Ser

De Dicionário de Poética e Pensamento

Edição feita às 14h58min de 13 de Abril de 2019 por Profmanuel (Discussão | contribs)

1

"Ser: viver, surgir, permanecer. Estes sentidos correspondem às três raízes que aparecem no verbo ser" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Introdução à Metafísica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, pp. 97-8.


Ver também:
*Acontecer

2

"Revela-se que o Ser é o encanto das Vozes (isto é, as Musas) e as Musas não são outra coisa que a múltipla Presença do Divino" (1). "Relação entre linguagem e ser, ou seja: entre o Canto em seu encanto e a aparição do que se canta, e consequentemente entre a Revelação (alétheia) e o Esquecimento (lesmosýne/léthe)" (2). "A rigor, não há na Teogonia uma relação entre linguagem e ser, mas uma imanência recíproca entre eles" (3).


Referências:
(1) TORRANO, JAA. "Introdução". In: Hesíodo. Teogonia. Trad. JAA Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 28.
(2) Idem, p. 29.
(3) Idem, p. 29.


Ver também:
*Música
*Mito
*Êxtase

3

"Assim, o princípio “ ex nihilo nihil fit â€, “de nada não se cria nadaâ€, só vale para as transações do já criado. Para o élan criador no sentido estrito, vale o inverso: “ ex nihilo omnia fiunt †Aqui o princípio é: “é do nada que tudo se criaâ€. Por isso é que o mestre Eckhart no século XIV, o pai da mística renana, podia dizer para os criacionistas de todos os tempos: “ Esse est Deus et Deus est nihil â€. “ Ser é Deus e Deus é Nada †(1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O que significa pensar?". In: Revista da Academia Brasileira de Letras, maio-junho, 2012.

4

Ao enigma que é o ser podemos chegar por quatro vias, todas integradas na questão da liminaridade: a) como horizonte, quando no visível o ser humano já desde sempre se lança para o invisível. Mas esse movimento de ver o não-visível do visível, sempre se dá num movimento incessante inerente a toda questão, articulando tanto mais um ver quanto mais se lança no não-ver. O ser humano é convocado pela questão do não-ver; b) Como saber, pois quando pergunta, pergunta porque não sabe e quer saber o não-saber, mas, ao mesmo tempo, só pode perguntar porque já sabe o não-saber. E, por isso, o ser humano é convocado pela questão do não-saber; c) Como querer, quando deseja-se isto e aquilo. Mas isto e aquilo são uma posse e não o poder da posse das possibilidades. Por isso, isto e aquilo não satisfazem o desejo. O desejo não é disto ou aquilo enquanto posse disto ou daquilo. O desejo é sempre poder a posse de todas as possibilidades. O ser humano é convocado pela questão do não-querer. Só esta posse faz o ser humano feliz, ou seja, responde e corresponde ao seu querer/desejar; d) Como ser, quando questiona "o que é isto?", "o que é aquilo?". Mas ao perguntar por isto e aquilo, no fundo, não pergunta por isto e aquilo enquanto ente, mas sempre e já a partir do ser, senão nem poderia perguntar. Contudo toda questão pergunta pelo o ser na dimensão verbal do ente enquanto não-é: o que é, o que foi, o que será? Por isso, a resposta da questão será sempre no plano do ente, recolocando a questão do não-ser. O ser humano, contudo, é sempre convocado pela questão do ser, na dimensão do ver, do saber, do querer e do não-ser. Esse é o enigma do ser humano que sempre se dimensiona na questão porque nela ele se mede como ente na medida do ser por não-ser. A questão antes de ser perguntada já nos ultrapassa. Ela é a desmedida de toda medida da pergunta por, sobre e com.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:

5

"O ser não pode ser. Se fosse, já não seria ser, mas um ente. Contudo, o primeiro pensador que pensou o ser, Parmênides, não diz: Esti gar einai" (frag. 6)? Há, de fato, ser e está presente o ser presente. Temos que pensar que se, efetivamente, no einai, o ser presente, está falando a aletheia, o desvelar-se, acentuado no esti e dito do einai, é : o deixar que venha à presença. Ser: na realidade o que permite a presença"(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. In: A tese de Kant sobre o ser. Trad. Helena Cortés e Arturo Leyte. Madri: Alianza Editorial, 2007, p. 387. (Tradução do espanhol: Manuel Antônio de Castro).


Ver também:
*Presença

6

"Tudo é e não é" (1). Esta afirmação do pensador Rosa pode ser desdobrada em: Tudo é. Tudo não é. Isso que parece tão simples nos lança no mistério do ser. Como o ser que é e sem ser não há é, pode ser e não ser? Isso é o que não cabe em nenhuma lógica e em nenhuma identidade lógica, metafísica. O ente foi considerado ao longo do percurso metafísico como o que é, o como é, o de onde e o para que é. Posteriormente na Modernidade se acrescentou à reflexão sobre o ente um desdobramento reflexivo, especular, quando se investiga em o como é, o como se conhece. Este pode se encaminhado pela razão subjetiva ou pelo pensar, segundo a sentença de Parmênides, quando diz que pensar e ser são o mesmo. Então a questão do ser se desloca, sem se separar, para a questão da unidade de pensar e ser. O que sempre ficou impensado em todo esse percurso: o "Tudo não é" de que nos fala Rosa. É este Tudo não é o a-ser-pensado. Isto coloca a questão da negatividade e ser de que trata heidegger já para o final de Carta sobre o humanismo.


- Manuel Antônio de Castro
- Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 12.

7

"Ser e pensar, em Parmênides, se identificam como condições de possibilidade do existir na mesmidade. Ser e pensar unem e trazem consigo o mundo e a phýsis como possibilidade de constituição de uma espácio-temporalidade que se estrutura para além do domínio das realizações, mas também o mundo e a phýsis como espácio-temporalidade de constituição da realidade do ser como desvelamento" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 62.

8

"O ser não é 'algo' que se acha escondido num lugar supra-sensível ou no alto de uma especulação distante e elevada. Como nos mostra a todo instante a palavrinha 'é', ser 'é' o mais próximo da proximidade" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p.115.

9

"Tenho medo de dizer quem sou: no momento em que tento falar, não exprimo o que sinto e o que sinto se transforma, lentamente, no que eu digo" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.


10

"O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.

11

Sabemos muito bem que não basta viver como não basta saber. É necessário ser o que se sabe. Não basta viver sentindo, é necessário ser o que se sente. Ser sabendo e sentindo é deixar eclodir o sentido enquanto vigorar do ser. Sem sentido o viver e sentir perdem o vigorar do viver sendo. Então a questão que nos orienta e origina torna-se a questão do sentido do ser vivendo e do viver sendo sentido. O que nos faz falta é o sentido do ser.


- Manuel Antônio de Castro


12

Por já vigorarmos, por tudo já vigorar no ser, ele não é fundamento de nada, porque ele simplesmente vigora, independentemente de minhas nomeações e reflexões. Ele está tão próximo, tão próximo que até já desde sempre o somos e nele somos o que somos. Mas nossa procura do saber do ser acaba se desviando para o saber imperfeito e limitado e não nos abrimos para o seu sentido que é o máximo de saber, porque o seu sentido é o silêncio em que ele vigora e se dá a ver e a saber (que são o mesmo). O sentido, o silêncio, o vazio são o mais presente do presente, são sempre o já vigorando e sem o qual nada se dá a saber e a ver. Vigorar diz fundar, dar-se e retrair-se, desvelar-se e velar-se, mas jamais distanciar-se num fundo perdido e inacessível. Ser é mistério porque por mais que seja tudo dele "nada" nos advém. É esse mistério que nos angustia e dá plenitude. Vivemos nesse entre.


- Manuel Antônio de Castro


13

"Assim devemos dizer que o horizonte de ser, como condição fundamental de todo perguntar deve constituir um horizonte sabido-não-sabido por mim. Assim perguntar pelo ser eu só poderei se o ser significar sempre para mim um não-sabido além de ser algo de sabido, e assim sucede que meu não-saber do ser nunca seja totalmente redutível a um saber, pois então se dissolveria a possibilidade de perguntar pelo ser e, igualmente, a possibilidade de qualquer outra pergunta. Assim o ser - como horizonte fundamental e original, sabido e não sabido ao mesmo tempo - deve constituir para o homem um mistério original, fundamental, e como tal, inesgotável" (1).


Referência:
(1) HUMES, ofm, Frei Cláudio (Hoje Cardial Humes). Metafísica. Mimeo, p. 37. Apostila distribuída no Curso de Filosofia, em Daltro Filho (hoje Imigrantes), RS, 1963, p.36.

14

"É que o ser não somente não pode ser definido, como também nunca se deixa determinar em seu sentido por outra coisa nem como outra coisa. O ser só pode ser determinado a partir de seu sentido como ele memso. Também não pode ser comparado com algo que tivesse condições de determiná-lo positivamente em seu sentido. O ser é algo derradeiro e último que subsiste por seu sentido, é algo autônomo e independente que se dá em seu sentido" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 551.


15

"Ao que de ordinário nos rodeia, os objetos particulares (=os "objetos"), chamamos também de ente, o que é. Porém, este "é", ao nível do ente, não é, por sua vez, algo de ente, senão o que deixa primeiro a todo ente ser um Ente e por isso o rodeia de cuidados e o protege. Chamamo-lo Ser" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. La pobreza. Buenos Aires: Amorrutu, 2006, p. 103.


16

"Mas a palavra mais importante da língua é uma única letra: é. É. Estou no seu âmago. Ainda estou. Estou no centro vivo e mole. Ainda. Tremeluz e é elástico. Como o andar de uma negra pantera lustrosa que vi e que andava macio, lento e perigoso. Mas enjaulada não - porque não quero. Quanto ao imprevisível - a próxima frase me é imprevisível. No âmago onde estou, no âmago do É, não faço perguntas. Porque quando é - é. Sou limitada apenas pela minha identidade. Eu, entidade elástica e separada de outros corpos" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Ãgua viva. Rio de Janeiro: Artenova, 1973, p. 32.


17

Ser é agir e agir se manifestando é o advir do sentido e da verdade, tanto do que é, quanto do como se conhece, isto é, transforma no ser humano a vivência em experienciação, daí no ser humano não haver apenas vida, mas o existir.


- Manuel Antônio de Castro

18

"Que o que gasta, vai gastando o diabo de dentro da gente, aos pouquinhos, é o razoável sofrer. E a alegria de amor - compadre meu Quelemém diz. Família. Deveras? É, e não é. O senhor ache e não ache. Tudo é e não é..." (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 12.

19

O ser é a unidade de tudo que é, o silêncio fundador do sentido. Toda fala é fala do sentido, do ser. Por isso, Rosa diz: “Tudo é e não é.†(1), porque o ser é ser do vir-a-ser ou transformar e do permanecer, que, em grego, recebeu o nome arche, traduzido como princípio. Princípio é o que originando tudo jamais se esgota e, portanto, é o que, no incessante fluxo das mudanças, permanece. Se muda é porque ainda não é. O é do que não é, sendo, é o que permanece.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968, p. 12.


20

No poético, as línguas são o rito da Linguagem. O mito narrado não é o mito, mas o rito e a língua da Linguagem. Por isso o poético, toda arte, tem origem mítica. E tanto o mito como a arte radicam no sagrado. Martin Heidegger afirma: "O pensador diz o ser, o poeta nomeia o sagrado" (1) (2).


(1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica? - Posfácio (1943)". In: Heidegger - Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 51.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do canto das Sereias". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.

21

Distinguir ser e ente não é fácil, tratando-se do pensamento grego, é sobretudo uma questão de pensamento e tradução. Vejamos. Em Carta sobre o humanismo, à p. 24 diz Heidegger: "Por isso, em sentido próprio, só pode ser consumado o que já é. Ora, o que é, antes de tudo, é o Ser ". Porém, na mesma obra à p. 56 esclarece: "O gibt (dá) evoca a Essência do Ser, que se doa, concedendo a sua Verdade. O dar-se a si mesmo com a abertura à abertura é o próprio Ser. Ao mesmo tempo, emprega-se o es gibt (se dá), para evitar, por enquanto, a locução: o Ser é; pois o é se diz comumente daquilo que é. E a isso chamamos ente" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 56.


22

"Por isso, para Píndaro o drama mais arcaico da humanidade está na condição ontológica de simplesmente ser e/ou não ser, ao mesmo tempo, o quer dizer, que seja num perpétuo vir a ser a todo instante. A Quinta Ode Pítica nô-lo proclama num verso glorioso:
Epameroi, ti de tis; ti d'ou tis;
sikias onar anthropos!
Efêmeros seres de um só dia, que é ser alguém?
Que é ser ninguém?
Um homem, sonho de uma sombra! (1)


Referência:
LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: 2013, p. 67.


23

Sentença - III.
"... to gar auto noein estin te kai einai" (1). "...pois o mesmo é pensar e ser" (1).


Referência:
(1) PARMÊNIDES. Sentença III, (Trad. Sérgio Wrubleswski). In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Petrópolis / RJ: Vozes, 1991, p. 44 / 45.


24

"Ser não é um conceito abstrato: são as possibilidades, enquanto propriedades, que cada um de nós recebe para poder ser no sendo o não-ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidadeâ€. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 282.


25

"Viver já estamos vivendo. Morrer já estamos morrendo sempre. Viver é morrer para que morrendo vivamos. O que isso implica? Uma procura permanente e radical: ser o que não-é, ou seja, ser feliz. Onde ser feliz é ser o não-ser. Não é apenas uma negatividade positiva, é toda a positividade do ser feliz. Negatividade, fora das relações funcionais entitativas, jamais indica mal, só o bem (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser felizâ€. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 206.

26

"Somente no agir o ser é totalmente ele mesmo. Ser é agir e vice-versa. (Não se pode jamais confundir agir com fazer. Aquele inclui este, mas este não inclui aquele)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.


27

"Alberto Caieiro, o poeta-pensador, já o disse poeticamente:
"Mas isto (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
  Isso exige um estudo profundo,
  Uma aprendizagem de desaprender"  . (Poema XXIV)
"Procuro despir-me do que aprendi,:
  Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
  E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos"  ... (Poema XLVI) (1)
Isso é enigmático porque devemos aprender para desaprender, ter para renunciar, porque só renunciando chegamos a ser o que temos, porque só podemos ter o que somos e só podemos ser o que temos. Portanto, não há uma incompatibilidade entre ter e ser. Entra aí uma terceira dimensão nesse jogo dialético entre ter e ser, e ser e ter: o desprendimento, a renúncia, porque a renúncia não tira, dá. Nesse jogo dialético se torna também claro o jogo entre identidade e diferença. A identidade nos remete para o horizonte do fundar, do ser, do nada. Já a diferença nos mostra em que consiste o próprio, (ter), que só o nada, (ser), pode fundar. Enfim, toda aprendizagem é um desaprender.
Manuel Antônio de Castro.


Referência:
(1) PESSOA, Fernando. Alberto Caeiro. S. Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 60, 84.

28

"O sofrimento e a alegria, o ser afetado, tomado por uma força, são relações com o ser. Mas no mundo do voluntarismo absoluto em que a técnica o mergulha, o homem não sente mais a dor, ou a sente de modo somente passivo, e, portanto, ressentido e reativo. É principalmente em sua indiferença frente às consequências destrutivas da técnica, que o "funcionário da técnica" mostra sua insensibilidade e seu extremo fechamento, pois nele, o mais angustiante é sua incapacidade de se angustiar" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 179.


29

"Ser é deixar-se tomar pelo vigorar do silêncio. É tomar a posição do acontecer do silêncio, isto é, a não-posição, como fonte de toda e qualquer possível posição" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 272.


30

Não basta ter conhecimentos, é preciso ser o que se conhece. Há aqui uma tensão entre ser e ter. Emmanuel Carneiro Leão trata da questão do ter no ensaio "Leitura órfica de uma sentença grega" (1). Trata-se do "ter linguagem". Em que sentido se emprega o "ter"? Diz Márcia Schuback: "'Ser' homem para o grego é 'ter' logos (...) Ser homem para o grego significa, sobretudo, estar na disposição do logos. De modo algum, o homem 'tem' logos como uma propriedade dada genética, natural. Tem o logos enquanto uma disposição para empenhar-se pelo logos" (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992.
(2) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "As cordas serenas de Ulisses". In: Ensaios de filosofia. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 174.


31

"Mistério vem do verbo grego myo. E myo diz: trancar-se no centro, concentrar-se; diz: encerrar-se no âmago, recolher-se ao íntimo. Aqui, centro, âmago, íntimo, evocam a raiz da intensidade, o sumo da plenitude. Mistério não diz uma coisa, diz um movimento, o movimento de con-sumar, de concentrar-se na origem, de recolher-se à natividade da raiz, de retornar ao sem fundo e fundamento, ao a-bismo de ser. As palavras, Deus, Absoluto, Transcendência, Inconsciente, Espírito, Matéria, Psique, Estrutura, Ser são outras tantas redes em cujas malhas o poder do saber ocidental na teologia, na filosofia, na ciência, sempre de novo tentou, mas nunca conseguiu, prender e segurar a natividade do mistério" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objetoâ€. In: ------------. Aprendendo a pensar, II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 180.


32

"P - O vazio é então a mesma coisa que o nada, isto é, o vigor que procuramos pensar como o outro de toda vigência e de toda ausência?
J - De certo... Para nós, o vazio é o nome mais elevado para se designar o que o senhor quer dizer com a palavra ser" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 87.
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