Genos

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: 2o. a [[origem]], como descendência, [[raça]], linhagem ou estirpe;
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: 2o. a [[origem]], como descendência, [[raça]], [[linhagem]] ou estirpe;
: 3o. [[gênero]], [[espécie]], parentesco ou [[sexo]]" (1).
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: (1): LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Introdução ao ''Sofista'' de Platão". In: ------. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis (RJ): Daimon Editora, 2010, p. 229.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Introdução ao '''Sofista''' de Platão". In: ---. '''Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis (RJ), Daimon Editora, 2010''', p. 229.
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: Em Hesíodo, quando narra a “gênese” dos [[deuses]], ou Teo-gonia, o ''[[genos]]'' é o que se poderia chamar de [[princípio]], mas não de [[fundamento]]. Só que este ''[[genos]]'' não é [[princípio]] porque ele se faz presente em todos os “momentos”, até porque não há “momentos” como [[cronologia]]. O ''[[genos]]'' só pode ser considerado [[princípio]] no estar sempre principiando. O ''[[genos]]'' é sempre um [[acontecer]]. Só nos podemos referir a ele como “[[princípio]]” porque está sempre principiando para além de toda carga [[genética]] e dos principiados.
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: Em [[Hesíodo]], quando narra a “gênese” dos [[deuses]], ou [[Teogonia]], o ''[[genos]]'' é o que se poderia chamar de [[princípio]], mas não de [[fundamento]]. Só que este ''[[genos]]'' não é [[princípio]] porque ele se faz presente em todos os “momentos”, até porque não há “momentos” como [[cronologia]]. O ''[[genos]]'' só pode ser considerado [[princípio]] no estar sempre principiando. O ''[[genos]]'' é sempre um [[acontecer]]. Só nos podemos referir a ele como “[[princípio]]” porque está sempre principiando para além de toda carga [[genética]] e dos principiados.
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: "A [[realidade]] em seu esplendor e [[diversidade]] – a ''[[phýsis]]'' para os gregos – não é apenas essa riqueza admirável, ela também não cessa de [[mudar]], de se renovar, mas também de retornar em sucessivas [[gerações]] e [[estações]] do ano. Da semente nasce a planta que cresce, dá flores, frutos e sementes, de onde nasce de novo a árvore num [[círculo]] [[poético]] [[infinito]]. O [[próprio]] [[ser humano]] nasce, cresce e morre, mas renascendo em cada novo [[nascimento]]. [[É]] o ''[[génos]]'': a geração dentro de uma [[família]]" (1).
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: "A [[realidade]] em seu esplendor e [[diversidade]] – a ''[[phýsis]]'' para os [[gregos]] – não é apenas essa riqueza admirável, ela também não cessa de [[mudar]], de se renovar, mas também de retornar em sucessivas [[gerações]] e [[estações]] do ano. Da semente nasce a planta que cresce, dá flores, frutos e sementes, de onde nasce de novo a árvore num [[círculo]] [[poético]] [[infinito]]. O [[próprio]] [[ser humano]] nasce, cresce e morre, mas renascendo em cada novo [[nascimento]]. [[É]] o ''[[génos]]'': a [[geração]] dentro de uma [[família]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: --------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 127.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 127.
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: "Contudo, a [[concepção]] [[mítica]] [[fundada]] na [[identidade]] ([[ipseidade]]) e [[diferença]] ([[alteridade]]) só se compreende enquanto ''[[genos]]''. A [[possibilidade]] de alguém [[ser]] ele-mesmo e ao mesmo tempo outro-que-não-ele não ocorre no plano de uma [[natureza]] [[pessoal]], mas na [[natureza]] do ''[[genos]]'', enquanto “expressão em que momentaneamente se manifesta o [[ser]] do [[Fundamento]]-''[[Genitor]]'', isto é, a [[natureza]] Fundamental do ''[[genos]]''” (Torrano: 1992, 78) (1).  
: "Contudo, a [[concepção]] [[mítica]] [[fundada]] na [[identidade]] ([[ipseidade]]) e [[diferença]] ([[alteridade]]) só se compreende enquanto ''[[genos]]''. A [[possibilidade]] de alguém [[ser]] ele-mesmo e ao mesmo tempo outro-que-não-ele não ocorre no plano de uma [[natureza]] [[pessoal]], mas na [[natureza]] do ''[[genos]]'', enquanto “expressão em que momentaneamente se manifesta o [[ser]] do [[Fundamento]]-''[[Genitor]]'', isto é, a [[natureza]] Fundamental do ''[[genos]]''” (Torrano: 1992, 78) (1).  
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: A [[tradução]] desta [[palavra]] por [[raça]], estirpe ou [[família]], embora correta, não apreende o seu [[significado]] [[essencial]]. ''[[Genos]]'' deriva de ''gignomai'' (nascer, [[devir]]). O ''[[genos]]'' comum a um grupo de [[indivíduos]] marca a [[comunhão]] de uma [[natureza]] por [[nascimento]], formando uma [[comunidade]]. Essa [[natureza]] é que os constitui mais do que outro fator qualquer. O [[indivíduo]] vale e se define pelo seu ''[[genos]]'', de tal maneira que “todas as [[ações]], decisões, falhas e êxitos do [[indivíduo]] têm [[fonte]] não na [[individualidade]] dele, mas nessa [[natureza]] supra-individual que caracteriza o ''[[genos]]''” (Torrano: 1992,78)(2)" (3).
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: A [[tradução]] desta [[palavra]] por [[raça]], estirpe ou [[família]], embora correta, não apreende o seu [[significado]] [[essencial]]. ''[[Genos]]'' deriva de ''gignomai'' (nascer, [[devir]]). O ''[[genos]]'' comum a um grupo de [[indivíduos]] marca a [[comunhão]] de uma [[natureza]] por [[nascimento]], formando uma [[comunidade]]. Essa [[natureza]] é que os constitui mais do que outro fator qualquer. O [[indivíduo]] vale e se define pelo seu ''[[genos]]'', de tal maneira que “todas as [[ações]], decisões, falhas e êxitos do [[indivíduo]] têm [[fonte]] não na [[individualidade]] dele, mas nessa [[natureza]] supra-individual que caracteriza o ''[[genos]]''” (Torrano: 1992,78) (2)" (3).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.
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: "O [[indivíduo]] vale e se define pelo seu ''[[genos]]'', de tal maneira que “todas as [[ações]], [[decisões]], falhas e êxitos do [[indivíduo]] têm [[fonte]] não na [[individualidade]] dele, mas nessa [[natureza]] supra-individual que caracteriza o ''[[genos]]''” (Torrano: 1992, 78) (1).  
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: "O [[indivíduo]] vale e se define pelo seu ''[[genos]]'', de tal maneira que “todas as [[ações]], decisões, falhas e êxitos do [[indivíduo]] têm [[fonte]] não na [[individualidade]] dele, mas nessa [[natureza]] supra-individual que caracteriza o ''[[genos]]''” (Torrano: 1992, 78) (1).  
: Entendido o [[agir]] de cada um nesse [[horizonte]], pode-se [[compreender]] o que significa propriamente o [[destino]] no [[pensamento mítico]]. Cada ''[[genos]]'' dá [[origem]] a uma [[linhagem]]. Por exemplo, a [[linhagem]] de ''[[Zeus]]''. Esta, por sua vez, se [[estrutura]] em grupos [[familiares]] menores, mas estes compartilham a [[natureza]] comum da [[linhagem]], enquanto [[origem]], ''[[genos]]'' (2).
: Entendido o [[agir]] de cada um nesse [[horizonte]], pode-se [[compreender]] o que significa propriamente o [[destino]] no [[pensamento mítico]]. Cada ''[[genos]]'' dá [[origem]] a uma [[linhagem]]. Por exemplo, a [[linhagem]] de ''[[Zeus]]''. Esta, por sua vez, se [[estrutura]] em grupos [[familiares]] menores, mas estes compartilham a [[natureza]] comum da [[linhagem]], enquanto [[origem]], ''[[genos]]'' (2).
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: (1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função das Musas". In: ----. '''Teogonia'''. São Paulo, Iluminuras, 1992, p. 78  
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: (1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função das Musas". In: ---. '''Teogonia'''. São Paulo, Iluminuras, 1992, p. 78  
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.
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: "''[[Energia]] [[ancestral]]''. Esta é a que recebemos ao sermos concebidos e provém de nossos [[pais]], que a receberam de seus [[pais]] e assim [[sucessivamente]], ou seja, temos uma [[ligação]] [[profunda]] e [[originária]] com a [[família]]. Ela é [[memória]] [[imemorial]]. Os [[gregos]] denominavam a [[unidade]] e [[origem]] das [[famílias]] e das [[pessoas]]: ''[[genos]]''. Este ''[[genos]]'' (de onde se forma a [[palavra]] [[genética]]) passa, como [[energia]], a [[ser]] [[tudo]], a própria [[energia]] [[Qi]]. É ela também que faz com que cada um tenha um [[próprio]], aquilo que cada um [[é]], sua [[identidade]] e [[essência]]. Em si, a [[energia]] [[Qi]] é [[infinita]] e inesgotável. Contudo, aquela que cada um recebe do ''[[genos]]'' e [[pais]] é [[finita]], [[originando]] a [[morte]]. E então se coloca a [[questão]] da [[relação]] [[essencial]] [[entre]] [[infinito]] e [[finito]] para nós" (1).
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: "''[[Energia]] [[ancestral]]''. Esta é a que recebemos ao sermos concebidos e provém de nossos [[pais]], que a receberam de seus [[pais]] e assim sucessivamente, ou seja, temos uma [[ligação]] [[profunda]] e [[originária]] com a [[família]]. Ela é [[memória]] [[imemorial]]. Os [[gregos]] denominavam a [[unidade]] e [[origem]] das [[famílias]] e das [[pessoas]]: ''[[genos]]''. Este ''[[genos]]'' (de onde se forma a [[palavra]] [[genética]]) passa, como [[energia]], a [[ser]] [[tudo]], a própria [[energia]] [[Qi]]. É ela também que faz com que cada um tenha um [[próprio]], aquilo que cada um [[é]], sua [[identidade]] e [[essência]]. Em si, a [[energia]] [[Qi]] é [[infinita]] e inesgotável. Contudo, aquela que cada um recebe do ''[[genos]]'' e [[pais]] é [[finita]], [[originando]] a [[morte]]. E então se coloca a [[questão]] da [[relação]] [[essencial]] [[entre]] [[infinito]] e [[finito]] para nós" (1).
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: "A importância [[fundamental]] disto está em nos descobrirmos no [[futuro]] como a [[vigência]] [[permanente]] do [[passado]], que, por ser [[memória]], não passa. Vigora. [[É]] o [[vigorar]] do [[sagrado]]. O [[culto]] da [[memória]] foi o núcleo central de [[toda]] [[atividade]] em torno do [[sagrado]]. E nesse núcleo a [[família]], entendida como ''[[genos]]'', sempre congregou [[toda]] a [[casa]]. É nesse [[sentido]] que a [[casa]] [[é]] a [[morada]], pois nela se fazem [[presentes]] [[todos]] os que constituem a [[família]]. Isso é o ''[[genos]]''. Justamente por isso, a [[casa]], a [[morada]], está ligada à [[linguagem]], porque, enfim, a [[morada]] não são as quatro paredes, mas o [[vazio]] que acolhe, no [[vazio]] delimitado pelas quatro paredes, a [[todos]], na delimitação das quatro paredes e de quantos cômodos compõem cada [[casa]]. É nesse [[sentido]] que nosso [[corpo]] é nossa [[casa]], porque nela [[habita]] o que somos" (1).
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: "A importância [[fundamental]] disto está em nos descobrirmos no [[futuro]] como a [[vigência]] [[permanente]] do [[passado]], que, por ser [[memória]], não passa. Vigora. [[É]] o [[vigorar]] do [[sagrado]]. O [[culto]] da [[memória]] foi o núcleo central de toda [[atividade]] em torno do [[sagrado]]. E nesse núcleo a [[família]], entendida como ''[[genos]]'', sempre congregou toda a [[casa]]. É nesse [[sentido]] que a [[casa]] [[é]] a [[morada]], pois nela se fazem [[presentes]] [[todos]] os que constituem a [[família]]. Isso é o ''[[genos]]''. Justamente por isso, a [[casa]], a [[morada]], está ligada à [[linguagem]], porque, enfim, a [[morada]] não são as quatro paredes, mas o [[vazio]] que acolhe, no [[vazio]] delimitado pelas quatro paredes, a [[todos]], na delimitação das quatro paredes e de quantos cômodos compõem cada [[casa]]. É nesse [[sentido]] que nosso [[corpo]] é nossa [[casa]], porque nela [[habita]] o que somos" (1).
:  Referência:  
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 249.
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 249.
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: "O [[mito]] pensou este [[ser]] das [[diferenças]] como [[diferença]] na [[palavra]] ''[[Genos]]''. Dela se originou hoje a [[palavra]] [[genética]]. Esta pensa o ''[[Genos]]'' como [[código]], na linha [[metafísica]], e não como [[linguagem]] de ausculta e [[identidade]] de [[diferenças]]. E se coloca, então, a [[questão]] do [[clone]]. [[Clones]] nós já somos desse [[código]] [[comunicativo]] que teima em anular as [[diferenças]]. Mas há [[diferença]] no [[clone]]? [[Clones]] sem [[diferença]] só aqueles do [[filme]] ''[[Matrix]]'', [[mãe]] não [[originária]], onde há [[sujeitos]]-[[virtuais]] aparentemente [[diferentes]]. Mas a tais "[[entes-virtuais]]" faltam cinco [[dimensões]] fundamentais indissociáveis: [[memória]], [[tempo]], ''[[poiesis]]'', ''[[ethos]]'' e ''[[sophia]]''" (1). Seria importante que se confira o que hoje a [[ciência]] chama de [[Autopoiese]].
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: "O [[mito]] pensou este [[ser]] das [[diferenças]] como [[diferença]] na [[palavra]] ''[[Genos]]''. Dela se originou hoje a [[palavra]] [[genética]]. Esta pensa o ''[[Genos]]'' como [[código]], na linha [[metafísica]], e não como [[linguagem]] de ausculta e [[identidade]] de [[diferenças]]. E se coloca, então, a [[questão]] do [[clone]]. [[Clones]] nós já somos desse [[código]] [[comunicativo]] que teima em anular as [[diferenças]]. Mas há [[diferença]] no [[clone]]? [[Clones]] sem [[diferença]] só aqueles do [[filme]] ''[[Matrix]]'', [[mãe]] não [[originária]], onde há [[sujeitos]]-[[virtuais]] aparentemente [[diferentes]]. Mas a tais "[[entes-virtuais]]" faltam cinco [[dimensões]] fundamentais indissociáveis: [[memória]], [[tempo]], ''[[poiesis]]'', ''[[ethos]]'' e ''[[sophia]]''" (1).
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: Seria importante conferir o que hoje a [[ciência]] chama de [[Autopoiese]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 22.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''Linguagem: nosso maior bem'''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 22.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 255.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 255.
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:  (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 70.
:  (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 70.
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: "''Porque a [[família]] é [[tudo]]''" (1).
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: (1) ROSSI, Padre Marcelo. "Introdução". In: ---.'''Ágape'''. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 5.
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: "O [[desenvolvimento]] dos [[povos]] depende sobretudo do [[reconhecimento]] de que são uma só [[família]], a qual colabora em [[verdadeira]] [[comunhão]] e é formada por [[sujeitos]] que não se limitam a [[viver]] uns ao lado dos [[outros]]" (1).
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: Referência:
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: (1) ROSSI, Padre Marcelo. "Multiplicação dos pães". In: ---.'''Ágape'''. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 54.
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== 14 ==
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: "Todos sabemos que o [[mito]] de [[Édipo]] se configura numa amplitude maior: o do [[genos]] de [[Édipo]]. Seu [[destino]], em [[princípio]], está ligado ao [[próprio]] [[destino]] do [[genos]]. Por isso, enquanto [[genos]], o [[mito]] nos lança no [[sentido]] [[essencial]] em que se reúne e ultrapassa qualquer [[dicotomia]] [[entre]] [[pessoal]] e [[social]]. Para além de [[Cura]] da [[dor]], da [[Cura]] amorosa, com [[Édipo]] temos a [[Cura]] da [[Polis]]. Por isso a [[poético-ecologia]] se dá na [[harmonia]] dos três [[cuidados]] em relação a três [[corpos]]: o de [[Édipo]] enquanto [[Édipo]], o de [[Édipo]] enquanto [[lugar]] do [[corpo social]], ou seja, a [[Polis]], o de [[Édipo]] enquanto [[genos]] de [[Eros]], [[Terra]], [[Céu]] e [[Mundo]]. A [[poético-ecologia]] deve necessariamente ser tomada e impulsionada pelos três [[corpos]]. Não há separação. Hoje, com a [[globalização]], o [[corpo social]] são todos os [[seres humanos]] e o [[genos]] são todos os [[seres humanos]], o [[Céu]], a [[Terra-mãe]]-[[Gaia]] e o [[Mundo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: '''Arte: corpo, mundo e terra'''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 30.
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: "Este [[genos]] (de onde se forma [[genética]]) já vem enunciado no começo do [[conto]]: “Na minha [[família]], em minha [[terra]]”. [[Genos]] significa exatamente isso: [[família]] e [[terra]], uma [[comunidade]], a [[comunidade]] [[humana]], um [[princípio]], o [[príncipe]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A condição humana e a essência do agir". '''Ensaio''' ainda não publicado.

Edição atual tal como 22h17min de 12 de Abril de 2024

Tabela de conteúdo

1

"Proveniência, Platão a designa com a palavra to genos. Geralmente entende-se genos em três níveis:
1o. a proveniência, como tempo, lugar ou condição de nascer;
2o. a origem, como descendência, raça, linhagem ou estirpe;
3o. gênero, espécie, parentesco ou sexo" (1).


- Referência bibliográfica:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Introdução ao Sofista de Platão". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis (RJ), Daimon Editora, 2010, p. 229.

2

Em Hesíodo, quando narra a “gênese” dos deuses, ou Teogonia, o genos é o que se poderia chamar de princípio, mas não de fundamento. Só que este genos não é princípio porque ele se faz presente em todos os “momentos”, até porque não há “momentos” como cronologia. O genos só pode ser considerado princípio no estar sempre principiando. O genos é sempre um acontecer. Só nos podemos referir a ele como “princípio” porque está sempre principiando para além de toda carga genética e dos principiados.


- Manuel Antônio de Castro

3

"A realidade em seu esplendor e diversidade – a phýsis para os gregos – não é apenas essa riqueza admirável, ela também não cessa de mudar, de se renovar, mas também de retornar em sucessivas gerações e estações do ano. Da semente nasce a planta que cresce, dá flores, frutos e sementes, de onde nasce de novo a árvore num círculo poético infinito. O próprio ser humano nasce, cresce e morre, mas renascendo em cada novo nascimento. É o génos: a geração dentro de uma família" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 127.

4

"O mito é julgado e descartado a partir do logos, reduzido à razão. E o mito sempre falou do ser humano como pertencente a um genos (de onde se forma a palavra moderna genética). Indicava uma família, um gênero (formada também de genos), uma etnia. Como família tinha algo em comum, o genos, mas cada um dentro desse genos recebia um quinhão, a sua “cota” no genos da família. O nome para esse quinhão foi e é: Moira. A tradução mais tradicional não é quinhão, mas destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26.

5

"Contudo, a concepção mítica fundada na identidade (ipseidade) e diferença (alteridade) só se compreende enquanto genos. A possibilidade de alguém ser ele-mesmo e ao mesmo tempo outro-que-não-ele não ocorre no plano de uma natureza pessoal, mas na natureza do genos, enquanto “expressão em que momentaneamente se manifesta o ser do Fundamento-Genitor, isto é, a natureza Fundamental do genos” (Torrano: 1992, 78) (1).
A tradução desta palavra por raça, estirpe ou família, embora correta, não apreende o seu significado essencial. Genos deriva de gignomai (nascer, devir). O genos comum a um grupo de indivíduos marca a comunhão de uma natureza por nascimento, formando uma comunidade. Essa natureza é que os constitui mais do que outro fator qualquer. O indivíduo vale e se define pelo seu genos, de tal maneira que “todas as ações, decisões, falhas e êxitos do indivíduo têm fonte não na individualidade dele, mas nessa natureza supra-individual que caracteriza o genos” (Torrano: 1992,78) (2)" (3).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.

6

"O indivíduo vale e se define pelo seu genos, de tal maneira que “todas as ações, decisões, falhas e êxitos do indivíduo têm fonte não na individualidade dele, mas nessa natureza supra-individual que caracteriza o genos” (Torrano: 1992, 78) (1).
Entendido o agir de cada um nesse horizonte, pode-se compreender o que significa propriamente o destino no pensamento mítico. Cada genosorigem a uma linhagem. Por exemplo, a linhagem de Zeus. Esta, por sua vez, se estrutura em grupos familiares menores, mas estes compartilham a natureza comum da linhagem, enquanto origem, genos (2).


Referência:
(1) TORRANO, Jaa. "O mundo como função das Musas". In: ---. Teogonia. São Paulo, Iluminuras, 1992, p. 78
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 166.

7

"Energia ancestral. Esta é a que recebemos ao sermos concebidos e provém de nossos pais, que a receberam de seus pais e assim sucessivamente, ou seja, temos uma ligação profunda e originária com a família. Ela é memória imemorial. Os gregos denominavam a unidade e origem das famílias e das pessoas: genos. Este genos (de onde se forma a palavra genética) passa, como energia, a ser tudo, a própria energia Qi. É ela também que faz com que cada um tenha um próprio, aquilo que cada um é, sua identidade e essência. Em si, a energia Qi é infinita e inesgotável. Contudo, aquela que cada um recebe do genos e pais é finita, originando a morte. E então se coloca a questão da relação essencial entre infinito e finito para nós" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Filosofia e o pensamento do corpo". In: Desdobramentos do corpo no século XXI. MONTEIRO, Maria Conceição & GIUCCI, Guilhermo (orgs.). Rio de Janeiro: FAPERJ, Editora Caetés, 2016, p. 23.

8

"A importância fundamental disto está em nos descobrirmos no futuro como a vigência permanente do passado, que, por ser memória, não passa. Vigora. É o vigorar do sagrado. O culto da memória foi o núcleo central de toda atividade em torno do sagrado. E nesse núcleo a família, entendida como genos, sempre congregou toda a casa. É nesse sentido que a casa é a morada, pois nela se fazem presentes todos os que constituem a família. Isso é o genos. Justamente por isso, a casa, a morada, está ligada à linguagem, porque, enfim, a morada não são as quatro paredes, mas o vazio que acolhe, no vazio delimitado pelas quatro paredes, a todos, na delimitação das quatro paredes e de quantos cômodos compõem cada casa. É nesse sentido que nosso corpo é nossa casa, porque nela habita o que somos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 249.

9

"O mito pensou este ser das diferenças como diferença na palavra Genos. Dela se originou hoje a palavra genética. Esta pensa o Genos como código, na linha metafísica, e não como linguagem de ausculta e identidade de diferenças. E se coloca, então, a questão do clone. Clones nós já somos desse código comunicativo que teima em anular as diferenças. Mas há diferença no clone? Clones sem diferença só aqueles do filme Matrix, mãe não originária, onde há sujeitos-virtuais aparentemente diferentes. Mas a tais "entes-virtuais" faltam cinco dimensões fundamentais indissociáveis: memória, tempo, poiesis, ethos e sophia" (1).
Seria importante conferir o que hoje a ciência chama de Autopoiese.


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 22.

10

"Ao esquecimento da lei da morte corresponde a lei da memória e da vida, Eros vigorando. Memória é o génos, proveniência como vigência de tudo que é, foi e será" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Passado". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 255.

11

o amor da família
dos amigos e da comunidade
tem tanta potência
quanto o amor
de uma relação romântica (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 70.

12

"Porque a família é tudo" (1).


Referência:
(1) ROSSI, Padre Marcelo. "Introdução". In: ---.Ágape. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 5.

13

"O desenvolvimento dos povos depende sobretudo do reconhecimento de que são uma só família, a qual colabora em verdadeira comunhão e é formada por sujeitos que não se limitam a viver uns ao lado dos outros" (1).


Referência:
(1) ROSSI, Padre Marcelo. "Multiplicação dos pães". In: ---.Ágape. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 54.

14

"Todos sabemos que o mito de Édipo se configura numa amplitude maior: o do genos de Édipo. Seu destino, em princípio, está ligado ao próprio destino do genos. Por isso, enquanto genos, o mito nos lança no sentido essencial em que se reúne e ultrapassa qualquer dicotomia entre pessoal e social. Para além de Cura da dor, da Cura amorosa, com Édipo temos a Cura da Polis. Por isso a poético-ecologia se dá na harmonia dos três cuidados em relação a três corpos: o de Édipo enquanto Édipo, o de Édipo enquanto lugar do corpo social, ou seja, a Polis, o de Édipo enquanto genos de Eros, Terra, Céu e Mundo. A poético-ecologia deve necessariamente ser tomada e impulsionada pelos três corpos. Não há separação. Hoje, com a globalização, o corpo social são todos os seres humanos e o genos são todos os seres humanos, o Céu, a Terra-mãe-Gaia e o Mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 30.

15

"Este genos (de onde se forma genética) já vem enunciado no começo do conto: “Na minha família, em minha terra”. Genos significa exatamente isso: família e terra, uma comunidade, a comunidade humana, um princípio, o príncipe" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A condição humana e a essência do agir". Ensaio ainda não publicado.