Humanismo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"O humanismo ocidental já havia sido desafiado pela irrupção de outras [[cultura | culturas]], como no início do séc. XVI" (1).  
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: "Em seu processo de elaboração, o [[Ocidente]] aciona a integração das [[possibilidades]] [[humanas]] numa [[estrutura]] que submete a seu serviço todas as estruturações possíveis da [[humanidade]]. A [[vida]] desta [[estrutura]] é a força da [[igualdade]]. No movimento de sua tendência absorvente, a [[estrutura]] [[ocidental]] se impõe como a única [[integração]] [[humana]] [[possível]]. É o [[humanismo]]. A sua [[verdade]] é [[una]], [[universal]], [[necessária]]. No [[Cristianismo]] está a [[verdade]] do [[crer]], na [[ciência]], a [[verdade]] do [[saber]], na [[técnica]] a [[verdade]] do [[fazer]]. O agenciamento do [[humanismo]] é a [[História]] da [[funcionalidade]], que atinge hoje o paroxismo de suas virtualidades. Pois o que vale são as [[funções]]. Tudo que preencher a mesma [[função]] se equivale. Na [[procura]] da [[função]] [[universal]] se concentram todos os esforços da [[modernidade]]" (1).
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:(1) BAUDRILLARD, Jean. ''A ilusão vital''. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 28.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Poder e autoridade no Cristianismo". In: ...: '''Aprendendo a pensar I'''. Teresópolis: Daimon, 2008, p. 223.
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: Emmanuel Carneiro Leão identifica a própria [[história]] do [[Ocidente]] com a [[metafísica]], uma [[metafísica]] que é o próprio [[Humanismo]]. Diz ele: "O agenciamento do [[humanismo]] é a [[História]] da [[Metafísica]], que atinge sua [[plenitude]] no [[Espírito Absoluto]]" (1).
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:Emmanuel Carneiro Leão identifica a própria [[história]] do [[ocidente]] com a [[metafísica]], uma metafísica que é o próprio humanismo. Diz ele: "O agenciamento do humanismo é a História da Metafísica, que atinge sua plenitude no Espírito Absoluto" (1).
 
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Hegel, Heidegger e o Absoluto". In: ...: '''Aprendendo a pensar'''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 252.
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: O [[mito]] do [[homem]] é a [[estrutura]] [[fundamental]] da [[cultura]] [[ocidental]], daí a [[vigência]] do [[humanismo]]. Mas se a [[metafísica]] nos levou aos [[humanismos]], a [[arte]] nos faz [[pensar]] o [[humano]] do [[homem]]. E isso não é [[humanismo]], porque não se funda no [[homem]], como nos mostra o [[mito]] de [[Édipo]]. Nele, exatamente, se dá a tensão [[entre]] a afirmação do [[humanismo]] e o que já desde [[sempre]] está para além do que o [[homem]] pode fazer e não fazer. Quando [[Édipo]] arranca os olhos, [[fonte]] do [[saber]] do [[homem]], e afirma o [[não-saber]] e com ele advém a [[sabedoria]], esta é que o torna [[humano]]. A [[arte]] manifesta esse [[humano]], o que nos redime de todo [[humanismo]]. [[Ser]] [[homem]] [[humano]] é deixar que a sua afirmação se afirme não pela afirmação da sua [[vontade]], mas pela aceitação ativa do [[destino]], como [[fonte]] da [[sabedoria]] e da [[liberdade]].
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:(1) ''Aprendendo a pensar I''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 252.
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Todo [[humanismo]] é um [[paradigma]] teórico-canônico do [[ser humano]] e da [[realidade]] que tenta, em vão, determinar totalmente em seu [[acontecer]] [[histórico]]. Se antes se julgava que o ser humano, pelas regras da [[razão]] lógica, estava preso ao determinismo [[religioso]] e [[social]], tratava-se de [[libertar]] o [[ser humano]] dessa prisão. A receita de [[realidade]], intervencionista e, aparentemente, libertadora, nada mais fez do que inventar um outro [[paradigma]] dentro do mesmo [[cânone]] da [[essência]] entitativa, [[conceitual]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Machado de Assis e a identidade Brasileira". In: ------. ''Tempos de Metamorfose''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 202 e 203.
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: "Todo [[humanismo]] é uma [[entificação]] do [[ser]]. A [[crítica]] dos [[humanismos]] é a tentativa de tirar do [[esquecimento]] o [[sentido]] verbal do [[amar]], reinstalando a [[questão]] do [[sentido]] do [[ser]]. Este vigora sempre no [[sendo]] verbal" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.
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: "O [[operar]] das [[obras de arte]], como [[dobra]] de ''[[phýsis]]'' e [[humano]], radica sempre além e aquém de todo [[humanismo]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. " ''Phýsis'' e humano: a arte”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.
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: "Por detrás de todo [[humanismo]] há uma [[questão]] maior, porque [[essencial]] e não apenas [[atributiva]] e [[acidental]]. É o desafio de [[pensar]] o [[humano]] de todo [[ser humano]], em todas as [[épocas]] e [[culturas]] no seu [[ético]]. Como não se pode separar o [[humano]] [[histórico]] de todo e qualquer [[ser humano]], houve a [[necessidade]] de se [[pensar]] o [[universal]] de uma maneira não apenas [[epistemológica]], mas [[ontológica]], isto é, onde haja uma [[unidade]] do [[universal]] com o [[singular]] e [[próprio]], da [[identidade]] com a [[diferença]], numa permanente [[dialética]] e [[diálogo]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 20.
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: "Mas este [[humanismo]] [[ateu]] não atribui ao [[homem]] [[individual]] o que se atribuía a [[Deus]], mas à [[comunidade humana]]. É precisamente a [[religião]] [[ilusória]], diz Feuerbach, que substituindo o [[ser coletivo]] da [[humanidade]] por um [[Deus]] [[exterior]], reduz a [[humanidade]] a uma poeira de [[indivíduos]], pois nesta [[perspectiva]] “o [[homem]] concebe espontaneamente sua [[essência]], nele como [[indivíduo]], em [[Deus]] como [[espécie]]; nele como [[limitada]], em [[Deus]] como [[infinita]]”. Mas na medida em que superarmos esta [[alienação]], sairemos de nosso [[individualismo]] para [[participar]] da [[comunidade humana]], e então [[realizaremos]] a [[verdade]] [[profunda]] da [[religião]] que é uma [[lei]] de [[amor]], que arranca o [[indivíduo]] de si mesmo para obrigá-lo a encontrar-se em [[comunhão]] com seus [[semelhantes]]. No fim de contas “a [[distinção]] [[entre]] [[humano]] e [[divino]] (na [[alienação]] [[religiosa]]) não é outra [[coisa]] do que a [[distinção]] [[entre]] [[indivíduo]] e [[humanidade]]” (1).
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: (1) HUMMES ofm, Dom Cláudio (Hoje Cardeal). "Os hegelianos de esquerda". In: ---. '''História da Filosofia'''.
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: Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS, em 1964. Faleceu no dia 4 de julho de 2022.
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: "Ruy Duarte divertiu-se a [[escrever]] um ''Decálogo Neoanimista''. São dez mandamentos, mais um. Em todos eles se reitera a [[necessidade]] de [[questionar]] o [[paradigma]] [[humanista]]. Para Ruy Duarte o [[homem]] precisa deixar de se [[ver]] como o centro do [[Universo]] se quiser, realmente, [[salvar]] o [[planeta]]" (1).
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:O mito do [[homem]] é a estrutura fundamental da cultura ocidental, daí a vigência do humanismo. Mas se a [[metafísica]] nos levou aos humanismos, a [[arte]] nos faz pensar o [[humano]] do homem. E isso não é humanismo, porque não se funda no homem, como nos mostra o mito de [http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000024.pdf Édipo]. Nele, exatamente, se dá a tensão entre a afirmação do humanismo e o que já desde sempre está para além do que o homem pode fazer e não fazer. Quando Édipo arranca os olhos, fonte do [[saber]] do homem, e afirma o [[não-saber]] e com ele advém a [[sabedoria]], esta é que o torna humano. A arte manifesta esse humano, o que nos redime de todo humanismo. Ser homem humano é deixar que a sua afirmação se afirme não pela afirmação da sua [[vontade]], mas pela aceitação ativa do [[destino]], como fonte da sabedoria e da [[liberdade]].
 
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) AGUALUSA, José Eduardo. ''Crônica'':  "Só os peixes veem o mar". In: '''O Globo''', ''Segundo Caderno'', sábado 10-9-2022, p. 6.

Edição atual tal como 22h26min de 10 de Setembro de 2022

1

"Em seu processo de elaboração, o Ocidente aciona a integração das possibilidades humanas numa estrutura que submete a seu serviço todas as estruturações possíveis da humanidade. A vida desta estrutura é a força da igualdade. No movimento de sua tendência absorvente, a estrutura ocidental se impõe como a única integração humana possível. É o humanismo. A sua verdade é una, universal, necessária. No Cristianismo está a verdade do crer, na ciência, a verdade do saber, na técnica a verdade do fazer. O agenciamento do humanismo é a História da funcionalidade, que atinge hoje o paroxismo de suas virtualidades. Pois o que vale são as funções. Tudo que preencher a mesma função se equivale. Na procura da função universal se concentram todos os esforços da modernidade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Poder e autoridade no Cristianismo". In: ...: Aprendendo a pensar I. Teresópolis: Daimon, 2008, p. 223.

2

Emmanuel Carneiro Leão identifica a própria história do Ocidente com a metafísica, uma metafísica que é o próprio Humanismo. Diz ele: "O agenciamento do humanismo é a História da Metafísica, que atinge sua plenitude no Espírito Absoluto" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Hegel, Heidegger e o Absoluto". In: ...: Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 252.

3

O mito do homem é a estrutura fundamental da cultura ocidental, daí a vigência do humanismo. Mas se a metafísica nos levou aos humanismos, a arte nos faz pensar o humano do homem. E isso não é humanismo, porque não se funda no homem, como nos mostra o mito de Édipo. Nele, exatamente, se dá a tensão entre a afirmação do humanismo e o que já desde sempre está para além do que o homem pode fazer e não fazer. Quando Édipo arranca os olhos, fonte do saber do homem, e afirma o não-saber e com ele advém a sabedoria, esta é que o torna humano. A arte manifesta esse humano, o que nos redime de todo humanismo. Ser homem humano é deixar que a sua afirmação se afirme não pela afirmação da sua vontade, mas pela aceitação ativa do destino, como fonte da sabedoria e da liberdade.


- Manuel Antônio de Castro.

4

Todo humanismo é um paradigma teórico-canônico do ser humano e da realidade que tenta, em vão, determinar totalmente em seu acontecer histórico. Se antes se julgava que o ser humano, pelas regras da razão lógica, estava preso ao determinismo religioso e social, tratava-se de libertar o ser humano dessa prisão. A receita de realidade, intervencionista e, aparentemente, libertadora, nada mais fez do que inventar um outro paradigma dentro do mesmo cânone da essência entitativa, conceitual.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"O antropocentrismo toma dois sentidos. Por um lado, retomando a tradição clássica, reinaugura o humanismo, mas um humanismo que descobriu a subjetividade e, por isso mesmo, se oporá à emergência dos Estados Nacionais, que se baseavam no particular. Já o humanismo tem exatamente como base o sentido universal do humano, independentemente de religiões, nacionalidades e línguas...O outro sentido do antropocentrismo se fará presente pela afirmação da razão no lugar da , como paradigma da verdade: é a ciência. A ciência busca o universal através da objetividade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Machado de Assis e a identidade Brasileira". In: ------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 202 e 203.

6

"Todo humanismo é uma entificação do ser. A crítica dos humanismos é a tentativa de tirar do esquecimento o sentido verbal do amar, reinstalando a questão do sentido do ser. Este vigora sempre no sendo verbal" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.

7

"O operar das obras de arte, como dobra de phýsis e humano, radica sempre além e aquém de todo humanismo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.

8

"Por detrás de todo humanismo há uma questão maior, porque essencial e não apenas atributiva e acidental. É o desafio de pensar o humano de todo ser humano, em todas as épocas e culturas no seu ético. Como não se pode separar o humano histórico de todo e qualquer ser humano, houve a necessidade de se pensar o universal de uma maneira não apenas epistemológica, mas ontológica, isto é, onde haja uma unidade do universal com o singular e próprio, da identidade com a diferença, numa permanente dialética e diálogo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 20.

9

"Mas este humanismo ateu não atribui ao homem individual o que se atribuía a Deus, mas à comunidade humana. É precisamente a religião ilusória, diz Feuerbach, que substituindo o ser coletivo da humanidade por um Deus exterior, reduz a humanidade a uma poeira de indivíduos, pois nesta perspectiva “o homem concebe espontaneamente sua essência, nele como indivíduo, em Deus como espécie; nele como limitada, em Deus como infinita”. Mas na medida em que superarmos esta alienação, sairemos de nosso individualismo para participar da comunidade humana, e então realizaremos a verdade profunda da religião que é uma lei de amor, que arranca o indivíduo de si mesmo para obrigá-lo a encontrar-se em comunhão com seus semelhantes. No fim de contas “a distinção entre humano e divino (na alienação religiosa) não é outra coisa do que a distinção entre indivíduo e humanidade” (1).


Referência:
(1) HUMMES ofm, Dom Cláudio (Hoje Cardeal). "Os hegelianos de esquerda". In: ---. História da Filosofia.
Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS, em 1964. Faleceu no dia 4 de julho de 2022.

10

"Ruy Duarte divertiu-se a escrever um Decálogo Neoanimista. São dez mandamentos, mais um. Em todos eles se reitera a necessidade de questionar o paradigma humanista. Para Ruy Duarte o homem precisa deixar de se ver como o centro do Universo se quiser, realmente, salvar o planeta" (1).


Referência:
(1) AGUALUSA, José Eduardo. Crônica: "Só os peixes veem o mar". In: O Globo, Segundo Caderno, sábado 10-9-2022, p. 6.
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