Finitude

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:A afirmação tanto do "[[eu]]" quanto do "[[sou]]" implica a [[existência]] do [[limite]], mas a [[finitude]] é mais: é o saber-se limitado no tender ao [[ser]] e sempre tão [[próximo]] quanto [[distante]] dele. Vivemos na [[finitude]] a [[dialética]] de [[distância]] e [[proximidade]]. É assim que o [[eu]] encontra a sua [[medida]] no [[sou]]. Em realidade, verdadeiramente, só podemos falar de [[finitude]] em [[relação]] ao [[ser humano]] e não em [[relação]] aos [[outros]] [[entes]], embora todos sejam limitados. A [[finitude]] inclui o [[limite]], mas todo e qualquer [[limite]] não inclui a [[finitude]]. Nesta nos deparamos com a [[questão]] da [[morte]] e é, então, que a [[finitude]] aparece em toda a sua dramaticidade. Nesta [[época]] da [[globalização]] acentua-se e procura-se incutir nas [[pessoas]] o [[poder]] de fugir à [[finitude]] e à [[morte]]. Estas passam a ser algo que se pode protelar com tratamentos adequados e milagreiros. Acontece então que a [[finitude]] nos advém em meio a essa promessa de [[felicidade]] aqui e agora e [[eterna]] quando somos tomados pela [[angústia]] e pela [[solidão]]. Há um [[palíndromo]] [[entre]] [[finitude]] e [[solidão]]. A [[finitude]] gera a [[solidão]] que não é [[ser]] só, mas só [[ser]] o [[sendo]] que somos e tende continuamente para o [[ser]], ou seja, experiência-se [[sendo]] e gerando a [[angústia]] da [[finitude]] e seu apelo de ser [[infinito]], pleno, [[luz]] e [[claridade]] total vigorando. É da [[condição humana]]: ser [[finitude]] e [[solidão]].
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: A [[afirmação]] tanto do "[[eu]]" quanto do "[[sou]]" implica a [[existência]] do [[limite]], mas a [[finitude]] é mais: é o saber-se limitado no tender ao [[ser]] e [[sempre]] tão [[próximo]] quanto [[distante]] dele. Vivemos na [[finitude]] a [[dialética]] de [[distância]] e [[proximidade]]. É assim que o [[eu]] encontra a sua [[medida]] no [[sou]]. Em [[realidade]], verdadeiramente, só podemos [[falar]] de [[finitude]] em [[relação]] ao [[ser humano]] e não em [[relação]] aos [[outros]] [[entes]], embora todos sejam limitados. A [[finitude]] inclui o [[limite]], mas todo e qualquer [[limite]] não inclui a [[finitude]]. Nesta nos deparamos com a [[questão]] da [[morte]] e é, então, que a [[finitude]] aparece em toda a sua dramaticidade. Nesta [[época]] da [[globalização]] acentua-se e procura-se incutir nas [[pessoas]] o [[poder]] de [[fugir]] à [[finitude]] e à [[morte]]. Estas passam a [[ser]] [[algo]] que se pode protelar com tratamentos adequados e milagreiros. [[Acontece]] então que a [[finitude]] nos advém em meio a essa promessa de [[felicidade]] aqui e [[agora]] e [[eterna]] quando somos tomados pela [[angústia]] e pela [[solidão]]. Há um [[palíndromo]] [[entre]] [[finitude]] e [[solidão]]. A [[finitude]] gera a [[solidão]] que não é [[ser]] só, mas só [[ser]] o [[sendo]] que somos e tende continuamente para o [[ser]], ou seja, experiência-se [[sendo]] e gerando a [[angústia]] da [[finitude]] e seu apelo de [[ser]] [[infinito]], [[pleno]], [[luz]] e [[claridade]] [[total]] [[vigorando]]. É da [[condição humana]]: [[ser]] [[finitude]] e [[solidão]].
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: "O [[homem]] não é só um [[ser]] simplesmente [[finito]]. O [[homem]] é o mais [[finito]] dos [[seres]], porque, na [[finitude]], ele sente sempre o [[infinito]] do [[nada]], mesmo em toda pretensão, escamoteada, de ser [[infinito]]. É na [[finitude]] sem fim do [[nada]] que afirma, em tudo que faz e/ou deixa de fazer, o [[infinito]]" (1).
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: "O [[homem]] não é só um [[ser]] simplesmente [[finito]]. O [[homem]] é o mais [[finito]] dos [[seres]], porque, na [[finitude]], ele sente [[sempre]] o [[infinito]] do [[nada]], mesmo em toda pretensão, escamoteada, de [[ser]] [[infinito]]. É na [[finitude]] sem fim do [[nada]] que afirma, em [[tudo]] que faz e/ou deixa de fazer, o [[infinito]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. ''Aprendendo a pensar III''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 121.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. '''Aprendendo a pensar III'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 121.
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: "A [[angústia]] nos corta a [[palavra]]. Pelo [[fato]] de o [[ente]] em sua totalidade fugir e, assim, justamente, nos acossar o [[nada]], em sua [[presença]], emudece qualquer dicção do "[[é]]". O fato de nós procurarmos muitas vezes, na [[estranheza]] da [[angústia]], romper o [[vazio]] [[silêncio]] com [[palavras]] sem nexo é apenas o testemunho da [[presença]] do [[nada]]. Que a [[angústia]] revela o [[nada]] é confirmado imediatamente pelo próprio [[homem]] quando a [[angústia]] se afastou. Na posse da [[claridade]] do olhar,  a lembrança recente nos leva a [[dizer]]:  Diante de que e por que nós nos angustiamos era "propriamente" - [[nada]]. Efetivamente: o [[nada]] mesmo - enquanto tal - estava aí" (1).  
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: "A [[angústia]] nos corta a [[palavra]]. Pelo [[fato]] de o [[ente]] em sua totalidade fugir e, assim, justamente, nos acossar o [[nada]], em sua [[presença]], emudece qualquer dicção do "[[é]]". O fato de nós procurarmos muitas vezes, na [[estranheza]] da [[angústia]], romper o [[vazio]] [[silêncio]] com [[palavras]] sem nexo é apenas o testemunho da [[presença]] do [[nada]]. Que a [[angústia]] revela o [[nada]] é confirmado imediatamente pelo próprio [[homem]] quando a [[angústia]] se afastou. Na posse da [[claridade]] do olhar,  a lembrança recente nos leva a [[dizer]]:  Diante de que e por que nós nos angustiamos era "propriamente" - [[nada]]. Efetivamente: o [[nada]] mesmo - enquanto tal - estava aí" (1).
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: De alguma maneira a [[angústia]] está ligada à nossa [[condição humana]] de [[finitos]], ou seja, à nossa [[finitude]], pois nesta nos defrontamos com o [[nada]] que elimina quaisquer [[limites]] e então surge a [[angústia]] diante do [[infinito]]. É que a [[finitude]] se faz presente em todo o nosso [[caminhar]], em todo o nosso [[querer]], em todas as nossas [[ações]] em sua [[essência]]. Como fica a nossa [[liberdade]] e o nosso [[conhecer]]? Devemos seguir Sócrates quando diz que só sei que [[nada]] sei? Certamente somente o [[ser humano]] é tomado pela [[angústia]], pois só ele [[é]] [[finito]] e sabe que [[é]] [[finito]] diante do [[infinito]]. Como fica diante da [[finitude]] a nossa [[plenitude]] e [[felicidade]]?
: De alguma maneira a [[angústia]] está ligada à nossa [[condição humana]] de [[finitos]], ou seja, à nossa [[finitude]], pois nesta nos defrontamos com o [[nada]] que elimina quaisquer [[limites]] e então surge a [[angústia]] diante do [[infinito]]. É que a [[finitude]] se faz presente em todo o nosso [[caminhar]], em todo o nosso [[querer]], em todas as nossas [[ações]] em sua [[essência]]. Como fica a nossa [[liberdade]] e o nosso [[conhecer]]? Devemos seguir Sócrates quando diz que só sei que [[nada]] sei? Certamente somente o [[ser humano]] é tomado pela [[angústia]], pois só ele [[é]] [[finito]] e sabe que [[é]] [[finito]] diante do [[infinito]]. Como fica diante da [[finitude]] a nossa [[plenitude]] e [[felicidade]]?
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica?". In: ------. ''Heidegger''. Coleção ''Os pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica?". In: ---. '''Heidegger'''. Coleção '''Os pensadores'''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 206.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 206.
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: "Em nossa [[finitude]] [[essencial]], para falarmos de [[ser]], explícita ou implicitamente, sempre temos de partir do “[[é]]”. Ora, o “[[é]]” diz respeito ao “[[ente]]” e seu [[conhecimento]]. Então, em nossa [[finitude]], a [[questão]] assim nos desafia: de um lado, não podemos reduzir o [[Ser]] ao [[ente]], mas, de outra, se coloca a difícil e [[enigmática]] [[questão]] se e como o [[Ser]] [[é]]" (1).
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: "Em nossa [[finitude]] [[essencial]], para falarmos de [[ser]], explícita ou implicitamente, sempre temos de partir do “[[é]]”. Ora, o “[[é]]” diz respeito ao “[[ente]]” e seu [[conhecimento]]. Então, em nossa [[finitude]], a [[questão]] assim nos desafia: de um lado, não podemos reduzir o [[Ser]] ao [[ente]], mas, de outro, se coloca a difícil e [[enigmática]] [[questão]] se e como o [[Ser]] [[é]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). ''Além dos limites'' - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). '''Além dos limites - ensaios para o século XXI'''. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). ''Além dos limites'' - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). '''Além dos limites - ensaios para o século XXI'''. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). ''Além dos limites'' - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). '''Além dos limites - ensaios para o século XXI'''. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.
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: "Deve (o leitor) deixar cada [[palavra]] vir com sua força [[poética]] e nela descobrirá algo maravilhoso: que a [[resposta]], qualquer [[resposta]], só é verdadeiramente [[resposta]] se recolocar a [[questão]], pois somos radicalmente seres-do-entre, [[entre]] [[pergunta]] e [[resposta]], [[entre]] [[vida]] e [[morte]]. Vivemos sempre em [[liminaridade]], uma [[liminaridade]] em que vigora a [[essência]] [[originária]], porque [[poética]], pela qual tanto mais realizamos nossa [[finitude]] quanto mais, corajosamente, nos lançamos no [[não-finito]]" (1).
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: "Deve (o leitor) deixar cada [[palavra]] vir com sua força [[poética]] e nela descobrirá [[algo]] [[maravilhoso]]: que a [[resposta]], qualquer [[resposta]], só é [[verdadeiramente]] [[resposta]] se recolocar a [[questão]], pois somos [[radicalmente]] seres-do-[[entre]], [[entre]] [[pergunta]] e [[resposta]], [[entre]] [[vida]] e [[morte]]. [[Vivemos]] [[sempre]] em [[liminaridade]], uma [[liminaridade]] em que [[vigora]] a [[essência]] [[originária]], porque [[poética]], pela qual tanto mais [[realizamos]] nossa [[finitude]] quanto mais, corajosamente, nos lançamos no [[não-finito]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte: corpo, mundo e terra''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 14.
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte: corpo, mundo e terra'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 14.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 149.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 149.
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: "A [[pergunta]] revelou a [[diferença ontológica]] [[entre]] o [[ente]] e o [[ser]]: o [[ente]] “[[é]]”, está posto no [[ser]] e em virtude do [[ser]], mas ele não é o [[ser]] mesmo, o ser-na-sua-totalidade. Ora, com esta [[diferença ontológica]] está posta igualmente a [[finitude]] do [[ente]]: a [[finitude]] do perguntador e do perguntado" (1).
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: "A [[pergunta]] revelou a [[diferença ontológica]] [[entre]] o [[ente]] e o [[ser]]: o [[ente]] “[[é]]”, está posto no [[ser]] e em virtude do [[ser]], mas ele não é o [[ser]] mesmo, o ser-na-sua-totalidade. Ora, com esta [[diferença ontológica]] está posta igualmente a [[finitude]] do [[ente]]: a [[finitude]] do [[perguntador]] e do [[perguntado]]" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.
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: "... a [[finitude]] irremediável do [[espírito]] [[humano]] impõe ao [[homem]] que seu [[auto]]-[[exercício espiritual]] se processe sob estes dois aspectos de [[saber]] e de [[querer]]" (1).
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: "... a [[finitude]] irremediável do [[espírito]] [[humano]] impõe ao [[homem]] que seu [[auto]]-[[exercício espiritual]] se processe sob estes dois [[aspectos]] de [[saber]] e de [[querer]]" (1).
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.
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: Referência bibliográfica:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 194.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 194.

Edição atual tal como 20h29min de 7 de fevereiro de 2024

Tabela de conteúdo

1

A afirmação tanto do "eu" quanto do "sou" implica a existência do limite, mas a finitude é mais: é o saber-se limitado no tender ao ser e sempre tão próximo quanto distante dele. Vivemos na finitude a dialética de distância e proximidade. É assim que o eu encontra a sua medida no sou. Em realidade, verdadeiramente, só podemos falar de finitude em relação ao ser humano e não em relação aos outros entes, embora todos sejam limitados. A finitude inclui o limite, mas todo e qualquer limite não inclui a finitude. Nesta nos deparamos com a questão da morte e é, então, que a finitude aparece em toda a sua dramaticidade. Nesta época da globalização acentua-se e procura-se incutir nas pessoas o poder de fugir à finitude e à morte. Estas passam a ser algo que se pode protelar com tratamentos adequados e milagreiros. Acontece então que a finitude nos advém em meio a essa promessa de felicidade aqui e agora e eterna quando somos tomados pela angústia e pela solidão. Há um palíndromo entre finitude e solidão. A finitude gera a solidão que não é ser só, mas só ser o sendo que somos e tende continuamente para o ser, ou seja, experiência-se sendo e gerando a angústia da finitude e seu apelo de ser infinito, pleno, luz e claridade total vigorando. É da condição humana: ser finitude e solidão.


- Manuel Antônio de Castro

2

"O homem não é só um ser simplesmente finito. O homem é o mais finito dos seres, porque, na finitude, ele sente sempre o infinito do nada, mesmo em toda pretensão, escamoteada, de ser infinito. É na finitude sem fim do nada que afirma, em tudo que faz e/ou deixa de fazer, o infinito" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. Aprendendo a pensar III. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 121.

3

"A angústia nos corta a palavra. Pelo fato de o ente em sua totalidade fugir e, assim, justamente, nos acossar o nada, em sua presença, emudece qualquer dicção do "é". O fato de nós procurarmos muitas vezes, na estranheza da angústia, romper o vazio silêncio com palavras sem nexo é apenas o testemunho da presença do nada. Que a angústia revela o nada é confirmado imediatamente pelo próprio homem quando a angústia se afastou. Na posse da claridade do olhar, a lembrança recente nos leva a dizer: Diante de que e por que nós nos angustiamos era "propriamente" - nada. Efetivamente: o nada mesmo - enquanto tal - estava aí" (1).
De alguma maneira a angústia está ligada à nossa condição humana de finitos, ou seja, à nossa finitude, pois nesta nos defrontamos com o nada que elimina quaisquer limites e então surge a angústia diante do infinito. É que a finitude se faz presente em todo o nosso caminhar, em todo o nosso querer, em todas as nossas ações em sua essência. Como fica a nossa liberdade e o nosso conhecer? Devemos seguir Sócrates quando diz que só sei que nada sei? Certamente somente o ser humano é tomado pela angústia, pois só ele é finito e sabe que é finito diante do infinito. Como fica diante da finitude a nossa plenitude e felicidade?


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica?". In: ---. Heidegger. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.

4

"Os bens respondem e correspondem às necessidades dos viventes pelo fato de estarem sendo, de ocuparem, como finitos, posições e além posições, pois cada um é um entre-ser. Toda finitude implica liminaridade. O bem responde e corresponde à necessidade do ser vida" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 206.

5

"Em nossa finitude essencial, para falarmos de ser, explícita ou implicitamente, sempre temos de partir do “é”. Ora, o “é” diz respeito ao “ente” e seu conhecimento. Então, em nossa finitude, a questão assim nos desafia: de um lado, não podemos reduzir o Ser ao ente, mas, de outro, se coloca a difícil e enigmática questão se e como o Ser é" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.

6

"O que é o sendo?
Disso decorre o seguinte desdobramento do caminho de acesso a o que é?, para o ser humano: este, em sua finitude, passa sempre e necessariamente por duas instâncias: o ente e a língua para chegar ao conhecimento. Pois tudo que é é na medida em que é ente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.

7

"Contudo, não há ente sem Ser nem conhecimento sem pensamento e nem língua sem linguagem. Porém, toda e qualquer obra de arte é originariamente um perguntar. Por isso os gregos perguntavam sempre: tì tò ón? O entendimento, enquanto pensamento e linguagem, desta pergunta se torna decisivo para o encaminhamento da compreensão de nossa finitude, de nossos limites. Limites de ser e conhecer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 234.

8

"Deve (o leitor) deixar cada palavra vir com sua força poética e nela descobrirá algo maravilhoso: que a resposta, qualquer resposta, só é verdadeiramente resposta se recolocar a questão, pois somos radicalmente seres-do-entre, entre pergunta e resposta, entre vida e morte. Vivemos sempre em liminaridade, uma liminaridade em que vigora a essência originária, porque poética, pela qual tanto mais realizamos nossa finitude quanto mais, corajosamente, nos lançamos no não-finito" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 14.

9

"A finitude não produz a realidade, mas é posição e produto da realidade (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 149.

10

"A pergunta revelou a diferença ontológica entre o ente e o ser: o enteé”, está posto no ser e em virtude do ser, mas ele não é o ser mesmo, o ser-na-sua-totalidade. Ora, com esta diferença ontológica está posta igualmente a finitude do ente: a finitude do perguntador e do perguntado" (1).
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.

11

"... a finitude irremediável do espírito humano impõe ao homem que seu auto-exercício espiritual se processe sob estes dois aspectos de saber e de querer" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.

12

"A finitude de nosso saber é o saber de nossa finitude pela e na qual podemos nos libertar e chegar a ser felizes. O saber de nossa finitude só nos pode advir de nossa não-finitude, o nada, a morte" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 194.
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