Modernidade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 22h34min de 27 de Julho de 2019 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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"Na funcionalidade do ser e na operatividade da verdade se concentra toda a modernidade" (1).


(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto”. In: ------------. Aprendendo a pensar, II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 161.


Ver também:
*Inútil

2

A modernidade como etapa da metafísica humanista está fundada em três verdades:
No cristianismo está a verdade do crer;
Na ciência está a verdade do saber;
Na técnica está a verdade do fazer.
É claro que aqui falta a arte, que é cooptada pelo saber e pelo fazer, agenciados pelos gêneros e pelos estilos de época, pelo saber das ideologias e pelo fazer retórico-sofístico das formas ou estilos. A verdade sem atributos, que é a da arte, concentra-se nas grandes obras de arte. Contudo quem a experiencia no silêncio da sua existência e na opressão das três verdades atributivas? Para aprofundar a questão, conferir o ensaio "O pensamento a serviço do silêncio" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O pensamento a serviço do silêncio". In: SCHUBACK, Marcia S. C. (org.). Ensaios de filosofia. Petrópolis: Vozes, 1999.


Ver também:
*Duvidar

3

"Segundo Habermas, a modernidade se caracteriza por ter criado uma disjunção, um hiato, entre o mundo vivido e o sistema (Entkopplung)" (1).


Referência:
(1) FREITAG, Bárbara. A teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 62.

4

"Para a constituição deste real, sob a égide da chamada Idade Moderna, Martin Heidegger nos aponta cinco características fundamentais, a saber: em primeiro lugar, a ciência; em segundo lugar, esta, de algum modo, convertida em técnica mecanizada; em terceiro lugar, o processo que introduz a arte no horizonte da estética; em quarto, o fato de que o obrar humano se interpreta e realiza como cultura; e, por último, em quinto lugar, a desdivinização, a dessacralização ou a perda dos deuses" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 23.


Ver também:


5

"Toda a dinâmica da modernidade, movida como é pelo impulso de dominação da natureza, pela compulsão de destruir o mistério, de desfazer todas as zonas de paradoxo, se propõe como um ato de liberdade. A humanidade do homem é pensada na razão direta de sua capacidade de afirmar seu poderio sobre tudo que existe" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 164. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p.181.


6

voz oracular do deus que não diz nem dissimula, mas assinala o retraimento, se opõe o barulho ensurdecedor da Verdade, da programação, da definição definitiva, a voz da instituição que tudo fala e tudo esconde; que não emite sinais e sim ordens, que não indica mas codifica" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 164. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p.182.


7

"O que queremos dizer com esta palavra: modernidade? Quando começou? Alguns pensam que se iniciou com o Renascimento, a Reforma e o descobrimento da América; outros imaginam que começou com o nascimento dos Estados nacionais, a instituição bancária, o nascimento do capitalismo mercantil e o surgimento da burguesia; uns poucos insistem em que o fator decisivo foi a revolução científica e filosófica do século XVIII, sem a qual não teríamos nem técnica nem indústria. Todas estas opiniões são admissíveis" (1).


Referência:
(1) PAZ, Octavio. A outra voz. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 34.


Ver também:

8

"A modernidade começa com uma crítica da religião, da filosofia, da moral, do direito, da história, da economia e da política. A crítica é seu traço diferencial, seu sinal de nascimento. Tudo o que foi a Idade Moderna tem sido obra da crítica, entendida esta como um método de pesquisa, criação e ação" (1).


Referência:
(1) PAZ, Octavio. A outra voz. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 34.


9

"A Idande Moderna começa com a crítica à Eternidade cristã e com a aparição de outro tempo. De um lado, o tempo finito do cristianismo, com um começo e um fim, se converte no tempo quase infinito da evolução natural e da história, aberto em direção ao futuro. De outro lado, a modernidade desvaloriza a Eternidade: a perfeição se traslada para o futuro, não no outro mundo, mas neste. Basta lembrar a imagem célebre de Hegel: a rosa da razão está crucificada no presente. A história, disse, é um Calvário: transposição do mistério cristão em ação histórica. O caminho em direção ao absoluto passou pelo tempo, foi tempo. Por usa vez, entre os diversos modos do tempo, a sempre diferida perfeição residiu no futuro. As mudanças e as revoluções foram encarnações do movimento dos homens em direção ao futuro e seus paraísos" (1).


Referência:
(1) PAZ, Octavio. A outra voz. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 36.


10

A modernidade é um edifício datado para ser desconstruído, não pela consciência, mas pela dinâmica epocal da vida, da realidade. Toda crítica moderna é fundada na certeza da medida da razão, que não pode medir o sem-chão, o sem-fundamento, o sem por quê. Por isso, o elogio do humano se dá em cima da e na perspectiva da negação da morte e do sagrado. A modernidade é a luta sistemática e diuturna da dessacralização, partindo da certeza de que o homem, um dia, vencerá o destino, a morte. A dúvida que gerou a certeza moderna é a certeza que se gera da dúvida, não da realidade, que é sem dúvida, pois da morte não dá para duvidar.


- Manuel Antônio de Castro


11

"A Modernidade começa com o descobrimento do duplo infinito: o cósmico e o psíquico. O homem sentiu logo que lhe faltava, literalmente, chão. A nova ciência abrira o espaço e por essa fenda o olho humano descobriu alguma coisa rebelde ao pensamento: o infinito" (1).
A Modernidade acaba quando o ser humano descobre um outro infinito: o do microcosmo ou da Física Quântica. E desde então o ser humano se vê às voltas com o infinito sentido dos infinitos côsmico, psíquico, quântico: o do sagrado, sentido e verdade do ser, não acessível ao exercício da razão, mas que só se oferta ao pensar. Por isso o pensador-poeta Martin Heidegger disse: "O Pensador diz o ser. O poeta nomeia o sagrado" (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) PAZ, Octavio. A outra voz. Trad. Wladir Dupont. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 21.
(2) HEIDEGGER, Martin.Que é metafísica? Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Duas Cidades, 1969, p. 37.


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"Gerou-se ao longo da Modernidade uma nomenclatura formal que em vez de promover a escuta das e o diálogo com as obras poéticas, em seu âmbito, elas foram reduzidas a objetos de que se fazem análises supostamente objetivas e que, por isso, as calam" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 13.


13

"Um novo caminho tinha que ser pensado e proposto, um caminho que reconduzisse o leitor para o questionamento, a escuta, a diversidade e o diálogo com as obras poéticas. Isso exige um leitor novo, onde ele-mesmo esteja implicado em seu sentido, verdade e mundo. Exige um leitor num diálogo com e não mais um falar ou escrever sobre as obras. É um diálogo exigente, pois só escuta e dialoga quem se escuta. Mas a fala é da obra e não do autor, uma vez que nela quem age é a poiesis e quem fala é o Logos originário e não o logos racional da Modernidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 13.


14

"O caminhar moderno não é um caminhar essencial, é um caminhar funcional. Esquecido da essência do caminho pretende caminhar sempre para um fim na escravidão de um objetivo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto”. In: ------------. Aprendendo a pensar, II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 183.


15

"A modernidade, de antemão, negando o destino, combatendo o destino, já se coloca de fora da questão poética e ética de Ulisses diante do Canto das Sereias. A negação do destino implica a negação do sentido do Ser. Por isso a modernidade é antropológica e científica" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 162.


16

"A questão do destino não é uma questão moderna. Muito pelo contrário. A modernidade avança tanto mais quanto nega a presença do mito, dos deuses e do destino, como se esta questão ficasse restrita a mitos e deuses, uma vez que o moderno parte do princípio de que faz tudo, inclusive o que somos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 159.


17

"Mais proximamente a globalização provém da modernidade e nos remete a um conjunto de fenômenos de transformação radical que, avassaladoramente, vão cobrindo todos os espaços da existência atual e futura dos homens em sociedade. Os progressos da técnica, as descobertas das ciências, o ocaso das ideologias, desencadearam uma avalanche tal que levou de roldão e destruiu, pela base, os princípios de ordem e as forças de ordenamento que definiam o perfil e desenhavam a fisionomia do mundo moderno. Desta avalanche brotaram os fenômenos da atual globalização" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 20.


18

A modernidade cunhou o lema: Sapere aude (Ousa saber). Dentro de uma razão crítica e excludente fechou os ouvidos para toda diferença. A crise do sistema abre amplas possibilidades e talvez se coloque como a mais radical a mudança desse lema num novo, não excludente, mas includente pela ESCUTA:
Ousa saber o não-saber
Ousa ver o não-ver
Ousa sentir o não-sentir
Ousa fazer o não-fazer
Ousa crer o não-crer
Ousa querer o não-querer
Ousa pensar o não-pensar
Ousa conhecer o não-conhecer
Ousa amar o não-amar
Ousa ser o não-ser.
Ousa fazer da vida a travessia da fala à voz do silêncio pela escuta do que somos e não-somos.


- Manuel Antônio de Castro.