Trabalho

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) MERQUIOR, José Guilherme. ''Saudades do carnaval''. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 137.
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: (1)  HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 117.
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: (1)  HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 117.
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: "Com e na [[produção]] total, o [[homem]] [[moderno]] vive uma determinação bem precisa do [[real]] e dá uma decisão bem definida à [[história]] [[humana]]. A suposição de seu [[espírito]] é de que [[tudo]] resulta do [[trabalho]] de uma [[racionalidade]] [[instrumental]] e de que o [[trabalho]] da [[razão]] é capaz de [[tudo]] [[produzir]], o [[real]] e o [[irreal]], o [[bem]] e o [[mal]], a [[verdade]] e a [[não verdade]], o [[ser]] e o [[nada]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ócio e negócio". In: ''Revista Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio'', 136, jan.-mar., 1999, p. 74.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ócio e negócio". In: '''Revista Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio''', 136, jan.-mar., 1999, p. 74.
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: O [[trabalho]] na [[dimensão]] da [[técnica]] é [[produzir]] para a entificação, isto é, fazer aparecer um [[ente]], é um produzir substancial, pois é a [[verdade]] manifestativa do que é enquanto ente, por isso a verdade se reduz à [[vigência]] da [[lógica]] e não da verdade enquanto ''[[aletheia]]''. É um trabalho onde predomina o fazer em detrimento e esquecimento do ser. Já o trabalho na dimensão do [[sentido do ser]], diz do [[agir]] no e pelo [[pensar]], e não simplesmente do fazer, porque nele o agir é deixar a verdade advir em sua [[essência]]: [[manifestação]] e [[vigorar]] do ser do [[sendo]] em tudo que é e está sendo. Neste agir, o ser humano não intervém e nem jamais tem a intenção de intervir nem comandar o [[destino]], a manifestação do sagrado, ele se empenha no [[penhor]] de chegar deixando advir o [[bem]] e ser tomado pelo pensar. Por isso ''[[noein]]'' e ''[[dianoia]]'' nos remetem muito mais para o pensar do que para o [[conhecer]], em sentido causal. O conhecer é então o descobrir as leis causais e através delas operar o real dentro de uma finalidade e eficiência funcional. Eis o trabalho técnico.
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: O [[trabalho]] na [[dimensão]] da [[técnica]] é [[produzir]] para a entificação, isto é, fazer [[aparecer]] um [[ente]], é um [[produzir]] [[substancial]], pois é a [[verdade]] manifestativa d' ''[[o que é]]'' enquanto [[ente]], por isso, a [[verdade]] se reduz à [[vigência]] da [[lógica]] e não a [[verdade]] enquanto ''[[aletheia]]''. É um [[trabalho]] onde predomina o [[fazer]] em detrimento e [[esquecimento]] do [[sentido do ser]]. Já o [[trabalho]] na [[dimensão]] do [[sentido do ser]], diz do [[agir]] no e pelo [[pensar]], e não simplesmente do [[fazer]], porque nele o [[agir]] é deixar a [[verdade]] advir em sua [[essência]]: [[manifestação]] e [[vigorar]] do [[ser]] do [[sendo]] em [[tudo]] que [[é]] e está [[sendo]]. Neste [[agir]], o [[ser humano]] não intervém e nem jamais tem a intenção de intervir nem comandar o [[destino]], a [[manifestação]] do [[sagrado]], ele se empenha no [[penhor]] de chegar deixando advir o [[bem]] e ser tomado pelo [[pensar]]. Por isso ''[[noein]]'' e ''[[dianoia]]'' nos remetem muito mais para o [[pensar]] do que para o [[conhecer]], em [[sentido]] [[causal]]. O [[conhecer]] é então o [[descobrir]] as [[leis]] [[causais]] e através delas [[operar]] o [[real]] dentro de uma [[finalidade]] e [[eficiência]] [[funcional]]. Eis o [[trabalho]] [[técnico]].
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: "Através da [[produção]] total, o [[homem]] moderno vive uma determinação bem precisa do [[real]] e dá uma decisão bem definida à sua [[história]]. A suposição de seu [[espírito]] é de que tudo resulta do [[trabalho]] da racionalidade e de que o [[trabalho]] da [[razão]] é capaz de [[produzir]] tudo, o [[bem]] e o [[mal]], a [[verdade]] e a [[não-verdade]], o [[real]] e o [[não-real]]" (1).
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: "Através da [[produção]] [[total]], o [[homem]] [[moderno]] vive uma determinação bem precisa do [[real]] e dá uma [[decisão]] bem [[definida]] à sua [[história]]. A [[suposição]] de seu [[espírito]] é de que tudo resulta do [[trabalho]] da [[racionalidade]] e de que o [[trabalho]] da [[razão]] é capaz de [[produzir]] [[tudo]], o [[bem]] e o [[mal]], a [[verdade]] e a [[não-verdade]], o [[real]] e o [[não-real]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Introdução". In: Revista ''Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio'', 136, jan.-mar., 1999, p. 8.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Introdução". In: Revista '''Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio''', 136, jan.-mar., 1999, p. 8.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O esquecimento da memória". In: ---. '''Filosofia contemporânea'''. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, p. 78.
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: "Hoje não é importante a força de [[trabalho]] dos operários. Ela está determinada, em [[verdade]], pelos centros de [[pesquisa]] e suas novas descobertas. De fato, é aí que se gera o [[capital]] e não mais pela força de [[trabalho]], até porque cabe aos centros de [[pesquisa]] [[inventar]] também máquinas que dispensam a intervenção da força de [[trabalho]]. A máquina realiza isso de uma maneira mais [[eficiente]] e sem o perigo das greves. [[Ironia]] do [[destino]]: a [[consciência crítica]] acaba, em última instância, com o operário que, politicamente, é formatado numa [[consciência crítica]]. Ora, é aí que se centra o drama das [[Correntes críticas]] nas [[artes]]. Elas foram ultrapassadas porque não produzem nada que seja [[funcional]] dentro de uma [[sociedade]] como a de hoje, onde tudo é [[funcional]] e onde o [[ser humano]] se mede pela [[funcionalidade]] e [[eficiência]] de seus [[conhecimentos]]. Para dar uma [[função]] aos [[conhecimentos]] [[críticos]], elas tornaram-se totalmente [[ideológicas]]. Mas o que pode hoje a [[ideologia]] diante do [[poder]] da [[técnica]], que determina todas as políticas e está pondo em [[crise]] a [[ideia]] [[moderna]] de [[Nação]]?" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.
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: "Temos de [[pensar]] em mecanismos tributários específicos ou num esquema de participação acionária especial para garantir que os benefícios econômicos gerados pela IA sejam amplamente compartilhados. O [[problema]] é que nenhum de nós consegue oferecer, até o momento, [[visão]] convincente deste [[novo mundo]] em que [[sistemas]] de [[IA]] farão a maior [[parte]] do que hoje chamamos [[trabalho]]" (1).
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: (1) RUSSELL, Stuart - cientista da computação. "A inteligência artificial vai marginalizar mais pessoas", Entrevista a Eduardo Graça. In: '''O Globo''', p. 12, quinta-feira, 13-01-2022.

Edição atual tal como 20h54min de 30 de Setembro de 2022

1

É uma questão que aparece na ascese cristã por oposição à gnose – daí o lema de S. Bento: " Ora et labora ", Ora e trabalha. Surge em Marx como possibilidade de realização do homem, fundada no humanismo. Mas aparece também no domínio puramente pragmático do agir instrumental. O leitor confira o livro de Merquior (1), p. 137. Retoma o tema depois à página 198 e seguintes, mas agora a propósito de Nietzsche.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) MERQUIOR, José Guilherme. Saudades do carnaval. Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 137.

2

"A Terra é essencialmente a que se fecha-em-si. Elaborar a Terra significa: trazê-la ao aberto como a que se fecha a si mesma" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 117.

3

Caminhar nas e com as questões dá o mesmo trabalho de limpar, arar, semear, plantar, o terreno e esperar a firme, mas lenta maturação do semeado para sua eclosão no e com o tempo propício. A semente para amadurecer precisa de três instâncias: a semente como tal, o terreno, o tempo de maturação. Notamos que a ação do homem - o trabalho - apenas agencia o que já tem ação em si mesmo, mas pelo ordenamento (legein) lhe dá sentido. Isso é o mesmo que questionar e aprender, porque quem medra enquanto aprender é o que se é, a vida que se recebeu e se é, o próprio. Desse trabalho surge o formar do que chega a desabrochar (infelizmente muitas sementes e seres humanos estiolam antes disso tudo acontecer), mas também a forma das obras de arte (e dos utensílios) e do próprio ser humano, que são indissociáveis, sendo impossível haver forma sem o triplo agir (trabalho em sentido amplo), onde se inclui e é necessário incluir o agir da natureza / physis, acima apresentado. Portanto, nada tem a ver com formalismos técnicos. Pelo contrário, é o que os gregos denominavam morphe, a presença da forma enquanto presença do agir e realizar-se. É nesse sentido que a obra de arte é aquela onde se faz presente não apenas uma forma, mas onde nesta vigora o próprio agir enquanto presença do sentido. Se considerarmos que a forma, de alguma maneira, introduz o limite, a presença enquanto sentido projeta o agir da obra para além do limite. É isso a morphe, em sentido grego. Evidente que faltou pensar o trabalho enquanto algo específico do agir do ser humano, ou seja, enquanto o trabalho no horizonte da techne e do logos.


- Manuel Antônio de Castro

4

"Com e na produção total, o homem moderno vive uma determinação bem precisa do real e dá uma decisão bem definida à história humana. A suposição de seu espírito é de que tudo resulta do trabalho de uma racionalidade instrumental e de que o trabalho da razão é capaz de tudo produzir, o real e o irreal, o bem e o mal, a verdade e a não verdade, o ser e o nada" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ócio e negócio". In: Revista Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio, 136, jan.-mar., 1999, p. 74.

5

O trabalho na dimensão da técnica é produzir para a entificação, isto é, fazer aparecer um ente, é um produzir substancial, pois é a verdade manifestativa d' o que é enquanto ente, por isso, a verdade se reduz à vigência da lógica e não a verdade enquanto aletheia. É um trabalho onde predomina o fazer em detrimento e esquecimento do sentido do ser. Já o trabalho na dimensão do sentido do ser, diz do agir no e pelo pensar, e não simplesmente do fazer, porque nele o agir é deixar a verdade advir em sua essência: manifestação e vigorar do ser do sendo em tudo que é e está sendo. Neste agir, o ser humano não intervém e nem jamais tem a intenção de intervir nem comandar o destino, a manifestação do sagrado, ele se empenha no penhor de chegar deixando advir o bem e ser tomado pelo pensar. Por isso noein e dianoia nos remetem muito mais para o pensar do que para o conhecer, em sentido causal. O conhecer é então o descobrir as leis causais e através delas operar o real dentro de uma finalidade e eficiência funcional. Eis o trabalho técnico.


- Manuel Antônio de Castro

6

"Através da produção total, o homem moderno vive uma determinação bem precisa do real e dá uma decisão bem definida à sua história. A suposição de seu espírito é de que tudo resulta do trabalho da racionalidade e de que o trabalho da razão é capaz de produzir tudo, o bem e o mal, a verdade e a não-verdade, o real e o não-real" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Introdução". In: Revista Tempo Brasileiro - Caminhos do pensamento hoje: novas linguagens no limiar do terceiro milênio, 136, jan.-mar., 1999, p. 8.

7

"O mais ativo que o homem pode ser não é, portanto, no trabalho, quando faz alguma coisa, e, sim, no empenho com que se dedica a criar seu modo de ser e a inventar o perfil de sua fisionomia. Os demais seres vivos vivem a sua vida e nada mais. Só o homem vive com o Nada, isto é, sobrevive à vida em sua vida. O homem é, assim, o Único ser vivo que, para viver, não lhe basta viver, tem de empenhar-se por criar vida. É convidado constantemente a assumir a responsabilidade de cuidar da vida, de dedicar-se a viver" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O esquecimento da memória". In: ---. Filosofia contemporânea. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, p. 78.

8

"Hoje não é importante a força de trabalho dos operários. Ela está determinada, em verdade, pelos centros de pesquisa e suas novas descobertas. De fato, é aí que se gera o capital e não mais pela força de trabalho, até porque cabe aos centros de pesquisa inventar também máquinas que dispensam a intervenção da força de trabalho. A máquina realiza isso de uma maneira mais eficiente e sem o perigo das greves. Ironia do destino: a consciência crítica acaba, em última instância, com o operário que, politicamente, é formatado numa consciência crítica. Ora, é aí que se centra o drama das Correntes críticas nas artes. Elas foram ultrapassadas porque não produzem nada que seja funcional dentro de uma sociedade como a de hoje, onde tudo é funcional e onde o ser humano se mede pela funcionalidade e eficiência de seus conhecimentos. Para dar uma função aos conhecimentos críticos, elas tornaram-se totalmente ideológicas. Mas o que pode hoje a ideologia diante do poder da técnica, que determina todas as políticas e está pondo em crise a ideia moderna de Nação?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.

9

"Temos de pensar em mecanismos tributários específicos ou num esquema de participação acionária especial para garantir que os benefícios econômicos gerados pela IA sejam amplamente compartilhados. O problema é que nenhum de nós consegue oferecer, até o momento, visão convincente deste novo mundo em que sistemas de IA farão a maior parte do que hoje chamamos trabalho" (1).


Referência:
(1) RUSSELL, Stuart - cientista da computação. "A inteligência artificial vai marginalizar mais pessoas", Entrevista a Eduardo Graça. In: O Globo, p. 12, quinta-feira, 13-01-2022.