Sofrimento

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Muito aprendi do [[Budismo]]. Em especial a sua principal lição, o modo de evitar, ou ao menos aplacar o [[sofrimento]]. Não a [[dor]], que pode ser contida por medicamentos. Mas o [[sofrimento]] que dilacera a [[alma]], confunde a cabeça, tritura o [[coração]], suscita [[sentimentos]] e [[atitudes]] negativas" (1).  
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: O [[leitor]] que [[ler]] com atenção estas declarações deve ser levado a [[pensar]]. Há duas [[questões]] aqui que podem [[causar]] confusão. Basta o [[leitor]] consultar neste dicionário o verbete [[dor]], onde encontra opiniões justamente opostas. Só resta [[pensar]]. Aliás, o [[leitor]] está convidado a assistir ao [[filme]] de Lars Von Trier: ''O Anticristo'', no qual o diretor fala metaforicamente de três mendigos: a [[dor]], o [[sofrimento]], o [[desespero]].
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:  (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: '''Revista Tempo Brasileiro''', 171 - '''Permanência e atualidade da Poética'''. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 167.
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: "A primeira [[forma]] de [[meditação]] do desenvolvimento da tranquilidade, ou [[meditação]] sentada, diminui ou aquieta o turbilhão de [[pensamentos]]. Ao final de um certo [[tempo]] de [[prática]], o [[espírito]] começa a se instalar naturalmente num estado de repouso, que nos permite ficar plenamente presentes à nossa [[vida]]. Logo que nós não somos arrastados para o [[passado]] ou o [[futuro]], nós podemos nos acalmar e começar a [[viver]] verdadeiramente o [[momento]] [[presente]].
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: "A primeira [[forma]] de [[meditação]] do desenvolvimento da tranquilidade, ou [[meditação]] sentada, diminui ou aquieta o turbilhão de [[pensamentos]]. Ao final de um certo [[tempo]] de [[prática]], o [[espírito]] começa a se instalar naturalmente num estado de [[repouso]], que nos permite ficar plenamente [[presentes]] à nossa [[vida]]. Logo que nós não somos arrastados para o [[passado]] ou o [[futuro]], nós podemos nos acalmar e começar a [[viver]] verdadeiramente o [[momento]] [[presente]].
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: A [[meditação]] nos ajuda  também a conseguir duas outras [[formas]] de [[aprendizagem]]: a [[disciplina]] e o [[conhecimento]] superior. Os três repousam sobre nossa capacidade de nos concentrarmos sobre nosso [[caminho]], e ver claramente o que estamos fazendo e a [[compreender]] porque o fazemos. Nós praticamos estas três [[aprendizagens]] em conjunto a fim de podermos nos [[libertar]] dos esquemas habituais e das falsas [[concepções]] que causam e perpetuam nosso [[sofrimento]]" (1).
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: A [[meditação]] nos ajuda  também a conseguir duas outras [[formas]] de [[aprendizagem]]: a [[disciplina]] e o [[conhecimento]] superior. Os três repousam sobre nossa capacidade de nos concentrarmos sobre nosso [[caminho]], e [[ver]] claramente o que estamos fazendo e a [[compreender]] porque o fazemos. Nós praticamos estas três [[aprendizagens]] em conjunto a fim de podermos nos [[libertar]] dos esquemas habituais e das [[falsas]] [[concepções]] que causam e perpetuam nosso [[sofrimento]]" (1).
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: (1) PANLOP RINPOCHÉ, Dzogehen. "Apêndice I - Instruções para a prática da meditação", p. 339. In: ------. ''Buda rebelde - sobre o caminho da libertação''.Traduzido do americano por Philippe Delamare. Marabout. Belfon, um Departamento de Place des éditeurs, 2012, para a tradução francesa. Tradução do francês para o português de Manuel Antônio de Castro.
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: (1) PANLOP RINPOCHÉ, Dzogehen. "Apêndice I - Instruções para a prática da meditação", p. 339. In: ------. '''Buda rebelde - sobre o caminho da libertação'''.Traduzido do americano por Philippe Delamare. Marabout. Belfon, um Departamento de Place des éditeurs, 2012, para a tradução francesa. Tradução do francês para o português de Manuel Antônio de Castro.
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: "...todo [[conhecimento]] [[grego]] se funda na [[possibilidade]] de [[ver]]. Ao destruir a [[visão]], [[Édipo]] renega, explode, [[simbolicamente]], o [[conhecimento]] [[humano]], que se revela [[limitado]], [[finito]], [[aparente]] e, portanto, culpado. O [[ato]] do [[trágico]] rei é o máximo de [[sofrimento]] [[humano]], mas também de sua [[purificação]]: é a [[catarse]]" (1).
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: "...todo [[conhecimento]] [[grego]] se funda na [[possibilidade]] de [[ver]]. Ao destruir a [[visão]], [[Édipo]] renega, explode, [[simbolicamente]], o [[conhecimento]] [[humano]], que se revela [[limitado]], [[finito]], [[aparente]] e, portanto, [[culpado]]. O [[ato]] do [[trágico]] rei é o máximo de [[sofrimento]] [[humano]], mas também de sua [[purificação]]: é a [[catarse]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em ''Vidas Secas''". In: -----. ''Travessia Poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 75.
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em ''Vidas Secas''". In: -----. '''Travessia Poética'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 75.
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: "Todo [[sofrimento]] pertencia ao [[tempo]], da  mesma [[forma]] que todos os receios e tormentos com que as [[pessoas]] se afligem a si [[próprias]]. Todas e quaisquer dificuldades, tudo quanto houvesse de hostil no [[mundo]] sumir-se-ia, cairia derrotado, logo que o [[homem]] triunfasse sobre o [[tempo]], logrando arredá-lo pelo [[pensamento]]" (1).
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: "Todo sofrimento pertencia ao tempo, da  mesma forma que todos os receios e tormentos com que as pessoas se afligem a si próprias. Todas e quaisquer dificuldades, tudo quanto houvesse de hostil no mundo sumir-se-ia, cairia derrotado, logo que o homem triunfasse sobre o tempo sobre o tempo, logrando arredá-lo pelo pensamento" (1).  
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: (1) HESSE, Hermann. '''Sidarta'''. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 90.
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: "O [[problemático]] para o [[ser humano]] consiste no [[fato]] de que faz da [[dobra]] [[essencial]] um [[duplo]] e, assim, acha que pode determinar a [[essência]] do [[agir]] pelo seu [[querer]] manifesto na sua [[vontade]]. Isso é [[impossível]]. Daí seu desamparo e [[sofrimento]], seus desvios e descuidos, na condução das [[possibilidades]] de [[realização]] da sua [[vida]], de seu [[próprio]], até se abrir para o [[acontecer]] do [[sentido do ser]], a [[necessidade]] que o chama em [[tudo]] que faz e não faz, pensa e não pensa, [[é]] e [[não-é]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.
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: "Por isso, [[Édipo]], exilado e cego, acompanhado apenas por Antígona, sua filha, perde-se em Colona, no bosque [[sagrado]] das Eumênides. Lá poderá descansar na [[felicidade]] dos [[bons]]. Já atravessou os [[limites]] da "[[vida]] inconstante": perdeu o trono, a esposa, tudo. Os [[sofrimentos]] mostraram-lhe que a [[vontade]] [[consciente]] de nada vale contra os [[desígnios]] [[divinos]], a [[ordem]] [[cósmica]] que regula o [[mundo]] dos [[mortais]]" (1).
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: (1) ÉDIPO. In: '''Mitologia, volumes: 1, 2, 3'''. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 548.

Edição atual tal como 19h19min de 24 de janeiro de 2021

Tabela de conteúdo

1

"Muito aprendi do Budismo. Em especial a sua principal lição, o modo de evitar, ou ao menos aplacar o sofrimento. Não a dor, que pode ser contida por medicamentos. Mas o sofrimento que dilacera a alma, confunde a cabeça, tritura o coração, suscita sentimentos e atitudes negativas" (1).
O leitor que ler com atenção estas declarações deve ser levado a pensar. Há duas questões aqui que podem causar confusão. Basta o leitor consultar neste dicionário o verbete dor, onde encontra opiniões justamente opostas. Só resta pensar. Aliás, o leitor está convidado a assistir ao filme de Lars Von Trier: O Anticristo, no qual o diretor fala metaforicamente de três mendigos: a dor, o sofrimento, o desespero.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) BETTO, Frei. "Budismo e Cristianismo". In: O Globo, Rio de Janeiro, 22 de julho de 2017, p. 25

2

É muito difícil dizer o que é sofrimento, porque faz parte de nossas emoções. E estas são modos de ser e experienciar-se muito ricas, e que exigem outras palavras para dizê-las, como, por exemplo: dor, tristeza, angústia, desespero, mágoa...


- Manuel Antônio de Castro.

3

"O tema central dos escritos de Chuang Tzu gira em torno da liberdade. Não a liberdade específica que conhecemos hoje, mas uma liberdade originária. Sua questão básica era averiguar como pode o homem viver em um mundo consubstanciado pelo caos, pelo sofrimento e pelo absurdo, isto é, o non-sense, o sem-sentido, o ilógico, alógico, metalógico. E a resposta do sábio é com outra questão: para libertar-se do sofrimento, da dor, do desconcerto do mundo, da incoerência do planeta liberte-se do mundo. Mas como se libertar do mundo estando inserido no mundo? Como se libertar do planeta e continuar vivo sobre a face da Terra? A libertação aqui é a libertação dos conceitos, dos condicionamentos, das dicotomias" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 167.

4

"A primeira forma de meditação do desenvolvimento da tranquilidade, ou meditação sentada, diminui ou aquieta o turbilhão de pensamentos. Ao final de um certo tempo de prática, o espírito começa a se instalar naturalmente num estado de repouso, que nos permite ficar plenamente presentes à nossa vida. Logo que nós não somos arrastados para o passado ou o futuro, nós podemos nos acalmar e começar a viver verdadeiramente o momento presente.
A meditação nos ajuda também a conseguir duas outras formas de aprendizagem: a disciplina e o conhecimento superior. Os três repousam sobre nossa capacidade de nos concentrarmos sobre nosso caminho, e ver claramente o que estamos fazendo e a compreender porque o fazemos. Nós praticamos estas três aprendizagens em conjunto a fim de podermos nos libertar dos esquemas habituais e das falsas concepções que causam e perpetuam nosso sofrimento" (1).


Referência:
(1) PANLOP RINPOCHÉ, Dzogehen. "Apêndice I - Instruções para a prática da meditação", p. 339. In: ------. Buda rebelde - sobre o caminho da libertação.Traduzido do americano por Philippe Delamare. Marabout. Belfon, um Departamento de Place des éditeurs, 2012, para a tradução francesa. Tradução do francês para o português de Manuel Antônio de Castro.

5

"...todo conhecimento grego se funda na possibilidade de ver. Ao destruir a visão, Édipo renega, explode, simbolicamente, o conhecimento humano, que se revela limitado, finito, aparente e, portanto, culpado. O ato do trágico rei é o máximo de sofrimento humano, mas também de sua purificação: é a catarse" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em Vidas Secas". In: -----. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 75.

6

"Todo sofrimento pertencia ao tempo, da mesma forma que todos os receios e tormentos com que as pessoas se afligem a si próprias. Todas e quaisquer dificuldades, tudo quanto houvesse de hostil no mundo sumir-se-ia, cairia derrotado, logo que o homem triunfasse sobre o tempo, logrando arredá-lo pelo pensamento" (1).


Referência:
(1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 90.

7

"O problemático para o ser humano consiste no fato de que faz da dobra essencial um duplo e, assim, acha que pode determinar a essência do agir pelo seu querer manifesto na sua vontade. Isso é impossível. Daí seu desamparo e sofrimento, seus desvios e descuidos, na condução das possibilidades de realização da sua vida, de seu próprio, até se abrir para o acontecer do sentido do ser, a necessidade que o chama em tudo que faz e não faz, pensa e não pensa, é e não-é" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 269.

8

"Por isso, Édipo, exilado e cego, acompanhado apenas por Antígona, sua filha, perde-se em Colona, no bosque sagrado das Eumênides. Lá poderá descansar na felicidade dos bons. Já atravessou os limites da "vida inconstante": perdeu o trono, a esposa, tudo. Os sofrimentos mostraram-lhe que a vontade consciente de nada vale contra os desígnios divinos, a ordem cósmica que regula o mundo dos mortais" (1).


Referência:
(1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 548.
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