Dasein

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "O [[prefixo]] alemão ''Da'' da [[palavra]] ''[[Da-sein]]'' significa normalmente ''aí''. Um ''aí'' que tanto indica algo [[espacial]] como também [[temporal]]. Daí, a [[tradução]] normal de ''[[Da-sein]]'' por ''[[ser-aí]]''. Porém, mais do que um [[significado]] [[literal]], ressoa nesta [[palavra]] básica do [[pensamento]] renovador de [[Heidegger]] um profundo apelo de [[pensamento]]. A [[tradução]] por [[existência]] já nos lança numa [[dinâmica]] tanto [[temporal]] como [[espacial]]. Porém, essa [[palavra]] centraliza o [[agir]] no [[sujeito]] que existe, perdendo-se o [[paradoxo]]. E não é esse o [[apelo]] de [[pensamento]] do [[vocábulo]] heideggeriano. Está em [[jogo]] o [[profundo]] [[mistério]] da [[tensão]] [[entre]] [[ser-humano]] [[E]] [[ser]]. É dentro dessa [[tensão]] que o [[ser-humano]] aparece, queira ou não queira, [[como]] um ''[[sendo]]-da-[[liminaridade]]''" (1).
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: "O [[prefixo]] alemão ''Da'' da [[palavra]] ''[[Dasein|Da-sein]]'' significa normalmente ''aí''. Um ''aí'' que tanto indica algo [[espacial]] como também [[temporal]]. Daí, a [[tradução]] normal de ''[[Dasein|Da-sein]]'' por ''[[ser-aí]]''. Porém, mais do que um [[significado]] [[literal]], ressoa nesta [[palavra]] básica do [[pensamento]] renovador de [[Heidegger]] um profundo apelo de [[pensamento]]. A [[tradução]] por [[existência]] já nos lança numa [[dinâmica]] tanto [[temporal]] como [[espacial]]. Porém, essa [[palavra]] centraliza o [[agir]] no [[sujeito]] que existe, perdendo-se o [[paradoxo]]. E não é esse o [[apelo]] de [[pensamento]] do [[vocábulo]] heideggeriano. Está em [[jogo]] o [[profundo]] [[mistério]] da [[tensão]] [[entre]] [[ser-humano]] [[E]] [[ser]]. É dentro dessa [[tensão]] que o [[ser-humano]] aparece, queira ou não queira, [[como]] um ''[[sendo]]-da-[[liminaridade]]''" (1).
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: *[[Autodiálogo]]
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: "[[Ser]], então, para o [[ser-humano]] é [[estar]] e [[ser]] ''[[entre]]'', permanentemente. Ele é, queira ou não queira, um ''[[entre]]-[[ser]]'', porque é um ''[[ser]]-do-[[entre]]''. Realiza-se sempre na e a partir da [[liminaridade]] de ''[[ón]]''/[[ente]] ''E'' ''[[einai]]'' / [[ser]]." (1)
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: ''Revista Tempo Brasileiro''. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: ''Revista Tempo Brasileiro''. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.
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: "[[Intuição]] vem de ''in-'', ou seja, é já radicalmente um [[entre]]”. Por já desde sempre [[vigorar]] o [[ser humano]] neste “[[entre]], por provir e se constituir no “[[doar-se]] de uma [[intuição]] [[originária]]” (Leão, 2006: 10) (1), é que [[Heidegger]] passou a [[denominar]] o [[ser humano]] como ''[[Da-sein]]'', ou seja, como [[Entre-ser]]" (2).
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: "[[Dasein]] é um [[verbo]] [[substantivado]], o [[verbo]] que conjuga o "si mesmo" como [[outro]], que conjuga "o em-si" como "sem em-si e para além de si". [[Transcendência]] de ''[[Dasein]]'' uma [[redundância]], pois ''[[Da-sein]]'' diz propriamente [[tradução]], ou seja, conduzir-se para além de si, ser em si [[outro]]. O [[paradoxo]] de um em-si que já é um [[outro]] exprime-se na [[morfologia]] da [[palavra]] alemã ''[[Da-sein]]''. Mas isso só transparece quando o [[verbo]] [[ser]] - que compõe ''[[Da-sein]]'' - assumido como um [[infinitivo]] [[verbal]], como um "a ser" e o "''Da''" como o "[[ser]] em que está em [[jogo]] o [[próprio]] [[ser]]", como sendo cada vez "meu" "(1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A fenomenologia de Edmund Russel e a fenomenologia de Martin Heidegger". In: Revista ''Tempo Brasileiro'' 165, abr.-jun., 2006, p. 10.
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: (1) SCUBACK, Marcia Sá Cavalcante. "A perplexidade da presença". Tradutora de ''Ser e tempo''. In: HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo'', 2.e. Petrópolis/RJ e Editora Universitária São Francisco, 2006, p. 19. Nessa Introdução, a tradutora esclarece a opção por certas traduções do vocabulário de Martin Heidegger.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 24.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 31.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 31.
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: "[[Terra]] e [[Sol]] em suas [[diferenças]] são o [[mesmo]] enquanto [[fonte]] de [[vida]]. São a [[mulher]] E o [[homem]], se [[doando]], se [[integrando]] no que cada um [[é]]. Como [[obra de arte]] [[acontecemos]] enquanto [[Entre-ser]] [''[[Dasein]]''], [[Ser-com]] [''[[Mitsein]]''] e [[Ser-no-mundo]] [''[[In-der-Welt-sein]]''](1).
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: "[[Terra]] e [[Sol]] em suas [[diferenças]] são o [[mesmo]] enquanto [[fonte]] de [[vida]]. São a [[mulher]] E o [[homem]], se [[doando]], se [[integrando]] no que cada um [[é]]. Como [[obra de arte]] [[acontecemos]] enquanto [[Entre-ser]] (''[[Dasein]]''), [[Ser-com]] (''[[Mitsein]]'') e [[Ser-no-mundo]] (''[[In-der-Welt-sein]]'') (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 34.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 34.
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: "O [[sentido do Ser]] torna a [[questão]] da [[essência]] do [[agir]] o fio condutor para [[repensar]] não só a [[filosofia]], mas também a [[poesia]] e o seu exercício de [[leitura]] e [[interpretação]]. É porque [[ação]] em seu [[sentido]] não pode [[ser]] apenas algo [[racional]], [[abstrato]] e distante, implica a [[presença]] do ''[[Dasein]]'' [[concreto]] e [[vital]]" (1).
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: Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.
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: "Num [[movimento]] pendular e [[dialético]] de [[caminhada]] de ascensão e ao mesmo tempo de descensão, move-se numa [[procura]] do [[sentido do Ser]] a partir do [[homem]] (''[[Da-sein]]''/[[Entre-ser]]) [[concreto]] ([[presença]] ainda do [[método]] [[fenomenológico]] com seu lema: volta [[concreta]] às [[coisas]] e abandono dos [[conceitos]] prévios) e ao mesmo tempo e cada vez mais busca o [[sentido do ser]] [[humano]] a partir do [[sentido do Ser]], que como [[nada]] configura o [[homem]] e o [[real]] em seu [[mistério]] [[mito]]-[[poético]]. No pendular desse ir e vir, uma [[palavra]] [[enigmática]] constitui o pêndulo [[sempre]] [[presente]] e central da [[obra]] de [[Heidegger]]: ''[[Da-sein]]''. A [[tradução]] literal, como Ser-aí, não consegue [[apreender]] a [[dinâmica]] [[verbal]] de [[pensamento]] que ela concentra... O “Da” de ''[[Da-sein]]'', mais do que uma relação [[espacial]] ou [[temporal]], diz muito mais o “[[entre]]” da [[liminaridade]] ([[limite]] e [[não-limite]]), do [[horizonte]] e da [[clareira]], em que o [[ser]] se dá retraindo-se. '''Da''' pode ser traduzido por “[[entre]]”, se este for pensado em toda a sua [[enigmática]] densidade. O [[ser humano]] como ''[[Da-sein]]'' é, de fato, o [[Entre-ser]] como  o ambíguo [[Ser-do-entre]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 33.

Edição atual tal como 22h46min de 25 de Novembro de 2020

1

"O prefixo alemão Da da palavra Da-sein significa normalmente . Um que tanto indica algo espacial como também temporal. Daí, a tradução normal de Da-sein por ser-aí. Porém, mais do que um significado literal, ressoa nesta palavra básica do pensamento renovador de Heidegger um profundo apelo de pensamento. A tradução por existência já nos lança numa dinâmica tanto temporal como espacial. Porém, essa palavra centraliza o agir no sujeito que existe, perdendo-se o paradoxo. E não é esse o apelo de pensamento do vocábulo heideggeriano. Está em jogo o profundo mistério da tensão entre ser-humano E ser. É dentro dessa tensão que o ser-humano aparece, queira ou não queira, como um sendo-da-liminaridade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 164. Rio de Janeiro: 2006, p. 25.

2

"Intuição vem de in, ou seja, é já radicalmente um entre. Por já desde sempre vigorar o ser humano neste entre, por provir e se constituir no 'doar-se de uma intuição originária' (1), é que Heidegger passou a denominar o ser humano como Da-sein, ou seja, como Entre-ser" (2).


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A fenomenologia de Edmund Husserl e a fenomenologia de Martin Heidegger". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 165. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 10.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre'". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 164. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006, p. 24.


Ver também:
*Autodiálogo

3

"Ser, então, para o ser-humano é estar e ser entre, permanentemente. Ele é, queira ou não queira, um entre-ser, porque é um ser-do-entre. Realiza-se sempre na e a partir da liminaridade de ón/ente E einai / ser." (1)


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.

4

"Dasein é um verbo substantivado, o verbo que conjuga o "si mesmo" como outro, que conjuga "o em-si" como "sem em-si e para além de si". Transcendência de Dasein uma redundância, pois Da-sein diz propriamente tradução, ou seja, conduzir-se para além de si, ser em si outro. O paradoxo de um em-si que já é um outro exprime-se na morfologia da palavra alemã Da-sein. Mas isso só transparece quando o verbo ser - que compõe Da-sein - assumido como um infinitivo verbal, como um "a ser" e o "Da" como o "ser em que está em jogo o próprio ser", como sendo cada vez "meu" "(1).


Referência:
(1) SCUBACK, Marcia Sá Cavalcante. "A perplexidade da presença". Tradutora de Ser e tempo. In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo, 2.e. Petrópolis/RJ e Editora Universitária São Francisco, 2006, p. 19. Nessa Introdução, a tradutora esclarece a opção por certas traduções do vocabulário de Martin Heidegger.

5

"O “entre” é uma captação prévia, ou seja, é a intuição originária, é o próprio logos, de que falamos no item anterior. Então logos é mundo enquanto sentido e verdade. E, portanto, o mundo é o “entre” do Dasein, ou seja, do Entre-ser e do ser-com ou Mitsein. A facticidade é então a nossa condição humana de sermos Entre-ser e Ser-com. À facticidade Heidegger chamou de transcendência ou mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 31.

6

"Terra e Sol em suas diferenças são o mesmo enquanto fonte de vida. São a mulher E o homem, se doando, se integrando no que cada um é. Como obra de arte acontecemos enquanto Entre-ser (Dasein), Ser-com (Mitsein) e Ser-no-mundo (In-der-Welt-sein) (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 34.

7

"O sentido do Ser torna a questão da essência do agir o fio condutor para repensar não só a filosofia, mas também a poesia e o seu exercício de leitura e interpretação. É porque ação em seu sentido não pode ser apenas algo racional, abstrato e distante, implica a presença do Dasein concreto e vital" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.

8

"Num movimento pendular e dialético de caminhada de ascensão e ao mesmo tempo de descensão, move-se numa procura do sentido do Ser a partir do homem (Da-sein/Entre-ser) concreto (presença ainda do método fenomenológico com seu lema: volta concreta às coisas e abandono dos conceitos prévios) e ao mesmo tempo e cada vez mais busca o sentido do ser humano a partir do sentido do Ser, que como nada configura o homem e o real em seu mistério mito-poético. No pendular desse ir e vir, uma palavra enigmática constitui o pêndulo sempre presente e central da obra de Heidegger: Da-sein. A tradução literal, como Ser-aí, não consegue apreender a dinâmica verbal de pensamento que ela concentra... O “Da” de Da-sein, mais do que uma relação espacial ou temporal, diz muito mais o “entre” da liminaridade (limite e não-limite), do horizonte e da clareira, em que o ser se dá retraindo-se. Da pode ser traduzido por “entre”, se este for pensado em toda a sua enigmática densidade. O ser humano como Da-sein é, de fato, o Entre-ser como o ambíguo Ser-do-entre" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 33.
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