Poesia

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) HAAR, Michel. "A 'elaboração' da verdade". In: -----. ''A obra de arte''. Trad. Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Difel, 2.000, p. 95.
: (1) HAAR, Michel. "A 'elaboração' da verdade". In: -----. ''A obra de arte''. Trad. Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Difel, 2.000, p. 95.
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: "Pois o "[[poético]]" parece pertencer, quanto ao seu [[valor]] [[poético]], ao reino da [[fantasia]]. O [[habitar]] [[poético]]  sobrevoa fantasticamente o [[real]]. O [[poeta]] faz face a esse temor e diz, com propriedade, que o [[habitar]] [[poético]] é o [[habitar]] "esta [[terra]]". Assim, Hölderlin não somente protege o [[poético]] contra sua incompreensão usual corriqueira mas, acrescentando as [[palavras]] "esta [[terra]]", remete para o [[vigor]] [[essencial]] da [[poesia]]. A [[poesia]] não sobrevoa e nem se eleva sobre a [[terra]] a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a [[poesia]] que traz o [[homem]] para a [[terra]], para ela, e assim o traz para um [[habitar]]" (1). Esta passagem de do [[pensador]] Heidegger é extremamente importante, porque desfaz completamente a falsa noção de [[ficção]], atribuída a toda [[literatura]]. É [[necessário]], certamente, repensar tanto a noção corrente de [[ficção]], bem como de [[fantasia]], quanto o que se entende por [[real]] e [[realidade]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback.  In: ------.  ''Ensaios e conferências''. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 169.
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: "... porque a [[poesia]] nem pertence às [[palavras]]. [[Poesia]] é [[dança]], entre outras [[coisas]]. E quando digo [[dança]], não me refiro à [[disciplina]] da [[dança]]. [[Poesia]] é alguma [[coisa]] feita com o [[corpo]] e somente algumas vezes com as [[palavras]]. É tudo o que consigo [[dizer]] a respeito disto. Estamos na [[poesia]] como estamos no [[tempo]] e é difícil falar sobre algo que não podemos [[ver]] em sua [[totalidade]], porque estamos imersos nele" (1).
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: (1) MÁRCIO-ANDRÉ. "Ser topônimo de si mesmo". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 179.
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: "O [[poder]] [[poético]] guardado nas [[coisas]] e no [[poema]] necessita ser aberto com chave ou punho. Não está pronto simplesmente, exige uma intervenção [[corporal]]. A [[poesia]] não é “algo”, é justamente o contrario. É um não guardado em [[coisas]]. Ao nos permitir completá-las com o que há de [[possibilidade]] [[poética]] em nós mesmos, revela-se em sua [[plenitude]] em um ponto do [[tempo]] e do [[espaço]]" (1).
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: (1) MÁRCIO-ANDRÉ. "Ser topônimo de si mesmo". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - ''Globalização, pensamento e arte''. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 180.
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: (2) ARISTÓTELES. ''Poética''. Ed. trilíngue por Valentin Garcia Yebra. Madrid: Gredos, 1974, p. 157.
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: (1) PLATÃO. ''O Simpósio ou O do Amor''. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 81.
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: "O que à primeira vista parece título de uma [[tematização]]: [[poesia]] e [[pensamento]], mostra-se como a [[inscrição]] em que o [[destino]] de nossa [[presença]] [ [[entre-ser]] ] de há muito está inscrito. A [[inscrição]] assinala a co-pertença de [[poesia]] e [[pensamento]]. A sua [[convivência]] possui uma [[proveniência]] antiga. Retraçando essa [[proveniência]], chegamos ao que é imemorialmente digno de se [[pensar]], mas que jamais se deixa [[pensar]] cabalmente" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ''A caminho da linguagem''. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 188.
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: "Todo [[dizer]] vigoroso remonta a esse mútuo pertencer de [[dizer]] e [[ser]], de [[palavra]] e [[coisa]]. Ambos, [[poesia]] e [[pensamento]], são uma [[extraordinária]] [[saga]] do [[dizer]], quando se responsabilizam pelo [[mistério]] da [[palavra]], enquanto o que há de mais digno a se [[pensar]], permanecendo assim articulados na sua  afinidade" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. ''A caminho da Linguagem''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 189.
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: "A vinda da [[poesia]] não é uma [[decisão]] do [[poeta]], porque a [[poesia]] é o [[advento]] e [[presentificação]]-[[doação]] da [[fala]] das [[Musas]], o encontro com o [[canto]] [[divino]] e [[encantador]] das [[Sereias]]. Atentemos para a aventura e ventura de [[Ulisses]]. Ele quer, decidiu-se pela [[Escuta]], isto é, decidiu-se pela [[apropriação]] do [[próprio]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 176.
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: "Quem não cultiva o [[silêncio]] não pode [[falar]] a [[fala]] do que [[é]]. E que desafio maior existe para cada um senão [[ser]]? Não qualquer [[coisa]] ou um [[outro]] qualquer, e até um [[outro]] que amamos. [[Ser]] só se é própria e apropriadamente quando marcamos um encontro sempre inadiável com o que nos é [[próprio]]. E o que nos é [[próprio]] ninguém pode dizê-lo nem [[ensinar]]. [[Silêncio]] não é falta de [[voz]] ou som, não é [[pausa]] de [[música]] ou [[fala]]. O [[silêncio]] é ruidoso, oprime e liberta, é [[dor]] e [[alegria]], dissolve a [[subjetividade]] e plenifica o [[ser]] de cada um. O [[silêncio]] é o máximo de [[fala]], quando [[falar]] só se consegue calando. O [[silêncio]] é o mergulho no mais [[profundo]] do [[entre]]/[[interior]] de todo [[horizonte]] em que já estamos sempre lançados e projetados e aliciados. O [[silêncio]] é o [[silêncio]] do culpado e do inocente. O [[silêncio]] é a concentração máxima da ''[[poiesis]]'' como [[essência]] de todo [[agir]]. A [[verdadeira]] e [[fundante]] [[poesia]] é [[sempre]] [[poesia]] do [[silêncio]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: ''Confraria'' - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 19.
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: "''[[Poesia]]'' é conceder [[silêncio]] à [[palavra]] (que é [[corpo]]) e ceder [[palavra]]-[[corpo]] ao [[silêncio]], enquanto ''[[dança]]'' propriamente é a concessão de [[corpo]] (que é [[palavra]]) ao [[nada]] e imediatamente, cessão de [[nada]] à [[corporeidade]]. ''[[Dança]]'' é, portanto, ''conceber o [[corpo]] [[poeticamente]]''. Poetizar é ''[[consumar]] a [[palavra]] como [[dança]]'' " (1).
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: Referência:
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: FAGUNDES, Igor. '''Macumbança''' - '''Poesia''' - '''Música''' - '''Dança'''. São Paulo / Guaratinguetá: Editora Penalux, 2020, p. 110.

Edição atual tal como 21h44min de 3 de Dezembro de 2020

1

O eu-lírico é um conceito abstrato-formal inexistente, a que nenhuma realidade corresponde. Quando num poema fala um eu, se o poema é verdadeiro, este será sempre fala da poesia. Jamais será fala do poeta ou um formal e abstrato eu-lírico. É o eu-concreto da poesia manifestando-se no poeta e nos leitores que verdadeiramente têm o poema da poesia. O poeta ou o leitor fala, mas quem diz é a poesia. Um poema é verdadeiro quando é esse dizer concreto da poesia.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:

2

"As palavras '...poeticamente o homem habita...' dizem muito mais. Dizem que é a poesia que permite ao habitar ser um habitar. Poesia é deixar-habitar, em sentido próprio. Mas como encontramos habitação? Mediante um construir. Entendida como deixar-habitar, poesia é um construir"(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ----. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 167.


Ver também:
*Silêncio
*Poíesis

3

"A poesia é a Memória feita imagem e esta convertida em voz. A outra voz não é a voz do além túmulo: é a do homem que está dormindo no fundo de cada homem. Tem mil anos e tem nossa idade e ainda não nasce. É nossa avó, nosso irmão e nosso bisneto" (1).


Referência:
(1) PAZ, Octavio. A outra voz. Trad. Wladir Dupont. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 144.

4

"A relação entre o homem e a poesia é tão antiga como nossa história: começou quando o homem começou a ser homem. Os primeiros caçadores e colhedores de frutas um dia se olharam, atônitos, durante um instante interminável, na água estagnada de um poema. Desde então, os homens não deixaram de se olhar nesse espelho de imagens. E têm se olhado, simultaneamente, como criadores de imagens e como imagens de suas criações" (1).
Como se vê, Paz ainda reflete a posição moderna de que o ser humano é criador. Aqui ele aparece como criador de imagens, evidente, através de sua faculdade imaginativa. Porém, o ser humano não cria nada. Tudo já é. Cabe, apenas, a ele se deixar tomar pelo vigorar do ser que nele habita e manifestar o que já é. Esse vigorar é que faz com que ele seja poeta, pois é no vigorar da linguagem nele que mora o ser. A linguagem falando constitui o que cada ser humano é. Ele não cria, pois ele é o que recebeu para ser. O ser humano é uma doação da linguagem. E é no vigorar desta que ele é poeta. Todo ser humano é poeta. Se assim não fosse não poderia dialogar com os poemas de qualquer língua e qualquer época.


- Manuel Antônio de Castro.


Referência:
(1) PAZ, Octavio. A outra voz. Trad. Wladir Dupont. São Paulo: Siciliano, 2001, p. 148.

5

"A poesia nunca foi privilégio exclusivo do poema. Ela sempre esteve e estará nos lugares mais diversos. A própria ciência, enquanto linguagem e não simplesmente na sua ostensiva dimensão semântica, guarda a poesia. O cientista tem que ser poeta, isto é, fundador, para ser cientista". (1)


Referência:
(1) PORTELLA, Eduardo. “Limites ilimitados da teoria literária”. In: PORTELLA, Eduardo (org.). Teoria Literária. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976, p. 17.


6

"Assim, ser homem é de alguma maneira suportar a disciplina, a ascese de morar no interior das questões: entre realidade, real e realização. Esse interior é o que nós chamamos de utopia. E o que abre a possibilidade de fazer essa experiência de utopia é sempre a poesia" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Poesia e utopia. In: FAGUNDES, Igor (Org.). Permanecer silêncio - Manuel Antônio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2011, p. 132.


7

"Deixar dizer o que é digno de se pensar significa - pensar. Escutando o poema, pensamos desde a poesia. Desse modo, é a poesia, é o pensamento." (1)


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: A caminho da linguagem. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 188.

8

"A filosofia grega é uma experiência de Pensamento. Mas não é a única experiência grega de pensamento. Outra experiência grega de Pensamento é o Mito e a Mística. Uma outra, são os deuses e o extraordinário. Ainda uma outra é a Poesia e a Arte. Ainda outra é a Polis e a Politeia. A última, por ser no fundo a primeira experiência grega de Pensamento, é Vida e a Morte, Eros e Thanatos " (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: -------. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 11.Texto em itálico


9

"Ao nomear ou renomear inicialmente as coisas, mas também as atitudes, as pessoas, a poesia as devolve à sua integridade. Ela as subtrai à objetivação, à manipulação; ela as arranca da universalidade forçada, da banalização. "A poesia celebra em cada coisa o que esta guarda de "indene", de "salvo": um "sagrado" que deve ser pensado independentemente de qualquer referência religiosa" (1).


Referência:
(1) HAAR, Michel. "A 'elaboração' da verdade". In: -----. A obra de arte. Trad. Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Difel, 2.000, p. 95.


10

"Pois o "poético" parece pertencer, quanto ao seu valor poético, ao reino da fantasia. O habitar poético sobrevoa fantasticamente o real. O poeta faz face a esse temor e diz, com propriedade, que o habitar poético é o habitar "esta terra". Assim, Hölderlin não somente protege o poético contra sua incompreensão usual corriqueira mas, acrescentando as palavras "esta terra", remete para o vigor essencial da poesia. A poesia não sobrevoa e nem se eleva sobre a terra a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a poesia que traz o homem para a terra, para ela, e assim o traz para um habitar" (1). Esta passagem de do pensador Heidegger é extremamente importante, porque desfaz completamente a falsa noção de ficção, atribuída a toda literatura. É necessário, certamente, repensar tanto a noção corrente de ficção, bem como de fantasia, quanto o que se entende por real e realidade.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ------. Ensaios e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 169.


11

"... porque a poesia nem pertence às palavras. Poesia é dança, entre outras coisas. E quando digo dança, não me refiro à disciplina da dança. Poesia é alguma coisa feita com o corpo e somente algumas vezes com as palavras. É tudo o que consigo dizer a respeito disto. Estamos na poesia como estamos no tempo e é difícil falar sobre algo que não podemos ver em sua totalidade, porque estamos imersos nele" (1).


Referência:
(1) MÁRCIO-ANDRÉ. "Ser topônimo de si mesmo". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 179.


12

"O poder poético guardado nas coisas e no poema necessita ser aberto com chave ou punho. Não está pronto simplesmente, exige uma intervenção corporal. A poesia não é “algo”, é justamente o contrario. É um não guardado em coisas. Ao nos permitir completá-las com o que há de possibilidade poética em nós mesmos, revela-se em sua plenitude em um ponto do tempo e do espaço" (1).


Referência:
(1) MÁRCIO-ANDRÉ. "Ser topônimo de si mesmo". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 180.


13

"A pretensa superação do mito pela historiografia não passou despercebida a um pensador do porte de Aristóteles. Sensível à força originária do mito, em outras palavras, à Poesia, declara (1):
"Com efeito, o historiador e o poeta não se diferenciam por dizerem as
coisas em verso ou em prosa (pois seria possível versificar as obras
de Heródoto, e não seriam menos história em verso que em prosa);
a diferença está em que um diz o que sucedeu, e o outro, o que poderia suceder.
Por isso também a poesia é mais filosófica e elevada que a história; pois
a poesia diz melhor o geral, e a história, o particular" (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno histórico". In: ----. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 39.
(2) ARISTÓTELES. Poética. Ed. trilíngue por Valentin Garcia Yebra. Madrid: Gredos, 1974, p. 157.

14

"Diotima - ... sabes que a palavra poesia é de múltiplos significados. Geralmente chama-se poesia à causa que torna possível a passagem de qualquer coisa do não-ser ao ser, de maneira que as criações de todas as artes são poesia, e que os criadores são poetas!" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. O Simpósio ou O do Amor. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 81.

15

"O que à primeira vista parece título de uma tematização: poesia e pensamento, mostra-se como a inscrição em que o destino de nossa presença [ entre-ser ] de há muito está inscrito. A inscrição assinala a co-pertença de poesia e pensamento. A sua convivência possui uma proveniência antiga. Retraçando essa proveniência, chegamos ao que é imemorialmente digno de se pensar, mas que jamais se deixa pensar cabalmente" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 188.

16

"Todo dizer vigoroso remonta a esse mútuo pertencer de dizer e ser, de palavra e coisa. Ambos, poesia e pensamento, são uma extraordinária saga do dizer, quando se responsabilizam pelo mistério da palavra, enquanto o que há de mais digno a se pensar, permanecendo assim articulados na sua afinidade" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 189.

17

"A vinda da poesia não é uma decisão do poeta, porque a poesia é o advento e presentificação-doação da fala das Musas, o encontro com o canto divino e encantador das Sereias. Atentemos para a aventura e ventura de Ulisses. Ele quer, decidiu-se pela Escuta, isto é, decidiu-se pela apropriação do próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 176.

18

"Quem não cultiva o silêncio não pode falar a fala do que é. E que desafio maior existe para cada um senão ser? Não qualquer coisa ou um outro qualquer, e até um outro que amamos. Ser só se é própria e apropriadamente quando marcamos um encontro sempre inadiável com o que nos é próprio. E o que nos é próprio ninguém pode dizê-lo nem ensinar. Silêncio não é falta de voz ou som, não é pausa de música ou fala. O silêncio é ruidoso, oprime e liberta, é dor e alegria, dissolve a subjetividade e plenifica o ser de cada um. O silêncio é o máximo de fala, quando falar só se consegue calando. O silêncio é o mergulho no mais profundo do entre/interior de todo horizonte em que já estamos sempre lançados e projetados e aliciados. O silêncio é o silêncio do culpado e do inocente. O silêncio é a concentração máxima da poiesis como essência de todo agir. A verdadeira e fundante poesia é sempre poesia do silêncio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 19.

19

"Poesia é conceder silêncio à palavra (que é corpo) e ceder palavra-corpo ao silêncio, enquanto dança propriamente é a concessão de corpo (que é palavra) ao nada e imediatamente, cessão de nada à corporeidade. Dança é, portanto, conceber o corpo poeticamente. Poetizar é consumar a palavra como dança " (1).


Referência:
FAGUNDES, Igor. Macumbança - Poesia - Música - Dança. São Paulo / Guaratinguetá: Editora Penalux, 2020, p. 110.
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