Querer

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Há uma tensão essencial entre [[saber]] e [[querer]], ou seja, vontade e razão: ''poíesis'' e ''lógos''. Ela, como referência dupla essencial (entre ''poíesis'' e ''lógos'', vontade e razão, ser e ente, limite e não-limite, verdade e não-verdade) se torna a questão das questões, a questão do entre-ser e da [[liberdade]]. Aqui naufraga a [[subjetividade]] e se abrem as portas para a questão de ser e mônada (ente). Toda a modernidade é o grande debate sobre a vontade e a razão (querer e saber), afirmados ôntica e epistemicamente. O caminho do tempo e da história, porque onticamente considerados, deságua hoje na memória alargada até o ''[[génos]]''/''[[moíra]]''. Nesses e por esses a questão se coloca como ser e saber, onde o querer é [[cura]] do ser como realização enquanto saber. Daí a questão do mito em Narciso: por que o saber implica a [[morte]]? Assim como em Midas, o querer implica também a morte. No entre vige o mito de Prometeu, mas dimensionado pelo mito de Cura, na medida em que esse remete para o ''fingere''. Em todos e sempre presente, a morte. Por isso Cristo, Prometeu, Narciso, Midas, Cura experienciam a Morte, a descida ao rio ''Léthe''. O que a Morte tem a ver com o querer e o não-querer, com verdade e não-verdade? Como questão, o querer é mais complexo do que aquilo que normalmente se compreende por vontade.
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: Há uma tensão [[essencial]] [[entre]] [[saber]] e [[querer]], ou seja, [[vontade]] e [[razão]]: ''[[poíesis]]'' e ''[[lógos]]''. Ela, como referência dupla [[essencial]] ([[entre]] ''[[poíesis]]'' e ''[[lógos]]'', [[vontade]] e [[razão]], [[ser]] e [[ente]], [[limite]] e [[não-limite]], [[verdade]] e [[não-verdade]]) se torna a [[questão]] das [[questões]], a [[questão]] do [[entre-ser]] e da [[liberdade]]. Aqui naufraga a [[subjetividade]] e se abrem as portas para a [[questão]] de [[ser]] e [[mônada]] ([[ente]]). Toda a [[modernidade]] é o grande debate sobre a [[vontade]] e a [[razão]] ([[querer]] e [[saber]]), afirmados ôntica e epistemicamente. O [[caminho]] do [[tempo]] e da [[história]], porque onticamente considerados, deságua hoje na [[memória]] alargada até o ''[[génos]]'' / ''[[moíra]]''. Nesses e por esses a [[questão]] se coloca como [[ser]] e [[saber]], onde o [[querer]] é [[cura]] do [[ser]] como [[realização]] enquanto [[saber]]. Daí a [[questão]] do [[mito]] em [[Narciso]]: por que o [[saber]] implica a [[morte]]? Assim como em [[Midas]], o [[querer]] implica também a [[morte]]. No [[entre]] vige o [[mito]] de [[Prometeu]], mas dimensionado pelo [[mito]] de [[Cura]], na medida em que esse remete para o ''[[fingere]]''. Em todos e [[sempre]] [[presente]], a [[morte]]. Por isso [[Cristo]], [[Prometeu]], [[Narciso]], [[Midas]], [[Cura]] experienciam a [[Morte]], a descida ao rio ''[[Léthe]]''. O que a [[Morte]] tem a ver com o [[querer]] e o [[não-querer]], com [[verdade]] e [[não-verdade]]? Como [[questão]], o [[querer]] é mais complexo do que aquilo que normalmente se compreende por [[vontade]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.
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: Quem [[pergunta]] é porque já quer ([[saber]]) e este [[querer]] não nos vem de nossa [[vontade]], mas do [[ser]] / [[saber]] (em Parmênides: ''[[einai]]'' / ''[[noein]]'') que nos foi doado e o qual tendemos já desde sempre a [[realizar]] completamente, mas porque somos limitados nunca conseguimos de maneira completa, pois nele não mais poderia haver [[saber]] e [[não-saber]]. Daí surge a [[dialética]] enquanto [[procura]] incessante de [[proximidade]] e [[distância]], de [[completude]] e falta, de [[sentido]] e [[não-sentido]], de [[verdade]] e [[não-verdade]], onde um tal não não indica falta, mas o que já se tem e tem demais e nunca cabe em nossos [[limites]]. Por isso, dentro deles só fazemos nos entregar incessantemente à [[procura]] da [[plenitude]] para a qual tendemos por sermos e não-sermos, e jamais como uma decisão de nossa [[vontade]], que só aparentemente é que quer.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "O [[operar]] do [[questionar]] no [[ser humano]] origina o seu [[querer]], de onde surge a [[vontade]]. Igualmente o [[operar]] do [[questionar]] o faz [[querer]] o [[saber]] de todo [[não-saber]], de onde lhe advém o [[intelecto]]. Não há [[vontade]] sem [[intelecto]] e nem [[intelecto]] sem [[vontade]]. Porém, tanto a [[vontade]] como o [[intelecto]] são [[doações]] da ''[[phýsis]]'', em seu manifestar-se como [[questão]] no [[ser humano]]. Este não apenas quer [[saber]] por compulsão, de alguma maneira ele sabe sempre o que quer e não-quer, porque quer [[saber]] o [[não-saber]] de todo [[querer]] e [[questionar]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. " ''Phýsis'' e humano: a arte”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 266.
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: A [[questão]] se diferencia do [[conceito]] porque o [[querer]] de todo [[questionar]] consiste no “[[empenhar-se]] na [[procura]] do que não se tem por já se [[ter]] e para se vir a [[ter]]” (Leão: 1977: 44) (1). No [[empenho]] de [[viver]] [[existindo]], vive-se a primeira de todas as [[questões]]. Primeira diz aí não o [[cronológico]] nem o [[epistemológico]] e [[funcional]], mas o [[ontológico]]. Todo [[querer]] desdobra-se num [[caminho]] que é aquele que nos conduz para nós [[mesmos]], para o que nos é mais próximo: o [[princípio]].
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: ------. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.
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: "O [[problemático]] para o [[ser humano]] consiste no [[fato]] de que faz da [[dobra]] [[essencial]] um [[duplo]] e, assim, acha que pode determinar a [[essência]] do [[agir]] pelo seu [[querer]] manifesto na sua [[vontade]]. Isso é [[impossível]]. Daí seu desamparo e [[sofrimento]], seus desvios e descuidos, na condução das [[possibilidades]] de [[realização]] da sua [[vida]], de seu [[próprio]], até se abrir para o [[acontecer]] do [[sentido do ser]], a [[necessidade]] que o chama em [[tudo]] que faz e não faz, pensa e não pensa, [[é]] e [[não-é]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.
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: "Na [[essência]] do [[agir]] o que decide não é o [[querer]] da [[vontade]], uma vez que a [[essência]] do [[agir]] é o [[próprio]] [[agir]], não a partir da [[vontade]], mas do [[agir]] da [[essência]]. [[Essência]] é o [[vigorar]] do que [[é]] em [[tudo]] que [[é]] e está [[sendo]]. Este tem seu [[agir]] no [[vigorar]] do [[sentido do ser]] e não no [[agir]] das [[sensações]] do [[sujeito]], pois o que o “[[eu]]” [[é]] se determina pelo [[ser]] e não pelo “[[eu]]” "(1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 275.
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: Quem [[pergunta]] é porque já quer ([[saber]]) e este [[querer]] não nos vem de nossa [[vontade]], mas do [[ser]] / [[saber]] (em Parmênides: ''[[einai]]''/''[[noein]]'') que nos foi [[doado]] e o qual tendemos já desde [[sempre]] a [[realizar]] completamente, mas porque somos [[limitados]] nunca conseguimos de maneira completa, pois nele não mais poderia haver [[saber]] e [[não-saber]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "[[Perguntar]] só posso se ainda não sei, mas consciente deste [[não-saber]], eu tendo ao [[saber]]. [[Quero]] [[saber]] e por isto [[pergunto]]. A [[pergunta]] é, portanto, um [[movimento]] de [[tendência]] para ..., a qual ultrapassa o até agora sabido em direção a algo mais, ainda não sabido, mas que pode [[ser]] [[sabido]]. Ora, se esta [[tendência]] para... vai na direção de algo que pode [[ser]] [[sabido]], então ela o exerce – assim como acontece com o [[saber]] – dentro da [[luz]] do [[ser]] e no [[horizonte]] do [[ser]]. Esta [[tendência]], este [[querer]], é, portanto, – igualmente como o [[saber]] – um [[exercício espiritual]], visto que a característica do [[espírito]] é a de exercer-se na [[luz]] do [[ser]] e no [[horizonte]] do [[ser]]. Esta [[tendência]], este [[querer]], é, portanto, – igualmente como o [[saber]] – um [[exercício espiritual]], visto que a característica do [[espírito]] é a de exercer-se na [[luz]] do [[ser]] e no [[horizonte]] do [[ser]]. Assim temos aqui uma segunda forma de [[exercício espiritual]] – implicado na [[pergunta]] -, a saber, o [[querer]]" (1).
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "Ora, um [[exercício espiritual]] em que se afirma o [[outro]] como [[outro]] e se tende para ele como [[outro]], chama-se [[querer]]. Quando [[eu]] quero meu [[outro]], ou seja, um [[objeto]], este continua fora de mim sob [[aspecto]] de [[ente]] em si, mas [[eu]] saio de mim na sua direção para, por assim dizer, “perder-me” nele, identificar-me com ele. No caso do [[saber]] dá-se o inverso, pois é o [[objeto]] que por assim [[dizer]] entra em mim, se identifica comigo, não assim como ele existe em si diante de mim, mas numa [[forma]] [[ideal]] de sabido por mim.
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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== 12 ==
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: "[[Querer]] uma [[coisa]] é querê-la não como identificada conosco como [[ideia]], mas querê-la como ela existe em si diante de nós; é um [[movimento]] pelo qual saímos de nós e nos lançamos dentro do [[outro]], o afirmamos como [[outro]], nos perdemos no [[outro]], deixando que ele seja totalmente aquilo que ele [[é]], e assim “perdidos” nele enriquecer-nos não apenas da [[ideia]] que dele temos, mas do seu [[próprio]] [[ser]]" (1).
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:  Referência:
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

Edição atual tal como 20h34min de 25 de fevereiro de 2024

Tabela de conteúdo

1

Há uma tensão essencial entre saber e querer, ou seja, vontade e razão: poíesis e lógos. Ela, como referência dupla essencial (entre poíesis e lógos, vontade e razão, ser e ente, limite e não-limite, verdade e não-verdade) se torna a questão das questões, a questão do entre-ser e da liberdade. Aqui naufraga a subjetividade e se abrem as portas para a questão de ser e mônada (ente). Toda a modernidade é o grande debate sobre a vontade e a razão (querer e saber), afirmados ôntica e epistemicamente. O caminho do tempo e da história, porque onticamente considerados, deságua hoje na memória alargada até o génos / moíra. Nesses e por esses a questão se coloca como ser e saber, onde o querer é cura do ser como realização enquanto saber. Daí a questão do mito em Narciso: por que o saber implica a morte? Assim como em Midas, o querer implica também a morte. No entre vige o mito de Prometeu, mas dimensionado pelo mito de Cura, na medida em que esse remete para o fingere. Em todos e sempre presente, a morte. Por isso Cristo, Prometeu, Narciso, Midas, Cura experienciam a Morte, a descida ao rio Léthe. O que a Morte tem a ver com o querer e o não-querer, com verdade e não-verdade? Como questão, o querer é mais complexo do que aquilo que normalmente se compreende por vontade.


- Manuel Antônio de Castro.

2

"Somos livres para falar, mas não somos livres diante da linguagem, a partir da qual e só a partir da qual, necessariamente, é que podemos querer e falar. Há uma liberdade do querer ou não querer falar, mas esta liberdade radica na necessidade de sempre querermos a partir da linguagem como necessidade, mesmo quando queremos não querer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.

3

Quem pergunta é porque já quer (saber) e este querer não nos vem de nossa vontade, mas do ser / saber (em Parmênides: einai / noein) que nos foi doado e o qual tendemos já desde sempre a realizar completamente, mas porque somos limitados nunca conseguimos de maneira completa, pois nele não mais poderia haver saber e não-saber. Daí surge a dialética enquanto procura incessante de proximidade e distância, de completude e falta, de sentido e não-sentido, de verdade e não-verdade, onde um tal não não indica falta, mas o que já se tem e tem demais e nunca cabe em nossos limites. Por isso, dentro deles só fazemos nos entregar incessantemente à procura da plenitude para a qual tendemos por sermos e não-sermos, e jamais como uma decisão de nossa vontade, que só aparentemente é que quer.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"Não-querer significa, em primeiro lugar, um querer, um querer dominado por um não, mesmo no sentido de um não que incide sobre o próprio querer e o recusa. Não-querer significa, portanto, recusar voluntariamente o querer. A expressão não-querer significa também, em segundo lugar, o que é pura e simplesmente estranho a todo tipo de vontade" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Para discussão da serenidade". In:---------. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p. 32.

5

"O operar do questionar no ser humano origina o seu querer, de onde surge a vontade. Igualmente o operar do questionar o faz querer o saber de todo não-saber, de onde lhe advém o intelecto. Não há vontade sem intelecto e nem intelecto sem vontade. Porém, tanto a vontade como o intelecto são doações da phýsis, em seu manifestar-se como questão no ser humano. Este não apenas quer saber por compulsão, de alguma maneira ele sabe sempre o que quer e não-quer, porque quer saber o não-saber de todo querer e questionar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 266.

6

A questão se diferencia do conceito porque o querer de todo questionar consiste no “empenhar-se na procura do que não se tem por já se ter e para se vir a ter” (Leão: 1977: 44) (1). No empenho de viver existindo, vive-se a primeira de todas as questões. Primeira diz aí não o cronológico nem o epistemológico e funcional, mas o ontológico. Todo querer desdobra-se num caminho que é aquele que nos conduz para nós mesmos, para o que nos é mais próximo: o princípio.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:


(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977.

7

"O problemático para o ser humano consiste no fato de que faz da dobra essencial um duplo e, assim, acha que pode determinar a essência do agir pelo seu querer manifesto na sua vontade. Isso é impossível. Daí seu desamparo e sofrimento, seus desvios e descuidos, na condução das possibilidades de realização da sua vida, de seu próprio, até se abrir para o acontecer do sentido do ser, a necessidade que o chama em tudo que faz e não faz, pensa e não pensa, é e não-é" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.

8

"Na essência do agir o que decide não é o querer da vontade, uma vez que a essência do agir é o próprio agir, não a partir da vontade, mas do agir da essência. Essência é o vigorar do que é em tudo que é e está sendo. Este tem seu agir no vigorar do sentido do ser e não no agir das sensações do sujeito, pois o que o “eué se determina pelo ser e não pelo “eu” "(1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 275.

9

Quem pergunta é porque já quer (saber) e este querer não nos vem de nossa vontade, mas do ser / saber (em Parmênides: einai/noein) que nos foi doado e o qual tendemos já desde sempre a realizar completamente, mas porque somos limitados nunca conseguimos de maneira completa, pois nele não mais poderia haver saber e não-saber.


- Manuel Antônio de Castro.

10

"Perguntar só posso se ainda não sei, mas consciente deste não-saber, eu tendo ao saber. Quero saber e por isto pergunto. A pergunta é, portanto, um movimento de tendência para ..., a qual ultrapassa o até agora sabido em direção a algo mais, ainda não sabido, mas que pode ser sabido. Ora, se esta tendência para... vai na direção de algo que pode ser sabido, então ela o exerce – assim como acontece com o saber – dentro da luz do ser e no horizonte do ser. Esta tendência, este querer, é, portanto, – igualmente como o saber – um exercício espiritual, visto que a característica do espírito é a de exercer-se na luz do ser e no horizonte do ser. Esta tendência, este querer, é, portanto, – igualmente como o saber – um exercício espiritual, visto que a característica do espírito é a de exercer-se na luz do ser e no horizonte do ser. Assim temos aqui uma segunda forma de exercício espiritual – implicado na pergunta -, a saber, o querer" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

11

"Ora, um exercício espiritual em que se afirma o outro como outro e se tende para ele como outro, chama-se querer. Quando eu quero meu outro, ou seja, um objeto, este continua fora de mim sob aspecto de ente em si, mas eu saio de mim na sua direção para, por assim dizer, “perder-me” nele, identificar-me com ele. No caso do saber dá-se o inverso, pois é o objeto que por assim dizer entra em mim, se identifica comigo, não assim como ele existe em si diante de mim, mas numa forma ideal de sabido por mim.


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

12

"Querer uma coisa é querê-la não como identificada conosco como ideia, mas querê-la como ela existe em si diante de nós; é um movimento pelo qual saímos de nós e nos lançamos dentro do outro, o afirmamos como outro, nos perdemos no outro, deixando que ele seja totalmente aquilo que ele é, e assim “perdidos” nele enriquecer-nos não apenas da ideia que dele temos, mas do seu próprio ser" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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