Amar

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:O amado será um inquilino como o próximo, ainda que sempre como o mais próximo. Este é o paradoxo do amar, só vigorar na proximidade, mas isto não é uma questão de individualismo e isolamento, mas a nossa [[condição]] de jamais podermos ser senão o ser que somos e só como [[proximidade]] sermos o amado. A proximidade não é negativa, mas a possibilidade máxima de poder afirmar no amar a diferença que é o amado. Amar não é anular mas afirmar originariamente aquele que sendo o que não sou me é o mais próximo. Só assim podemos co-habitar na proximidade do coração. Amar é co-habitar o coração, é Ser coração-co-habitante. A [[unidade]] dos amantes é o Amar assim como a unidade do sou de cada amante é o Ser. A proximidade é mais do que compreender o outro, é aceitá-lo como ele é e não pode deixar de ser.
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: O [[amado]] será um inquilino como o [[próximo]], ainda que [[sempre]] como o mais [[próximo]]. Este é o [[paradoxo]] do [[amar]], só [[vigorar]] na [[proximidade]], mas isto não é uma [[questão]] de [[individualismo]] e [[isolamento]], mas a nossa [[condição]] de jamais podermos [[ser]] senão o [[ser]] que somos e só como [[proximidade]] sermos o [[amado]]. A [[proximidade]] não é [[negativa]], mas a [[possibilidade]] [[máxima]] de [[poder]] [[afirmar]] no [[amar]] a [[diferença]] que é o [[amado]]. [[Amar]] não é [[anular]], mas [[afirmar]] [[originariamente]] aquele que sendo o que não sou me é o mais [[próximo]]. Só assim podemos [[co-habitar]] na [[proximidade]] do [[coração]]. [[Amar]] é [[co-habitar]] o [[coração]], é [[Ser]] coração-co-habitante. A [[unidade]] dos [[amantes]] é o [[Amar]] assim como a [[unidade]] do [[sou]] de cada [[amante]] é o [[Ser]]. A [[proximidade]] é mais do que [[compreender]] o [[outro]], é aceitá-lo como ele [[é]] e não pode deixar de [[ser]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.
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:"Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passsa a [[acontecer]] dentro de nós" (1).
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: "Quando se ama não é preciso [[entender]] o que se passa lá fora, pois [[tudo]] passa a [[acontecer]] [[dentro]] de nós" (1).
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: (1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "''Eros'', o humano e os humanismos". In: ''Eros, tecnologia, transumanismo''. Org. Maria Conceição e Outros. Rio de Janeiro: Caetés, 2015, 45.
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: CASTRO, Manuel Antônio de. "''Eros'', o humano e os humanismos". In: '''Eros, tecnologia, transumanismo. Org. Maria Conceição Monteiro e Outros. Rio de Janeiro: Caetés, 2015''', 45.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: ''Arte: corpo, mundo e terra''. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 29.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: '''Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009''', p. 29.
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: "[[Amar]] é [[mistério]]. E como [[mistério]], para os [[seres humanos]], constitui [[sempre]] uma [[questão]]. O [[amar]] como [[mistério]] nos lança na [[angústia]] e [[paradoxo]] da [[finitude]]: o [[mundo]] como [[escuridão]] e [[luminosidade]], como [[amor]] e [[ódio]], como [[bem]] e [[mal]]. [[Amar]] é [[ser]]. Por isso, não cessamos de nos [[perguntar]]: o que é o [[amor]]? Porém, só o [[amar]] habita a [[questão]], a [[questão]] de [[ser]] e [[amar]]..." (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 291.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. '''Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011''', p. 291.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. '''Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011''', p. 246.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. '''Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011''', p. 292.
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: (1) HESSE, Hermann. ''Sidarta''. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 120.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 304.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 304.
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: "A [[concepção]] do [[amar]] como [[doação]] é usada de uma maneira generalizada. Pode haver [[amor]] sem [[doação]]? Já sabemos o que é [[dar]]/[[doação]] para podermos afirmar que o [[amar]] é [[doação]], entrega? Damos e entregamos o quê quando amamos? No dia dos pais, por exemplo, os filhos dão e entregam um [[presente]] aos pais. É um [[dar]] como sinal do [[amar]], que afirma o carinho, o [[reconhecimento]], a importância do pai em suas [[vidas]]. Uma [[forma]] de [[dar]] é [[dar]] [[presentes]]. Mas será essa e outras [[formas]] de [[dar]] a [[essência]] do [[dar]]? E se o [[amor]] for [[presença]] e não o [[presente]]? [[Amor]] e [[doação]] de quê? Já sabemos o que [[é]], [[essencialmente]], [[doar]] para [[dizer]] que os [[amantes]] se [[doam]] quando se [[amam]]? Neste [[dar-se]] o [[amante]] entrega-se completamente, sem [[limites]] e sem condições? E pode o [[outro]] sem deixar de [[ser]] [[outro]] [[receber]] tal [[entrega]]? Tal [[doar]] e [[receber]] não anulariam o [[próprio]] de cada um?" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 295.
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: "Só o [[apropriar-se]] é [[amar]]. [[Desapropriar]] e apossar-se são a tentativa de [[anular]] o que é [[próprio]] de quem [[é]], ou seja, de suas [[possibilidades]] e contínua [[realização]]. Daí [[dizer]] que a [[renúncia]] não tira, dá. Dá a [[liberdade]] de chegar a [[ser]], amando" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.
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: "[[Amar]] é deixar [[vigorar]] o que recebemos para chegar a [[ser]], jamais passível de [[doação]], entrega e [[recepção]]. Então, como se ama? [[Sendo]] o que já desde [[sempre]] somos e recebemos para chegar a [[ser]]. Dessa maneira, [[amar]] não é jamais tomar [[posse]], [[apossar-se]] daquilo e daquele/a que não podemos tomar [[posse]]. [[Amar]] é deixar [[ser]]. [[É]] a [[mutua]] [[renúncia]] à [[posse]] para, deixando [[ser]], cada um chegar a [[ser]] [[o que é]], o [[próprio]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.
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: "[[Amar]] é a [[energia]] iluminadora e vitalizadora do solo fértil do [[desvelamento]], [[crescimento]] e [[consumação]] do que somos, do nosso [[próprio]]. [[Libertação]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.
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: "[[Amar]] nem é [[doar]] nem [[receber]]. [[É]] não [[dar]] e nem [[receber]] para chegar a [[ser]] aquilo que já nos foi dado e recebido como [[possibilidade]] de e para [[possibilidade]]. [[É]] o [[ideal]] em [[obra]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.
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== 20 ==
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: "A [[realidade]], enquanto [[linguagem]] e [[sentido]], é o que denominamos: [[mundo]]. No [[amar]] e quando amamos vigoramos em nosso [[amor]] no [[mundo]], isto é, [[tudo]] entra no âmbito do [[sentido]], da [[linguagem]], pois sem esta não há [[sentido]], [[unidade]] e [[musicalidade]]. [[Amar]], portanto, é sempre deixar [[acontecer]] [[mundo]] e [[sentido]], [[unidade]] e [[musicalidade]]. [[Amar]] como [[verbo]] é o deixar [[vigorar]] o [[sentido]] [[musical]] do [[ser]]. E é sempre no [[horizonte]] de [[mundo]] e [[sentido]] que acontece [[verdade]], [[unidade]], [[beleza]], [[bem]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.
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== 21 ==
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: [[Conhecer]] o [[ser]] que nos foi dado é [[renunciar]] aos [[limites]] que o [[ser]] jamais tem, por isso somos, mas estamos [[próximos]] e [[distantes]] do [[ser]], isso para [[dizer]] o quanto nos é [[difícil]] deixarmo-nos tomar pelo [[conhecer]] do [[ser]]. É um [[agir]] tão [[difícil]] e tão especial que ele é sem [[intencionalidade]]. Essa é a [[difícil]] tarefa do [[amar]], isto é, [[amar]] é não [[ter]] [[intencionalidade]], por isso é um [[agir]] que não satisfaz, mas leva à conquista do único que [[satisfaz]]: o [[conquistar-se]], pois no [[sermos]] reside a [[plenitude]], [[conquistar]] é [[conquistar-se]] no que já desde [[sempre]] somos. E este é sem [[intencionalidade]]. É dessa maneira que o que está fora não pode nos [[satisfazer]]. O que está fora nunca para de [[poder]] ser substituído, mas só o [[insubstituível]] nos satisfaz, pois o [[insubstituível]] é sem [[limites]]. [[Pensar]] é [[ser]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "Quem ama nunca faz o [[mal]], e é para o [[bem]] que nascemos" (1).
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: (1) ROSSI, Padre Marcelo. "Amor fraterno". In: ---. '''Ágape'''. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 94.

Edição atual tal como 20h08min de 14 de Abril de 2024

1

O amado será um inquilino como o próximo, ainda que sempre como o mais próximo. Este é o paradoxo do amar, só vigorar na proximidade, mas isto não é uma questão de individualismo e isolamento, mas a nossa condição de jamais podermos ser senão o ser que somos e só como proximidade sermos o amado. A proximidade não é negativa, mas a possibilidade máxima de poder afirmar no amar a diferença que é o amado. Amar não é anular, mas afirmar originariamente aquele que sendo o que não sou me é o mais próximo. Só assim podemos co-habitar na proximidade do coração. Amar é co-habitar o coração, é Ser coração-co-habitante. A unidade dos amantes é o Amar assim como a unidade do sou de cada amante é o Ser. A proximidade é mais do que compreender o outro, é aceitá-lo como ele é e não pode deixar de ser.


- Manuel Antônio de Castro

2

"É preciso aprender a viver. Eu pratico todo dia. Meu maior obstáculo é não saber quem sou. Eu tateio cegamente. Se alguém me ama como eu sou, posso finalmente ter coragem de olhar para mim mesma. Essa possibilidade é pouco viável" (1).


Referência:
(1) BERGMAN, Ingmar. Filme Sonata de outono.

3

"Amar é Eros, porque sempre se dá obliquamente, dissimulando-se. Sem amar nada somos e como amar é o nada do que já somos e não somos, em seu dar-se dissimulando ele sempre se retrai e mais nos atrai e arrasta na paixão amorosa. É que em toda paixão amorosa só amamos ao outro quando acontece a unidade e vigor das diferenças: o amar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.

4

"Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.

5

O amar em que consiste o doar não doa algo, presentifica a proximidade que aproxima e diferencia, pois é no diferenciar que o amar se torna amar enquanto este realiza a presentificação do que como proximidade de diferenças nos foi doado. Amar é essencialmente dialogar pelo qual não nos comunicamos em primeiro lugar e nisso nos igualamos ou nos tornamos uniformes, mas o dialogar faz eclodir a proximidade que nos aproxima tanto do que somos como do que não somos, isto é, amar é aproximar enquanto a realização do mesmo de apropriar e diferenciar.


- Manuel Antônio de Castro

6

"Seja para o pensamento, seja para as artes, Eros sempre foi a grande questão, sendo a mais tematizada, interpretada e aprofundada. Por detrás do seu agir, como aquilo que o move, está sempre o Amor do amar. Dessa maneira, há uma certa impropriedade em se falar de Eros como algo substantivo, pois remete facilmente para a sua interpretação e compreensão como algo, como um ente. E não é isso Eros. Como essência do agir é total e completa energia de realização, é luz irradiante em contínuo acontecer" (1).


CASTRO, Manuel Antônio de. "Eros, o humano e os humanismos". In: Eros, tecnologia, transumanismo. Org. Maria Conceição Monteiro e Outros. Rio de Janeiro: Caetés, 2015, 45.

7

"E o que nos é próprio? A poético-ecologia enquanto cura poético-amorosa, pois apropriarmo-nos do que nos é próprio é amar. Amar é levar à plenitude de sentido o que nos foi dado e é próprio: o tempo enquanto o ser, o nossso destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 29.

8

"Amar é mistério. E como mistério, para os seres humanos, constitui sempre uma questão. O amar como mistério nos lança na angústia e paradoxo da finitude: o mundo como escuridão e luminosidade, como amor e ódio, como bem e mal. Amar é ser. Por isso, não cessamos de nos perguntar: o que é o amor? Porém, só o amar habita a questão, a questão de ser e amar..." (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 291.

9

"Toda dobra desdobrando-se é um contínuo discernir, isto é, um pensar no desvelado o velado, nas vivências do vivente a sua fonte, a Vida. Discernir é sempre um ato corajoso e necessário de apreender e compreender, no que se dá a ver, o que se retrai e vela. Discernir é deixar-se tomar pela carência em meio à riqueza originária da realidade. Radicalmente, discernir é deixar-se tomar pela morte como medida do viver. Discernir é pensar e pensar é amar. Amar é o vigorar do entre na referência do amante e da amada" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.

10

"A essência da questão é o mistério. Só questionamos porque já vigoramos nele. Porém, o amar é a mais completa realização do mistério que, fundando toda proximidade, sempre se retrai, jogando-nos na distância, o entre ser e estar. No e pelo amar o mistério acontece naqueles que amam e se amam no e a partir do mistério" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.

11

"O vigorar da inclusão é que faz a proximidade e distância fazerem-se sempre presentes no amar e não parecer no aparecer. É o dar-se união amorosa. Só há aparência do aparecer quando há o esquecimento do sentido do ser, porque o aparecer se move no plano dos entes. E estes nunca podem fundar ser, porque só este é vigorar, acontecer. Amar é acontecer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 308.

12

"... tenho para mim que o amor é o que há de mais importante no mundo. Analisar o mundo, explicá-lo, menosprezá-lo, talvez caiba aos grandes pensadores. Mas a mim me interessa exclusivamente que eu seja capaz de amar o mundo, de não sentir desprezo por ele, de não odiar nem a ele nem a mim mesmo, de contemplar a ele, a mim, a todas as criaturas com amor, admiração e reverência" (1).


Referência:
(1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 120.

13

"Sem amar nada somos e como amar é o nada do que já somos e não somos, em seu dar-se dissimulando ele sempre se retrai e mais nos atrai e arrasta na paixão amorosa. É que em toda paixão amorosa só amamos ao outro quando acontece a unidade e vigor das diferenças: o amar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.

14

"Todo amar é sem finalidade, pois tem em si mesmo o seu fim, isto é, sua própria realização e consumação. Mistério. É a renúncia mais radical, proveniente de um saber radical, estranho" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 304.

15

"A concepção do amar como doação é usada de uma maneira generalizada. Pode haver amor sem doação? Já sabemos o que é dar/doação para podermos afirmar que o amar é doação, entrega? Damos e entregamos o quê quando amamos? No dia dos pais, por exemplo, os filhos dão e entregam um presente aos pais. É um dar como sinal do amar, que afirma o carinho, o reconhecimento, a importância do pai em suas vidas. Uma forma de dar é dar presentes. Mas será essa e outras formas de dar a essência do dar? E se o amor for presença e não o presente? Amor e doação de quê? Já sabemos o que é, essencialmente, doar para dizer que os amantes se doam quando se amam? Neste dar-se o amante entrega-se completamente, sem limites e sem condições? E pode o outro sem deixar de ser outro receber tal entrega? Tal doar e receber não anulariam o próprio de cada um?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 295.

16

"Só o apropriar-se é amar. Desapropriar e apossar-se são a tentativa de anular o que é próprio de quem é, ou seja, de suas possibilidades e contínua realização. Daí dizer que a renúncia não tira, dá. Dá a liberdade de chegar a ser, amando" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.

17

"Amar é deixar vigorar o que recebemos para chegar a ser, jamais passível de doação, entrega e recepção. Então, como se ama? Sendo o que já desde sempre somos e recebemos para chegar a ser. Dessa maneira, amar não é jamais tomar posse, apossar-se daquilo e daquele/a que não podemos tomar posse. Amar é deixar ser. É a mutua renúncia à posse para, deixando ser, cada um chegar a ser o que é, o próprio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.

18

"Amar é a energia iluminadora e vitalizadora do solo fértil do desvelamento, crescimento e consumação do que somos, do nosso próprio. Libertação" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.

19

"Amar nem é doar nem receber. É não dar e nem receber para chegar a ser aquilo que já nos foi dado e recebido como possibilidade de e para possibilidade. É o ideal em obra" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 306.

20

"A realidade, enquanto linguagem e sentido, é o que denominamos: mundo. No amar e quando amamos vigoramos em nosso amor no mundo, isto é, tudo entra no âmbito do sentido, da linguagem, pois sem esta não há sentido, unidade e musicalidade. Amar, portanto, é sempre deixar acontecer mundo e sentido, unidade e musicalidade. Amar como verbo é o deixar vigorar o sentido musical do ser. E é sempre no horizonte de mundo e sentido que acontece verdade, unidade, beleza, bem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 317.

21

Conhecer o ser que nos foi dado é renunciar aos limites que o ser jamais tem, por isso somos, mas estamos próximos e distantes do ser, isso para dizer o quanto nos é difícil deixarmo-nos tomar pelo conhecer do ser. É um agir tão difícil e tão especial que ele é sem intencionalidade. Essa é a difícil tarefa do amar, isto é, amar é não ter intencionalidade, por isso é um agir que não satisfaz, mas leva à conquista do único que satisfaz: o conquistar-se, pois no sermos reside a plenitude, conquistar é conquistar-se no que já desde sempre somos. E este é sem intencionalidade. É dessa maneira que o que está fora não pode nos satisfazer. O que está fora nunca para de poder ser substituído, mas só o insubstituível nos satisfaz, pois o insubstituível é sem limites. Pensar é ser.


- Manuel Antônio de Castro.

22

"Quem ama nunca faz o mal, e é para o bem que nascemos" (1).


Referência:
(1) ROSSI, Padre Marcelo. "Amor fraterno". In: ---. Ágape. São Paulo: Editora Globo, 2015, 30 reimpressão, p. 94.
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