Princípio
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : "Arcaica, no sentido etimológico, leva-nos à [[ideia]] de ''[[arkhé]]''. Um [[princípio]] inaugural, constitutivo e dirigente. ''[[Arkhé]]'' significa o que está à frente e por isso é o começo ou [[princípio]] de [[tudo]]. A [[Noite]] está à frente, nasce de ''[[Kháos]]''. O que está à frente tem o comando de todo o restante. É também ''[[arkhé]]'': o [[fundamento]], a [[origem]], o que está no começo de modo [[absoluto]], o ponto de partida de um [[caminho]], o [[fundamento]] das [[ações]]. Como tem comando, tem o [[poder]], é a autoridade" (1). | + | : "Arcaica, no sentido [[etimológico]], leva-nos à [[ideia]] de ''[[arkhé]]''. Um [[princípio]] inaugural, constitutivo e dirigente. ''[[Arkhé]]'' significa o que está à frente e por isso é o começo ou [[princípio]] de [[tudo]]. A [[Noite]] está à frente, nasce de ''[[Kháos]]''. O que está à frente tem o comando de todo o restante. É também ''[[arkhé]]'': o [[fundamento]], a [[origem]], o que está no começo de modo [[absoluto]], o ponto de partida de um [[caminho]], o [[fundamento]] das [[ações]]. Como tem comando, tem o [[poder]], é a autoridade" (1). |
: Como a [[autora]] torna claro, a [[compreensão]] de ''[[arkhé]]'' como [[princípio]] e [[origem]] só é [[princípio]] porque, por estar à frente e comandar é que é inaugural, [[originário]]. Por isso reina vigorosamente da [[origem]] ao [[fim]]. [[Princípio]] diz, então, o [[estar]] sempre principiando como [[tempo]] [[originário]]. | : Como a [[autora]] torna claro, a [[compreensão]] de ''[[arkhé]]'' como [[princípio]] e [[origem]] só é [[princípio]] porque, por estar à frente e comandar é que é inaugural, [[originário]]. Por isso reina vigorosamente da [[origem]] ao [[fim]]. [[Princípio]] diz, então, o [[estar]] sempre principiando como [[tempo]] [[originário]]. | ||
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: "[[Início]] não é [[princípio]]. [[Início]] é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma [[coisa]] começa. Enquanto [[princípio]] é [[origem]]. Remete-nos à [[fonte]] de onde uma [[coisa]] brota. O [[início]], mal inicia e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do [[processo]] de [[criar]] e [[produzir]]. O [[princípio]], ao contrário, surge e se impõe ao longo de todo o [[processo]], pois só alcança a [[plenitude]] no [[fim]]. [[Início]] é o [[princípio]] em busca de [[realização]], [[fim]] é o [[princípio]] plenamente realizado como [[princípio]]" (1). | : "[[Início]] não é [[princípio]]. [[Início]] é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma [[coisa]] começa. Enquanto [[princípio]] é [[origem]]. Remete-nos à [[fonte]] de onde uma [[coisa]] brota. O [[início]], mal inicia e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do [[processo]] de [[criar]] e [[produzir]]. O [[princípio]], ao contrário, surge e se impõe ao longo de todo o [[processo]], pois só alcança a [[plenitude]] no [[fim]]. [[Início]] é o [[princípio]] em busca de [[realização]], [[fim]] é o [[princípio]] plenamente realizado como [[princípio]]" (1). | ||
- | : O [[início]] se dá [[sempre]] enquanto [[técnica]], já o [[princípio]] é o [[vigorar]] da ''[[poíesis]]''. Por isso é que não se pode [[ler]] uma [[obra de arte]] apenas atentando para o [[início]], isto é, apenas para a [[técnica]] ou [[forma]], mas é [[necessário]] [[ver]] e [[compreender]] que o [[início]] já é uma [[doação]] da ''[[poíesis]]'' ou [[princípio]]. Toda [[técnica]] se move no [[agir]] [[causal]], já a ''[[poíesis]]'' vigora no [[agir]] [[originário]], isto é, no que se denomina [[princípio]] ou ''[[arkhé]]'', em [[grego]]. A [[história da arte]] no [[ocidente]] nunca se mede pela ''[[poíesis]]'', mas tão-somente pela ''[[tekhné]]'', daí [[ser]] uma [[concepção]] [[retórica]] e [[formal]] da [[arte]], pois nela sempre fica esquecido o [[princípio]]. | + | : O [[início]] se dá [[sempre]] enquanto [[técnica]], já o [[princípio]] é o [[vigorar]] da ''[[poíesis]]''. Por isso é que não se pode [[ler]] uma [[obra de arte]] apenas atentando para o [[início]], isto é, apenas para a [[técnica]] ou [[forma]], mas é [[necessário]] [[ver]] e [[compreender]] que o [[início]] já é uma [[doação]] da ''[[poíesis]]'' ou [[princípio]]. Toda [[técnica]] se move no [[agir]] [[causal]], já a ''[[poíesis]]'' vigora no [[agir]] [[originário]], isto é, no que se denomina [[princípio]] ou ''[[arkhé]]'', em [[grego]]. A [[história]] da [[arte]] no [[ocidente]] nunca se mede pela ''[[poíesis]]'', mas tão-somente pela ''[[tekhné]]'', daí [[ser]] uma [[concepção]] [[retórica]] e [[formal]] da [[arte]], pois nela sempre fica esquecido o [[princípio]]. |
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- | : (1) PLATÃO. '''Fedro | + | : (1) PLATÃO. '''Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 57, 245d. ''' |
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- | : "Os [[princípios]], confundidos com as [[lei|leis]], acabam por se deixar arbitrar, desde uma espácio-temporalidade arbitrária. Os [[princípios]], para serem, enquanto tais, não se deixam arbitrar nem tampouco arbitram. Para serem [[princípios]], o que eles só não podem [[ser]] [[é]], de modo nenhum, a | + | : "Os [[princípios]], confundidos com as [[lei|leis]], acabam por se deixar arbitrar, desde uma espácio-temporalidade arbitrária. Os [[princípios]], para serem, enquanto tais, não se deixam arbitrar nem tampouco arbitram. Para serem [[princípios]], o que eles só não podem [[ser]] [[é]], de modo nenhum, a determinação de 'um [[caminho]], de uma [[verdade]] e de uma [[vida]]'. [[Princípios]] não determinam nem são determinados, apenas se apresentam para que sejam ou não [[perceber|percebidos]], considerados e estabelecidos efetivamente enquanto [[princípios]]" (1). |
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- | : (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético | + | : (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: [[vigência]] do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 206. ''' |
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- | : "Princípios são apenas a [[vigência]] das possibilidades para que algo seja viável, isto é, para que algo possa percorrer vias, os [[caminho|caminhos]] em trânsito, possa, enfim, transitar. O que não tem [[origem]] ou não começa, não pode transitar. Transitar diz do que vai sempre além, do que, portanto, não se deixa determinar desde sua origem até a sua possibilidade de [[ser]] sem [[fim]]" (1). | + | : "Princípios são apenas a [[vigência]] das possibilidades para que algo seja viável, isto é, para que algo possa percorrer vias, os [[caminho|caminhos]] em trânsito, possa, enfim, transitar. O que não tem [[origem]] ou não começa, não pode transitar. Transitar diz do que vai sempre além, do que, portanto, não se deixa determinar desde sua [[origem]] até a sua possibilidade de [[ser]] sem [[fim]]" (1). |
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- | : (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético | + | : (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: [[vigência]] do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 206-7. ''' |
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- | : (1) GADALLA, Moustafa. "[[Tudo]] é [[número]]". In: -----. | + | : (1) GADALLA, Moustafa.''' "[[Tudo]] é [[número]]". In: -----. [[Cosmologia]] [[egípcia]] - o [[universo]] animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 29. ''' |
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- | : "A característica [[essencial]] da [[dicotomia]] é que parte [[sempre]] de [[oposições]] excludentes. Mas desde a formulação lapidar de | + | : "A característica [[essencial]] da [[dicotomia]] é que parte [[sempre]] de [[oposições]] excludentes. Mas desde a formulação lapidar de Aristóteles do que seja [[princípio]] ('''arché''') em sua [[consumação]] (''[[telos]]'') somos convocados a [[pensar]] a [[realidade]] sem exclusões, pois afirma na [[Metafísica]]": |
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- | : (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''[[Filosofia]] [[grega]] - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010 | + | : (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''[[Filosofia]] [[grega]] - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 89. ''' |
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Educar]] [[poético]]: [[diálogo]] e [[dialética]]". In: .... e [[outros]]. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''' "[[Educar]] [[poético]]: [[diálogo]] e [[dialética]]". In: .... e [[outros]]. O [[educar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 16. ''' |
Edição atual tal como 22h02min de 30 de março de 2025
1
- "Arcaica, no sentido etimológico, leva-nos à ideia de arkhé. Um princípio inaugural, constitutivo e dirigente. Arkhé significa o que está à frente e por isso é o começo ou princípio de tudo. A Noite está à frente, nasce de Kháos. O que está à frente tem o comando de todo o restante. É também arkhé: o fundamento, a origem, o que está no começo de modo absoluto, o ponto de partida de um caminho, o fundamento das ações. Como tem comando, tem o poder, é a autoridade" (1).
- Como a autora torna claro, a compreensão de arkhé como princípio e origem só é princípio porque, por estar à frente e comandar é que é inaugural, originário. Por isso reina vigorosamente da origem ao fim. Princípio diz, então, o estar sempre principiando como tempo originário.
- Referência:
- (1) GROETAERS, Elenice. A poética da noite em Vinicius de Moraes. São Paulo: Scortecci, 2007, p. 72.
2
- "Só é possível pensar em princípio, porque a realidade (physis) não é estática, é dinâmica. Só é possível pensar em princípio, porque a dinâmica da realidade não é linear, é circular. Só é possível pensar em princípio, porque a circulação da realidade não é finita, é infinita. Só é possível pensar em princípio, porque a finitude da realidade não é de exclusão, é de inclusão. Assim não é possível não pensar em princípio, quando a realidade faz pensar, em profundidade, a realização (ousia) do real (on)" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A luz na arte grega". In: ----. Filosofia grega - uma Introdução. Teresópolis: Daimon, 2010, p. 89.
3
- "Início não é princípio. Início é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma coisa começa. Enquanto princípio é origem. Remete-nos à fonte de onde uma coisa brota. O início, mal inicia e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do processo de criar e produzir. O princípio, ao contrário, surge e se impõe ao longo de todo o processo, pois só alcança a plenitude no fim. Início é o princípio em busca de realização, fim é o princípio plenamente realizado como princípio" (1).
- O início se dá sempre enquanto técnica, já o princípio é o vigorar da poíesis. Por isso é que não se pode ler uma obra de arte apenas atentando para o início, isto é, apenas para a técnica ou forma, mas é necessário ver e compreender que o início já é uma doação da poíesis ou princípio. Toda técnica se move no agir causal, já a poíesis vigora no agir originário, isto é, no que se denomina princípio ou arkhé, em grego. A história da arte no ocidente nunca se mede pela poíesis, mas tão-somente pela tekhné, daí ser uma concepção retórica e formal da arte, pois nela sempre fica esquecido o princípio.
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: ------. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 241.
4
- "Ora, um princípio constitui algo inato, pois é a partir de um princípio que necessariamente assume existência tudo aquilo que existe, ao passo que o princípio não provém de coisa alguma, pois, se começasse a ser partindo de qualquer outra fonte, não seria princípio" (1).
- Referência:
- (1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 57, 245d.
5
- "Os princípios, confundidos com as leis, acabam por se deixar arbitrar, desde uma espácio-temporalidade arbitrária. Os princípios, para serem, enquanto tais, não se deixam arbitrar nem tampouco arbitram. Para serem princípios, o que eles só não podem ser é, de modo nenhum, a determinação de 'um caminho, de uma verdade e de uma vida'. Princípios não determinam nem são determinados, apenas se apresentam para que sejam ou não percebidos, considerados e estabelecidos efetivamente enquanto princípios" (1).
- Referência:
6
- "Princípios são apenas a vigência das possibilidades para que algo seja viável, isto é, para que algo possa percorrer vias, os caminhos em trânsito, possa, enfim, transitar. O que não tem origem ou não começa, não pode transitar. Transitar diz do que vai sempre além, do que, portanto, não se deixa determinar desde sua origem até a sua possibilidade de ser sem fim" (1).
- Referência:
7
- "Começo não é princípio. Começo é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma coisa começa. Enquanto princípio é origem. Remete-nos à fonte de onde uma coisa brota. O começo mal começa e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do processo de criar e produzir. O princípio ao contrário surge e se impõe ao longo de todo o processo, pois só alcança a plenitude no fim. Começo é o princípio em busca de realizar-se, fim é o princípio plenamente realizado como princípio" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 23.
8
- "O que significa princípio? Seu nome grego é arche, isto é, o primeiro a partir do qual começa algo com referência a seu ser, seu vir-a-ser, sua cognoscibilidade. Esta "a partir de" domina, determina e conduz o que começa" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon - Protocolos - Diálogos - Cartas. 2. e. revista. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 114.
9
- "Como princípio de tudo, gerou-se o caos, a seguir, então, a terra de amplo seio acolhedor, sede para sempre inabalável de tudo que é imortal..." (1).
- Referência:
- (1) Versos 116 e seguintes da Teogonia de Hesíodo, citados e traduzidos por Emmanuel Carneiro Leão no ensaio "O sentido grego do caos", que faz parte de seu livro: Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 39.
10
- " O autêntico princípio é sempre como salto um salto-prévio, no qual tudo que está por vir, ainda que velado, já se acha traspassado. O princípio já contém velado o fim" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 195.
11
- "A fonte de um rio não se esgota em ser começo: é como correnteza que permanece e se atualiza em todo o curso, deixando o rio riar, correr, chegar ao mar. Este lhe é o sentido: a plena realização do princípio como princípio" (1)
- Referência:
- (1) FAGUNDES, Igor. "A experiência ioruba do sagrado - Provocações para um rito de raspagem do Ocidente". In: Revista Tempo Brasileiro, 194, Dialética em questão II. Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, p. 142.
12
- "Princípio são as possibilidades de tudo que é e acontece. Sem princípio não há dialética verbal" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 11.
13
- "No mundo animado do Antigo Egito, os números não designavam apenas quantidades, pelo contrário, eram considerados definições concretas de princípios energéticos que formavam a natureza. Os egípcios chamavam esses princípios energéticos de 'neteru (deuses)" (1).
- Referência:
- (1) GADALLA, Moustafa. "Tudo é número". In: -----. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 29.
14
- "É a realidade enquanto princípio que de-termina o horizonte, ou seja, aquilo que se vê. De-terminar é pôr limite, término. Porém, o princípio é sem limite, embora o possibilite e o inclua. O que é princípio? Princípio é o que vigora como universal, ou seja, aquilo que se verte e realiza como identidade das diferenças. Sem princípio não há diferenças. Desse modo o princípio é medida enquanto a unidade da multiplicidade" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 231.
15
- "Princípio e fim se reúnem na circunferência do círculo" (1).
- Referência:
- (1) HERÁCLITO. Fragmento 103. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 87.
16
- "A característica essencial da dicotomia é que parte sempre de oposições excludentes. Mas desde a formulação lapidar de Aristóteles do que seja princípio (arché) em sua consumação (telos) somos convocados a pensar a realidade sem exclusões, pois afirma na Metafísica":
- “Só é possível pensar em princípio porque physis, a realidade, não é estática, é dinâmica. Só é possível pensar em princípio porque a dinâmica da physis não é linear, é circular. Só é possível pensar em princípio porque a circulação da physis não é finita, é infinita. Só é possível pensar em princípio porque a infinitude da physis não é de exclusão, mas de inclusão” (In: Leão, 2010, 89 (1))" (2).
- Referência: