Paixão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1). Fala inicial do filme ''Todas as cores do amor''. Direção de Elizabeth Gill, 2003.
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: (1). Fala inicial do filme '''Todas as cores do amor'''. Direção de Elizabeth Gill, 2003.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 316.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 316.
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: "[[Amar]] é [[Eros]], porque sempre se dá obliquamente, dissimulando-se. Sem [[amar]] [[nada]] somos e como [[amar]] é o [[nada]] do que já somos e não somos, em seu dar-se dissimulando ele sempre se retrai e mais nos atrai e arrasta na [[paixão]] amorosa. É que em toda [[paixão]] amorosa só amamos ao [[outro]] quando acontece a [[unidade]] e [[vigor]] das [[diferenças]]: o [[amar]]" (1).
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: "[[Amar]] é [[Eros]], porque sempre se dá obliquamente, dissimulando-se. Sem [[amar]] [[nada]] somos e como [[amar]] é o [[nada]] do que já somos e não somos, em seu [[dar-se]] dissimulando ele sempre se retrai e mais nos atrai e arrasta na [[paixão]] amorosa. É que em toda [[paixão]] amorosa só amamos ao [[outro]] quando acontece a [[unidade]] e [[vigor]] das [[diferenças]]: o [[amar]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.
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:    meus átomos irão resplandecer.
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:    Hei de [[viver]] o [[instante]] para sempre" (1).
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: (1) RÛMI. "O canto da unidade". In: -----. ''A flauta e a lua - Poemas de Rûmi''. Trad. de Marco Lucchesi e Rafî Moussavî. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2016, p. 99.
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: (1) RÛMI. "O canto da unidade". In: -----. '''A flauta e a lua - Poemas de Rûmi'''. Trad. de Marco Lucchesi e Rafî Moussavî. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2016, p. 99.
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: A [[palavra]] [[paixão]] formou-se do verbo grego ''pascho''. O seu significado geral diz do [[experienciar]] uma afeição, [[sensação]] ou [[sentimento]], o estar aberto e disposto para, [[estar]] em [[disposição]]. Significa, pois, uma abertura para o [[sentido]] do que somos e podemos [[ser]]. Esta [[disposição]] varia e pode ter o [[sentido]] de [[experienciar]] [[dor]] e [[sofrimento]], chegando à [[morte]]. [[Paixão]] significa então [[morte]]. Mas, por outro lado, tal [[disposição]] pode se voltar para alguém. A [[paixão]] exige necessariamente os [[outros]]. A [[paixão]] como [[morte]] tem então o significado de sacrifício pelos semelhantes. E só se sacrifica quem ama. E para [[amar]] tem que ser algo arrebatador. É a [[paixão]] amorosa transformada na [[doação]] silenciosa, o [[amor]]. Isso não quer dizer nem pena nem anulação do [[outro]], mas diz do sofrer com, do compartilhar dores e alegrias. A [[paixão]] aparece então como compaixão. Finalmente [[paixão]] nos remete para a [[disposição]] pela qual nos transformamos e buscamos o [[outro]]. É o transformar-se o amador na pessoa amada, gerando uma profunda e essencial identificação.
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: A [[palavra]] [[paixão]] formou-se do verbo grego ''pascho''. O seu significado geral diz do [[experienciar]] uma afeição, [[sensação]] ou [[sentimento]], o estar aberto e disposto para, [[estar]] em [[disposição]]. Significa, pois, uma abertura para o [[sentido]] do que somos e podemos [[ser]]. Esta [[disposição]] varia e pode ter o [[sentido]] de [[experienciar]] [[dor]] e [[sofrimento]], chegando à [[morte]]. [[Paixão]] significa então [[morte]]. Mas, por outro lado, tal [[disposição]] pode se voltar para alguém. A [[paixão]] exige necessariamente os [[outros]]. A [[paixão]] como [[morte]] tem então o significado de sacrifício pelos semelhantes. E só se sacrifica quem ama. E para [[amar]] tem que ser algo arrebatador. É a [[paixão]] amorosa transformada na [[doação]] silenciosa, o [[amor]]. Isso não quer dizer nem pena nem anulação do [[outro]], mas diz do sofrer com, do compartilhar [[dores]] e [[alegrias]]. A [[paixão]] aparece então como [[compaixão]]. Finalmente [[paixão]] nos remete para a [[disposição]] pela qual nos transformamos e buscamos o [[outro]]. É o [[transformar-se]] o [[amador]] na [[pessoa]] amada, gerando uma profunda e [[essencial]] [[identificação]].
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: "Vivendo, os [[homens]] vão experimentando a [[paixão]] de [[viver]] e aprendendo com esta [[experiência]]. [[Pensar]] é a [[disciplina]], a [[ascese]] e o ordenamento desta [[paixão]]" (1). "[[Pensar]] é [[cuidar]] da [[paixão]] de [[viver]], é [[sentir]] o [[sentido]] da [[paixão]] de [[viver]].  Lançados no rio da [[vida]], esta se torna [[questão]], pois é no [[pensar]] que a [[questão]] se torna o desafio do [[pensar]], do experienciá-la enquanto [[paixão]]. [[Cuidar]] é, essencialmente, deixar eclodir no [[pensar]] apaixonado um [[figurar]] da [[vida]]" (2).  
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: "Vivendo, os [[homens]] vão experimentando a [[paixão]] de [[viver]] e aprendendo com esta [[experiência]]. [[Pensar]] é a [[disciplina]], a [[ascese]] e o ordenamento desta [[paixão]]" (1).  
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: "[[Pensar]] é [[cuidar]] da [[paixão]] de [[viver]], é [[sentir]] o [[sentido]] da [[paixão]] de [[viver]].  Lançados no rio da [[vida]], esta se torna [[questão]], pois é no [[pensar]] que a [[questão]] se torna o desafio do [[pensar]], do experienciá-la enquanto [[paixão]]. [[Cuidar]] é, essencialmente, deixar eclodir no [[pensar]] apaixonado um [[figurar]] da [[vida]]" (2).  
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições de filosofia". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 130/131, 1997, p. 145.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições de filosofia". In: Revista '''Tempo Brasileiro, 130/131''', 1997, p. 145.  
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de ''Cura'' e o ser humano". In: --------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 229.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de ''Cura'' e o ser humano". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 229.
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: "Assim numa [[definição]] [[real]] poder-se-ia definir a [[filosofia]] como o esforço do [[pensamento]] de [[questionar]] tudo que nos vem ao encontro, tanto o que somos, como o que não somos, pela radicalização da [[paixão]] de [[viver]]. Dando [[sentido]] a todas as [[coisas]], a [[paixão]] de [[viver]] torna a [[vida]] digna de ser vivida. Destarte a [[definição nos diz duas coisas fundamentais: primeiro, que [[filosofia]] é [[questionar]] e ser questionado pela [[paixão]] de [[viver]], e, segundo, ser [[filósofo]] equivale a ser homem também discursivamente apaixonado, i. é, num [[discurso]] agente e paciente daquela [[paixão]]" (1).
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: "Assim numa [[definição]] [[real]] poder-se-ia definir a [[filosofia]] como o esforço do [[pensamento]] de [[questionar]] tudo que nos vem ao encontro, tanto o que somos, como o que não somos, pela radicalização da [[paixão]] de [[viver]]. Dando [[sentido]] a todas as [[coisas]], a [[paixão]] de [[viver]] torna a [[vida]] digna de ser vivida. Destarte a [[definição]] nos diz duas coisas fundamentais: primeiro, que [[filosofia]] é [[questionar]] e ser questionado pela [[paixão]] de [[viver]], e, segundo, ser [[filósofo]] equivale a [[ser]] [[homem]] também discursivamente apaixonado, i. é, num [[discurso]] agente e paciente daquela [[paixão]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições da filosofia". In: Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista ''Tempo brasileiro'', 130 / 131, jul.-dez., 1997, p. 149.
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições da filosofia". In: Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista ''Tempo brasileiro'', 130 / 131, jul.-dez., 1997, p. 149.
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: "[[Diálogo]] entre os [[personagens]] Marie e Henrik:
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:  - Como é?
 
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:  - O quê?
 
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:  - Disse que está apaixonado.
 
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:  - Sinto uma [[paixão]] no peito, no estômago. Meu joelho fica como uma maçã esmagada e meus dedos se desequilibram, mas é mais forte no peito.
 
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:  - Quem disse que eu estou apaixonada por ti?
 
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:  - Acho que a [[paixão]] está na pele. Quero que você me toque, acaricie a minha pele com suas mãos. Está nos meus ombros e nos meus cotovelos.
 
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:  - Nas palmas das minhas mãos. Dá cócegas em todo [[corpo]] ".
 
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:  ''- Acho que a [[paixão]] está na pele. Quero que você me toque, acaricie a minha pele com suas mãos. Está nos meus ombros e nos meus cotovelos.
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:  ''- Nas palmas das minhas mãos. Dá cócegas em todo [[corpo]]'' " (1).
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: Filme ''Juventude''.  Roteiro de Ingmar Bergman e Herbert Greveniu. Direção de Ingmar Bergman. As personagens Marie e Henrik são os personagens principais.
 
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: (1) Filme ''Juventude''.  Roteiro de Ingmar Bergman e Herbert Greveniu. Direção de Ingmar Bergman. As personagens Marie e Henrik são os personagens principais.
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: "[[Viver]] é [[nascer]], [[crescer]], [[amadurecer]] e [[morrer]] a todo [[instante]]. Vivendo, os [[homens]] vão experienciando a [[paixão]] de [[viver]] e aprendendo com esta [[experienciação]]. [[Pensar]] é a [[disciplina]], a ascese e o ordenamento desta [[paixão]]" (1).
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: "[[Viver]] é [[nascer]], [[crescer]], [[amadurecer]] e [[morrer]] a todo [[instante]]. Vivendo, os [[homens]] vão experienciando a [[paixão]] de [[viver]] e aprendendo com esta [[experienciação]]. [[Pensar]] é a [[disciplina]], a [[ascese]] e o ordenamento desta [[paixão]]" (1).
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: "Não há amante sem o [[amar]]. ''[[Eros]]'' é a grande ''[[paixão]]'' que move o [[ser]]. O [[ser]] vigorando na [[paixão]] de [[Eros]] é o [[amar]]" (1).
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: "Não há [[amante]] sem o [[amar]]. ''[[Eros]]'' é a grande ''[[paixão]]'' que move o [[ser]]. O [[ser]] vigorando na [[paixão]] de [[Eros]] é o [[amar]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 294.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 294.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O Mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 189.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O Mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 189.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "... [[viver]], mais do que deixar correr a [[vida]], [[deixar]] se levar pelas [[vivências]] e se [[deixar]], enfim, levar por um [[querer]] da [[vontade]], se torna uma tarefa [[poética]] incessante (tautologia) cuja [[dobra]] do que já desde [[sempre]] somos se [[desdobra]] e o [[ser humano]] se torna [[humano]]. É o [[pensar]] como [[experienciação]] da [[paixão]] de [[viver]]. Por isso, já nos disse Caeiro que “[[pensar]] é [[amar]]” (1) (2004, 98)" (2).
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: (1) CAEIRO, Alberto. ''Poesia''. In: PESSOA, Fernando. São Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 98.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 278.
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: A [[palavra]] [[paixão]] formou-se do [[verbo]] [[grego]] ''pascho''. O seu [[significado]] geral diz do [[experienciar]] uma afeição, [[sensação]] ou [[sentimento]], o [[estar]] [[aberto]] e disposto para, [[estar]] em [[disposição]]. Significa, pois, uma [[abertura]] para o [[sentido]] do que somos e podemos [[ser]]. Esta [[disposição]] varia e pode ter o [[sentido]] de [[experienciar]] [[dor]] e [[sofrimento]], chegando à [[morte]]. [[Paixão]] significa então [[morte]]. Mas, por outro lado, tal [[disposição]] pode se voltar para alguém. A [[paixão]] exige [[necessariamente]] os [[outros]]. A [[paixão]] como [[morte]] tem então o [[significado]] de [[sacrifício]] pelos semelhantes. E só se sacrifica quem ama. E para [[amar]] tem que [[ser]] algo arrebatador. [[É]] a [[paixão]] amorosa transformada na [[doação]] [[silenciosa]], o [[amor]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Finalmente [[paixão]] nos remete para a [[disposição]] pela qual nos transformamos e [[procuramos]] o [[outro]]. [[É]] o [[transformar-se]] o [[amador]] na [[pessoa]] amada, gerando uma [[profunda]] e [[essencial]] [[identificação]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "A [[felicidade]], para [[ser]] [[saber]], tem de se mover na [[luz]] da [[clareira]] de [[Apolo]] e mergulhar como sabor na [[dimensão]] de ''[[dzoé]]''-[[Dioniso]], tornando-se a [[sabedoria]] da ''[[phýsis]]'', dando-se na [[luz]] como [[sentido do ser]]. Esta é a [[medida]] do [[ser feliz]]. O [[sabor]] do [[saber]] jamais é [[irracional]], o [[sabor]] da [[felicidade]] jamais é [[irracional]]. É apaixonado pela [[proximidade]]. Nele [[vigem]] [[Apolo]] e [[Dioniso]], e faz de tal [[saber]] a [[paixão]] da [[sabedoria]]. A [[paixão]] e a [[sabedoria]] como [[Penhor]] dos [[empenhos]] é a [[felicidade]]. Esta não pode ser tentada, buscada, procurada a partir do [[saber]] da [[razão]] e muito menos ser julgada no seu tribunal, pelo qual tudo que não for de seu âmbito e delimitação cai na vulgaridade e superficialidade do [[irracional]], o que não é [[próprio]] nem alcançado pela [[luz]] da [[razão]]" (1).
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: Referência bibliográfica:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 201.

Edição atual tal como 02h46min de 15 de Abril de 2022

1

"A memória de um peixinho dourado só dura três segundos. Então, depois de uma volta pelo aquário tudo é novidade. Cada vez que dois peixinhos se veem é como se fosse pela primeira vez. É como nós humanos. Cada nova paixão é como se fosse a primeira. Uma reação química apaga a lembrança da última dor de amor e nós pensamos: "Puxa, isso é maravilhoso... isso é novo, é diferente!" " (1).


Referência:
(1). Fala inicial do filme Todas as cores do amor. Direção de Elizabeth Gill, 2003.

2

"A excessividade do ser no amar é para todo sendo um mistério. Por isso o amante tende para a excessividade da paixão, que se torna fatal quando não tem como medida o ser, mas o sendo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 316.

3

"Amar é Eros, porque sempre se dá obliquamente, dissimulando-se. Sem amar nada somos e como amar é o nada do que já somos e não somos, em seu dar-se dissimulando ele sempre se retrai e mais nos atrai e arrasta na paixão amorosa. É que em toda paixão amorosa só amamos ao outro quando acontece a unidade e vigor das diferenças: o amar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.

4

"Quando eu voltar ao mar absoluto,
meus átomos irão resplandecer.
Eu ardo como a vela da paixão.
Hei de viver o instante para sempre" (1).


Referência:
(1) RÛMI. "O canto da unidade". In: -----. A flauta e a lua - Poemas de Rûmi. Trad. de Marco Lucchesi e Rafî Moussavî. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2016, p. 99.

5

A palavra paixão formou-se do verbo grego pascho. O seu significado geral diz do experienciar uma afeição, sensação ou sentimento, o estar aberto e disposto para, estar em disposição. Significa, pois, uma abertura para o sentido do que somos e podemos ser. Esta disposição varia e pode ter o sentido de experienciar dor e sofrimento, chegando à morte. Paixão significa então morte. Mas, por outro lado, tal disposição pode se voltar para alguém. A paixão exige necessariamente os outros. A paixão como morte tem então o significado de sacrifício pelos semelhantes. E só se sacrifica quem ama. E para amar tem que ser algo arrebatador. É a paixão amorosa transformada na doação silenciosa, o amor. Isso não quer dizer nem pena nem anulação do outro, mas diz do sofrer com, do compartilhar dores e alegrias. A paixão aparece então como compaixão. Finalmente paixão nos remete para a disposição pela qual nos transformamos e buscamos o outro. É o transformar-se o amador na pessoa amada, gerando uma profunda e essencial identificação.


- Manuel Antônio de Castro.

6

"Vivendo, os homens vão experimentando a paixão de viver e aprendendo com esta experiência. Pensar é a disciplina, a ascese e o ordenamento desta paixão" (1).
"Pensar é cuidar da paixão de viver, é sentir o sentido da paixão de viver. Lançados no rio da vida, esta se torna questão, pois é no pensar que a questão se torna o desafio do pensar, do experienciá-la enquanto paixão. Cuidar é, essencialmente, deixar eclodir no pensar apaixonado um figurar da vida" (2).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições de filosofia". In: Revista Tempo Brasileiro, 130/131, 1997, p. 145.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 229.

7

"Assim numa definição real poder-se-ia definir a filosofia como o esforço do pensamento de questionar tudo que nos vem ao encontro, tanto o que somos, como o que não somos, pela radicalização da paixão de viver. Dando sentido a todas as coisas, a paixão de viver torna a vida digna de ser vivida. Destarte a definição nos diz duas coisas fundamentais: primeiro, que filosofia é questionar e ser questionado pela paixão de viver, e, segundo, ser filósofo equivale a ser homem também discursivamente apaixonado, i. é, num discurso agente e paciente daquela paixão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições da filosofia". In: Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo brasileiro, 130 / 131, jul.-dez., 1997, p. 149.

8

"Diálogo entre os personagens Marie e Henrik:
- Como é?
- O quê?
- Disse que está apaixonado.
- Sinto uma paixão no peito, no estômago. Meu joelho fica como uma maçã esmagada e meus dedos se desequilibram, mas é mais forte no peito.
- No peito?
- No coração?
- Eu não sei. E você?
- Quem disse que eu estou apaixonada por ti?
- Ah, está bem...
- Acho que a paixão está na pele. Quero que você me toque, acaricie a minha pele com suas mãos. Está nos meus ombros e nos meus cotovelos.
- Nas palmas das minhas mãos. Dá cócegas em todo corpo " (1).


Referência:
(1) Filme Juventude. Roteiro de Ingmar Bergman e Herbert Greveniu. Direção de Ingmar Bergman. As personagens Marie e Henrik são os personagens principais.

9

"Viver é nascer, crescer, amadurecer e morrer a todo instante. Vivendo, os homens vão experienciando a paixão de viver e aprendendo com esta experienciação. Pensar é a disciplina, a ascese e o ordenamento desta paixão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Definições de filosofia". In: Rev. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 130 / 131, jul.-dez., 1997, p. 145.

10

"Não há amante sem o amar. Eros é a grande paixão que move o ser. O ser vigorando na paixão de Eros é o amar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 294.

11

"A sabedoria de Sileno se distingue porque ele foi o sábio preceptor de Dioniso. Esse deus-homem, homem-deus está ligado tanto à phýsis como à zoé (vigor e fulgor do viver) e também a Eros, sempre no limiar de Thánatos. A paixão pela vida como Eros-Dioniso é o que dá o alcance do que os gregos experienciavam como zoé (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O Mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 189.

12

Um índice que mostra o homem para além do racional é o eros/amor. Há uma relação racional no comportamento amoroso, mas o amor propriamente dito é aquilo que ultrapassa e está além dessa mera relação racional. Daí as variáveis de amor e paixão, onde esta é marcada por um arrebatamento próximo da loucura e que nada tem de racional.


- Manuel Antônio de Castro.

13

"... viver, mais do que deixar correr a vida, deixar se levar pelas vivências e se deixar, enfim, levar por um querer da vontade, se torna uma tarefa poética incessante (tautologia) cuja dobra do que já desde sempre somos se desdobra e o ser humano se torna humano. É o pensar como experienciação da paixão de viver. Por isso, já nos disse Caeiro que “pensar é amar” (1) (2004, 98)" (2).


Referência:
(1) CAEIRO, Alberto. Poesia. In: PESSOA, Fernando. São Paulo: Cia. das Letras, 2004, p. 98.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 278.

14

A palavra paixão formou-se do verbo grego pascho. O seu significado geral diz do experienciar uma afeição, sensação ou sentimento, o estar aberto e disposto para, estar em disposição. Significa, pois, uma abertura para o sentido do que somos e podemos ser. Esta disposição varia e pode ter o sentido de experienciar dor e sofrimento, chegando à morte. Paixão significa então morte. Mas, por outro lado, tal disposição pode se voltar para alguém. A paixão exige necessariamente os outros. A paixão como morte tem então o significado de sacrifício pelos semelhantes. E só se sacrifica quem ama. E para amar tem que ser algo arrebatador. É a paixão amorosa transformada na doação silenciosa, o amor.


- Manuel Antônio de Castro.

15

Finalmente paixão nos remete para a disposição pela qual nos transformamos e procuramos o outro. É o transformar-se o amador na pessoa amada, gerando uma profunda e essencial identificação.


- Manuel Antônio de Castro.

16

"A felicidade, para ser saber, tem de se mover na luz da clareira de Apolo e mergulhar como sabor na dimensão de dzoé-Dioniso, tornando-se a sabedoria da phýsis, dando-se na luz como sentido do ser. Esta é a medida do ser feliz. O sabor do saber jamais é irracional, o sabor da felicidade jamais é irracional. É apaixonado pela proximidade. Nele vigem Apolo e Dioniso, e faz de tal saber a paixão da sabedoria. A paixão e a sabedoria como Penhor dos empenhos é a felicidade. Esta não pode ser tentada, buscada, procurada a partir do saber da razão e muito menos ser julgada no seu tribunal, pelo qual tudo que não for de seu âmbito e delimitação cai na vulgaridade e superficialidade do irracional, o que não é próprio nem alcançado pela luz da razão" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 201.
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