Poético

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "No [[poético]], as [[línguas]] são o [[rito]] da [[Linguagem]]. O [[mito]] narrado não é o [[mito]], mas o [[rito]] e a [[língua]] da [[Linguagem]]. Por isso, o [[poético]], toda [[arte]], tem [[origem]] [[mítica]]. E tanto o [[mito]] como a [[arte]] radicam no [[sagrado]]. Martin [[Heidegger]] afirma: “O [[pensador]] diz o [[ser]], o [[poeta]] nomeia o [[sagrado]]” (1). [[Nomear]] o [[sagrado]] eis o [[vigorar]] da [[palavra cantada]]" (2).
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Qu'est-ce que la metaphysique". In: ''Questions I''. Paris: Gallimard, 1968, p. 83.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.

Edição de 21h55min de 18 de Setembro de 2020

1

"Admitir a polifonia é admitir visão e escuta em uma dinâmica de superposição. A textura histórica das artes, ou não, reproduz a textura do modo de se dar o real. Em qualquer dimensão, mas em especial na dimensão do poético, o decisivo é que não há superação histórica. A rigor não se pode afirmar a superação de nada no âmbito do poético. O que numa primeira instância pode aparecer como superação, pode ser na verdade uma superposição em que alguma coisa esteja momentaneamente oculta e não superada"(1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 112.

2

O poético é a incessante reinvenção do cotidiano. Por isso o poético é a ação se fazendo linguagem, o ser se dando, sendo tempo, presenteando-se. O cotidiano não é o cronológico de um agora. É o presente do que não cessa de se inaugurar. E toda inauguração é sempre inauguração do mesmo, o que é o contrário da repetição da mesma coisa. O mesmo é o poético vigorando. É o extraordinário do ordinário, a face sempre nova da realidade na realização do instante, porque o instante é o presentificar-se do que é. O poético é. É enquanto se pensa. E pensando-se dimensiona-se o político pelo ético. O político é o ético do poético.


- Manuel Antônio de Castro

3

O poético, em termos de realidade e essência do humano, é sempre o diferente, sendo o nada criativo a sua identidade. Desse modo as novas grandes obras de arte operam num círculo poético.


- Manuel Antônio de Castro.

4

Feitos por Cura, temos que fazer de nossas pro-curas o cuidar poético do que somos e não somos. Mas só seremos radicalmente poéticos se ao cuidar do que nos é próprio, este cuidar não for qualquer cuidar, mas um cuidar poético, onde o que o move como permanência e atualidade é o vigorar do amar. E há algo mais poético, permanente e atual que o Amar? Quando afirmamos que no princípio era a Poética queremos dizer e mostrar que no princípio era o amar: o ser humano consumando o que é.


- Manuel Antônio de Castro

5

A ideia de autor propalada desde a Modernidade é falha porque não se abre para o acontecer da realidade, entendendo esta como o que vigora. Se a denominamos, sempre impropriamente, de imaginação, silêncio, vazio, nada criativo, é porque como finitos temos sempre de nos mover no limite. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela finitude. Criar mesmo nunca criamos, não somos autores de nada, mas acontece em nós o advir ao sentido a própria realidade, o vazio de que nos fala o pensador. Mover-se na autoria é ainda ficar restrito à entificação subjetiva. Mas sem ser não há ente. Deve haver dialética entre língua e linguagem, entre silêncio e fala. O oleiro faz a jarra com o que a realidade lhe oferece, mas quem lhe dá sentido e acolhimento é o vazio. O poético é isso e é essencialmente dialético.


- Manuel Antônio de Castro

6

Então o poético consiste sempre no mergulho no que somos como projeto e destino enigmático de realização. Isso é o poético, onde o conhecer não se torna epistemológico, mas ontológico, porque o essencial não é conhecer pelo e para o estético, porém, chegar a ser o que se conhece.


- Manuel Antônio de Castro

7

O poético é a tentativa mais radical de livrar-se da terminologia metafísica atributiva e libertar cada vivente para a luz matinal do instante poético em que nos compreendemos já vivendo. O poético é a paixão de Viver e seu sentido, sempre novo, sempre inaugural, sempre desafiante, para ser experienciado e jamais reduzido a mero jogo retórico-expressivo de palavras midiáticas. A mídia e seus meios expressivos são a metafísica atributiva da linguagem. Nela, linguagem se reduz a meio. Os lugares-comuns da língua e sua lógica coerente são o sepulcro metafísico da poiesis, encoberto pelas camadas de cinza multi-seculares do jargão dominante da metafísica lógica. O poder verbal da palavra é a possibilidade de todo poético e o que ele implica sempre de inesperado, porque ele é a verdade acontecendo enquanto desvelamento e velamento, casa da linguagem e cuidado da concretização do humano.


Manuel Antônio de Castro


8

"O poético diz sempre a essência do agir, não mecânico, funcional, mas realização no e pelo sentido da compreensão e compreensão do sentido. Por isso, poiesis diz a energia de sentido e compreensão" (1) .


 : Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

9

"E [Eduardo Portella] pensa em tempo integral para poder levar todo ser humano a pensar, fazendo do educar um permanente ensaio de aprendizagem do pensar, tarefa hoje cada vez mais difícil e rara, porque o midiático monta uma cena obscena, onde predomina o dispersivo, o circunstancial, o ralo e passageiro da estesia da espetáculo estético. Nessa encenação virtual, o estético é mais importante do que o poético, com a evidente perda do ético. Só o poético, numa permanente ensaio de acerto e erro, de risco de perda e ganho, se funda no ético" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 39.


10

"Com isso, deixamos de lado a representação corriqueira do que seja habitar. De acordo com essa representação, habitar continua sendo simplesmente um modo do comportamento humano, dentre tantos outros. Trabalhamos na cidade e habitamos fora. Empreendemos uma viagem e habitamos ora aqui, ora ali. Nesse sentido, habitar é sempre apenas a posse de um domicílio. Quando Hölderlin fala do habitar, ele vislumbra o traço fundamental da presença humana. Ele vê o "poético" a partir da relação com esse habitar, compreendido nesse modo vigoroso e essencial" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. In: -----. Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis R/J: Vozes, 2001, p. 161.


11

"Pois o 'poético' parece pertencer, quanto ao seu valor poético, ao reino da fantasia. O habitar poético sobrevoa fantasticamente o real. O poeta faz face a esse temor e diz, com propriedade, que o habitar poético é o habitar 'esta terra'. Assim, Hölderlin não somente protege o poético contra sua incompreensão usual corriqueira mas, acrescentando as palavras 'esta terra', remete para o vigor essencial da poesia. A poesia não sobrevoa e nem se eleva sobre a terra a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a poesia que traz o homem para a terra, para ela, e assim o traz para um habitar" (1). Esta passagem de do pensador Heidegger é extremamente importante, porque desfaz completamente a falsa noção de ficção, atribuída a toda literatura. É necessário, certamente, repensar tanto a noção corrente de ficção, bem como de fantasia, quanto o que se entende por real e realidade.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ------. Ensaios e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 169.


12

"Na vida, entretanto, não basta sentir, é necessário ser o que se sente. Ao contrário, a poética é um enigma que se dá em uma dobra. O seu desdobrar-se é mais que estético, algo somente preso às sensações ou percepções, é poético. Só o poético vigora no e a partir da essência do agir. Eis aí a diferença radical entre estética e poética. A essência do agir vigora a partir do sentido do ser e acontece em nós quando nos abrimos para o operar do pensar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.


13

"Não é o eu ou o tu que funda o entre ou o logos, porque o logos, essencialmente, é entre-poético-ontológico. Também não há precedência de um sobre o outro, mas uma tensão concreta e poética vigorando no entre, esse entre de ser-humano (“on”) E ser (“einai”)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 29.


14

"O poético diz sempre a essência do agir, não mecânico, funcional, mas realização no e pelo sentido da compreensão e compreensão do sentido. Por isso, poiesis diz a energia de sentido e compreensão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.


15

"Só na dobra vigorante em todo ato, o sentido do ser, como sentido da linguagem, torna-se tanto mais poético quanto mais ético. Sendo o poético-ético o vigorar do ser ao dar-se como linguagem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.

16

O poético diz o ditar-doar do sagrado enquanto poiesis, isto é, doar instaurador e inaugural porque originário, o narrar inerente a toda saga. Sendo instaurador-originário é energia poética, isto é, o ser-se-dando como doar. O ser-se-dando enquanto doar é tempo e silêncio e memória e linguagem e realidade.


- Manuel Antônio de Castro.

17

"No poético, as línguas são o rito da Linguagem. O mito narrado não é o mito, mas o rito e a língua da Linguagem. Por isso, o poético, toda arte, tem origem mítica. E tanto o mito como a arte radicam no sagrado. Martin Heidegger afirma: “O pensador diz o ser, o poeta nomeia o sagrado” (1). Nomear o sagrado eis o vigorar da palavra cantada" (2).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Qu'est-ce que la metaphysique". In: Questions I. Paris: Gallimard, 1968, p. 83.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.