História

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: A [[tensão]] [[entre]] [[memória]] e [[história]] é a mesma que [[entre]] ''[[phýsis]]'' e ''[[logos]]''. A [[história]] enquanto [[acontecer]] é a [[manifestação]] da [[memória]] enquanto [[o que é]], [[o que foi]] e [[o que será]]. A [[Memória]] é o ''[[génos]]'' que se manifesta como [[história]]. A [[história]] é o [[acontecer]] da [[memória]]. Por isso, a [[história]] é a [[realização]] da [[memória]] enquanto [[manifestação]] do [[tempo]]. Não podemos falar em [[história]] sem [[tempo]], mas por sua vez a [[memória]] é o [[tempo]] em seu [[vigorar]]. Igualmente [[memória]] e [[história]] são a [[manifestação]] da ''[[phýsis]]'' enquanto [[linguagem]]. [[Tradição]], [[historiografia]] e [[língua]] enquanto [[discurso]] são como [[ritos]] do que é [[memória]], [[história]], [[linguagem]] e [[tempo]], mas sem o [[vigor]] do [[mito]].
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: A [[tensão]] [[entre]] [[memória]] e [[história]] é a mesma que [[entre]] ''[[phýsis]]'' e ''[[logos]]''. A [[história]] enquanto [[acontecer]] é a [[manifestação]] da [[memória]] enquanto [[o que é]], [[o que foi]] e [[o que será]]. A [[Memória]] é o ''[[génos]]'' que se manifesta como [[história]]. E ''[[génos]]'' é [[tempo]] e [[vida]]. A [[história]] é o [[acontecer]] da [[memória]]. Por isso, a [[história]] é a [[realização]] da [[memória]] enquanto [[manifestação]] do [[tempo]]. Não podemos falar em [[história]] sem [[tempo]], mas por sua vez a [[memória]] é o [[tempo]] em seu [[vigorar]], enquanto [[sentido]]. Igualmente [[memória]] e [[história]] são a [[manifestação]] da ''[[phýsis]]'' enquanto [[linguagem]] ([[logos]]/[[sentido]]). [[Tradição]], [[historiografia]] e [[língua]] enquanto [[discurso]] são como [[ritos]] do que é [[memória]], [[história]], [[linguagem]] e [[tempo]], mas sem o [[vigor]] do [[mito]].
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: O [[homem]] [[moderno]], ao [[descobrir]] a [[historicidade]]/historicização do [[homem]], compreendeu-o no [[horizonte]] constituído pela [[história]]. E escreveram-se as [[diferentes]] [[histórias]]. Mas a partir da [[radicalização]] do [[pensamento]] [[heideggeriano]] sobre [[ser]] e [[tempo]], sobre [[história]] como [[acontecer poético]] e sobre a [[historicidade]] do [[homem]], não é mais possível continuar a estudar a [[arte]] através das [[histórias]] tradicionais. Com os impasses da [[pós-modernidade]] sobre [[tempo]]/[[história]] e o [[questionamento]] ainda não feito de como a própria [[ciência]] pode constituir-se como [[história]], devemos [[pensar]] as [[obras de arte]] como [[acontecer poético]]. Por outro lado, há as [[épocas]] em que o [[ser]] em seu [[sentido]] se destina. Como relacionar estas [[épocas]]-destinadas e o [[acontecer poético]] de toda [[historicidade]], de toda [[obra de arte]]? Na medida em que se responde e corresponde a esta [[questão]] é que se pode "[[pensar]]" uma "[[história]]" da [[arte]]. Por outro lado, a [[história]] da [[arte]] tradicional não se serve meramente da [[cronologia]], mas está fundada na sucessão de [[forma|formas]] e [[matéria|matérias]]. [[Heidegger]] questiona esta [[concepção]] da [[coisa]], usada para ser pensado o [[utensílio]], no [[ensaio]] [http://www.heideggeriana.com.ar/textos/origem_obra_arte.htm ''A origem da obra de arte'']. Desse [[questionamento]] se abre a [[possibilidade]] de repensar não só a [[história]] da [[arte]] mas também as próprias [[obras]] enquanto históricas. Isto fica mais claro a partir da constatação de que a [[pós-modernidade]], ao centralizar-se no [[presente]], que denomina [[contemporâneo]] (como se toda [[época]] não fosse contemporânea de si mesma!), ao acelerar o [[tempo]] ou retardá-lo, comprimindo-o, leva o [[homem]] para o campo das [[vivência|vivências]], abolindo as [[experiência|experiências]]. Isto se reflete na [[memória]] e na [[linguagem]] (de [[comunicação]]). E é nesse eixo que se pode [[pensar]], sim ou não, a [[interpretação]] das [[obras]] como [[vigília]] desvelante, respondendo e correspondendo ao [[tempo]], à [[memória]] e à [[linguagem]]. E neste [[horizonte]] à [[historicidade]] [[essencial]] do [[ser humano]].
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: O [[homem]] [[moderno]], ao [[descobrir]] a [[historicidade]]/historicização do [[homem]], compreendeu-o no [[horizonte]] constituído pela [[história]]. E escreveram-se as [[diferentes]] [[histórias]]. Mas a partir da [[radicalização]] do [[pensamento]] [[heideggeriano]] sobre [[ser]] e [[tempo]], sobre [[história]] como [[acontecer poético]] e sobre a [[historicidade]] do [[homem]], não é mais possível continuar a estudar a [[arte]] através das [[histórias]] tradicionais. Com os impasses da [[pós-modernidade]] sobre [[tempo]]/[[história]] e o [[questionamento]] ainda não feito de como a própria [[ciência]] pode constituir-se como [[história]], devemos [[pensar]] as [[obras de arte]] como [[acontecer poético]]. Por outro lado, há as [[épocas]] em que o [[ser]] em seu [[sentido]] se destina. Como relacionar estas [[épocas]]-destinadas e o [[acontecer poético]] de toda [[historicidade]], de toda [[obra de arte]]? Na medida em que se responde e corresponde a esta [[questão]] é que se pode "[[pensar]]" uma "[[história]]" da [[arte]]. Por outro lado, a [[história]] da [[arte]] tradicional não se serve meramente da [[cronologia]], mas está fundada na sucessão de [[forma|formas]] e [[matéria|matérias]]. [[Heidegger]] questiona esta [[concepção]] da [[coisa]], usada para ser pensado o [[utensílio]], no [[ensaio]] [http://www.heideggeriana.com.ar/textos/origem_obra_arte.htm ''A origem da obra de arte'']. Desse [[questionamento]] se abre a [[possibilidade]] de repensar não só a [[história]] da [[arte]], mas também as próprias [[obras]] enquanto históricas. Isto fica mais claro a partir da constatação de que a [[pós-modernidade]], ao centralizar-se no [[presente]], que denomina [[contemporâneo]] (como se toda [[época]] não fosse contemporânea de si mesma!), ao acelerar o [[tempo]] ou retardá-lo, comprimindo-o, leva o [[homem]] para o campo das [[vivência|vivências]], abolindo as [[experiência|experiências]]. Isto se reflete na [[memória]] e na [[linguagem]] (de [[comunicação]]). E é nesse eixo que se pode [[pensar]], sim ou não, a [[interpretação]] das [[obras]] como [[vigília]] desvelante, respondendo e correspondendo ao [[tempo]], à [[memória]] e à [[linguagem]]. E neste [[horizonte]] à [[historicidade]] [[essencial]] do [[ser humano]].
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: A [[relação]] [[entre]] [[tempo]] e [[história]] e a afirmação ou [[negação]] da [[história]]/[[tempo]] se dá através de uma [[questão]] central: o [[sentido]]. Para o [[homem]] [[mítico]], dá-se através da [[atualização]] dos [[mitos]] nos [[ritos]]. No [[homem]] antigo e em outras [[culturas]], o [[sentido]] do [[tempo]]/[[história]] aparece nos [[ciclos]] temporais (Grande ano). A [[teoria]] de [[Hegel]] da [[história]] se estabelece enquanto [[teoria]] de um [[sentido]]. [[Idem]] para [[Marx]] e para a [[visão]] [[cristã]]. O que é [[sentido]]? Os [[gregos]] o [[pensavam]] como ''[[télos]]''.
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: A [[relação]] [[entre]] [[tempo]] e [[história]] e a afirmação ou [[negação]] da [[história]]/[[tempo]] se dá através de uma [[questão]] central: o [[sentido]]. Para o [[homem]] [[mítico]], dá-se através da [[atualização]] dos [[mitos]] nos [[ritos]]. No [[homem]] antigo e em outras [[culturas]], o [[sentido]] do [[tempo]]/[[história]] aparece nos [[ciclos]] temporais (Grande ano). A [[teoria]] de [[Hegel]] da [[história]] se estabelece enquanto [[teoria]] de um [[sentido]]. Idem para [[Marx]] e para a [[visão]] [[cristã]]. O que é [[sentido]]? Os [[gregos]] o [[pensavam]] como ''[[télos]]''.
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: O lançar mão dos dados históricos para a compreensão da obra de arte pode se tornar inútil e até atrapalhar, porque os muitos dados e [[explicação|explicações]] podem facilmente obnubilar e fazer [[esquecer]] a presença do [[extraordinário]]. Ora, esse é o núcleo de todo vigor da arte e do pensamento. Isso fica bem claro no fragmento 18 de Heráclito: "Se não se espera, não se encontra o inesperado, sendo sem caminhos de encontro nem vias de acesso" (1). O [[inesperado]] está radicado na ambiguidade radical da Linguagem poética e do pensamento, na medida em que estas são falas do sagrado.  
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: O lançar mão dos dados históricos para a [[compreensão]] da [[obra de arte]] pode se tornar inútil e até atrapalhar, porque os muitos dados e [[explicação|explicações]] podem facilmente obnubilar e fazer [[esquecer]] a [[presença]] do [[extraordinário]]. Ora, esse é o núcleo de todo [[vigor]] da [[arte]] e do [[pensamento]]. Isso fica bem claro no fragmento 18 de Heráclito: "Se não se espera, não se encontra o inesperado, sendo sem caminhos de encontro nem vias de acesso" (1). O [[inesperado]] está radicado na [[ambiguidade]] [[radical]] da [[Linguagem]] [[poética]] e do [[pensamento]], na medida em que estas são [[falas]] do [[sagrado]].  
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: (1) HERÁCLITO, Fragmento 18. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. ''Os pensadores originários''. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 63.
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: (1) HERÁCLITO, Fragmento 18. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. '''Os pensadores originários'''. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 63.
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: "A [[História]] nos leva hoje a conjugar cada vez mais os verbos de calcular e compor poderes de combinação. O [[progresso]] da [[técnica]] e o desenvolvimento da [[ciência]] escondem do homem o [[mistério]] da [[vida]] e o [[verbo]] criador da [[História]]" (1).
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: "A [[História]] nos leva hoje a conjugar cada vez mais os [[verbos]] de calcular e compor poderes de combinação. O [[progresso]] da [[técnica]] e o desenvolvimento da [[ciência]] escondem do [[homem]] o [[mistério]] da [[vida]] e o [[verbo]] criador da [[História]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 188: 145 / 153, jan.-mar., 2012, p. 149.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. In: Revista ''Tempo Brasileiro'', Rio de Janeiro, 188: 145 / 153, jan.-mar., 2012, p. 149.
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:"A história parte da concepção tricotômica do [[tempo]]. Historiograficamente estuda-se no presente os fatos do passado. Não se questiona a condição de possibilidade da correlação entre esses dois tempos, sendo o futuro um filho enjeitado, como se não fosse uma dimensão do [[humano]]" (1).
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: "A [[história]] parte da concepção tricotômica do [[tempo]]. Historiograficamente estudam-se no [[presente]] os [[fatos]] do [[passado]]. Não se questiona a condição de [[possibilidade]] da correlação entre esses dois [[tempos]], sendo o [[futuro]] um filho enjeitado, como se não fosse uma dimensão do [[humano]]" (1).
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético'' – ''A história literária''. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 40.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''O acontecer poético''' – '''A história literária'''. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 40.
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: "A [[essência]] da história é o destino ou a estruturação do que é enviado para ser disposto" (1), isto é, "...a história é o destinar-se do [[Ser]] no [[homem]]. Isso quer dizer: é no destinar-se do Ser que o homem se hominiza..." (2).
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: "A [[essência]] da [[história]] é o [[destino]] ou a estruturação do que é enviado para ser disposto" (1), isto é, "... a [[história]] é o [[destinar-se]] do [[Ser]] no [[homem]]. Isso quer dizer: é no [[destinar-se]] do [[Ser]] que o [[homem]] se hominiza..." (2).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético'' – ''A história literária''. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''O acontecer poético''' – '''A história literária'''. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
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: (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Aprendendo a pensar'''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 59.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". Trad. Ernildo Stein. In: ''Os pré-socráticos - fragmentos, doxografia e comentários''. Coleção ''Os pensadores''. Seleção de textos de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 22.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". Trad. Ernildo Stein. In: '''Os pré-socráticos - fragmentos, doxografia e comentários'''. Coleção ''Os pensadores''. Seleção de textos de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 22.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 197.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 197.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''O que é uma coisa''. Lisboa: Edições 70, 1992, pp. 53-4.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''O que é uma coisa'''. Lisboa: Edições 70, 1992, pp. 53-4.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Introdução à metafísica''. Trad. Emmmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, 45.
: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Introdução à metafísica''. Trad. Emmmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, 45.
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: "A [[história]] não pode, portanto, ser vista só na sua [[dimensão]] [[horizontal]], porque não há [[horizontalidade]] sem [[verticalidade]]. O [[inverso]] também é [[verdadeiro]]. A [[sucessão]] [[linear]] ([[temporal]]) manifesta a [[espacialidade]] dos [[fatos]], enquanto inscrição do [[paradigma]] (''para-'': ''ao lado de''; ''-digma'': ''manifestação''). O [[paradigma]] permite-nos [[apreender]] [[espacialmente]] os [[diferentes]] [[fatos]] assinalados ''ordenadamente'' (''-tagma'') ''entre si'' (''syn-''), enquanto [[manifestação]] [[temporal]]. O [[espaço]] é a [[configuração]] [[temporal]]. Projetamo-nos [[temporalmente]] para nos percebermos [[espacialmente]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ---. '''Tempos de Metamorfose'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 190.
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: A [[história]] surge com o [[ser humano]]. Desse modo, não podemos entender a [[história]] senão como as peripécias e vicissitudes do [[ser humano]] no [[mundo]]. Sendo, no [[mundo]], o [[homem]] é histórico. Sua [[historicidade]] não depende diretamente dos suportes e dos meios de registro dessa [[historicidade]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "A [[história]], enquanto [[acontecer poético]], é o [[destinar-se]] do [[sentido do ser]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''A essência do feminino: o vazio acolhedor'''. [[Ensaio]] não publicado.

Edição atual tal como 22h12min de 3 de Julho de 2022

1

A tensão entre memória e história é a mesma que entre phýsis e logos. A história enquanto acontecer é a manifestação da memória enquanto o que é, o que foi e o que será. A Memória é o génos que se manifesta como história. E génos é tempo e vida. A história é o acontecer da memória. Por isso, a história é a realização da memória enquanto manifestação do tempo. Não podemos falar em história sem tempo, mas por sua vez a memória é o tempo em seu vigorar, enquanto sentido. Igualmente memória e história são a manifestação da phýsis enquanto linguagem (logos/sentido). Tradição, historiografia e língua enquanto discurso são como ritos do que é memória, história, linguagem e tempo, mas sem o vigor do mito.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Era uma vez

2

O homem moderno, ao descobrir a historicidade/historicização do homem, compreendeu-o no horizonte constituído pela história. E escreveram-se as diferentes histórias. Mas a partir da radicalização do pensamento heideggeriano sobre ser e tempo, sobre história como acontecer poético e sobre a historicidade do homem, não é mais possível continuar a estudar a arte através das histórias tradicionais. Com os impasses da pós-modernidade sobre tempo/história e o questionamento ainda não feito de como a própria ciência pode constituir-se como história, devemos pensar as obras de arte como acontecer poético. Por outro lado, há as épocas em que o ser em seu sentido se destina. Como relacionar estas épocas-destinadas e o acontecer poético de toda historicidade, de toda obra de arte? Na medida em que se responde e corresponde a esta questão é que se pode "pensar" uma "história" da arte. Por outro lado, a história da arte tradicional não se serve meramente da cronologia, mas está fundada na sucessão de formas e matérias. Heidegger questiona esta concepção da coisa, usada para ser pensado o utensílio, no ensaio A origem da obra de arte. Desse questionamento se abre a possibilidade de repensar não só a história da arte, mas também as próprias obras enquanto históricas. Isto fica mais claro a partir da constatação de que a pós-modernidade, ao centralizar-se no presente, que denomina contemporâneo (como se toda época não fosse contemporânea de si mesma!), ao acelerar o tempo ou retardá-lo, comprimindo-o, leva o homem para o campo das vivências, abolindo as experiências. Isto se reflete na memória e na linguagem (de comunicação). E é nesse eixo que se pode pensar, sim ou não, a interpretação das obras como vigília desvelante, respondendo e correspondendo ao tempo, à memória e à linguagem. E neste horizonte à historicidade essencial do ser humano.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
* Experiência

3

A relação entre tempo e história e a afirmação ou negação da história/tempo se dá através de uma questão central: o sentido. Para o homem mítico, dá-se através da atualização dos mitos nos ritos. No homem antigo e em outras culturas, o sentido do tempo/história aparece nos ciclos temporais (Grande ano). A teoria de Hegel da história se estabelece enquanto teoria de um sentido. Idem para Marx e para a visão cristã. O que é sentido? Os gregos o pensavam como télos.


- Manuel Antônio de Castro

4

O lançar mão dos dados históricos para a compreensão da obra de arte pode se tornar inútil e até atrapalhar, porque os muitos dados e explicações podem facilmente obnubilar e fazer esquecer a presença do extraordinário. Ora, esse é o núcleo de todo vigor da arte e do pensamento. Isso fica bem claro no fragmento 18 de Heráclito: "Se não se espera, não se encontra o inesperado, sendo sem caminhos de encontro nem vias de acesso" (1). O inesperado está radicado na ambiguidade radical da Linguagem poética e do pensamento, na medida em que estas são falas do sagrado.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HERÁCLITO, Fragmento 18. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Os pensadores originários. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 63.

5

"A História nos leva hoje a conjugar cada vez mais os verbos de calcular e compor poderes de combinação. O progresso da técnica e o desenvolvimento da ciência escondem do homem o mistério da vida e o verbo criador da História" (1).


- Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 188: 145 / 153, jan.-mar., 2012, p. 149.

6

"A história parte da concepção tricotômica do tempo. Historiograficamente estudam-se no presente os fatos do passado. Não se questiona a condição de possibilidade da correlação entre esses dois tempos, sendo o futuro um filho enjeitado, como se não fosse uma dimensão do humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poéticoA história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 40.

7

"A essência da história é o destino ou a estruturação do que é enviado para ser disposto" (1), isto é, "... a história é o destinar-se do Ser no homem. Isso quer dizer: é no destinar-se do Ser que o homem se hominiza..." (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poéticoA história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 59.


Ver também:
*Acontecimento
*Sagrado

8

A história é o diálogo das épocas...


- Manuel Antônio de Castro.

9

"Que nos importam todas as filosofias da História que apenas fazem historiografia, pois elas só brilham com seus sinópticos cientificamente reunidos; elas explicam a história sem, jamais, pensar os fundamentos de seus princípios de explicação a partir da essência da História, e esta a partir de seu próprio ser?" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". Trad. Ernildo Stein. In: Os pré-socráticos - fragmentos, doxografia e comentários. Coleção Os pensadores. Seleção de textos de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 22.

10

"Sempre que a arte acontece, quer dizer, quando há um principiar, a história experimenta um impulso de embate. Então ela principia ou torna a principiar. História não significa aqui a sucessão de não importa o que no tempo, mesmo que sejam importantes fatos. História é o desabrochar de um povo em sua tarefa histórica, enquanto um adentrar no que lhe foi entre-doado para realizar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 197.

11

"A história da humanidade se tem movido em ciclos de vinte e cinco séculos. A cada dois milênios e meio fecha-se um ciclo. Atinge-se um clímax e instala-se um fim, mas fim no triplo sentido de término, de plenitude e de transformação. É um instante propício para outra realização do real na história dos homens, quando então poderemos vir a ser mais livremente tanto o que já fomos como o que ainda somos, mas sempre na abertura de outro horizonte, do horizonte do que seremos" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O que é pensar?". Conferência proferida na Academia Brasileira de Letras, em 2017.

12

O que é perguntar historicamente?
"Perguntar historicamente significa: libertar e pôr em movimento o que repousa na questão e nela está preso" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. O que é uma coisa. Lisboa: Edições 70, 1992, pp. 53-4.

13

"Hoje em dia, nos primórdios desse terceiro milênio, estamos de novo, apesar de todas as diferenças, nos interstícios da história, de passagem para um outro dia histórico. Novamente, todos os parâmetros se desvaneceram, todos os valores se gastaram, os princípios de ordem perderam força. Vivemos em estado fluido e maleável. O antigo já não tem a importância que tinha, o passado enfraqueceu o seu poder e o futuro, que de certa forma já veio, ainda não se instalou de todo. Estamos no hiato da história. É tempo de desinstalação, é dia de criação, é instante de transformação, pois para se reformar, é preciso transformar para não deformar na crise não apenas de todos os seus fundamentos, mas do próprio fundamento como fundamento" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O que é pensar?". Conferência proferida na Academia Brasileira de Letras, em 2017.

14

"A pretensa superação do mito pela historiografia não passou despercebida a um pensador do porte de Aristóteles. Sensível à força originária do mito, em outras palavras, à Poesia, declara (1):
"Com efeito, o historiador e o poeta não se diferenciam por dizerem as
coisas em verso ou em prosa (pois seria possível versificar as obras
de Heródoto, e não seriam menos história em verso que em prosa);
a diferença está em que um diz o que sucedeu, e o outro, o que poderia suceder.
Por isso também a poesia é mais filosófica e elevada que a história; pois
a poesia diz melhor o geral, e a história, o particular" (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno histórico". In: ----. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 39.
(2) ARISTÓTELES. Poética. Ed. trilíngue por Valentin Garcia Yebra. Madrid: Gredos, 1974, p. 157.

15

"História não significa para nós o passado; pois esse é justamente o que já não acontece. História também não é, e muito menos, o simples presente, que também nunca acontece, mas apenas passa, aparece e desaparece. História, entendida como acontecer, é o agir e sofrer pelo presente, determinado pelo futuro e que assume o pretérito vigente" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Trad. Emmmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, 45.

16

"A história não pode, portanto, ser vista só na sua dimensão horizontal, porque não há horizontalidade sem verticalidade. O inverso também é verdadeiro. A sucessão linear (temporal) manifesta a espacialidade dos fatos, enquanto inscrição do paradigma (para-: ao lado de; -digma: manifestação). O paradigma permite-nos apreender espacialmente os diferentes fatos assinalados ordenadamente (-tagma) entre si (syn-), enquanto manifestação temporal. O espaço é a configuração temporal. Projetamo-nos temporalmente para nos percebermos espacialmente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ---. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 190.

17

A história surge com o ser humano. Desse modo, não podemos entender a história senão como as peripécias e vicissitudes do ser humano no mundo. Sendo, no mundo, o homem é histórico. Sua historicidade não depende diretamente dos suportes e dos meios de registro dessa historicidade


- Manuel Antônio de Castro.

18

"A história, enquanto acontecer poético, é o destinar-se do sentido do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. A essência do feminino: o vazio acolhedor. Ensaio não publicado.