Vazio
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Época]] e [[tempo]] [[poético]]". In: ---. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.''' |
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: -----. | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' "[[Aprender]] e [[Ensinar]]". In: -----. [[Aprendendo]] a [[pensar]]. Petrópolis R/J: Vozes, 1977, p. 45.''' |
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- | : "Nós ocidentais temos a tendência de [[pensar]] o [[vazio]] como o [[nada]], como algo completamente oco. Mas o [[pensamento]] [[originário]] de [[Chuang Tzu]] nos mostra que o [[vazio]] não é [[vazio]]. É um [[vazio]] cheio de [[possibilidades]], de | + | : "Nós ocidentais temos a tendência de [[pensar]] o [[vazio]] como o [[nada]], como algo completamente oco. Mas o [[pensamento]] [[originário]] de [[Chuang Tzu]] nos mostra que o [[vazio]] não é [[vazio]]. É um [[vazio]] cheio de [[possibilidades]], de potencialidades, um [[vazio]] [[pleno]], um [[vazio]]-[[todo]], bem diferente do [[vazio]]-[[nada]] como o [[pensamento]] mecanicista do [[Ocidente]] percebe" (1). |
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- | : (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: | + | : (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba.''' "[[Diálogo]] com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - [[Permanência]] e atualidade da [[Poética]]. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 164.''' |
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- | : A [[ideia]] de [[autor]] propalada desde a [[Modernidade]] é falha porque não se abre para o [[acontecer]] da [[realidade]], entendendo esta como o que vigora. Se a denominamos, sempre impropriamente, de [[imaginação]], [[silêncio]], [[vazio]], [[nada criativo]], é porque como [[finitos]] temos sempre de nos mover no [[limite]]. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela [[finitude]]. [[Criar]] mesmo nunca criamos, não somos [[autores]] de nada, mas acontece em nós o | + | : A [[ideia]] de [[autor]] propalada desde a [[Modernidade]] é falha porque não se abre para o [[acontecer]] da [[realidade]], entendendo esta como o que vigora. Se a denominamos, sempre impropriamente, de [[imaginação]], [[silêncio]], [[vazio]], [[nada criativo]], é porque como [[finitos]] temos sempre de nos mover no [[limite]]. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela [[finitude]]. [[Criar]] mesmo nunca criamos, não somos [[autores]] de nada, mas acontece em nós o advir ao [[sentido]] a própria [[realidade]], o [[vazio]] de que nos fala o [[pensador]]. Mover-se na autoria é ainda ficar restrito à [[entificação]] subjetiva. Mas sem [[ser]] não há [[ente]]. Deve haver [[dialética]] entre [[língua]] e [[linguagem]], entre [[silêncio]] e [[fala]]. O oleiro faz a jarra com o que a [[realidade]] lhe oferece, mas quem lhe dá [[sentido]] e acolhimento é o [[vazio]]. O [[poético]] é isso e é essencialmente [[dialético]]. |
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+ | : "Tanto os [[nós]] como as [[ligações]] precisam do “[[entre]]” enquanto [[identidade]] das [[diferenças]]. Uma tal faceta do “[[entre]]” aparece bem claramente na [[imagem-questão]]: [[rede]]. Uma tal faceta é o [[vazio]], o [[silêncio]]. A [[rede]] sem o [[vazio]]/[[silêncio]] não se pode constituir como [[rede]], ou seja, como “fios” e “[[nós]]”. A [[rede]] é uma [[doação]] do [[vazio]] e do [[silêncio]]. O [[vazio]] é o [[não-limite]] do [[silêncio]] e seu [[sentido]]. A [[língua]] enquanto [[código]] é a [[rede]] enquanto fios e [[nós]]. Mas assim como a [[rede]] precisa do [[vazio]]/[[silêncio]], a [[língua]] precisa da [[linguagem]]. Por isso, a [[linguagem]] é a [[mãe]] de todas as [[línguas]], assim como o [[vazio]] é a [[origem]] de todas as [[redes]], de todos os [[códigos]]. E o [[silêncio]] é a [[origem]] de todas as [[falas]] e [[escutas]], enquanto [[energia]] de [[sentido]], [[verdade]] e [[mundo]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Interdisciplinaridade]] [[poética]]: o [[entre]]". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: [[Interdisciplinaridade]]: dimensões [[poéticas]], 164, jan.-mar., 2006, p. 33.''' | ||
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+ | : "A [[fala]], cada [[fala]], pressupõe a [[rede]] e nela toda a [[rede]] se faz [[presente]]/[[ausente]]. Porém, essa [[presença]] e [[ausência]] se sustenta e [[vigora]] a partir do [[vazio]] ou [[silêncio]]. Este é o [[tempo]] [[originário]], o [[tempo]] que continuamente se triparte e não triparte, se o [[pensamos]] como [[memória]], se [[pensamos]] que essa tripartição vive de um [[entre]]-[[tempo]], que é o [[presente]], que nada mais é do que o [[presentificado]] em [[tensão]] (“[[entre]]”) com o [[presentificável]] (Os [[gregos]] denominaram esse [[tempo]] [[presente]] [[eterno]]: ''[[aion]]'', onde o [[eterno]] é o [[entre]], a [[memória]])" (1). | ||
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+ | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "De uma conversa sobre a [[linguagem]]...". In: ----. A [[caminho]] da [[Linguagem]]. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 87.''' | ||
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+ | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "De uma conversa sobre a [[linguagem]]...". In: ----. '''A caminho da [[Linguagem]]. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 107.''' | ||
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+ | : "A [[época]] é uma [[dádiva]] do [[vazio]], um [[entre]] [[céu]] e [[terra]]. E o que o [[vazio]] nos doa? O [[sentido]] [[poético]], o [[ético]] da eks-sistência e de toda [[ação]] [[poética]]. No [[sentido]] [[ético]]-[[poético]] se manifesta o [[humano]] do [[ser humano]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Época]] e [[tempo]] [[poético]]". In: ---------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.''' | ||
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+ | : "Toda [[posição]] é [[posição]] em [[mudança]]. Esta não se resolve numa [[sucessividade]] justaposta. A justaposição de dez mil tijolos ainda não é uma [[casa]]. Esta implica mais do que as suas [[posições]]. Exige em primeiro [[lugar]] o [[vazio]], onde eles poderão ocupar uma [[posição]]. Sem [[vazio]] não há [[posição]]. Sem [[silêncio]] não há [[fala]] nem [[canto]]. Portanto, a [[posição]] exige sempre algo prévio que possibilite [[fazer]] de dez mil tijolos não uma reunião confusa, mas uma [[casa]]: o prévio é o [[sentido]] e o [[mundo]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O [[próprio]] como [[possibilidades]]". In:------. '''[[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.''' |
Edição atual tal como 14h47min de 20 de março de 2025
Tabela de conteúdo |
1
- "Vejamos três pontos de diferentes tamanhos. No vazio, é impossível determinar a medida, a representação. Só os três entre si possibilitam determinar uma medida. Nos três pontos, o tamanho é determinado pela relação entre eles e não por eles, em si mesmo, quanto ao tamanho" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
2
- "Trinta raios convergem, no círculo de uma roda
- E pelo espaço que há entre eles
- Origina-se a utilidade da roda
- A argila é trabalhada na forma de vasos
- E no vazio origina-se a utilidade deles
- Origina-se a utilidade da roda
- Abrem-se portas e janelas nas paredes da casa
- E pelos vazios é que podemos utilizá-la
- Assim, da não-existência vem a utilidade, e
- da existência, a posse" (1)
- Referência:
- (1) LAO TSE. Tao te king - O livro do sentido e da vida. Tradução e Introdução Norberto de Paulo Lima. São Paulo: Hemus Editora, 1983, p. 39.
3
- "Numa fossa da vida, quando distamos igualmente da esperança e do desespero, e a banalidade de todo dia estende um vazio onde se nos afigura indiferente se há ou não empenho. Ressoa novamente a questão: a existência se dá sempre como o penhor de todo empenho e desempenho" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: -----. Aprendendo a pensar. Petrópolis R/J: Vozes, 1977, p. 45.
4
- “A não-ação do sábio não é a inação.
- Não é estudada. Coisa alguma a abala.
- O sábio é quieto porque não se altera
- Não porque ele queira ser quieto”.
....................................................
- “O coração do sábio está tranquilo.
- É o espelho do céu e da terra.
- O espelho de tudo.
- É vazio, é quieto, é tranquilo, é sem-sabor
- O silêncio, a não-ação: esta é a medida do céu e da terra”.
.........................................................
- “Assim, do vazio do sábio surge a quietude:
- Da quietude, a ação. Da ação, a realização.
- Da sua quietude vem sua não-ação, que é também ação
- E é, portanto, sua realização.
- Pois a quietude é alegria. A alegria é isenta de preocupações,
- Fértil por muitos anos.
- A alegria faz tudo despreocupadamente:
- O silêncio e a não-ação
- Eis a raiz de todas as coisas” (1).
- Referência:
- (1) TZU, Chuang. “Ação e não-ação”. In: MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 106.
5
- "Nós ocidentais temos a tendência de pensar o vazio como o nada, como algo completamente oco. Mas o pensamento originário de Chuang Tzu nos mostra que o vazio não é vazio. É um vazio cheio de possibilidades, de potencialidades, um vazio pleno, um vazio-todo, bem diferente do vazio-nada como o pensamento mecanicista do Ocidente percebe" (1).
- Referência:
- (1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 164.
6
- A ideia de autor propalada desde a Modernidade é falha porque não se abre para o acontecer da realidade, entendendo esta como o que vigora. Se a denominamos, sempre impropriamente, de imaginação, silêncio, vazio, nada criativo, é porque como finitos temos sempre de nos mover no limite. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela finitude. Criar mesmo nunca criamos, não somos autores de nada, mas acontece em nós o advir ao sentido a própria realidade, o vazio de que nos fala o pensador. Mover-se na autoria é ainda ficar restrito à entificação subjetiva. Mas sem ser não há ente. Deve haver dialética entre língua e linguagem, entre silêncio e fala. O oleiro faz a jarra com o que a realidade lhe oferece, mas quem lhe dá sentido e acolhimento é o vazio. O poético é isso e é essencialmente dialético.
7
- "Tanto os nós como as ligações precisam do “entre” enquanto identidade das diferenças. Uma tal faceta do “entre” aparece bem claramente na imagem-questão: rede. Uma tal faceta é o vazio, o silêncio. A rede sem o vazio/silêncio não se pode constituir como rede, ou seja, como “fios” e “nós”. A rede é uma doação do vazio e do silêncio. O vazio é o não-limite do silêncio e seu sentido. A língua enquanto código é a rede enquanto fios e nós. Mas assim como a rede precisa do vazio/silêncio, a língua precisa da linguagem. Por isso, a linguagem é a mãe de todas as línguas, assim como o vazio é a origem de todas as redes, de todos os códigos. E o silêncio é a origem de todas as falas e escutas, enquanto energia de sentido, verdade e mundo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 33.
8
- "A fala, cada fala, pressupõe a rede e nela toda a rede se faz presente/ausente. Porém, essa presença e ausência se sustenta e vigora a partir do vazio ou silêncio. Este é o tempo originário, o tempo que continuamente se triparte e não triparte, se o pensamos como memória, se pensamos que essa tripartição vive de um entre-tempo, que é o presente, que nada mais é do que o presentificado em tensão (“entre”) com o presentificável (Os gregos denominaram esse tempo presente eterno: aion, onde o eterno é o entre, a memória)" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 33.
9
- "P - O vazio é então a mesma coisa que o nada, isto é, o vigor que procuramos pensar como o outro de toda vigência e de toda ausência?
- J - De certo. É por isso que no Japão logo entendemos a conferência O que é metafísica? que nos chegou em 1930, numa tradução feita por um estudante japonês, seu ouvinte. Ainda hoje estranhamos que os europeus pudessem ter caído na armadilha de interpretar niilisticamente o nada discutido na conferência. Para nós, o vazio é o nome mais elevado para se designar o que o senhor quer dizer com a palavra ser..." (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem...". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 87.
10
- P - Assim, enquanto andarilho da mensagem de desvelamento da duplicidade, o homem seria também o andarilho dos limites do ilimitado.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem...". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 107.
11
- "A época é uma dádiva do vazio, um entre céu e terra. E o que o vazio nos doa? O sentido poético, o ético da eks-sistência e de toda ação poética. No sentido ético-poético se manifesta o humano do ser humano" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
12
- "Toda posição é posição em mudança. Esta não se resolve numa sucessividade justaposta. A justaposição de dez mil tijolos ainda não é uma casa. Esta implica mais do que as suas posições. Exige em primeiro lugar o vazio, onde eles poderão ocupar uma posição. Sem vazio não há posição. Sem silêncio não há fala nem canto. Portanto, a posição exige sempre algo prévio que possibilite fazer de dez mil tijolos não uma reunião confusa, mas uma casa: o prévio é o sentido e o mundo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.