Lugar

De Dicionário de Poética e Pensamento

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: "O [[lugar]] acolhe, numa [[circunstância]], a [[simplicidade]] de [[terra]] e [[céu]], dos [[divinos]] e dos [[mortais]], à medida que edifica em [[espaço|espaços]] a [[circunstância]]. É num duplo [[sentido]] que o [[lugar]] dá [[espaço]] à [[quadratura]]. O [[lugar]] ''deixa ser'' a [[quadratura]] e o [[lugar]] ''edifica'' a [[quadratura]]. [[Dar]] [[espaço]] no sentido de deixar [[ser]] e [[dar]] [[espaço]] no sentido de [[edificar]] se pertencem mutuamente. Enquanto um duplo [[dar]] [[espaço]], o [[lugar]] é um abrigo da [[quadratura]] e, como ainda diz a mesma [[palavra]], ''Huis, Haus'', uma [[moradia]]" (1).  
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: "O [[lugar]] acolhe, numa [[circunstância]], a [[simplicidade]] de [[terra]] e [[céu]], dos [[divinos]] e dos [[mortais]], à medida que edifica em [[espaço|espaços]] a [[circunstância]]. É num duplo [[sentido]] que o [[lugar]] dá [[espaço]] à [[quadratura]]. O [[lugar]] ''deixa ser'' a [[quadratura]] e o [[lugar]] ''edifica'' a [[quadratura]]. [[Dar]] [[espaço]] no [[sentido]] de deixar [[ser]] e [[dar]] [[espaço]] no [[sentido]] de [[edificar]] se pertencem mutuamente. Enquanto um duplo [[dar]] [[espaço]], o [[lugar]] é um abrigo da [[quadratura]] e, como ainda diz a mesma [[palavra]], ''Huis, Haus'', uma [[moradia]]" (1).  
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]". In: ------. '''[[Ensaios]] e [[conferências]]. Tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 137.'''
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]". In: ------. [[Ensaios]] e conferências. Tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 137.'''
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Remarques sur art - sculpture - espace. Trad. do alemão por: Didier Franck. Paris: Rivages poche / Petite Bibliothèque, 2009, p. 18. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro.'''
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''Remarques sur art - sculpture - espace. Trad. do alemão por: Didier Franck. Paris: Rivages poche / Petite Bibliothèque, 2009, p. 18. [[Tradução]] do francês: Manuel Antônio de Castro.'''
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: (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro [[humanismo]]". In: Revista '''Tempo Brasileiro - [[Cultura]], [[ciência]] e [[técnica]], 168, jan.-mar., 2007, p. 5.'''
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: (1) PRIGOGINE, Ilya.''' "Estaremos às vésperas de um terceiro [[humanismo]]". In: Revista [[Tempo]] Brasileiro - [[Cultura]], [[ciência]] e [[técnica]], 168, jan.-mar., 2007, p. 5.'''
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: "O [[mundo]] enquanto [[rede]] é uma [[sintaxe]] constituída de linhas e [[nós]]. A [[comunicação]] pressupõe os dois e é impossível [[pensar]] as linhas sem os [[nós]]. O [[funcionamento]] da [[rede]] se dá em duas [[dimensões]]: 1ª. A inter-conexão; 2ª. os inter-conectados. A linha por si e como tal ainda não se constitui como linha, assim como o inter-conectado não é também em si e por si. O “[[lugar]]†da linha e dos inter-conectados, dos [[nós]] ([[Entre-ser]]) só aparece a partir de [[algo]] que já vimos: o [[diá-logo]] ([[entre-ser]] enquanto [[ser-com]]). “[[Lugar]]†é [[mundo]] enquanto [[diálogo]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Interdisciplinaridade]] [[poética]]: o '''entre'''". Revista '''Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: [[Interdisciplinaridade]]: dimensões [[poéticas]], 164, jan.-mar., 2006, p. 32.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Interdisciplinaridade]] [[poética]]: o '''[[entre]]'''". Revista '''[[Tempo]] Brasileiro: Rio de Janeiro: [[Interdisciplinaridade]]: dimensões [[poéticas]], 164, jan.-mar., 2006, p. 32.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O [[ler]] e suas [[questões]]â€. In: ------------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 20.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[ler]] e suas [[questões]]â€. In: ------------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 20.'''
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Edição atual tal como 19h29min de 10 de Agosto de 2025

1

"O lugar acolhe, numa circunstância, a simplicidade de terra e céu, dos divinos e dos mortais, à medida que edifica em espaços a circunstância. É num duplo sentido que o lugar dá espaço à quadratura. O lugar deixa ser a quadratura e o lugar edifica a quadratura. Dar espaço no sentido de deixar ser e dar espaço no sentido de edificar se pertencem mutuamente. Enquanto um duplo dar espaço, o lugar é um abrigo da quadratura e, como ainda diz a mesma palavra, Huis, Haus, uma moradia" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". In: ------. Ensaios e conferências. Tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 137.

2

"O espaço ocupado por um corpo, tópos, é o seu lugar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Remarques sur art - sculpture - espace. Trad. do alemão por: Didier Franck. Paris: Rivages poche / Petite Bibliothèque, 2009, p. 18. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro.

3

"A ciência não apenas apresenta o aspecto científico, propriamente dito, no sentido da descoberta e descrição da natureza, mas também a posição que o homem ocupa na natureza" (1).


Referência:
(1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro humanismo". In: Revista Tempo Brasileiro - Cultura, ciência e técnica, 168, jan.-mar., 2007, p. 5.

4

"Você não notou que só há um lugar para quem traz o lugar consigo?" (1).


Referência:
(1) Filme A mulher canhota. Direção e roteiro: Peter Handke, 1978. Produção de Wim Wenders.

5

Proximidade e distância não são entes abstratos. Elas só acontecem onde os homens convivem. É, pois, fundamentalmente uma situação do ser e estar um com o outro, ou seja, social. Social vem do latim socius, que significa sócio, ou seja, reunião de duas ou mais pessoas. Só por metáfora se diz que outros entes vivem em sociedade. Só o ser humano é social. O social não é uma opção, mas uma condição existencial essencial porque somos uns-com-os-outros. Mit-Sein, literalmente: Ser-com, diz Heidegger em Ser e tempo. Somos essencialmente diálogo. Se a solidão pode ocorrer, isso significa que a proximidade e a distância são uma conquista. Elas não se dão por si. Isso significa também que a sociedade, o grupo social, não é a justaposição de pessoas. Há necessidade de convivência numa mútua experienciação de eu e tu, sendo cada um o que é. Então aconteceu proximidade e distância. O impessoal é a falta de convivência, onde o tu inexiste naquilo que ele é, não faz parte do lugar do eu. Dessa maneira o impessoal se torna a experienciação do social em sua essência, que jamais poderá ser o social, mas, sim, a sua negação.


- Manuel Antônio de Castro

6

"O mundo enquanto rede é uma sintaxe constituída de linhas e nós. A comunicação pressupõe os dois e é impossível pensar as linhas sem os nós. O funcionamento da rede se dá em duas dimensões: 1ª. A inter-conexão; 2ª. os inter-conectados. A linha por si e como tal ainda não se constitui como linha, assim como o inter-conectado não é também em si e por si. O “lugar†da linha e dos inter-conectados, dos nós (Entre-ser) só aparece a partir de algo que já vimos: o diá-logo (entre-ser enquanto ser-com). “Lugar†é mundo enquanto diálogo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 32.

7

eu fico tão distraída
pensando no lugar aonde quero chegar
que esqueço que o lugar onde estou
já é muito especial (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 110.

8

seu lugar não é no futuro nem no passado
- seu lugar é aqui (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 177.

9

" Lugar é mundo. Na verdade, nós nunca temos acesso à realidade, somente à sua manifestação como mundo, pois ela, dando-se enquanto mundo, retrai-se no vigorar do seu mistério. É por isso que falamos de diferentes realidades, quando, em verdade, nos referimos a diferentes mundos. O lugar como abertura já diz o que se dá enquanto sentido e verdade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ler e suas questõesâ€. In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 20.

10

Caminho é uma palavra portuguesa de uma rica semântica. Mas a questão é tomar a palavra naquilo que ela tem de essencial, naquilo que remete para a essência do ser humano. E é neste horizonte que a questão do caminho se torna uma ideia motriz no filme de Pan Nalin: Samsara. Aliás, é uma noção-chave tanto no budismo quanto no cristianismo. O personagem-monge Tashi está procurando a sua realização e o seu sentido: continua no mosteiro ou sai? O motivo central para ele é, no momento, ficar no mosteiro e não casar ou sair e poder casar. E isso se torna para ele a questão do caminho e opções a fazer. E consulta um monge-asceta em total isolamento e sem se comunicar com ninguém. Quando consultado por Tashi, ele lhe mostra um papel onde estão escritas as palavras:
"Tudo que você contactar é um lugar para praticar o caminho" (1).
Pensa e faz a escolha de sair do mosteiro. Mas depois de casar, ter um filho, acossado pelo desejo sexual por outra mulher, pensa, se arrepende e resolve voltar para o mosteiro, abandonando a mulher e o lar. De fato, o filme coloca muitas questões. Na verdade, estas palavras constituem e não constituem uma resposta, pois o essencial nelas é o convite a pensar, fazendo do pensamento um agir, enquanto uma atitude e conduta de vida. Toda vida é um caminho de procuras e escolhas com suas consequências. A própria palavra Samsara também significa caminho no sentido de caminhada ou travessia humana.


- Manuel Antônio de Castro
- Referência:
(1) PAN NALIN. Filme: Samsara, 2002.
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