.
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: (1) FOGEL, Gilvan. "O desaprendizado do símbolo (A poética do ver imediato)". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 171, ''Permanência e atualidade da Poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 40.
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: (1) FOGEL, Gilvan. "O desaprendizado do símbolo (A poética do ver imediato)". In: Revista '''Tempo Brasileiro - Permanência e atualidade da Poética''', 171. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 40.
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: "Eu me sentia [[sozinha]], mas a [[solidão]] era minha. Não foi ele quem a criou. Ninguém cria a nossa [[solidão]]. Ninguém cria a [[escuridão]] que a gente carrega. Cada um tem a sua. E como a gente lida com ela é que faz a [[diferença]]". Fala de Liv Ullmann. (1).
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: "[[Eu]] me sentia [[sozinha]], mas a [[solidão]] era minha. Não foi ele quem a criou. Ninguém cria a nossa [[solidão]]. Ninguém cria a [[escuridão]] que a gente carrega. Cada um tem a sua. E como a gente lida com ela é que faz a [[diferença]]". Fala de Liv Ullmann. (1)
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: Contextualizando esta fala de Liv Ullmann: Ela  se refere à sua vida com Ingmar [[Bergman]] na ilha onde ele tinha a casa e onde ela morava com ele. [[Bergman]] vivia recluso nessa sua casa e não permitia que ela recebesse visitas. Daí a forte tendência para se sentir [[só]].
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: Contextualizando esta fala de Liv Ullmann: Ela  se refere à sua [[vida]] com Ingmar [[Bergman]] na ilha onde ele tinha a casa e onde ela morava com ele. [[Bergman]] vivia recluso nessa sua casa e não permitia que ela recebesse visitas. Daí a forte tendência para se sentir [[só]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) Do filme em que Liv Ullmann narra a sua vida afetiva com Bergman e sua vida  professional: ''Liv & Ingmar - Uma História de Amor''. Serendip Filmes, 2013.
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: (1) Do filme em que Liv Ullmann narra a sua vida afetiva com Bergman e sua vida  professional: '''Liv & Ingmar - Uma História de Amor'''. Serendip Filmes, 2013.
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: (1) Filme: ''Confissões privadas''. Direção de Liv Ullmann, roteiro de Ingmar Bergman.
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: (1) Filme: '''Confissões privadas'''. Direção de Liv Ullmann, roteiro de Ingmar Bergman.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e pensar: o aprender". In: ... . ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 71.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e pensar: o aprender". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 71.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 153.
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: "Alguém que está só e tem o [[hábito]] de [[ler]] e um bom [[livro]] à mão, tornará a [[solidão]], muitas vezes, até um [[ato]] desejado, para [[poder]] [[ler]]. Na [[leitura]] das grandes [[obras]] damos um grande mergulho em nós mesmos e através da [[reflexão]] aprendemos muito sobre os [[outros]] e muito mais sobre [[nós]]. Os [[limites]] do [[ser humano]] são insondáveis. E do [[sofrimento]], na [[leitura]] e com a [[leitura]], podem surgir grandes [[alegrias]]. Alguém que tem o [[hábito]] de [[leitura]], de [[boas]] [[leituras]], poderá [[sofrer]] muito menos e fazer da [[solidão]] uma [[convivência]] inimaginável. E mais, a [[vida]] se densifica. E até algo surpreendente acontece, vivermos mais, porque a atividade [[intelectual]] ativa a circulação do sangue e nossa [[memória]] se mantém viva" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.

Edição atual tal como 01h12min de 19 de Agosto de 2022

1

"E ninguém é eu. E ninguém é você. Esta é a solidão" (1).
Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Artenova, 1973, p. 41.

2

"Solidão é o isto do eu sendo. Portanto, sem predicativos, a não ser os transcendentais que lhe são próprios. Solidão não é angústia, é o deixar-se tomar pela vigência do silêncio, pela plena instância do repouso e uma dor indisível. Então o eu é sem existência nesta ou naquela forma de relação ou função, porque, ao não ter nem poder ter predicativos, nunca se pode tornar um tu do eu, nem um eu do tu" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 218.

3

"Nunca fui solitária, nem quando estive sozinha, nem acompanhada. Mas eu teria gostado de ser solitária. Solidão significa o seguinte: finalmente estou inteira. Agora posso afirmar isso, pois agora me sinto solitária" (1).


Referência:
(1) WENDERS, Wim. No filme Asas dos desejo, 1987. Fala da personagem Marion (Solveig Dommantin).

4

A solidão é o diálogo da finitude na qual sendo o que somos já estamos lançados. Finitude é posição de ser e estar, de estar e ser, dialeticamente. A solidão poderá ser positiva e libertadora, desde que nela haja uma aprendizagem: não a de ser , mas a de ser.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"— [...] mulheres como eu nunca deviam se casar. Somos independentes o bastante para nos virarmos sozinhas. Mas não independentes o bastante para sermos capazes de apoiar aqueles com quem casamos. A solidão é nossa única opção.
— O que acha que é a solidão? Uma serenidade tranquila? Uma segurança inviolável? Isso é uma ilusão, Cissi. A verdadeira solidão é um ato de coragem, atrás do qual um medo constante se oculta, um medo constante, Cissi."


Referência:
No filme: No limiar da vida. Suécia, 1958. Roteiro de Ulla Isaksson. Direção de Ingmar Bergman.

6

"Trata-se da solidão. Em verdade, nas grandes cidades, o homem consegue isolar-se, como mal chega a fazer em qualquer outro lugar. Mas lá em cima nunca é possível isolar-se. Pois a solidão traz consigo a força primigênia que não nos isola, mas lança toda existência na proximidade profunda de todas as coisas" (1)


Referência:
HEIDEGGER, Martin. "Por que ficamos na província?" - 1934-. In: Revista de cultura Vozes, n. 4, 1977, ano 71, p. 44.

7

O sou do eu nunca pode ser ocupado por qualquer outro sou. Caso isso acontecesse algum sou, algum próprio, seria anulado, deixaria de ser o que é, porque todo sou é único e abismalmente solitário, porque possibilidade de plenitude, eros. A solidão do eu é o sou que todo eu é. A solidão é o eu incorporado ao sou e este a plenitude de sentido e corpo. Nessa solidão o outro só pode ser acolhido amorosamente como o não-eu do eu, como o não-sou do sou, mas jamais se pode tornar outro sou que não o que ele é, ou seja, ser ocupado e habitado pelo que não é ele mesmo: seu próprio.


- Manuel Antônio de Castro.

8

"Na solidão a-fundamos para chegar a ser o eu sou que nos funda e sem o qual não há nem pode haver eu" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 219.

9

"Você não notou que só há um lugar para quem traz o lugar consigo?" (1).
Em nenhum momento do filme aparece um instante de convivência ou experienciação social verdadeira, por mais que perambule sem direção e algum motivo. Separada, convive com um filho de 6 ou 7 anos. Nem isso quebra a sua solidão, que se torna o seu único mundo, tornando-se este o seu único lugar. Vive numa profunda solidão.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) Filme A mulher canhota. Direção e roteiro: Peter Handke, 1978. Produção de Wim Wenders.

10

"Na era global da comunicação instantânea (Whatsapp, Twitter) nunca houve tanto isolamento e imersão numa realidade que nos foge dos pés. Todos conectados e todos isolados. Tanto nas artes quanto nas ciências reina a mais absoluta perplexidade. Os sistemas faliram e nunca se tornou tão urgente pensar o ético do humano e o humano do ético enquanto vigorar do princípio originário (arché). O ético é a verdade libertadora do universal concreto. Eis algumas denominações tentando dizer a atual globalização: pós-modernidade, baixa-modernidade, contemporâneo (como se toda época não fosse contemporânea de quem a experiencia!!!!), sociedade da informação, sociedade do espetáculo, sociedade da comunicação, sociedade de consumo, sociedade do conhecimento, pós-tudo, o tempo das redes, o fim das certezas, a realidade virtual. A pura negação ou a total aceitação deslumbrante é uma nescidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro - Globalização, pensamento e arte, 201/202. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 22.

11

"Desaprender o social, o coletivo, o público e o hábito, que é este ver e interpretar publicamente, socialmente, habitualmente - isso quer pois dizer: retirar-se do uso abusado; retrair-se para o , ensozinhar-se, ou seja, singularizar-se, fazer-se um e . Aprender a desaprender é igual e simultaneamente aprender a ser , é exercício de encaminhamento da solidão para a solidão - o lugar e a hora do ver" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "O desaprendizado do símbolo (A poética do ver imediato)". In: Revista Tempo Brasileiro - Permanência e atualidade da Poética, 171. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 40.

12

"Eu me sentia sozinha, mas a solidão era minha. Não foi ele quem a criou. Ninguém cria a nossa solidão. Ninguém cria a escuridão que a gente carrega. Cada um tem a sua. E como a gente lida com ela é que faz a diferença". Fala de Liv Ullmann. (1)
Contextualizando esta fala de Liv Ullmann: Ela se refere à sua vida com Ingmar Bergman na ilha onde ele tinha a casa e onde ela morava com ele. Bergman vivia recluso nessa sua casa e não permitia que ela recebesse visitas. Daí a forte tendência para se sentir .


- Manuel Antônio de Castro.
(1) Do filme em que Liv Ullmann narra a sua vida afetiva com Bergman e sua vida professional: Liv & Ingmar - Uma História de Amor. Serendip Filmes, 2013.

13

"Anna: Esta viagem tem algo a ver com a morte. Não encontro as palavras, mas ... é algo assim: Eu acho que é doloroso descobrir a própria solidão. Eu me refiro à solidão absoluta, a solidão no momento da morte, a solidão de uma criança. Sim, eu sei, Martha, nunca estamos sozinhos... vivemos nas mãos de Deus. Eu tentei uma vez ou outra... mas eu nunca consegui alcançar essa felicidade sozinha. Está bastante claro. Então Thomas apareceu na minha solidão. E agora nós dois podemos dizer: não estamos sozinhos. O que mais posso dizer? " (1).


Referência:
(1) Filme: Confissões privadas. Direção de Liv Ullmann, roteiro de Ingmar Bergman.

14

"Para os amantes o amar é a angustiante procura do sentido em tudo que sentem no mundo. O isolamento da solidão é a perda do sentido daquilo que cada um é e do mundo em que está. Mas quando há a perfeita solidão é que o sendo se deixou tomar pelo amar. A solidão amorosa é a plenitude de realização porque toda a realidade torna-se sonoridade silenciosa. O que aí quer dizer plenitude? Quando a plenitude acontece? Quando a plenitude não acontece? Notemos logo que onde houver limite e circunstâncias delimitadoras não há plenitude" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.

15

"Nunca se é feliz, está-se sempre aprendendo a ser feliz, pois este é o acontecer do que já desde sempre somos em tudo que não somos e estamos sendo. Chegar a ser feliz é a perfeita solidão, o almejar ficar sendo o que se é" (1).


(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e pensar: o aprender". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 71.

16

"Em tempos de onipresença da fala e de novas técnicas comunicativas, nunca houve tanta distância e solidão dolorosa. A solidão essencial nos joga sempre na proximidade do que somos, onde a silenciosa plenitude se dá: solidão de só ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 153.

17

"Alguém que está só e tem o hábito de ler e um bom livro à mão, tornará a solidão, muitas vezes, até um ato desejado, para poder ler. Na leitura das grandes obras damos um grande mergulho em nós mesmos e através da reflexão aprendemos muito sobre os outros e muito mais sobre nós. Os limites do ser humano são insondáveis. E do sofrimento, na leitura e com a leitura, podem surgir grandes alegrias. Alguém que tem o hábito de leitura, de boas leituras, poderá sofrer muito menos e fazer da solidão uma convivência inimaginável. E mais, a vida se densifica. E até algo surpreendente acontece, vivermos mais, porque a atividade intelectual ativa a circulação do sangue e nossa memória se mantém viva" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.