Agir

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 22h10min de 25 de Junho de 2020 por Profmanuel (Discussão | contribs)
Agir, ver também Ação

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Agimos no sentido cultural de produzir, seja intelectual, seja praticamente. São as diferentes produções, ditas hoje, artísticas, técnicas, culturais. Esse agir externalizante ainda não traz em si a questão da essência do agir. E quando a questão surge? Ela precede todo e qualquer agir, mas se torna explícita quando o homem pergunta: "O que é isto - o agir?" Nesse agir como essência vai estar implicada a essência do ser humano. É no e pelo agir que o ser humano se torna humano. Enquanto essência (do latim essentia), ousía (em grego), vai estar implicado o ser, pois a ousia é sempre a ousia do ser. A implicação de ser e homem no e pelo agir é o que constitui propriamente o ético.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
* Ação
* Inteiro

2

A essência do agir não pode ser definida num conceito, ela é uma questão: A questão pode ser apreendida de uma maneira clara e paradoxal na seguinte afirmação: Cada um faz o que quer e a realidade faz o que quer com cada um. Realidade enquanto essência do agir é o que acontece. À referência ou essência do agir de cada um e da realidade é o que se dá no acontecer poético. Neste horizonte de pensamento é necessário pensarmos o que é querer e o que é vontade, bem como liberdade e destino.


- Manuel Antônio de Castro

3

A essência do agir não é causar efeitos ou fazer surgir, seja lá o que for, na ordem dos entes e nem se dá na correlação de sujeito e objeto. Também não se identifica com o agir causal de agente e paciente. Agir essencialmente é deixar o ser vigorar em tudo que é e está sendo, implica, portanto, o destinar-se do sentido do ser. O homem faz, o ser age, onde o fazer é o esquecimento do sentido do ser.


- Referência:
- CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e estar". In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 19.

4

A Linguagem poética dá um sentido a tudo que é e está sendo. O sentido é o caminho tanto pessoal como da comunidade histórica enquanto sentido do agir. Pelo agir gera-se um caminho que é o sentido da verdade. Verdade nunca é algo, é a realidade se realizando, agindo. Será então necessariamente um agir e realizar poéticos. A verdade da realidade se torna verdade na medida em que a ação eclode como Linguagem poética, como sentido do que somos.


- Manuel Antônio de Castro

5

"Ora, os modos de agir e operar se plantam nos modos de ser e realizar-se. É o impulso que desperta em nós a memória criativa de um princípio aristotélico, o princípio da integração reciprocamente constitutiva de ser e agir: operari sequitur esse: os modos de operar seguem os modos de ser " (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O esquecimento da memória". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 153: 143/147, abr.-jun., 2003, p. 144.

6

"Ora, este exercício pelo qual nós procuramos realizar nosso ser, fazer desabrochar nosso ser em direção à sua perfeição entitativa, é o que chamamos de agir. O agir se revela em nós, portanto, como nosso próprio ser em dinâmica busca de sua realização total" (1).


Referência:
(1) HUMMES, Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho (Imigrantes), RS, 1964.

7

A obra de arte mostra que ela é portadora de um poder que é ambíguo, pois, embora provenha de um fundar que não é o homem, vai se manifestar no agir do homem, pois todo agir do homem, na medida em que funda sentido, só é possível porque já vigora no poder de sentido do logos e do pensamento, isto é, no sentido e verdade do ser. Eis aí a essência do agir em seu sentido e verdade.


- Manuel Antônio de Castro

8

"A Essência do agir, no entanto, está em con-sumar. Con-sumar quer dizer: conduzir uma coisa ao sumo, à plenitude de sua Essência. Levá-la a essa plenitude, producere" (1).
Nota. "Pro-ducere: composto do verbo ducere (levar) e da proposição pro(diante de, em frente de), produção é a instauração de vigor que leva o modo de ser de algum ente para a frente da presença histórica" (2).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 23.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Veja-se Martin Heidegger, Introdução à Metafísica. Trad. e notas de Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1966, p. 78, Nota 16.

9

"No princípio de tudo a ação. O agir humano é empenho e conquista de ser, é percepção e vivência de não ser na experiência de vir a ser. O homem não faz apenas bem e /ou mal as coisas que faz. Ele faz também um bem e/ou um mal a si mesmo e aos outros. Mas em tudo que venha a fazer e/ou deixar de fazer lhe chega sempre um convite radical, o convite de fazer o bem e evitar o mal. É neste sentido que, na dinâmica de todo agir humano, vive um tríplice apelo: fazer bem, fazer um bem, fazer o bem. Assim, a ética, em que mora todo agir dos homens, consiste em fazer o bem e evitar o mal em tudo." (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.

10

"Somente no agir o ser é totalmente ele mesmo. Ser é agir e vice-versa. (Não se pode jamais confundir agir com fazer. Aquele inclui este, mas este não inclui aquele)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.

11

"Devemos integrar o agir externo e o agir interno, o agir do sendo com o agir do ser. É que o ser do ser humano não se pode reduzir a um ou outro agir" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.

12

"Na vida, entretanto, não basta sentir, é necessário ser o que se sente. Ao contrário, a poética é um enigma que se dá em uma dobra. O seu desdobrar-se é mais que estético, algo somente preso às sensações ou percepções, é poético. Só o poético vigora no e a partir da essência do agir. Eis aí a diferença radical entre estética e poética. A essência do agir vigora a partir do sentido do ser e acontece em nós quando nos abrimos para o operar do pensar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.

13

"O arbítrio – isto é, a liberdade de agir – foi-lhe entregue por uma ação anterior a qualquer outra que possa ou venha a praticar. Esta ação anterior, do entre que o configura como interlúdio, está na origem do homem. Não é, portanto, ele que originariamente a pratica, mas a ele se dirige, até para que possa agir" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.

14

Não é minha pergunta pela essência do agir que funda o agir, assim como não é meu pro-pósito de fazer uma leitura-caminhada que funda a obra e até a compreensão que possa vir a ter dela. Mas todo ser humano está implicado nela. Porque o agir já precede toda ação concreta, significa isso que no simples ato de perguntar já me advém, de algum modo, o sentido do próprio perguntar, ou seja, o agir não só funda todo saber que se sabe, mas também de algum modo todo saber que não se sabe. É o que se está querendo dizer ao nomear isso como a compreensão e a pré-compreensão. Isso se chama o círculo poético-hermenêutico" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A ação e a caminhada de vida". In: --------. https://travessiapoetica.blogspot.com, agosto de 2006.

15

"... pois o agir, em sua essência, é o agir do vigorar do tempo que se dispõe e destina epocalmente. E isso já nos foi sinalizado pela inscrição no templo de Apolo em Delfos, que dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. Eis a essência do questionar, agindo. Eis a essência do ler".


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 39.

16

"Liminaridade significa aí o estar jogado num projeto de realização do que é a partir do ser. Na liminaridade o agir do ser-humano, e só é agindo, sendo poético, encontra o seu vigor e seu horizonte no ser. Seu agir é, pois, algo entre o agir do ser que nele opera (obra/verdade/poíesis) e o seu agir, enquanto desvelo do que ele é. Essa dupla poíesis é que é o paradoxo, o entre. Ser, então, para o ser-humano é estar e ser entre, permanentemente. Ele é, queira ou não queira, um entre-ser, porque é um ser-do-entre. Realiza-se sempre na e a partir da liminaridade de ón/ente E einai / ser." (1)


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.

17

"No mito de Midas nos é dito, de uma maneira maravilhosa e simples, que temos e não-temos, somos e não-somos a essência do agir, àquela e aquilo que já desde sempre pro-curamos em todos os nossos empenhos e desempenhos. Daí a nossa sensação de constante incompletude " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 192.

18

"E a grande questão do mito do Canto das Sereias é a questão do destino do homem em sua travessia, é a grande questão para Ulisses, que vive no limiar do sentido do agir dos deuses e no sentido do agir do homem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 162.

19

"É necessário retomar o ético de todo conhecimento, na medida em que este tem, necessariamente como medida ontológica e princípio de realização, o humano. O que está faltando é se pensar com radicalidade a essência do agir em tudo, sobretudo no educar do ser humano, uma vez que fazer ainda não é ser. E só na vigência deste se age essencialmente. Não basta fazer é necessário ser o que se faz" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 24.

20

"Está em jogo o profundo mistério da tensão entre ser-humano E ser. É dentro dessa tensão que o ser-humano aparece, queira ou não queira, como um ente-da-liminaridade. Liminaridade significa aí o estar jogado num projeto de realização do que é a partir do ser. Na liminaridade o agir do ser-humano, e só é agindo, sendo poético, encontra o seu vigor e seu horizonte no ser. Seu agir é, pois, algo entre o agir do ser que nele opera (obra/verdade/poiesis) e o seu agir, enquanto desvelo do que ele é. Essa dupla poiesis é que é o paradoxo, o entre. Ser, então, para o ser-humano é estar e ser entre, permanentemente. Ele é, queira ou não queira, um entre-ser, porque é um ser-do-entre. Realiza-se sempre na e a partir da liminaridade de “on/ente” E “einai/ser”" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o 'entre' ". In: Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: n. 164, jan.-mar. 2006, p. 25.

21

"Em todo ato, o vigorar já vigora em sua plenitude, mas como esta não é um fim, mas uma consumação, a essência do agir tem sua medida no agir da essência, daquilo de quem recebemos nosso destino: o ser. Ser é verbo, o vigorar de todo agir. Ser então é a necessidade necessária" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 277.

22

A essência do agir se funda numa ambiguidade: perguntamos e no perguntar quem, em última instância, se pergunta, porque só podemos ter vontade de perguntar porque já vigoramos no querer do ser, é o ser.


- Manuel Antônio de Castro.
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