Rede

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Tanto os [[nós]] como as [[ligações]] precisam do “[[entre]]” enquanto [[identidade]] das [[diferenças]]. Uma tal faceta do “[[entre]]” aparece bem claramente na [[imagem-questão]]: [[rede]]. Uma tal faceta é o [[vazio]], o [[silêncio]]. A [[rede]] sem o [[vazio]]/[[silêncio]] não se pode constituir como [[rede]], ou seja, como “fios” e “[[nós]]”. A [[rede]] é uma [[doação]] do [[vazio]] e do [[silêncio]]. O [[vazio]] é o [[não-limite]] do [[silêncio]] e seu [[sentido]]. A [[língua]] enquanto [[código]] é a [[rede]] enquanto fios e [[nós]]. Mas assim como a [[rede]] precisa do [[vazio]]/[[silêncio]], a [[língua]] precisa da [[linguagem]]. Por isso, a [[linguagem]] é a [[mãe]] de todas as [[línguas]], assim como o [[vazio]] é a [[origem]] de todas as [[redes]], de todos os [[códigos]]. E o [[silêncio]] é a [[origem]] de todas as [[falas]] e [[escutas]], enquanto [[energia]] de [[sentido]], [[verdade]] e [[mundo]]" (1).
: "Tanto os [[nós]] como as [[ligações]] precisam do “[[entre]]” enquanto [[identidade]] das [[diferenças]]. Uma tal faceta do “[[entre]]” aparece bem claramente na [[imagem-questão]]: [[rede]]. Uma tal faceta é o [[vazio]], o [[silêncio]]. A [[rede]] sem o [[vazio]]/[[silêncio]] não se pode constituir como [[rede]], ou seja, como “fios” e “[[nós]]”. A [[rede]] é uma [[doação]] do [[vazio]] e do [[silêncio]]. O [[vazio]] é o [[não-limite]] do [[silêncio]] e seu [[sentido]]. A [[língua]] enquanto [[código]] é a [[rede]] enquanto fios e [[nós]]. Mas assim como a [[rede]] precisa do [[vazio]]/[[silêncio]], a [[língua]] precisa da [[linguagem]]. Por isso, a [[linguagem]] é a [[mãe]] de todas as [[línguas]], assim como o [[vazio]] é a [[origem]] de todas as [[redes]], de todos os [[códigos]]. E o [[silêncio]] é a [[origem]] de todas as [[falas]] e [[escutas]], enquanto [[energia]] de [[sentido]], [[verdade]] e [[mundo]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 33.
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: "A [[fala]], cada [[fala]], pressupõe a [[rede]] e nela toda a [[rede]] se faz [[presente]]/[[ausente]]. Porém, essa [[presença]] e [[ausência]] se sustenta e [[vigora]] a partir do [[vazio]] ou [[silêncio]]. Este é o [[tempo]] [[originário]], o [[tempo]] que continuamente se triparte e não triparte, se o [[pensamos]] como [[memória]], se [[pensamos]] que essa tripartição vive de um [[entre]]-[[tempo]], que é o [[presente]], que nada mais é do que o [[presentificado]] em [[tensão]] (“[[entre]]”) com o [[presentificável]] (Os [[gregos]] denominaram esse [[tempo]] [[presente]] [[eterno]]: ''[[aion]]'', onde o [[eterno]] é o [[entre]], a [[memória]])" (1).

Edição de 13h42min de 11 de Agosto de 2019

1

A questão do diálogo é central a tudo que diz respeito à língua e à linguagem e, automaticamente, aos discursos, aos textos e às obras. Isto é assim porque o ser humano é essencialmente um diálogo. A questão do diálogo deve ir paulatinamente substituindo alguns termos deficientes e tornados jargões, porque dependentes de visões metafísicas dos processos. Sobretudo estão neste caso três: código, sistema e paradigma. Em seu lugar devem ser usados os termos-questões: rede, corpo e leitura. Porém, a substituição nada traz em si. É necessário conceber estes termos-questões como tendo sua origem no diálogo, ou, na verdade, diálogos. Diz Capra: "Todo sistema se parece muito mais com uma rede, mais com pessoas falando [uma das formas de diálogo] umas com as outras... Pouco a pouco, os imunologistas têm sido forçados a mudar sua percepção de um sistema imunológico para uma rede imunológica" (1). Nesse sentido de rede, cada discurso é um diálogo em rede não só de quem "discursa" mas também das "palavras" e "falas". Contudo, se o discurso só se compõe de conceitos, palavras, proposições, e não de diálogo profundo nem de escuta verdadeira, ele se reduz ao código da circulação comunicativa, a partir das falas do discurso, sem levar em conta os buracos e o silêncio da rede, nem levar em conta, para aquém dos conceitos, as questões inerentes ao discurso como rede. É importante acentuar que o diálogo age não só individualmente na tensão EU x TU, mas também se faz presente a rede em cada eu e em cada tu de tal maneira que constitui algo em comum e este algo comum está presente tanto no eu como no tu.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) CAPRA, Fritjof. A teia da vida. S. Paulo: Cultrix, 2004, p. 219.


Ver também:

2

Em lugar de rede também se pode usar o termo teia. A imagem de uma rede ou figura de uma rede coloca muito bem algumas das questões essenciais da leitura. Olhando uma rede, constatamos logo cinco dados fundamentais: 1º) Os fios - verticais e horizontais -; 2º) Os nós; 3º) Os entre-lançamentos; 4º) Os vazios; 5º) O vazio ou silêncio. Numa primeira visão, constatamos logo os nós e as linhas. Olhando melhor, acrescentamos os vazios entre-as-linhas-e-os-nós. Olhando mais profundamente, vemos que as linhas e os nós têm um limite e que o vazio/silêncio continua. A ideia de espaço vem muito mais das linhas e dos nós e não do vazio e do silêncio. Soa até estranho ligar silêncio a espaço. Diante do vazio dos vazios, vamos descobrir um círculo: as linhas e nós fazem aparecer os buracos/vazios. De repente, nos damos conta do círculo: é o vazio/silêncio que faz aparecer e doa as linhas e os nós. De fato, nem isto acontece. A tensão vai ser entre figura e vazio/silêncio. E aí outro círculo. Não são como parece as linhas e nós que formam a figura (da rede/obra, etc). Pelo contrário, a con-figuração de linhas e nós é que faz surgir a figura. Separadamente as linhas e nós não figuram nada. O círculo se completa porque tanto a configuração como a figura são uma doação do vazio/silêncio. Porém, quando projetamos a rede no tempo, tudo assume uma nova perspectiva e dimensão. Seria um sexto tópico fundamental: o vazio/silêncio se torna Memória, entendida no sentido mítico: o que foi, é e será, ou seja, o que dá unidade, conforme a sua etimologia. Mas o que dá unidade recebe imemorialmente o nome de lógos, ou seja, reunião. Porém, esta reunião é de tudo o que a imagem-questão rede nos dá, ou seja, fala e silêncio, figura e vazio.


- Manuel Antônio de Castro

3

Quando nos deparamos com um texto histórico e outras produções culturais, sabemos que eles pertencem a uma rede e a uma configuração. O estudo espacial e temporal, e nos três níveis: hipotexto, intertexto e hipertexto se servem da memória como disciplinas. Dadas as diferentes coordenadas aqui antes apresentadas, surgem diferentes interpretações, observações e análises. Porém, tais textos ou documentos não são obras de arte, mas podem ser se ampliarmos o que se entende por arte para além dos conceitos classificatórios tradicionais. Mas quando podemos incluir algo na ordem da arte? Olhemos a rede. Os nós, as linhas e os vazios da rede são uma doação do vazio/silêncio/memória/linguagem/poíesis. Qualquer produção onde o vetor originante seja o originário doador, teremos arte. Mas estes jamais serão objeto de um ensino ou de um aprendizado, isto é, jamais serão objeto de disciplinas. É que tal originário não é passível de conceituação, pois precede e possibilita os conceitos, e estes jamais o delimitam. Por outro lado, ele não nos é inacessível, senão não seria passível de uma experienciação e aprendizagem. Nem ele nos vem nunca diretamente, mas só obliquamente e até dissimuladamente. Como? Tudo que vemos imediatamente é a rede com seus nós linhas, figura e configuração. O que aí se vela é o originário de tudo isso: o vazio/silêncio/memória/linguagem/poíesis. A rede serve para nos fazer ver e ouvir o que nunca se mostra e nem se diz, embora ela seja uma doação deles. O interpretar, neste caso, não é construir conhecimentos presentes ou passados, formais ou genéricos das redes, mas, falando das redes, indiciar e assinalar o vazio e silêncio, fonte de todo sentido e real. Isso é a Poética.


- Manuel Antônio de Castro

4

Rede: "Uma porção de buracos, amarrados com barbante..." (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Tutameia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p. 10.

5

O temor e a angústia do Nada é como o sentir o abismo e sua proximidade a nossos pés, faltando-nos não só o chão como o próprio respirar. No entanto, é nele que estamos plantados. Dis-traídos pelos movimentos nos fios da rede como teia da vida nem notamos que sempre estamos pendurados no abismo dos vazios da rede. Nem notamos pela ocupação nas e com as funções em meio aos entes que só funcionamos porque o sistema parece configurar tudo, inclusive, os vazios em que ele não só se estende e perdura como também se expande. Mas não é verdade. E de repente somos assaltados pela gratuidade e presença dos vazios não só da rede como também da possibilidade de a rede ser rede e ser rede em funcionamento e expansão, porque a rede é uma doação do vazio, do silêncio, do Nada. A rede só se constrói como rede porque o Nada que a doa se retrai e deixa a rede e as funções e o sistema se presentificarem em seu funcionar. O Nada não niilifica, estrutura, doa, presentifica.


- Manuel Antônio de Castro


6

"O código como a rede funciona através dos fios, dos nós e do todo significativo, fazendo circular as mensagens, dentro de um padrão prévio à comunidade e aos seus membros. Nessa funcionalidade, uma presença decisiva não é pensada: assim como a rede precisa do vazio/silêncio para seu funcionamento e expansão, a língua precisa da linguagem. Por isso, a linguagem é a mãe de todas as línguas, assim como o vazio é a origem de todas as redes, de todos os códigos. E o silêncio é a origem de todas as falas" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 18.


7

"Opondo-se ao pensamento temos a globalização funcional que é a uniformidade com aparência do novo em tudo e em todos. É a publicização, a banalização, a predominância do instante e do simultâneo, a fugacidade e imaterialidade digital de tudo, o domínio absoluto da imagem. Tudo isto está ocasionando uma transformação de todos os valores e modos de viver jamais acontecida antes e com tal amplitude: a global. É o tempo da cibercultura, da engenharia genética, da eliminação da linguagem simbólica, da inteligência artificial, das próteses microeletrônicas, do ciborgue, do culto do corpo, do domínio global do profano, do conteúdo reduzido às formas e formatos, da estetização generalizada da arte, da celebração do instante, da língua e linguagem reduzidas à comunicação, da perda da memória, da redução do afetivo e do erótico às sensações, da sociedade em rede. É que nosso tempo é o tempo das redes" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 23.


8

"Esse operar da técnica em rede omnipresente é que está plasmando a nova sociedade do conhecimento complexo. A rede das infovias constitui hoje todas as relações em que se estrutura a cidade e o campo. As noções de Estados e Nações inexistem para a realidade digital, pois esta é sem limites e fronteiras. O paradigma digital a tudo penetra e a tudo determina. Todos os “ismos” tradicionais que configuravam os “humanismos” caíram, dando lugar a um profundo esvaziamento ideológico. Isso é muito bom, porque nos lança no questionamento da construção de um real futuro sem “receitas” prévias. O real não cabe nas teorias e muito menos nas ideologias. Hoje a grande ideologia é o conhecimento sem ética e sem libertação real" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 24.


9

"Se globalização é rede, há necessidade para o humano de uma rede poética. Será mais uma rede na feira das redes ou ela se propõe ser mais do que uma entre outras tantas redes? O que nessa rede está em rede? Quando dizemos rede poética não estamos já pensando a essência da rede, se ela por ser poética for ontológica? É o grande desafio: pensar o que nos dá o sentido de existir. O que nos leva a constituir uma rede poética não são os humanismos, nem mais um humanismo, mas o que em todo ser humano o constitui como próprio: é o humano de todo ser humano. Eis o motivo que move a rede poética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 25.


10

"O mundo enquanto rede é uma sintaxe constituída de linhas e nós. A comunicação pressupõe os dois e é impossível pensar as linhas sem os nós. O funcionamento da rede se dá em duas dimensões: 1ª. A inter-conexão; 2ª. os inter-conectados. A linha por si e como tal ainda não se constitui como linha, assim como o inter-conectado não é também em si e por si. O “lugar” da linha e dos inter-conectados, dos nós (Entre-ser) só aparece a partir de algo que já vimos: o diá-logo (entre-ser enquanto ser-com). “Lugar” é mundo enquanto diálogo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 32.


11

"Tanto os nós como as ligações precisam do “entre” enquanto identidade das diferenças. Uma tal faceta do “entre” aparece bem claramente na imagem-questão: rede. Uma tal faceta é o vazio, o silêncio. A rede sem o vazio/silêncio não se pode constituir como rede, ou seja, como “fios” e “nós”. A rede é uma doação do vazio e do silêncio. O vazio é o não-limite do silêncio e seu sentido. A língua enquanto código é a rede enquanto fios e nós. Mas assim como a rede precisa do vazio/silêncio, a língua precisa da linguagem. Por isso, a linguagem é a mãe de todas as línguas, assim como o vazio é a origem de todas as redes, de todos os códigos. E o silêncio é a origem de todas as falas e escutas, enquanto energia de sentido, verdade e mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 33.


12

"A fala, cada fala, pressupõe a rede e nela toda a rede se faz presente/ausente. Porém, essa presença e ausência se sustenta e vigora a partir do vazio ou silêncio. Este é o tempo originário, o tempo que continuamente se triparte e não triparte, se o pensamos como memória, se pensamos que essa tripartição vive de um entre-tempo, que é o presente, que nada mais é do que o presentificado em tensão (“entre”) com o presentificável (Os gregos denominaram esse tempo presente eterno: aion, onde o eterno é o entre, a memória)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 33.
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