Questionar

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) HEIDEGGER, Martin. "O tempo da imagem do mundo". In: ---. '''Caminhos de floresta'''. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002, p. 97.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "O [[tempo]] da imagem do [[mundo]]". In: ---. '''[[Caminhos]] de floresta. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002, p. 97.'''
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:Concretamente, toda [[pergunta]] é o [[entre]] em que vigora todo questionar, onde se pergunta porque não se sabe e se [[saber|sabe]]. Portanto, há o entre da pergunta e o entre do questionar. Na vigência do questionar, enquanto vigorar do entre, o [[diálogo]] é o dar-se do ''[[lógos]]'' enquanto o que desde sempre já se retrai. O ''lógos'' não é, dá-se. E dando-se, é. Este "se" que se dá é o entre do ''lógos'', ou seja, o diá-logo. Portanto, todo diá-logo é a vigência do questionar enquanto pergunta: [[escuta]]. A escuta é o entre de questionar e perguntar, ou seja, o diálogo. No ensaio "Tempo e ser" (1), o "se" e o "dar-se" são tratados fundamentalmente.
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: Concretamente, toda [[pergunta]] é o [[entre]] em que vigora todo questionar, onde se pergunta porque não se sabe e se [[saber|sabe]]. Portanto, há o entre da pergunta e o entre do questionar. Na vigência do questionar, enquanto vigorar do entre, o [[diálogo]] é o dar-se do ''[[lógos]]'' enquanto o que desde sempre já se retrai. O ''lógos'' não é, dá-se. E dando-se, é. Este "se" que se dá é o entre do ''lógos'', ou seja, o diá-logo. Portanto, todo diá-logo é a vigência do questionar enquanto pergunta: [[escuta]]. A [[escuta]] é o entre de [[questionar]] e [[perguntar]], ou seja, o [[diálogo]]. No [[ensaio]] "[[Tempo]] e [[ser]]" (1), o "se" e o "dar-se" são tratados fundamentalmente.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "[[Tempo]] e [[ser]]". In: ______. '''Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979'''.
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:(1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: ______. ''Os pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
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: "[[Existir]] vem do latim ex-sisto que diz elevar-se para fora de, elevar-se acima de. A presença do reflexivo implica em um moto próprio, bem como a possibilidade de instauração da interrogação, a instauração de um ''[[lógos]]'', de ''linguagem'', e, nesta, a possibilidade de pronunciar a [[questão]] - o que é? É na in-sistência para além de uma inserção meramente [[ôntico|ôntica]] que o homem ex-siste. Por outro lado, o homem não deixa de ser. É aí nessa dimensão que se constitui a possibilidade de compreender como uma [[coisa]] é antes de existir, pois a [[existência]] da coisa necessita de formulação. No entanto, uma coisa pode ser independente de sua formulação. A [[questão]] que pergunta de que modo algo pode ser antes de [[existir]] é a [[questão]] que pergunta pelo [[nada]]." (1)
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: "[[Existir]] vem do latim ex-sisto que diz elevar-se para fora de, elevar-se acima de. A presença do reflexivo implica em um moto próprio, bem como a possibilidade de instauração da interrogação, a instauração de um ''[[lógos]]'', de ''linguagem'', e, nesta, a possibilidade de pronunciar a [[questão]] - o que é? É na in-sistência para além de uma inserção meramente ôntico|ôntica que o homem ex-siste. Por outro lado, o homem não deixa de ser. É aí nessa dimensão que se constitui a possibilidade de compreender como uma [[coisa]] é antes de existir, pois a [[existência]] da coisa necessita de formulação. No entanto, uma coisa pode ser independente de sua formulação. A [[questão]] que pergunta de que modo algo pode ser antes de [[existir]] é a [[questão]] que pergunta pelo [[nada]]." (1)
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: (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 56.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: vigência do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 56.'''
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:''Questionar'' não é confrontar-se com quem ensina, mas jogar o [[jogo]] [[originário]] do [[saber]] e do [[não-saber]], do [[fundamentar]] pelo [[fundar]], no [[dialogar]], onde, de repente, mais do que [[ensinar]] se aprende. No ''questionar'' e ''dialogar'' vigora não a [[medida]] da [[razão]], mas a [[vigência]] sempre utópica e nova da ''[[memória]]''. Porque ''memória'' não é o jogo marcado da lembrança versus [[esquecimento]]. É mais: é a [[vigência]] da ''[[unidade]]'' do que foi, é e será (1).
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: ''[[Questionar]]'' não é confrontar-se com quem ensina, mas jogar o [[jogo]] [[originário]] do [[saber]] e do [[não-saber]], do [[fundamentar]] pelo [[fundar]], no [[dialogar]], onde, de repente, mais do que [[ensinar]] se aprende. No ''[[questionar]]'' e ''[[dialogar]]'' vigora não a [[medida]] da [[razão]], mas a [[vigência]] [[sempre]] utópica e nova da ''[[memória]]''. Porque ''[[memória]]'' não é o [[jogo]] marcado da lembrança versus [[esquecimento]]. É mais: é a [[vigência]] da ''[[unidade]]'' do que foi, é e será (1).
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:(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ''Pensamento no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão''. SANTORO, Fernando e Outros (Org.). Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 217.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Fundar]] e [[fundamentar]]". In: '''[[Pensamento]] no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros (Org.). Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 217.'''
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: "No final de uma conferencia intitulada A [[questão]] da [[técnica]], pronunciada há algum tempo, diz-se que 'questionar é a piedade do pensamento'. [[Piedade]] tem aí o antigo sentido de [[harmonia]] e sintoma articuladoras com aquilo que o [[pensamento]] tem a [[pensar]]" (1).  
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: "No final de uma conferencia intitulada A [[questão]] da [[técnica]], pronunciada há algum tempo, diz-se que '[[questionar]] é a piedade do [[pensamento]]'. [[Piedade]] tem aí o antigo sentido de [[harmonia]] e sintoma articuladoras com aquilo que o [[pensamento]] tem a [[pensar]]" (1).  
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''A caminho da linguagem''. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 135.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''A caminho da [[linguagem]]. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 135.'''
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: "A [[resposta]] à [[pergunta]] é, como cada autêntica [[resposta]], a última saída do último passo de uma longa seqüência de passos questionantes. Cada [[resposta]] somente conserva sua força como resposta enquanto ela [[permanência|permanecer]] enraizada no [[questionar]]" (1).
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: "A [[resposta]] à [[pergunta]] é, como cada autêntica [[resposta]], a última saída do último passo de uma longa seqüência de passos questionantes. Cada [[resposta]] somente conserva sua força como [[resposta]] enquanto ela [[permanência|permanecer]] enraizada no [[questionar]]" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''A Origem da Obra de Arte''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70/Almedina, 2010, p. 179.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''A [[Origem]] da [[Obra]] de [[Arte]]. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70/Almedina, 2010, p. 179.'''
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: "[[Ler]] Heidegger adequadamente é [[pensar]] com Heidegger, o que também significa [[perguntar]] com Heidegger - o que implica, ao mesmo tempo, veneração e rebeldia, pois, para ele, 'o ''[[questionar]]'' é a devoção do '[[pensamento]]' " (2) (1).
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: "[[Ler]] [[Heidegger]] adequadamente é [[pensar]] com [[Heidegger]], o que também significa [[perguntar]] com [[Heidegger]] - o que implica, ao mesmo tempo, veneração e rebeldia, pois, para ele, o [[questionar]] é a devoção do [[pensamento]] " (2) (1).
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: (1) GIACOIA JR., Oswaldo. ''Heidegger urgente'' - introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 103.
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: (1) GIACOIA JR., Oswaldo. '''[[Heidegger]] urgente - introdução a um novo [[pensar]]. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 103.'''
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: (2) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". Trad. Marco Aurélio Werle. ''Cadernos de tradução'', n. 2. São Paulo: Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, 1997, p. 93.
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: (2) [[HEIDEGGER]], Martin. "A [[questão]] da [[técnica]]". Trad. Marco Aurélio Werle. '''Cadernos de [[tradução]], n. 2. São Paulo: Departamento de [[Filosofia]] da Universidade de São Paulo, 1997, p. 93.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O [[ser]], o [[agir]] e o [[humano]]". In: ---------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2015, p. 30.'''
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: "Toda [[autoridade]] que não oprime, mas liberta, se funda no [[poder]] que advém do [[vigorar]] do [[ser]] e jamais de um [[sujeito]] ou [[sistema]], seja ele qual for. Por ser o [[vigorar]] é que podemos sempre [[questionar]]. Ora, só podemos [[questionar]] porque já estamos vigorando desde sempre nas [[questões]], assim como estamos já necessariamente vigorando na [[linguagem]]" (1).
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: Toda [[autoridade]] que não oprime, mas liberta, se funda no [[poder]] que advém do [[vigorar]] do [[ser]] e jamais de um [[sujeito]] ou [[sistema]], seja ele qual for. Por ser o [[vigorar]] é que podemos sempre [[questionar]]. Ora, só podemos [[questionar]] porque já estamos vigorando desde sempre nas [[questões]], assim como estamos já necessariamente vigorando na [[linguagem]].
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. .
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e o questionar". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 40.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O [[ser humano]] e o [[questionar]]". In: ---------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2015, p. 40.'''
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: A [[questão]] se diferencia do [[conceito]] porque o [[querer]] de todo [[questionar]] consiste no “[[empenhar-se]] na [[procura]] do que não se tem por já se [[ter]] e para se vir a [[ter]]” (Leão: 1977: 44) (1). No [[empenho]] de [[viver]] [[existindo]], vive-se a primeira de todas as [[questões]]. Primeira diz aí não o [[cronológico]] nem o [[epistemológico]] e [[funcional]], mas o [[ontológico]]. Todo [[querer]] desdobra-se num [[caminho]] que é aquele que nos conduz para nós [[mesmos]], para o que nos é mais próximo: o [[princípio]].
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: "A [[questão]] se diferencia do [[conceito]] porque o [[querer]] de todo [[questionar]] consiste no “[[empenhar-se]] na [[procura]] do que não se tem por já se [[ter]] e para se vir a [[ter]]” (Leão: 1977: 44) (1).  
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: No [[empenho]] de [[viver]] [[existindo]], vive-se a primeira de todas as [[questões]]. Primeira diz aí não o [[cronológico]] nem o [[epistemológico]] e [[funcional]], mas o [[ontológico]]. Todo [[querer]] desdobra-se num [[caminho]] que é aquele que nos conduz para nós [[mesmos]], para o que nos é mais próximo: o [[princípio]].
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: ------. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "[[Aprender]] e [[Ensinar]]". In: ------. '''[[Aprendendo]] a [[pensar]]. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 24.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Interdisciplinaridade]] [[poética]]: o '''entre'''". Revista [[Tempo]] Brasileiro: Rio de Janeiro: [[Interdisciplinaridade]]: dimensões [[poéticas]], 164, jan.-mar., 2006, p. 24.'''
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 103.
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Fundar]] e [[fundamentar]]". In: ------. '''[[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2011, p. 103.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). ''Arte: corpo, mundo e terra''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: Manuel Antônio de Castro (org.). '''[[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.'''
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e pensar: o aprender". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 63.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Ser]] e [[pensar]]: o [[aprender]]". In:------. '''[[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: [[Tempo]] Brasileiro, 2011, p. 63.'''
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.
+
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''[[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.'''
== 17 ==
== 17 ==

Edição atual tal como 22h14min de 30 de Dezembro de 2024

Ver também questão.


1

O questionar é algo profundamente enigmático. A propósito da Modernidade, Heidegger diz:
"Retomar por uma meditação mais original é aqui a coragem de pôr em questão a verdade de nossos próprios postulados e de fazer da região de nossos próprios objetivos o que é o mais digno de ser posto em questão" (1).
E em uma nota, acrescenta:
"Uma tal meditação não é necessária nem possível para todos, nem somente suportável por todos. Ao contrário, a ausência de meditação faz certamente parte das diferentes etapas da realização e da exploração organizada requerida pela época... O ser resta para a meditação o que há de mais digno a pôr em questão" (2).
Se não é para todos, qual o critério de exclusão? Evidentemente que não é de ordem social etc. O questionar é uma doação da Cura, da Linguagem, pois a Linguagem (Logos) fala, não o homem.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. "O tempo da imagem do mundo". In: ---. Caminhos de floresta. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002, p. 97.
(2) Idem, p. 120.

2

Concretamente, toda pergunta é o entre em que vigora todo questionar, onde se pergunta porque não se sabe e se sabe. Portanto, há o entre da pergunta e o entre do questionar. Na vigência do questionar, enquanto vigorar do entre, o diálogo é o dar-se do lógos enquanto o que desde sempre já se retrai. O lógos não é, dá-se. E dando-se, é. Este "se" que se dá é o entre do lógos, ou seja, o diá-logo. Portanto, todo diá-logo é a vigência do questionar enquanto pergunta: escuta. A escuta é o entre de questionar e perguntar, ou seja, o diálogo. No ensaio "Tempo e ser" (1), o "se" e o "dar-se" são tratados fundamentalmente.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: ______. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

3

"Existir vem do latim ex-sisto que diz elevar-se para fora de, elevar-se acima de. A presença do reflexivo implica em um moto próprio, bem como a possibilidade de instauração da interrogação, a instauração de um lógos, de linguagem, e, nesta, a possibilidade de pronunciar a questão - o que é? É na in-sistência para além de uma inserção meramente ôntico|ôntica que o homem ex-siste. Por outro lado, o homem não deixa de ser. É aí nessa dimensão que se constitui a possibilidade de compreender como uma coisa é antes de existir, pois a existência da coisa necessita de formulação. No entanto, uma coisa pode ser independente de sua formulação. A questão que pergunta de que modo algo pode ser antes de existir é a questão que pergunta pelo nada." (1)


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 56.

4

Questionar não é confrontar-se com quem ensina, mas jogar o jogo originário do saber e do não-saber, do fundamentar pelo fundar, no dialogar, onde, de repente, mais do que ensinar se aprende. No questionar e dialogar vigora não a medida da razão, mas a vigência sempre utópica e nova da memória. Porque memória não é o jogo marcado da lembrança versus esquecimento. É mais: é a vigência da unidade do que foi, é e será (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros (Org.). Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 217.

5

"No final de uma conferencia intitulada A questão da técnica, pronunciada há algum tempo, diz-se que 'questionar é a piedade do pensamento'. Piedade tem aí o antigo sentido de harmonia e sintoma articuladoras com aquilo que o pensamento tem a pensar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 135.

6

"A resposta à pergunta é, como cada autêntica resposta, a última saída do último passo de uma longa seqüência de passos questionantes. Cada resposta somente conserva sua força como resposta enquanto ela permanecer enraizada no questionar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A Origem da Obra de Arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70/Almedina, 2010, p. 179.

7

"Ler Heidegger adequadamente é pensar com Heidegger, o que também significa perguntar com Heidegger - o que implica, ao mesmo tempo, veneração e rebeldia, pois, para ele, o questionar é a devoção do pensamento " (2) (1).


Referências:
(1) GIACOIA JR., Oswaldo. Heidegger urgente - introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 103.
(2) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". Trad. Marco Aurélio Werle. Cadernos de tradução, n. 2. São Paulo: Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, 1997, p. 93.

8

"A dinâmica do questionar só pode ser questionar, porque já, necessariamente, vigora nele. Abre para o ser humano um desafio de possibilidades infindas. Por isso mesmo, questionar diz e sempre dirá pôr-se a caminho" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.

9

Toda autoridade que não oprime, mas liberta, se funda no poder que advém do vigorar do ser e jamais de um sujeito ou sistema, seja ele qual for. Por ser o vigorar é que podemos sempre questionar. Ora, só podemos questionar porque já estamos vigorando desde sempre nas questões, assim como estamos já necessariamente vigorando na linguagem.

10

"O surgimento do questionar está no cerne da própria memória que origina todos os mitos, todas as filosofias, todas as ciências, todas as religiões, enfim, todas as culturas e eclosão do humano. A memória é o universal de todos os universais, porque é a memória do sentido e vigorar do ser. E é ela que traz para cena o ser humano como lugar do questionar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e o questionar". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 40.

11

"A questão se diferencia do conceito porque o querer de todo questionar consiste no “empenhar-se na procura do que não se tem por já se ter e para se vir a ter” (Leão: 1977: 44) (1).
No empenho de viver existindo, vive-se a primeira de todas as questões. Primeira diz aí não o cronológico nem o epistemológico e funcional, mas o ontológico. Todo querer desdobra-se num caminho que é aquele que nos conduz para nós mesmos, para o que nos é mais próximo: o princípio.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.

12

"O ser humano simplesmente não está aí entre os outros entes, as coisas como tais. Já vimos que além de viver e ter as suas vivências, o ser humano constitui-se na medida em que faz da vida vivida uma vida experienciada. Ele procura sempre o conhecimento. Mas isso ele só pode fazer porque não conhece o que procura, pois se já o conhecesse não precisava procurar. Uma tal procura do que se é, denomina-se questionar. Por outro lado, se de maneira nenhuma não já conhecesse nem poderia questionar. Isto significa que já está aberto para o poder conhecer o que ainda não conhece" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 24.

13

"Questionar não é confrontar-se com quem ensina, mas jogar o jogo originário do saber e do não-saber, do fundamentar pelo fundar, no dialogar, onde, de repente, mais do que ensinar se aprende" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 103.

14

"Ecologia é uma questão. A questão é maior do que o homem. No questionar não é o homem que questiona. É a questão que nos questiona. Para questionar é preciso dialogar. O diálogo é uma questão. No dialogar não é o homem que dialoga. É o logos que nos dialoga" (1).
Devemos compreender que o homem só se torna humano na medida em que deixa nele vigorar a questão.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.

15

"O aprender a pensar abre-se, para quem se deixa tomar pelo pensar, como uma grande aventura na qual se dá a experienciação do próprio viver em seu sentido originário. A vida de cada um torna-se uma experienciação do viver e as vivências possíveis acontecem como vias de presentificação e realização da riqueza ilimitada do viver. Aprender a pensar é aprender a questionar incessantemente não só aos outros, mas, sobretudo, a si mesmo. Aquilo que se aprende só se aprende quando acontece dentro de nós, como algo que surge, cresce e se torna presente, constituindo uma riqueza que não para de crescer, porque provém de e retorna para o nada criativo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e pensar: o aprender". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 63.

16

"Quando pensamos a questão como questão, já estamos nos abrindo onto-poeticamente para a referência pensar/questionar. Como se vê, a primeira de todas as questões é o próprio questionar enquanto dado no pensar e no próprio questionar. E aí não podemos ir mais longe, isto é, a pergunta que pergunta pelo questionar não pode fundar o questionar, mas este enquanto ato que se ao e no ser humano dá-se primordial e originariamente como agir do questionar. E estes é que, ao se darem naquele que pergunta e questiona, já fundam o agir e o pensar de quem questiona no perguntar. Ou seja, simplesmente o agir e o questionar precedem e fundam o próprio ente que age e questiona" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.

17

Questionar é pensar. E pensar é o agir do ser. Somente somos agindo, porque somente temos nosso próprio na medida em que é uma doação do ser. A essa doação os gregos denominaram: moira, destino, próprio, identidade, singularidade, pessoa.


- Manuel Antônio de Castro.
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