Mesmo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"O mesmo não se confunde com o igual e nem tampouco com a [[unidade]] vazia do que é meramente idêntico. Com frequência, o igual se transfere para o indiferenciado a fim de que tudo nele convenha. O mesmo é, ao contrário, o mútuo pertencer do diverso que se dá, pela [[diferença]], desde uma reunião integradora. O mesmo apenas se deixa dizer quando se pensa a diferença. No ajuste dos diferentes vem à luz a essência integradora do mesmo. O mesmo deixa para trás toda sofreguidão por igualar o diverso ao igual. O mesmo reúne integrando o diferente numa unicidade [[originário|originária]]. O igual, ao contrário, dispersa na unidade pálida do um, somente uni-forme" (1).
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: "O [[mesmo]] não se confunde com o [[igual]] e nem tampouco com a [[unidade]] [[vazia]] do que é meramente idêntico. Com frequência, o [[igual]] se transfere para o indiferenciado a fim de que tudo nele convenha. O [[mesmo]] [[é]], ao contrário, o mútuo pertencer do diverso que se dá, pela [[diferença]], desde uma reunião integradora. O [[mesmo]] apenas se deixa [[dizer]] quando se pensa a [[diferença]]. No ajuste dos diferentes vem à luz a [[essência]] integradora do [[mesmo]]. O [[mesmo]] deixa para trás toda sofreguidão por igualar o diverso ao [[igual]]. O [[mesmo]] reúne integrando o diferente numa [[unicidade]] [[originário|originária]]. O [[igual]], ao contrário, dispersa na [[unidade]] pálida do [[um]], somente uni-forme" (1).
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:(1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: ---------. ''Ensaios e conferências''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavcalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 170.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: ---------. '''Ensaios e conferências'''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 170.
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: [[Sentença]] - '''III'''.
: "... to gar [[auto]] [[noein]] estin te kai [[einai]]" (1). "...pois o [[mesmo]] é [[pensar]] e [[ser]]" (1).
: "... to gar [[auto]] [[noein]] estin te kai [[einai]]" (1). "...pois o [[mesmo]] é [[pensar]] e [[ser]]" (1).
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: (1) PARMÊNIDES. Sentença '''III''', (Trad. Sérgio Wrubleswski. In: ''Os pensadores originários'' - ''Anaximandro, Parmênides, Heráclito''. Petrópolis / RJ: Vozes, 1991, p. 44 / 45.
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: (1) PARMÊNIDES. Sentença '''III''', (Trad. Sérgio Wrubleswski). In: '''Os pensadores originários''' - '''Anaximandro, Parmênides, Heráclito'''. Petrópolis / RJ: Vozes, 1991, p. 44 / 45.
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: Qual a importância de se [[pensar]] o [[mesmo]], não como [[conceito]], mas como o [[elemento]] onde o [[tempo]] [[é]] e está sendo [[tempo]]? É que o [[mesmo]] dá [[unidade]] ao antes e ao depois e à [[travessia]]. Essa [[unidade]] é a [[realidade]] enquanto [[morte]], não mais como fim, mas como simples possibilidade de ser e de consumar o [[próprio]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "Para nos entregarmos ao mesmo é necessário [[pensar]]. Pensar o mesmo que é a [[vida]], a [[morte]], o [[amor]], o [[tempo]], a [[linguagem]], a [[verdade]], a [[solidão]], o [[cuidado]], o [[ético]], o [[sentido]]. E são estas [[questões]] que aguardam sempre nossas [[experienciações]], que constituem, em verdade, a [[realidade]]; uma [[realidade]] que não depende de nós, que não é construída pelos nossos [[conceitos]] ou [[vontade]] ou [[desejos]]" (1).
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: "Para nos entregarmos ao [[mesmo]] é necessário [[pensar]]. [[Pensar]] o [[mesmo]] que é a [[vida]], a [[morte]], o [[amor]], o [[tempo]], a [[linguagem]], a [[verdade]], a [[solidão]], o [[cuidado]], o [[ético]], o [[sentido]]. E são estas [[questões]] que aguardam sempre nossas [[experienciações]], que constituem, em verdade, a [[realidade]]; uma [[realidade]] que não depende de nós, que não é construída pelos nossos [[conceitos]] ou [[vontade]] ou [[desejos]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
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: "Transformar em [[linguagem]] cada vez esse advento permanente do [[Ser]] que, em sua [[permanência]], espera pelo [[homem]], é a única causa (''Sache'') do [[pensamento]]. É por isso que os [[pensadores]] Essenciais dizem sempre o ''[[mesmo]]'' (''Das Selbe''); isso, no entanto, não significa que digam sempre [[coisas]] iguais (''Das Gleiche'')" (1).
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: "Transformar em [[linguagem]] cada vez esse advento permanente do [[Ser]] que, em sua [[permanência]], espera pelo [[homem]], é a única causa (''Sache'') do [[pensamento]]. É por isso que os [[pensadores]] Essenciais dizem sempre o ''[[mesmo]]'' (''Das Selbe''); isso, no entanto, não significa que digam sempre [[coisas]] [[iguais]] (''Das Gleiche'')" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Sobre o humanismo''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Sobre o humanismo'''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.
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: "A entrega ao mesmo enfrenta muitos obstáculos. Para tal seriam necessárias a [[disciplina]], o [[desprendimento]] e a determinação de sairmos da [[banalização]] da [[linguagem]] em seu uso comercial e cotidiano, de sairmos da repetição das [[ideias]] e [[valores]] já feitos e estabelecidos, de sairmos da [[funcionalidade]] dos [[sistemas]], fonte de [[conceitos]] que não cessam de nos lançar na repetição e aniquilação de nossa originalidade e originariedade, de sairmos da aparente novidade dos [[conhecimentos]] dos [[entes]], em suas [[relações]] sempre funcionais e operativas, de sairmos do [[esquecimento]] do [[sentido]] do [[ser]] e nos deixarmos tomar por sua [[memória]], a [[unidade]] vigorante do mesmo" (1).
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: "A entrega ao [[mesmo]] enfrenta muitos obstáculos. Para tal seriam necessárias a [[disciplina]], o [[desprendimento]] e a determinação de sairmos da [[banalização]] da [[linguagem]] em seu uso comercial e cotidiano, de sairmos da repetição das [[ideias]] e [[valores]] já feitos e estabelecidos, de sairmos da [[funcionalidade]] dos [[sistemas]], fonte de [[conceitos]] que não cessam de nos lançar na repetição e aniquilação de nossa [[originalidade]] e originariedade, de sairmos da aparente [[novidade]] dos [[conhecimentos]] dos [[entes]], em suas [[relações]] sempre funcionais e operativas, de sairmos do [[esquecimento]] do [[sentido]] do [[ser]] e nos deixarmos tomar por sua [[memória]], a [[unidade]] vigorante do [[mesmo]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
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: "Todas as [[línguas]], como [[ritos]], dizem o diferente, mas como [[linguagem]] dizem sempre o [[mesmo]], embora não digam as mesmas coisas. Só porque a [[linguagem]] diz sempre o [[mesmo]] é que um [[mesmo]] [[ser humano]] pode falar diferentes [[línguas]], [[traduções]] podem ser feitas e haver a [[tradição]] viva da [[memória]]. Tudo isso é [[leitura]]" (1).
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: "Todas as [[línguas]], como [[ritos]], dizem o diferente, mas como [[linguagem]] dizem sempre o mesmo, embora não digam as mesmas coisas. Só porque a linguagem diz sempre o mesmo é que um mesmo ser humano pode falar diferentes línguas, [[traduções]] podem ser feitas e haver a [[tradição]] viva da [[memória]]. Tudo isso é [[leitura]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A linguagem poética e instrumental". In: --------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 56.
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: "O mais difícil em nossas [[vidas]] é [[compreender]] o que é isto – o [[mesmo]]. Como diz [[Rosa]] numa de suas [[obras]], não é um ele ou um ela: é o que e o quem das [[coisas]]. Jamais podemos ou devemos reduzi-lo ao [[conhecimento]] de um [[conceito]]. Como tal é a [[questão]], o a-ser-pensado. Não nos advém nunca no e pelo [[raciocinar]]. Advém enquanto [[linguagem]], no [[pensar]] da [[compreensão]]. Mas é o nunca cessar de advir porque não tem [[início]] nem [[fim]], vigora. Isto é o [[mesmo]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A linguagem poética e instrumental". In: --------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 56.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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: "Só por já estarmos e sermos no [[tempo]] e enquanto [[tempo]] é que podemos formular as [[perguntas]] em torno das três possíveis [[posições]]. Portanto, [[perguntar]] pelo que há para [[além]] da [[morte]] é [[perguntar]] pelo que o [[tempo]] [[é]] enquanto ex-iste, está [[sendo]]. O [[tempo]] só é [[tempo]] porque está e é ou será o inverso, isto é, [[ser]] e [[estar]] só são e estão porque são [[tempo]]? Não será mais [[lógico]], porque [[real]], [[dizer]] que não há a alternativa ou, e sim que um e outro são o [[mesmo]]? Qual a importância de se [[pensar]] o [[mesmo]], não como [[conceito]], mas como o [[elemento]] no qual [[tempo]] [[é]] e está sendo [[tempo]]? É que o [[mesmo]] dá [[unidade]] ao antes e ao depois e à [[travessia]]. Essa [[unidade]] é a [[realidade]] enquanto [[morte]], não mais como [[fim]], mas como simples [[possibilidade]] de [[ser]] e de [[consumar]] o [[próprio]]"(1).
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== 7 ==
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: Referência:
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: "O mais difícil em nossas [[vidas]] é [[compreender]] o que é isto – o [[mesmo]]. Como diz Rosa numa de suas [[obras]], não é um ele ou um ela: é o que e o quem das [[coisas]]. Jamais podemos ou devemos reduzi-lo ao [[conhecimento]] de um [[conceito]]. Como tal é a [[questão]], o a-ser-pensado. Não nos advém nunca no e pelo [[raciocinar]]. Advém enquanto [[linguagem]], no [[pensar]] da [[compreensão]]. Mas é o nunca cessar de advir porque não tem [[início]] nem [[fim]], vigora. Isto é o [[mesmo]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 247.
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: "[[Caminho]] para cima, para baixo, [[um]] e o [[mesmo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) HERÁCLITO. Fragmento 60. In: '''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito'''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 73.
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== 10 ==
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: "O que é o [[Ser]] para a [[experiência]] [[grega]], [[mítica]], [[arcaica]]? O [[Ser]] se “manifesta como [[numinoso]] e na qual [experiência grega arcaica] o [[universo]] não é senão um conjunto não-enumerável de [[teofanias]]” (Torrano, 1992: 74)(1). Tudo sendo [[teofania]][[numinosa]] é importante entender que tanto “‘faculdades mentais’” de [[Zeus]] como os [[atributos]] constitutivos da [[natureza]] mesma de [[Zeus]] [...] são [[Divindades]] com esfera de [[existência]] e de atribuições [[própria]]” (Torrano: 1992, 76). A [[experiência]] [[filosófica]] de [[Ser]], sobretudo a partir de [[Platão]] e [[Aristóteles]], e mais tarde com o [[platonismo]] e [[aristotelismo]], empobrece a [[riqueza]] do [[pensamento mítico]].
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: "Na verdade, o [[pensamento mítico]], servindo-se de [[figuras]] não-conceituais, de [[imagens]] [[concretas]] e [[ideações]] [[plásticas]], servindo-se de relatos e de [[fábulas]] (i.é, disto em que se constituem propriamente os [[mythoi]] e os [[hieroi]] [[lógoi]], os “[[mitos]]” e os “relatos [[sagrados]]”), coloca em seus próprios termos [...] o problema da [[relação]] [[entre]] a [[Alteridade]] e a [[Ipseidade]]. [[Zeus]] é ele-Mesmo e o [[Outro]]; o [[Outro]] é tanto o [[Outro]] quanto é o [[Mesmo]] [...] A [[Alteridade]] coincide com a [[Ipseidade]] tanto quanto dela difere: o [[Outro]] é o [[Mesmo]] (coincide com o [[Mesmo]]) tanto quanto é – na [[referência]] ao [[Mesmo]] – o [[Outro]] (difere de si [[Mesmo]]) (Torrano: 1992, 77)" (2) "(3).
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: Referências:
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: (1) TORRANO, Jaa. '''O sentido de Zeus'''. São Paulo: Iluminuras, 1996.
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: (2) TORRANO, Jaa. '''O sentido de Zeus'''. São Paulo: Iluminuras, 1996.
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: (3) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 165.
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== 11 ==
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: "Só podemos tentar achar uma [[resposta]] à [[pergunta]] que nos orienta e nos deixa, diante da [[morte]], sempre perplexos – o que há para além da [[morte]]? – se pensarmos o [[mesmo]]. Sem este nem é [[possível]] a [[pergunta]] sobre o [[tempo]]. Ou melhor, o [[tempo]] só pode [[ser]] antes e depois e [[viagem]] por já estar vigorando no [[mesmo]], que lhe dá [[unidade]]. O [[tempo]] é o [[mesmo]] que é a [[unidade]] das três marcações [[tradicionais]] do [[tempo]]: o [[passado]], o [[presente]] e o [[futuro]]. O [[além]] é o [[futuro]], assim como o [[passado]] é o que no [[presente]] não pode mais [[ser]] [[futuro]] nem [[presente]], pensa-se" (1).
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:  Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 248.
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== 12 ==
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: Por já vigorarmos, por [[tudo]] já [[vigorar]] no [[ser]], ele não é [[fundamento]] de [[nada]], porque ele [[simplesmente]] vigora, independentemente de minhas [[nomeações]] e [[reflexões]]. Ele está tão próximo, tão próximo que até já desde sempre o somos e nele somos o que somos. E, seguindo Parmênides, o [[mesmo]] [[é]] [[ser]] e [[saber]]. É este [[ser]] e [[saber]] como o [[mesmo]] que se torna a [[questão]] do [[educar]] [[originário]]. Mas nossa [[procura]] do [[saber]] do [[ser]] acaba se desviando para o [[saber]] imperfeito e [[limitado]] e não nos abrimos para o seu [[sentido]] que é o máximo de [[saber]], porque o seu [[sentido]] é o [[silêncio]] em que ele vigora e se dá a [[ver]] e a [[saber]]. O [[sentido]], o [[silêncio]], o [[vazio]] são o mais [[presente]] do [[presente]], são sempre o já vigorando e sem o qual [[nada]] se dá a [[saber]]  e a [[ver]]. Em virtude de nosso [[limite]] de [[entre-ser]] temos a tendência a [[entificar]] o [[ser]], o [[saber]], o [[silêncio]], o [[vazio]], o [[nada]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "O [[pensador]]-[[poeta]] Guimarães [[Rosa]] diz no [[conto]] “O espelho”: “Ainda que tirados de imediato um após outro, os [[retratos]] [[sempre]] serão [[entre]] si muito [[diferentes]]” (1). (Rosa, 1967: 71). O [[vigorar]] da [[diferença]] é inegável. Isso não nega o [[vigorar]] do [[mesmo]], que os gregos adequadamente chamavam de ''[[arkhé]]''. Porém, desta [[palavra]] se formou ''arkhós'', o que está à frente, o que conduz, guia. O [[mesmo]] é o que dá [[origem]] e, ao mesmo tempo, está à frente, comanda. De maneira alguma se pode [[pensar]] o [[vigorar]] ou o [[acontecer]] como algum retorno [[temporal]] ou [[espacial]]. [[Mesmo]] é [[sempre]] a [[dobra]] vigorante de [[identidade]] e [[diferença]]. Se fôssemos mais atentos ao ad-mirável da ''[[physis]]'', a [[dobra]] de [[natureza]] e [[cultura]], perceberíamos de modo preciso o [[mesmo]] como a [[unidade]] de [[identidade]] e [[diferença]], onde jamais há retorno" (2).
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: Referências:
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: (1) ROSA, João Guimarães. '''Primeiras Estórias'''. 3. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.
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 +
: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: '''Pensamento no Brasil, v. I - Emmanuel Carneiro Leão'''.  SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 224.
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: "... devo [[compreender]]-me a mim [[mesmo]] como [[ente]], ou seja  deve dar-se uma [[identidade]] [[entre]] meu [[saber]] e meu [[ser]], pois nesta [[identidade]] eu tenho uma [[abertura]] ao [[ser ilimitado]] e total dentro do qual eu [[sou]] capaz de [[compreender]] também o [[outro]] como [[ente]], como [[algo]] que “[[é]]” " (1).
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:  Referência:
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "O [[mesmo]], porém, não é o [[igual]]. No [[igual]] a [[diversidade]] desaparece. No [[mesmo]], a [[diversidade]] se manifesta. Ela surge com tanto mais premência quanto mais [[decisivamente]] um [[pensamento]] é abordado do [[mesmo]] [[modo]] pelo [[mesmo]] [[objeto]]" (1).
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A constituição onto-teo-lógica da metafísica". In: _____. '''Identidade e Diferença''', tradução Ernildo Stein. Vozes / Petrópolis / RJ em co-edição com Livraria Duas Cidades, São Paulo, 2006, p. 56.
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== 16 ==
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: "[...] os [[pensadores]] [[Essenciais]] dizem sempre o [[mesmo]] (''das Selbe''); isso, no entanto, não significa que digam [[sempre]] coisas iguais (''das Gleiche''). Sem dúvida, eles só o dizem a quem se empenha em repensá-los. Enquanto o [[pensamento]], re-memorando Historicamente, preza o [[destino]] do [[Ser]], ele já se prendeu ao destinado (''das Schlickliche''), que se acorda com o [[destino]]" (1).
: Referência:
: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Carta sobre o humanismo'''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.

Edição atual tal como 22h16min de 24 de Agosto de 2021

1

"O mesmo não se confunde com o igual e nem tampouco com a unidade vazia do que é meramente idêntico. Com frequência, o igual se transfere para o indiferenciado a fim de que tudo nele convenha. O mesmo é, ao contrário, o mútuo pertencer do diverso que se dá, pela diferença, desde uma reunião integradora. O mesmo apenas se deixa dizer quando se pensa a diferença. No ajuste dos diferentes vem à luz a essência integradora do mesmo. O mesmo deixa para trás toda sofreguidão por igualar o diverso ao igual. O mesmo reúne integrando o diferente numa unicidade originária. O igual, ao contrário, dispersa na unidade pálida do um, somente uni-forme" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: ---------. Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 170.

2

Sentença - III.
"... to gar auto noein estin te kai einai" (1). "...pois o mesmo é pensar e ser" (1).


Referência:
(1) PARMÊNIDES. Sentença III, (Trad. Sérgio Wrubleswski). In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Petrópolis / RJ: Vozes, 1991, p. 44 / 45.

3

"Para nos entregarmos ao mesmo é necessário pensar. Pensar o mesmo que é a vida, a morte, o amor, o tempo, a linguagem, a verdade, a solidão, o cuidado, o ético, o sentido. E são estas questões que aguardam sempre nossas experienciações, que constituem, em verdade, a realidade; uma realidade que não depende de nós, que não é construída pelos nossos conceitos ou vontade ou desejos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

4

"Transformar em linguagem cada vez esse advento permanente do Ser que, em sua permanência, espera pelo homem, é a única causa (Sache) do pensamento. É por isso que os pensadores Essenciais dizem sempre o mesmo (Das Selbe); isso, no entanto, não significa que digam sempre coisas iguais (Das Gleiche)" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.

5

"A entrega ao mesmo enfrenta muitos obstáculos. Para tal seriam necessárias a disciplina, o desprendimento e a determinação de sairmos da banalização da linguagem em seu uso comercial e cotidiano, de sairmos da repetição das ideias e valores já feitos e estabelecidos, de sairmos da funcionalidade dos sistemas, fonte de conceitos que não cessam de nos lançar na repetição e aniquilação de nossa originalidade e originariedade, de sairmos da aparente novidade dos conhecimentos dos entes, em suas relações sempre funcionais e operativas, de sairmos do esquecimento do sentido do ser e nos deixarmos tomar por sua memória, a unidade vigorante do mesmo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

6

"Todas as línguas, como ritos, dizem o diferente, mas como linguagem dizem sempre o mesmo, embora não digam as mesmas coisas. Só porque a linguagem diz sempre o mesmo é que um mesmo ser humano pode falar diferentes línguas, traduções podem ser feitas e haver a tradição viva da memória. Tudo isso é leitura" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A linguagem poética e instrumental". In: --------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 56.

7

"O mais difícil em nossas vidas é compreender o que é isto – o mesmo. Como diz Rosa numa de suas obras, não é um ele ou um ela: é o que e o quem das coisas. Jamais podemos ou devemos reduzi-lo ao conhecimento de um conceito. Como tal é a questão, o a-ser-pensado. Não nos advém nunca no e pelo raciocinar. Advém enquanto linguagem, no pensar da compreensão. Mas é o nunca cessar de advir porque não tem início nem fim, vigora. Isto é o mesmo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

8

"Só por já estarmos e sermos no tempo e enquanto tempo é que podemos formular as perguntas em torno das três possíveis posições. Portanto, perguntar pelo que há para além da morte é perguntar pelo que o tempo é enquanto ex-iste, está sendo. O tempo só é tempo porque está e é ou será o inverso, isto é, ser e estar só são e estão porque são tempo? Não será mais lógico, porque real, dizer que não há a alternativa ou, e sim que um e outro são o mesmo? Qual a importância de se pensar o mesmo, não como conceito, mas como o elemento no qual tempo é e está sendo tempo? É que o mesmounidade ao antes e ao depois e à travessia. Essa unidade é a realidade enquanto morte, não mais como fim, mas como simples possibilidade de ser e de consumar o próprio"(1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 247.

9

"Caminho para cima, para baixo, um e o mesmo" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 60. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 73.

10

"O que é o Ser para a experiência grega, mítica, arcaica? O Ser se “manifesta como numinoso e na qual [experiência grega arcaica] o universo não é senão um conjunto não-enumerável de teofanias” (Torrano, 1992: 74)(1). Tudo sendo teofanianuminosa é importante entender que tanto “‘faculdades mentais’” de Zeus como os atributos constitutivos da natureza mesma de Zeus [...] são Divindades com esfera de existência e de atribuições própria” (Torrano: 1992, 76). A experiência filosófica de Ser, sobretudo a partir de Platão e Aristóteles, e mais tarde com o platonismo e aristotelismo, empobrece a riqueza do pensamento mítico.
"Na verdade, o pensamento mítico, servindo-se de figuras não-conceituais, de imagens concretas e ideações plásticas, servindo-se de relatos e de fábulas (i.é, disto em que se constituem propriamente os mythoi e os hieroi lógoi, os “mitos” e os “relatos sagrados”), coloca em seus próprios termos [...] o problema da relação entre a Alteridade e a Ipseidade. Zeus é ele-Mesmo e o Outro; o Outro é tanto o Outro quanto é o Mesmo [...] A Alteridade coincide com a Ipseidade tanto quanto dela difere: o Outro é o Mesmo (coincide com o Mesmo) tanto quanto é – na referência ao Mesmo – o Outro (difere de si Mesmo) (Torrano: 1992, 77)" (2) "(3).


Referências:
(1) TORRANO, Jaa. O sentido de Zeus. São Paulo: Iluminuras, 1996.
(2) TORRANO, Jaa. O sentido de Zeus. São Paulo: Iluminuras, 1996.
(3) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 165.

11

"Só podemos tentar achar uma resposta à pergunta que nos orienta e nos deixa, diante da morte, sempre perplexos – o que há para além da morte? – se pensarmos o mesmo. Sem este nem é possível a pergunta sobre o tempo. Ou melhor, o tempo só pode ser antes e depois e viagem por já estar vigorando no mesmo, que lhe dá unidade. O tempo é o mesmo que é a unidade das três marcações tradicionais do tempo: o passado, o presente e o futuro. O além é o futuro, assim como o passado é o que no presente não pode mais ser futuro nem presente, pensa-se" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 248.

12

Por já vigorarmos, por tudovigorar no ser, ele não é fundamento de nada, porque ele simplesmente vigora, independentemente de minhas nomeações e reflexões. Ele está tão próximo, tão próximo que até já desde sempre o somos e nele somos o que somos. E, seguindo Parmênides, o mesmo é ser e saber. É este ser e saber como o mesmo que se torna a questão do educar originário. Mas nossa procura do saber do ser acaba se desviando para o saber imperfeito e limitado e não nos abrimos para o seu sentido que é o máximo de saber, porque o seu sentido é o silêncio em que ele vigora e se dá a ver e a saber. O sentido, o silêncio, o vazio são o mais presente do presente, são sempre o já vigorando e sem o qual nada se dá a saber e a ver. Em virtude de nosso limite de entre-ser temos a tendência a entificar o ser, o saber, o silêncio, o vazio, o nada.


- Manuel Antônio de Castro.

13

"O pensador-poeta Guimarães Rosa diz no conto “O espelho”: “Ainda que tirados de imediato um após outro, os retratos sempre serão entre si muito diferentes” (1). (Rosa, 1967: 71). O vigorar da diferença é inegável. Isso não nega o vigorar do mesmo, que os gregos adequadamente chamavam de arkhé. Porém, desta palavra se formou arkhós, o que está à frente, o que conduz, guia. O mesmo é o que dá origem e, ao mesmo tempo, está à frente, comanda. De maneira alguma se pode pensar o vigorar ou o acontecer como algum retorno temporal ou espacial. Mesmo é sempre a dobra vigorante de identidade e diferença. Se fôssemos mais atentos ao ad-mirável da physis, a dobra de natureza e cultura, perceberíamos de modo preciso o mesmo como a unidade de identidade e diferença, onde jamais há retorno" (2).


Referências:
(1) ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. 3. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v. I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 224.

14

"... devo compreender-me a mim mesmo como ente, ou seja deve dar-se uma identidade entre meu saber e meu ser, pois nesta identidade eu tenho uma abertura ao ser ilimitado e total dentro do qual eu sou capaz de compreender também o outro como ente, como algo que “é” " (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

15

"O mesmo, porém, não é o igual. No igual a diversidade desaparece. No mesmo, a diversidade se manifesta. Ela surge com tanto mais premência quanto mais decisivamente um pensamento é abordado do mesmo modo pelo mesmo objeto" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A constituição onto-teo-lógica da metafísica". In: _____. Identidade e Diferença, tradução Ernildo Stein. Vozes / Petrópolis / RJ em co-edição com Livraria Duas Cidades, São Paulo, 2006, p. 56.

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"[...] os pensadores Essenciais dizem sempre o mesmo (das Selbe); isso, no entanto, não significa que digam sempre coisas iguais (das Gleiche). Sem dúvida, eles só o dizem a quem se empenha em repensá-los. Enquanto o pensamento, re-memorando Historicamente, preza o destino do Ser, ele já se prendeu ao destinado (das Schlickliche), que se acorda com o destino" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 98.