Universal
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | :O [[atual]] é sempre [[concreto]], porque vigora no [[originário]], no poético. As novas obras poéticas não são repetição das anteriores, mas também não são evolução. As questões não evoluem, não progridem. Contudo, a cada obra poética nova elas são experienciadas inaugural e originariamente. A vida é sempre [[experienciação]] originária, porque é poética. É o universal concreto e, portanto, poético. O universal por ser originário é sempre atual. | + | : O [[atual]] é sempre [[concreto]], porque vigora no [[originário]], no [[poético]]. As novas [[obras poéticas]] não são repetição das anteriores, mas também não são [[evolução]]. As [[questões]] não evoluem, não progridem. Contudo, a cada [[obra poética]] nova elas são [[experienciadas]] [[inaugural]] e [[originariamente]]. A [[vida]] é sempre [[experienciação]] [[originária]], porque é [[poética]]. É o [[universal concreto]] e, portanto, [[poético]]. O [[universal]] por ser [[originário]] é sempre atual. E isso constitui a [[essência]] do [[universal]], ou seja, [[universalidade]]. |
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+ | : O que é o [[universal]]? É [[ação]] permanente e [[poética]] de levar a [[duração]] ao [[efêmero]], um [[efêmero]] que não se funda, mas é fundado na [[medida]] em que é regido pela [[unidade]] das [[versões]], estas efêmeras enquanto versões, se forem consideradas sem a [[unidade]]. Por outro lado, como a [[unidade]] é [[dinâmica]] e sempre [[vigorando]] no [[originário]], sua [[presença]] se faz enquanto [[permanentes]] [[versões]]. Mas isto não depende do [[autor]]. Depende da [[Poética]], na medida em que esta é o [[criar]] da [[realidade]] enquanto se doa e manifesta em [[realizações]], de onde nos advém o [[real]]. Como nisto acontece a [[presença]] do [[agir]] [[humano]]? Com a [[escuta]] do apelo do [[poético]], pois este é a [[forma]] derrotando a [[cronologia]]. É a [[realização]] para além dos [[limites]] das [[formas]] da [[obra]]. É o que os [[gregos]] denominaram ''[[morphe]]'', isto é, a força instauradora da [[realidade]] ultrapassando incessantemente os [[limites]]. | ||
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+ | : [[Universal]] diz: a [[unidade]] das [[versões]]. 'Uni- diz o [[uno]], a unidade'; '-versal' provém do verbo latino: ''verto, versum, vertere'', verter, realizar, concretizar, transformar. Por [[unidade]] podemos compreender a [[identidade]], (o [[uno]]), das [[diferenças]]. Por isso todo [[concreto]] é sempre a tensão de [[identidade]] e [[diferenças]]. Quando racionalmente se considera apenas a unidade sem a [[presença]] concreta das [[diferenças]] temos a [[abstração]]. Neste conhecimento, o universal será o universal abstrato, ou seja, conceitual, que vale para muitos indiferenciadamente. Esse é o universal da ciência, ao contrário do universal da [[arte]], que em cada [[obra]] é sempre [[concreto]]. Disso resulta que a [[arte]] diz sempre o ''[[mesmo]]'', o que não quer dizer que diga [[coisas]] iguais. | ||
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+ | : De [[universo]] se formou o [[universal]], aplicado à [[questão]] da [[verdade]]. Toda [[verdade]] tem de ter um [[valor]] [[universal]], como [[unidade]] ou [[identidade]] das [[diferenças]], das [[versões]], como [[identidade]] [[lógica]], na [[modernidade]]. Mas já os [[gregos]] foram além desse [[lógico]] ao pensarem a [[verdade]] como ''[[a-letheia]]'': des-velamento, ou seja, a [[dobra]] de [[velar]] e [[desvelar]]. | ||
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+ | : "O que é o [[universal]], até para podermos afirmar um [[tempo]] e [[ser]] globalizados? Pode haver um [[universal]] idealizado virtualmente que pense o [[ser]] dos [[entes]] e suas [[diferenças]] [[essenciais]] em seu [[acontecer]] [[poético]]? Pode a [[imaginação]] da [[essência]] técnica gerar o [[humano]] [[universal]], [[ético]]? Essa sempre foi a [[questão]] em que se moveram as [[obras]] de [[arte]] e de [[pensamento]]. | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista '''Tempo Brasileiro - Globalização, pensamento e arte''', 201/202. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 12. | ||
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- | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 14. | |
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+ | : "O que é o [[universal]]? Essa é a [[questão]] que nos desafia desde os [[pensadores originários]] e se faz presente em todas as [[culturas]] através de [[mitos]] e [[ritos]], e depois na [[filosofia]], no [[pensamento]] e nas [[artes]]. E ela é mais atual do que nunca. O que mudou foi a sua [[compreensão]] a cada nova [[globalização]], pois cada uma desenvolve novas [[dimensões]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 15. | ||
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- | : " | + | : "Em [[tudo]] que olha o [[homem]], já sempre pre-viu na medida em que apreende e compreende o [[sentido]] do que não cessa de [[dar-se]] a [[ver]], ocultando-se. E isso é o [[pensar]] enquanto [[sentido]], [[verdade]] e [[mundo]]. Por isso, o [[homem]] só pode ter [[ideias]] na medida em que pensa. E pensando pode [[dizer]]. Não pensa porque diz, mas diz porque nele o [[ser]] se pensa e diz. Isso é o [[universal]]" (1). |
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 16. | ||
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+ | : "O [[universal]] do [[paradigma]] também gera uma [[diferença]], pois diz respeito tanto à [[verdade]] de uma [[época]], quanto à [[verdade]] de cada [[identidade]] [[cultural]]. A [[questão]] do [[universal]] sempre foi não apenas uma [[questão]] [[lógica]] e [[epistemológica]], mas [[essencialmente]] [[ontológica]] e é nesta que se deve [[pensar]] o [[humano]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 19. | ||
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+ | : "Por detrás de todo [[humanismo]] há uma [[questão]] maior, porque [[essencial]] e não apenas [[atributiva]] e [[acidental]]. É o desafio de [[pensar]] o [[humano]] de todo [[ser humano]], em todas as [[épocas]] e [[culturas]] no seu [[ético]]. Como não se pode separar o [[humano]] [[histórico]] de todo e qualquer [[ser humano]], houve a [[necessidade]] de se [[pensar]] o [[universal]] de uma maneira não apenas [[epistemológica]], mas [[ontológica]], isto é, onde haja uma [[unidade]] do [[universal]] com o [[singular]] e [[próprio]], da [[identidade]] com a [[diferença]], numa permanente [[dialética]] e [[diálogo]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 20. | ||
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+ | : "O [[universal]] [[abstrato]] tem a pretensão de anular o [[tempo]], sendo válido e [[verdadeiro]] não só para aquela [[representação]], mas que ela valha para [[todos]] e para sempre. Impossível, pois da [[realidade]] nada se pode [[excluir]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 20. | ||
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+ | : "[[Liberdade]] é sempre [[universal]] [[concreto]] como o [[humano]]. Há, portanto, um [[dar-se]] a [[ver]] e um [[ocultar]], um [[desvelar]] e um [[velar]]. Desse modo, por detrás de todo [[olhar]] deve [[vigorar]] sempre um [[ver]]. E todo [[ver]] só é [[ver]] na medida em que é dimensionado pelo [[pensar]]. Essa é a complexidade de toda [[crise]] e de toda [[verdade]], o que quer dizer de todo [[paradigma]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista ''Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 21. | ||
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+ | : "Na [[era]] [[global]] da [[comunicação]] instantânea (''Whatsapp'', ''Twitter'') nunca houve tanto [[isolamento]] e imersão numa [[realidade]] que nos foge dos pés. Todos conectados e todos [[isolados]]. Tanto nas [[artes]] quanto nas [[ciências]] reina a mais [[absoluta]] perplexidade. Os [[sistemas]] faliram e nunca se tornou tão urgente [[pensar]] o [[ético]] do [[humano]] e o [[humano]] do [[ético]] enquanto [[vigorar]] do [[princípio]] [[originário]] (''[[arché]]''). O [[ético]] é a [[verdade]] [[libertadora]] do [[universal]] [[concreto]]. Eis algumas denominações tentando [[dizer]] a atual [[globalização]]: [[pós-modernidade]], baixa-modernidade, [[contemporâneo]] (como se toda [[época]] não fosse [[contemporânea]] de quem a experiencia!!!!), [[sociedade]] da [[informação]], [[sociedade]] do [[espetáculo]], [[sociedade]] da [[comunicação]], [[sociedade]] de [[consumo]], [[sociedade]] do [[conhecimento]], pós-tudo, o [[tempo]] das [[redes]], o [[fim]] das [[certezas]], a [[realidade]] [[virtual]]. A pura negação ou a total aceitação deslumbrante é uma nescidade" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: ''Revista Tempo Brasileiro'', 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 22. | ||
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+ | : "O [[pensamento]] busca [[elaborar]] uma [[representação]] [[universal]] da [[linguagem]]. O [[universal]], o que vale para toda e qualquer [[coisa]], chama-se [[essência]]. Prevalece a [[opinião]] de que o traço [[fundamental]] do [[pensamento]] é [[representar]] de maneira [[universal]] o que possui validade [[universal]]" (1). | ||
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+ | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. ''A caminho da Linguagem''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 7. | ||
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+ | : "Não esqueçamos que a [[questão]] de todos os grandes [[pensadores]] e [[poetas]] foi, é e será, a [[questão]] do [[permanente]] no que não cessa de [[mudar]]. Essa é a [[questão]] do [[universal]]. Como [[universal]], o [[pensador]] - [[Platão]] - propõe o ''[[eidos]]''" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: -----. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 89. | ||
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+ | : A [[questão]] do [[universal]] é a [[questão]] que não cessa de nos envolver. É nele que se coloca para nós [[finitos]] a [[questão]] permanente de [[pré-saber]], [[saber]] e [[não-saber]]. Sem [[pré-saber]] ou [[pré-compreender]] não haveria a menor [[possibilidade]] de nos movermos no [[Universal]]. A [[Lógica]] é uma de suas facetas, aquela assegurada pela ''[[mathesis]]'', mas ela não determina o [[Universal]] do [[pré-saber]], somente já do [[saber]], enquanto uma [[Lei]], uma das facetas do [[saber]] inerente, claro, ao [[Universal]], que sempre une a [[diversidade]] de todo [[Universal]], pois ele é [[essencialmente]] [[Tempo]]. A [[Lógica]] não dá conta do [[Tempo]]. | ||
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+ | : "Assim por um [[conceito]] [[universal]] eu capto a última e mais profunda [[comunidade]] de todos os [[entes]], sem, todavia, negar a [[diferenciação]] dos [[entes]], porque pelo próprio [[ser]] dos [[entes]] é posta a [[comunidade]] ou [[identidade]] [[formal]] e a [[diferenciação]] dos [[entes]]. Ora, um [[conceito]] [[universal]] que significa [[comunidade]] na [[diferenciação]] ou [[diferenciação]] na [[comunidade]], portanto um [[conceito]] [[universal]] que não é determinado progressivamente por algo de outro dele mesmo (- como se o [[ser]] pudesse ser determinado mais pelo “[[não-ser]]”, pelo [[nada]] - ), mas determina-se mais a si mesmo a partir de seu [[próprio]] [[conteúdo]], enquanto ele vale de [[entes]] [[singulares]] num [[sentido]] diferenciado, apesar de sua fundamental [[unidade]] [[interna]], um tal [[conceito]] [[universal]] se chama um [[conceito]] [[analógico]]" (1). | ||
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+ | : Podemos fazer duas [[considerações]]: a) é importante [[compreender]] que não se trata de um [[universal]] [[lógico]], o que seria propriamente um [[conceito]], quando, na verdade trata-se do [[universal]] enquanto [[questão]]; b) Levando em consideração que a [[realidade]] é um [[acontecer]] contínuo, dinâmico, podemos então [[dizer]] que se trata de um [[universal concreto]]. | ||
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- | : (1) | + | : (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. |
Edição atual tal como 21h56min de 18 de Outubro de 2021
Tabela de conteúdo |
1
- O atual é sempre concreto, porque vigora no originário, no poético. As novas obras poéticas não são repetição das anteriores, mas também não são evolução. As questões não evoluem, não progridem. Contudo, a cada obra poética nova elas são experienciadas inaugural e originariamente. A vida é sempre experienciação originária, porque é poética. É o universal concreto e, portanto, poético. O universal por ser originário é sempre atual. E isso constitui a essência do universal, ou seja, universalidade.
2
- O que é o universal? É ação permanente e poética de levar a duração ao efêmero, um efêmero que não se funda, mas é fundado na medida em que é regido pela unidade das versões, estas efêmeras enquanto versões, se forem consideradas sem a unidade. Por outro lado, como a unidade é dinâmica e sempre vigorando no originário, sua presença se faz enquanto permanentes versões. Mas isto não depende do autor. Depende da Poética, na medida em que esta é o criar da realidade enquanto se doa e manifesta em realizações, de onde nos advém o real. Como nisto acontece a presença do agir humano? Com a escuta do apelo do poético, pois este é a forma derrotando a cronologia. É a realização para além dos limites das formas da obra. É o que os gregos denominaram morphe, isto é, a força instauradora da realidade ultrapassando incessantemente os limites.
3
- Universal diz: a unidade das versões. 'Uni- diz o uno, a unidade'; '-versal' provém do verbo latino: verto, versum, vertere, verter, realizar, concretizar, transformar. Por unidade podemos compreender a identidade, (o uno), das diferenças. Por isso todo concreto é sempre a tensão de identidade e diferenças. Quando racionalmente se considera apenas a unidade sem a presença concreta das diferenças temos a abstração. Neste conhecimento, o universal será o universal abstrato, ou seja, conceitual, que vale para muitos indiferenciadamente. Esse é o universal da ciência, ao contrário do universal da arte, que em cada obra é sempre concreto. Disso resulta que a arte diz sempre o mesmo, o que não quer dizer que diga coisas iguais.
4
- De universo se formou o universal, aplicado à questão da verdade. Toda verdade tem de ter um valor universal, como unidade ou identidade das diferenças, das versões, como identidade lógica, na modernidade. Mas já os gregos foram além desse lógico ao pensarem a verdade como a-letheia: des-velamento, ou seja, a dobra de velar e desvelar.
5
- "O que é o universal, até para podermos afirmar um tempo e ser globalizados? Pode haver um universal idealizado virtualmente que pense o ser dos entes e suas diferenças essenciais em seu acontecer poético? Pode a imaginação da essência técnica gerar o humano universal, ético? Essa sempre foi a questão em que se moveram as obras de arte e de pensamento.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro - Globalização, pensamento e arte, 201/202. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 12.
6
- "Mas pode-se confundir o universal humano com o universal técnico-funcional? Quando o essencial foi reduzido ao conhecimento científico, este passou cada vez mais a depender do técnico-matemático e as próprias obras de arte se tornaram ciência estética. A Poética foi substituída pela Estética. Porém, pode a eficiência funcional libertar o ser humano para a sua essência? É nesse horizonte que se debate cada vez mais o alcance da imaginação científica como globalização tecno-funcional" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 14.
7
- "O que é o universal? Essa é a questão que nos desafia desde os pensadores originários e se faz presente em todas as culturas através de mitos e ritos, e depois na filosofia, no pensamento e nas artes. E ela é mais atual do que nunca. O que mudou foi a sua compreensão a cada nova globalização, pois cada uma desenvolve novas dimensões" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 15.
8
- "Em tudo que olha o homem, já sempre pre-viu na medida em que apreende e compreende o sentido do que não cessa de dar-se a ver, ocultando-se. E isso é o pensar enquanto sentido, verdade e mundo. Por isso, o homem só pode ter ideias na medida em que pensa. E pensando pode dizer. Não pensa porque diz, mas diz porque nele o ser se pensa e diz. Isso é o universal" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 16.
9
- "O universal do paradigma também gera uma diferença, pois diz respeito tanto à verdade de uma época, quanto à verdade de cada identidade cultural. A questão do universal sempre foi não apenas uma questão lógica e epistemológica, mas essencialmente ontológica e é nesta que se deve pensar o humano" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 19.
10
- "Por detrás de todo humanismo há uma questão maior, porque essencial e não apenas atributiva e acidental. É o desafio de pensar o humano de todo ser humano, em todas as épocas e culturas no seu ético. Como não se pode separar o humano histórico de todo e qualquer ser humano, houve a necessidade de se pensar o universal de uma maneira não apenas epistemológica, mas ontológica, isto é, onde haja uma unidade do universal com o singular e próprio, da identidade com a diferença, numa permanente dialética e diálogo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 20.
11
- "O universal abstrato tem a pretensão de anular o tempo, sendo válido e verdadeiro não só para aquela representação, mas que ela valha para todos e para sempre. Impossível, pois da realidade nada se pode excluir" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 20.
12
- "Liberdade é sempre universal concreto como o humano. Há, portanto, um dar-se a ver e um ocultar, um desvelar e um velar. Desse modo, por detrás de todo olhar deve vigorar sempre um ver. E todo ver só é ver na medida em que é dimensionado pelo pensar. Essa é a complexidade de toda crise e de toda verdade, o que quer dizer de todo paradigma" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 21.
13
- "Na era global da comunicação instantânea (Whatsapp, Twitter) nunca houve tanto isolamento e imersão numa realidade que nos foge dos pés. Todos conectados e todos isolados. Tanto nas artes quanto nas ciências reina a mais absoluta perplexidade. Os sistemas faliram e nunca se tornou tão urgente pensar o ético do humano e o humano do ético enquanto vigorar do princípio originário (arché). O ético é a verdade libertadora do universal concreto. Eis algumas denominações tentando dizer a atual globalização: pós-modernidade, baixa-modernidade, contemporâneo (como se toda época não fosse contemporânea de quem a experiencia!!!!), sociedade da informação, sociedade do espetáculo, sociedade da comunicação, sociedade de consumo, sociedade do conhecimento, pós-tudo, o tempo das redes, o fim das certezas, a realidade virtual. A pura negação ou a total aceitação deslumbrante é uma nescidade" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 22.
14
- "O pensamento busca elaborar uma representação universal da linguagem. O universal, o que vale para toda e qualquer coisa, chama-se essência. Prevalece a opinião de que o traço fundamental do pensamento é representar de maneira universal o que possui validade universal" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 7.
15
- "Não esqueçamos que a questão de todos os grandes pensadores e poetas foi, é e será, a questão do permanente no que não cessa de mudar. Essa é a questão do universal. Como universal, o pensador - Platão - propõe o eidos" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: -----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 89.
16
- A questão do universal é a questão que não cessa de nos envolver. É nele que se coloca para nós finitos a questão permanente de pré-saber, saber e não-saber. Sem pré-saber ou pré-compreender não haveria a menor possibilidade de nos movermos no Universal. A Lógica é uma de suas facetas, aquela assegurada pela mathesis, mas ela não determina o Universal do pré-saber, somente já do saber, enquanto uma Lei, uma das facetas do saber inerente, claro, ao Universal, que sempre une a diversidade de todo Universal, pois ele é essencialmente Tempo. A Lógica não dá conta do Tempo.
17
- "Assim por um conceito universal eu capto a última e mais profunda comunidade de todos os entes, sem, todavia, negar a diferenciação dos entes, porque pelo próprio ser dos entes é posta a comunidade ou identidade formal e a diferenciação dos entes. Ora, um conceito universal que significa comunidade na diferenciação ou diferenciação na comunidade, portanto um conceito universal que não é determinado progressivamente por algo de outro dele mesmo (- como se o ser pudesse ser determinado mais pelo “não-ser”, pelo nada - ), mas determina-se mais a si mesmo a partir de seu próprio conteúdo, enquanto ele vale de entes singulares num sentido diferenciado, apesar de sua fundamental unidade interna, um tal conceito universal se chama um conceito analógico" (1).
- Podemos fazer duas considerações: a) é importante compreender que não se trata de um universal lógico, o que seria propriamente um conceito, quando, na verdade trata-se do universal enquanto questão; b) Levando em consideração que a realidade é um acontecer contínuo, dinâmico, podemos então dizer que se trata de um universal concreto.
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.