Questionar
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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+ | : "Uma tal [[meditação]] não é [[necessária]] nem [[possível]] para todos, nem somente suportável por todos. Ao contrário, a [[ausência]] de [[meditação]] faz certamente [[parte]] das diferentes etapas da [[realização]] e da exploração organizada requerida pela [[época]]... O [[ser]] resta para a [[meditação]] o que há de mais digno a pôr em [[questão]]" (2). | ||
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+ | : Concretamente, toda [[pergunta]] é o [[entre]] em que vigora todo questionar, onde se pergunta porque não se sabe e se [[saber|sabe]]. Portanto, há o entre da pergunta e o entre do questionar. Na vigência do questionar, enquanto vigorar do entre, o [[diálogo]] é o dar-se do ''[[lógos]]'' enquanto o que desde sempre já se retrai. O ''lógos'' não é, dá-se. E dando-se, é. Este "se" que se dá é o entre do ''lógos'', ou seja, o diá-logo. Portanto, todo diá-logo é a vigência do questionar enquanto pergunta: [[escuta]]. A [[escuta]] é o entre de [[questionar]] e [[perguntar]], ou seja, o [[diálogo]]. No [[ensaio]] "[[Tempo]] e [[ser]]" (1), o "se" e o "dar-se" são tratados fundamentalmente. | ||
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- | :(1) HEIDEGGER, Martin. "Tempo e ser". In: ______. ''Os pensadores | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "[[Tempo]] e [[ser]]". In: ______. '''Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979'''. |
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- | : "[[Existir]] vem do latim ex-sisto que diz elevar-se para fora de, elevar-se acima de. A presença do reflexivo implica em um moto próprio, bem como a possibilidade de instauração da interrogação, a instauração de um ''[[lógos]]'', de ''linguagem'', e, nesta, a possibilidade de pronunciar a [[questão]] - o que é? É na in-sistência para além de uma inserção meramente | + | : "[[Existir]] vem do latim ex-sisto que diz elevar-se para fora de, elevar-se acima de. A presença do reflexivo implica em um moto próprio, bem como a possibilidade de instauração da interrogação, a instauração de um ''[[lógos]]'', de ''linguagem'', e, nesta, a possibilidade de pronunciar a [[questão]] - o que é? É na in-sistência para além de uma inserção meramente ôntico|ôntica que o homem ex-siste. Por outro lado, o homem não deixa de ser. É aí nessa dimensão que se constitui a possibilidade de compreender como uma [[coisa]] é antes de existir, pois a [[existência]] da coisa necessita de formulação. No entanto, uma coisa pode ser independente de sua formulação. A [[questão]] que pergunta de que modo algo pode ser antes de [[existir]] é a [[questão]] que pergunta pelo [[nada]]." (1) |
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- | : (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético | + | : (1) JARDIM, Antonio. '''[[Música]]: vigência do [[pensar]] [[poético]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 56.''' |
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- | :''Questionar'' não é confrontar-se com quem ensina, mas jogar o [[jogo]] [[originário]] do [[saber]] e do [[não-saber]], do [[fundamentar]] pelo [[fundar]], no [[dialogar]], onde, de repente, mais do que [[ensinar]] se aprende. No ''questionar'' e ''dialogar'' vigora não a [[medida]] da [[razão]], mas a [[vigência]] sempre utópica e nova da ''[[memória]]''. Porque ''memória'' não é o jogo marcado da lembrança versus [[esquecimento]]. É mais: é a [[vigência]] da ''[[unidade]]'' do que foi, é e será (1). | + | : ''[[Questionar]]'' não é confrontar-se com quem ensina, mas jogar o [[jogo]] [[originário]] do [[saber]] e do [[não-saber]], do [[fundamentar]] pelo [[fundar]], no [[dialogar]], onde, de repente, mais do que [[ensinar]] se aprende. No ''[[questionar]]'' e ''[[dialogar]]'' vigora não a [[medida]] da [[razão]], mas a [[vigência]] [[sempre]] utópica e nova da ''[[memória]]''. Porque ''[[memória]]'' não é o [[jogo]] marcado da lembrança versus [[esquecimento]]. É mais: é a [[vigência]] da ''[[unidade]]'' do que foi, é e será (1). |
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- | :(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ''Pensamento no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Fundar]] e [[fundamentar]]". In: '''[[Pensamento]] no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros (Org.). Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 217.''' |
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- | : "No final de uma conferencia intitulada A [[questão]] da [[técnica]], pronunciada há algum tempo, diz-se que 'questionar é a piedade do pensamento'. [[Piedade]] tem aí o antigo sentido de [[harmonia]] e sintoma articuladoras com aquilo que o [[pensamento]] tem a [[pensar]]" (1). | + | : "No final de uma conferencia intitulada A [[questão]] da [[técnica]], pronunciada há algum tempo, diz-se que '[[questionar]] é a piedade do [[pensamento]]'. [[Piedade]] tem aí o antigo sentido de [[harmonia]] e sintoma articuladoras com aquilo que o [[pensamento]] tem a [[pensar]]" (1). |
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''A caminho da linguagem | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''A caminho da [[linguagem]]. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 135.''' |
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- | : "A [[resposta]] à [[pergunta]] é, como cada autêntica [[resposta]], a última saída do último passo de uma longa seqüência de passos questionantes. Cada [[resposta]] somente conserva sua força como resposta enquanto ela [[permanência|permanecer]] enraizada no [[questionar]]" (1). | + | : "A [[resposta]] à [[pergunta]] é, como cada autêntica [[resposta]], a última saída do último passo de uma longa seqüência de passos questionantes. Cada [[resposta]] somente conserva sua força como [[resposta]] enquanto ela [[permanência|permanecer]] enraizada no [[questionar]]" (1). |
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. ''A Origem da Obra de Arte | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''A [[Origem]] da [[Obra]] de [[Arte]]. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70/Almedina, 2010, p. 179.''' |
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- | : (1) GIACOIA JR., Oswaldo. ''Heidegger urgente | + | : (1) GIACOIA JR., Oswaldo. '''[[Heidegger]] urgente - introdução a um novo [[pensar]]. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 103.''' |
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+ | : No [[empenho]] de [[viver]] [[existindo]], vive-se a primeira de todas as [[questões]]. Primeira diz aí não o [[cronológico]] nem o [[epistemológico]] e [[funcional]], mas o [[ontológico]]. Todo [[querer]] desdobra-se num [[caminho]] que é aquele que nos conduz para nós [[mesmos]], para o que nos é mais próximo: o [[princípio]]. | ||
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''[[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.''' |
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+ | : [[Questionar]] é [[pensar]]. E [[pensar]] é o [[agir]] do [[ser]]. Somente somos agindo, porque somente temos nosso [[próprio]] na [[medida]] em que é uma [[doação]] do [[ser]]. A essa [[doação]] os [[gregos]] denominaram: [[moira]], [[destino]], [[próprio]], [[identidade]], singularidade, [[pessoa]]. | ||
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Edição atual tal como 22h14min de 30 de Dezembro de 2024
- Ver também questão.
1
- O questionar é algo profundamente enigmático. A propósito da Modernidade, Heidegger diz:
- "Retomar por uma meditação mais original é aqui a coragem de pôr em questão a verdade de nossos próprios postulados e de fazer da região de nossos próprios objetivos o que é o mais digno de ser posto em questão" (1).
- E em uma nota, acrescenta:
- "Uma tal meditação não é necessária nem possível para todos, nem somente suportável por todos. Ao contrário, a ausência de meditação faz certamente parte das diferentes etapas da realização e da exploração organizada requerida pela época... O ser resta para a meditação o que há de mais digno a pôr em questão" (2).
- Se não é para todos, qual o critério de exclusão? Evidentemente que não é de ordem social etc. O questionar é uma doação da Cura, da Linguagem, pois a Linguagem (Logos) fala, não o homem.
- Referências:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "O tempo da imagem do mundo". In: ---. Caminhos de floresta. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002, p. 97.
- (2) Idem, p. 120.
2
- Concretamente, toda pergunta é o entre em que vigora todo questionar, onde se pergunta porque não se sabe e se sabe. Portanto, há o entre da pergunta e o entre do questionar. Na vigência do questionar, enquanto vigorar do entre, o diálogo é o dar-se do lógos enquanto o que desde sempre já se retrai. O lógos não é, dá-se. E dando-se, é. Este "se" que se dá é o entre do lógos, ou seja, o diá-logo. Portanto, todo diá-logo é a vigência do questionar enquanto pergunta: escuta. A escuta é o entre de questionar e perguntar, ou seja, o diálogo. No ensaio "Tempo e ser" (1), o "se" e o "dar-se" são tratados fundamentalmente.
- Referência:
3
- "Existir vem do latim ex-sisto que diz elevar-se para fora de, elevar-se acima de. A presença do reflexivo implica em um moto próprio, bem como a possibilidade de instauração da interrogação, a instauração de um lógos, de linguagem, e, nesta, a possibilidade de pronunciar a questão - o que é? É na in-sistência para além de uma inserção meramente ôntico|ôntica que o homem ex-siste. Por outro lado, o homem não deixa de ser. É aí nessa dimensão que se constitui a possibilidade de compreender como uma coisa é antes de existir, pois a existência da coisa necessita de formulação. No entanto, uma coisa pode ser independente de sua formulação. A questão que pergunta de que modo algo pode ser antes de existir é a questão que pergunta pelo nada." (1)
- Referência:
4
- Questionar não é confrontar-se com quem ensina, mas jogar o jogo originário do saber e do não-saber, do fundamentar pelo fundar, no dialogar, onde, de repente, mais do que ensinar se aprende. No questionar e dialogar vigora não a medida da razão, mas a vigência sempre utópica e nova da memória. Porque memória não é o jogo marcado da lembrança versus esquecimento. É mais: é a vigência da unidade do que foi, é e será (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I. Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros (Org.). Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 217.
5
- "No final de uma conferencia intitulada A questão da técnica, pronunciada há algum tempo, diz-se que 'questionar é a piedade do pensamento'. Piedade tem aí o antigo sentido de harmonia e sintoma articuladoras com aquilo que o pensamento tem a pensar" (1).
- Referência:
6
- "A resposta à pergunta é, como cada autêntica resposta, a última saída do último passo de uma longa seqüência de passos questionantes. Cada resposta somente conserva sua força como resposta enquanto ela permanecer enraizada no questionar" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A Origem da Obra de Arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70/Almedina, 2010, p. 179.
7
- "Ler Heidegger adequadamente é pensar com Heidegger, o que também significa perguntar com Heidegger - o que implica, ao mesmo tempo, veneração e rebeldia, pois, para ele, o questionar é a devoção do pensamento " (2) (1).
- Referências:
- (1) GIACOIA JR., Oswaldo. Heidegger urgente - introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 103.
- (2) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". Trad. Marco Aurélio Werle. Cadernos de tradução, n. 2. São Paulo: Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, 1997, p. 93.
8
- "A dinâmica do questionar só pode ser questionar, porque já, necessariamente, vigora nele. Abre para o ser humano um desafio de possibilidades infindas. Por isso mesmo, questionar diz e sempre dirá pôr-se a caminho" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 30.
9
- Toda autoridade que não oprime, mas liberta, se funda no poder que advém do vigorar do ser e jamais de um sujeito ou sistema, seja ele qual for. Por ser o vigorar é que podemos sempre questionar. Ora, só podemos questionar porque já estamos vigorando desde sempre nas questões, assim como estamos já necessariamente vigorando na linguagem.
10
- "O surgimento do questionar está no cerne da própria memória que origina todos os mitos, todas as filosofias, todas as ciências, todas as religiões, enfim, todas as culturas e eclosão do humano. A memória é o universal de todos os universais, porque é a memória do sentido e vigorar do ser. E é ela que traz para cena o ser humano como lugar do questionar" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e o questionar". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 40.
11
- "A questão se diferencia do conceito porque o querer de todo questionar consiste no “empenhar-se na procura do que não se tem por já se ter e para se vir a ter” (Leão: 1977: 44) (1).
- No empenho de viver existindo, vive-se a primeira de todas as questões. Primeira diz aí não o cronológico nem o epistemológico e funcional, mas o ontológico. Todo querer desdobra-se num caminho que é aquele que nos conduz para nós mesmos, para o que nos é mais próximo: o princípio.
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.
12
- "O ser humano simplesmente não está aí entre os outros entes, as coisas como tais. Já vimos que além de viver e ter as suas vivências, o ser humano constitui-se na medida em que faz da vida vivida uma vida experienciada. Ele procura sempre o conhecimento. Mas isso ele só pode fazer porque não conhece o que procura, pois se já o conhecesse não precisava procurar. Uma tal procura do que se é, denomina-se questionar. Por outro lado, se de maneira nenhuma não já conhecesse nem poderia questionar. Isto significa que já está aberto para o poder conhecer o que ainda não conhece" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 24.
13
- "Questionar não é confrontar-se com quem ensina, mas jogar o jogo originário do saber e do não-saber, do fundamentar pelo fundar, no dialogar, onde, de repente, mais do que ensinar se aprende" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 103.
14
- "Ecologia é uma questão. A questão é maior do que o homem. No questionar não é o homem que questiona. É a questão que nos questiona. Para questionar é preciso dialogar. O diálogo é uma questão. No dialogar não é o homem que dialoga. É o logos que nos dialoga" (1).
- Devemos compreender que o homem só se torna humano na medida em que deixa nele vigorar a questão.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.
15
- "O aprender a pensar abre-se, para quem se deixa tomar pelo pensar, como uma grande aventura na qual se dá a experienciação do próprio viver em seu sentido originário. A vida de cada um torna-se uma experienciação do viver e as vivências possíveis acontecem como vias de presentificação e realização da riqueza ilimitada do viver. Aprender a pensar é aprender a questionar incessantemente não só aos outros, mas, sobretudo, a si mesmo. Aquilo que se aprende só se aprende quando acontece dentro de nós, como algo que surge, cresce e se torna presente, constituindo uma riqueza que não para de crescer, porque provém de e retorna para o nada criativo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e pensar: o aprender". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 63.
16
- "Quando pensamos a questão como questão, já estamos nos abrindo onto-poeticamente para a referência pensar/questionar. Como se vê, a primeira de todas as questões é o próprio questionar enquanto dado no pensar e no próprio questionar. E aí não podemos ir mais longe, isto é, a pergunta que pergunta pelo questionar não pode fundar o questionar, mas este enquanto ato que se dá ao e no ser humano dá-se primordial e originariamente como agir do questionar. E estes é que, ao se darem naquele que pergunta e questiona, já fundam o agir e o pensar de quem questiona no perguntar. Ou seja, simplesmente o agir e o questionar precedem e fundam o próprio ente que age e questiona" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 16.
17
- Questionar é pensar. E pensar é o agir do ser. Somente somos agindo, porque somente temos nosso próprio na medida em que é uma doação do ser. A essa doação os gregos denominaram: moira, destino, próprio, identidade, singularidade, pessoa.