Ecologia
De Dicionário de Poética e Pensamento
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: Manuel Antônio de Castro (org.). [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.''' |
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- | : "Se atentarmos para as [[palavras]] gregas que deram [[origem]] à formação da [[palavra]] [[ecologia]], chegaremos a uma primeira [[compreensão]] complexa. “Eco-†vem do [[substantivo]] grego “ ''oikia'' â€, que significa [[morada]]. “Logia†vem da complexÃssima [[palavra]] ''[[Logos]]''â€. O entendimento da [[ecologia]] como o estudo e a preservação do meio natural – em geral o [[conceito]] veiculado – decorre da [[dicotomia]] metafÃsica e moderna pela qual se operam as separações das diferentes [[instâncias]] da [[realidade]]. No caso presente, é a separação entre [[natureza]] e [[cultura]]. Isso é falso e prejudicial ao entendimento e alcance da [[ecologia]]. Temos de ver isso seriamente. Se tomarmos ao pé da letra a formação da [[palavra]] [[ecologia]], a partir das [[palavras]] gregas, diremos, com propriedade, que [[ecologia]] é a [[morada]] da [[linguagem]]. O que [[é]] isto – a [[morada]]? O que [[é]] isto – a [[linguagem]]?" (1). | + | : "Se atentarmos para as [[palavras]] gregas que deram [[origem]] à formação da [[palavra]] [[ecologia]], chegaremos a uma primeira [[compreensão]] complexa. “Eco-†vem do [[substantivo]] grego “ ''oikia'' â€, que significa [[morada]]. “Logia†vem da complexÃssima [[palavra]] ''[[Logos]]'' â€. O entendimento da [[ecologia]] como o estudo e a preservação do meio natural – em geral o [[conceito]] veiculado – decorre da [[dicotomia]] metafÃsica e moderna pela qual se operam as separações das diferentes [[instâncias]] da [[realidade]]. No caso presente, é a separação entre [[natureza]] e [[cultura]]. Isso é falso e prejudicial ao entendimento e alcance da [[ecologia]]. Temos de ver isso seriamente. Se tomarmos ao pé da letra a formação da [[palavra]] [[ecologia]], a partir das [[palavras]] gregas, diremos, com propriedade, que [[ecologia]] é a [[morada]] da [[linguagem]]. O que [[é]] isto – a [[morada]]? O que [[é]] isto – a [[linguagem]]?" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: Manuel Antônio de Castro (org.). [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.''' |
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- | : "Trata-se de [[pensar]] (na poético-ecologia) a [[sociedade]] em [[rede]] e a [[Terra]] como uma grande [[teia]] [[poética]], a [[teia]] da [[vida]]. Porém, não há como [[pensar]] essa [[teia]] [[poética]] sem repensar o [[lugar]] do [[homem]] centrado na [[subjetividade]] [[moderna]]. As [[contradições]] e consequências desta – para a sobrevivência da [[Terra]] e do próprio [[Homem]] – lançam o desafio de [[pensar]] o [[humano]] do [[homem]] em novos parâmetros de [[convivência]] entre si e com a própria [[Mãe-terra]], tendo como [[horizonte]] inequÃvoco o seu esgotamento e até sua [[possÃvel]] destruição. Sem a [[Mãe-terra]] ainda haverá o [[homem]]?" (1). | + | : "Trata-se de [[pensar]] (na poético-ecologia) a [[sociedade]] em [[rede]] e a [[Terra]] como uma grande [[teia]] [[poética]], a [[teia]] da [[vida]]. Porém, não há como [[pensar]] essa [[teia]] [[poética]] sem repensar o [[lugar]] do [[homem]] centrado na [[subjetividade]] [[moderna]]. As [[contradições]] e consequências desta – para a sobrevivência da [[Terra]] e do próprio [[Homem]] – lançam o desafio de [[pensar]] o [[humano]] do [[homem]] em novos parâmetros de [[convivência]] entre si e com a própria [[Mãe]]-[[terra]], tendo como [[horizonte]] inequÃvoco o seu esgotamento e até sua [[possÃvel]] destruição. Sem a [[Mãe]]-[[terra]] ainda haverá o [[homem]]?" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 11.''' |
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: "[[Ecologia]] é uma [[questão]]. A [[questão]] é maior do que o [[homem]]. No [[questionar]] não é o [[homem]] que questiona. É a [[questão]] que nos questiona. Para [[questionar]] é preciso [[dialogar]]. O [[diálogo]] é uma [[questão]]. No [[dialogar]] não é o [[homem]] que dialoga. É o ''[[logos]]'' que nos dialoga" (1). | : "[[Ecologia]] é uma [[questão]]. A [[questão]] é maior do que o [[homem]]. No [[questionar]] não é o [[homem]] que questiona. É a [[questão]] que nos questiona. Para [[questionar]] é preciso [[dialogar]]. O [[diálogo]] é uma [[questão]]. No [[dialogar]] não é o [[homem]] que dialoga. É o ''[[logos]]'' que nos dialoga" (1). | ||
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: Devemos [[compreender]] que o [[homem]] só se torna [[humano]] na medida em que deixa nele [[vigorar]] a [[questão]]. | : Devemos [[compreender]] que o [[homem]] só se torna [[humano]] na medida em que deixa nele [[vigorar]] a [[questão]]. | ||
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- | : "A [[ecologia]] é uma [[questão]]. Não qualquer [[questão]], mas a [[questão]] que exige de nós [[posições]] cada vez mais imediatas e [[fundamentais]]. Tomar [[posição]] é decidir guiados pelo [[agir]]. [[Agir]] no [[sentido]] [[fundamental]] se diz [[originária]] e [[criativamente]] [[poietizar]]. E então me perguntei como [[dialogar]] com a [[ecologia]] a | + | : "A [[ecologia]] é uma [[questão]]. Não qualquer [[questão]], mas a [[questão]] que exige de nós [[posições]] cada vez mais imediatas e [[fundamentais]]. Tomar [[posição]] é decidir guiados pelo [[agir]]. [[Agir]] no [[sentido]] [[fundamental]] se diz [[originária]] e [[criativamente]] [[poietizar]]. E então me perguntei como [[dialogar]] com a [[ecologia]] a partir do [[poietizar]], do [[criar]], isto é, da [[poética]]. É que no [[começo]] era o [[poietizar]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: Manuel Antônio de Castro (org.). [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.''' |
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- | : "Se formos em nossa [[compreensão]] da [[ecologia]] além do [[estudo]] da [[natureza]] e de sua | + | : "Se formos em nossa [[compreensão]] da [[ecologia]] além do [[estudo]] da [[natureza]] e de sua preservação, do [[estudo]] dos ecossistemas e seu equilÃbrio, que fazem da [[ecologia]] uma [[disciplina]], teremos que nos abrir para o [[fundamento]] [[originário]] da [[ecologia]]. Se atentarmos para as [[palavras]] [[gregas]] que deram [[origem]] à [[formação]] da [[palavra]] [[ecologia]], chegaremos a uma primeira [[compreensão]] complexa. “''Eco''†vem do [[substantivo]] “''oikia''â€, que significa [[morada]]. “''Logia''†vem da complexÃssima [[palavra]] "''[[Logos]]''â€. O entendimento da [[ecologia]] como o [[estudo]] e a preservação do meio [[natural]] – em geral o [[conceito]] veiculado – decorre da [[dicotomia]] [[metafÃsica]] e [[moderna]] pela qual se operam as separações das [[diferentes]] [[instâncias]] da [[realidade]]. No caso [[presente]], é a separação [[entre]] [[natureza]] e [[cultura]]. Isso é [[falso]] e prejudicial ao [[entendimento]] e alcance da [[ecologia]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: Manuel Antônio de Castro (org.). [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.''' |
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- | : "Quando o [[diálogo]] é tomado em sua [[essência]], devemos sair do âmbito | + | : "Quando o [[diálogo]] é tomado em sua [[essência]], devemos sair do âmbito superficial do [[ciclo]] da [[comunicação]] e nos perguntarmos pelo ''[[logos]]'' de todo [[diá-logo]]. No [[diálogo]] e na [[ecologia]] já temos uma base comum: o ''[[logos]]'', a [[linguagem]]. Porém, a [[linguagem]] como [[apelo]] do [[mesmo]] nos é ofertado no ''[[poietizar]]'' dos [[poetas]], nas [[obras poéticas]]. Então se quisermos [[saber]] o que é [[ecologia]] devemos [[necessariamente]] nos voltar para as [[obras poéticas]], [[morada]] da [[linguagem]], afastando de nossa [[mente]] a [[dicotomia]] [[moderna]] pela qual se opõe [[natureza]] e [[cultura]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: Manuel Antônio de Castro (org.). [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.''' |
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- | : "A [[pandemia]] foi uma surpresa para todos (em particular para os astrólogos e quiromantes), mas não para os [[cientistas]]. Há anos que epidemiologistas vinham alertando para a eventualidade de uma [[pandemia]] semelhante à atual, como consequência direta da degradação e destruição de [[diferentes]] | + | : "A [[pandemia]] foi uma surpresa para todos (em particular para os astrólogos e quiromantes), mas não para os [[cientistas]]. Há anos que epidemiologistas vinham alertando para a eventualidade de uma [[pandemia]] semelhante à atual, como consequência direta da degradação e destruição de [[diferentes]] ecossistemas. |
- | : Se não formos capazes de [[criar]] novos [[modelos]] de gestão dos | + | : Se não formos capazes de [[criar]] novos [[modelos]] de gestão dos recursos [[naturais]] do [[planeta]], enfrentaremos outras [[pandemias]], mais perigosas do que a [[atual]]" (1). |
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- | : (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Recomeçando o mundo". In: | + | : (1) AGUALUSA, José Eduardo.''' "Recomeçando o [[mundo]]". In: O Globo, Segundo Caderno, 2-1-2021, p. 6.''' |
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- | : "Acredito muito na [[meditação]] como um [[processo]] de [[transformação]] [[social]], [[polÃtica]] e | + | : "Acredito muito na [[meditação]] como um [[processo]] de [[transformação]] [[social]], [[polÃtica]] e econômica, porque a [[pessoa]] que desperta percebe que estamos interligados a [[tudo]] e a todos, que somos a [[vida]] da [[Terra]]. E que, se cuidarmos de [[tudo]] à nossa volta, estamos cuidando de nós" (1). |
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+ | : (1) MONJA COEN.''' "Você só cura uma [[coisa]] se reconhecer que ela existe", Entrevista, David Barbosa. In: O Globo, Segundo Caderno, 26-01-2021, p. 4.''' | ||
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+ | : "... a [[ecologia]] como a [[casa]] da [[linguagem]] exige [[radicalmente]] o [[corpo]] [[Terra]]-[[Céu]]-[[Mundo]] [[originário]] de [[Eros]]. Isso é o [[poético]]. [[Eros]] [[é]] o [[poético]]. O [[poético]], sendo [[Eros]], é a [[energia]] que cinde, é a [[dor]] [[paixão]]. Por isso, a [[obra de arte]] é [[mundo]] porque é [[Eros]] e é [[Eros]] porque é [[mundo]]. Não podemos reduzir de modo algum a [[obra de arte]] a [[formas]] de [[linguagem]]. [[Obra de arte]] é [[corpo]]-[[mundo]] enquanto reunião das [[diferenças]] de [[Céu]] e [[Terra]], de [[Homem]] e [[Mulher]]" (1). | ||
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- | : (1) | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 20.''' |
Edição atual tal como 22h25min de 19 de fevereiro de 2025
Tabela de conteúdo |
1
- "A ecologia é uma questão que jamais pode ser reduzida a uma disciplina. Uma tal redução pode ser perigosa para a ecologia, para nós. Não podemos esquecer nunca: a ecologia é uma questão" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.
2
- "Se atentarmos para as palavras gregas que deram origem à formação da palavra ecologia, chegaremos a uma primeira compreensão complexa. “Eco-†vem do substantivo grego “ oikia â€, que significa morada. “Logia†vem da complexÃssima palavra Logos â€. O entendimento da ecologia como o estudo e a preservação do meio natural – em geral o conceito veiculado – decorre da dicotomia metafÃsica e moderna pela qual se operam as separações das diferentes instâncias da realidade. No caso presente, é a separação entre natureza e cultura. Isso é falso e prejudicial ao entendimento e alcance da ecologia. Temos de ver isso seriamente. Se tomarmos ao pé da letra a formação da palavra ecologia, a partir das palavras gregas, diremos, com propriedade, que ecologia é a morada da linguagem. O que é isto – a morada? O que é isto – a linguagem?" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.
3
- "Trata-se de pensar (na poético-ecologia) a sociedade em rede e a Terra como uma grande teia poética, a teia da vida. Porém, não há como pensar essa teia poética sem repensar o lugar do homem centrado na subjetividade moderna. As contradições e consequências desta – para a sobrevivência da Terra e do próprio Homem – lançam o desafio de pensar o humano do homem em novos parâmetros de convivência entre si e com a própria Mãe-terra, tendo como horizonte inequÃvoco o seu esgotamento e até sua possÃvel destruição. Sem a Mãe-terra ainda haverá o homem?" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 11.
4
- "O planeta nunca foi o mesmo. Ao longo do tempo, temos passado ao largo dessa questão, como se ela não nos importasse para entendermos melhor onde estamos. E o que enfrentamos, a cada momento, para existir. Um simples dado ignorado sobre o planeta pode nos revelar alguma coisa fundamental sobre nós mesmos. Talvez esse simples dado, sobre a existência do que não conhecemos, nos explique o que não conseguimos explicar até agora" (1).
- O autor está tecendo essas reflexões diante da pandemia, provocada pela epidemia do coronavirus.
- (1) DIEGUES, Cacá. "Um alerta contemporâneo". Crônica publicada em O Globo, Primeiro Caderno - Opinião, 16-03-2020, p. 3.
5
- "Ecologia é uma questão. A questão é maior do que o homem. No questionar não é o homem que questiona. É a questão que nos questiona. Para questionar é preciso dialogar. O diálogo é uma questão. No dialogar não é o homem que dialoga. É o logos que nos dialoga" (1).
- Devemos compreender que o homem só se torna humano na medida em que deixa nele vigorar a questão.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.
6
- "A ecologia é uma questão. Não qualquer questão, mas a questão que exige de nós posições cada vez mais imediatas e fundamentais. Tomar posição é decidir guiados pelo agir. Agir no sentido fundamental se diz originária e criativamente poietizar. E então me perguntei como dialogar com a ecologia a partir do poietizar, do criar, isto é, da poética. É que no começo era o poietizar" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 16.
7
- "Se formos em nossa compreensão da ecologia além do estudo da natureza e de sua preservação, do estudo dos ecossistemas e seu equilÃbrio, que fazem da ecologia uma disciplina, teremos que nos abrir para o fundamento originário da ecologia. Se atentarmos para as palavras gregas que deram origem à formação da palavra ecologia, chegaremos a uma primeira compreensão complexa. “Eco†vem do substantivo “oikiaâ€, que significa morada. “Logia†vem da complexÃssima palavra "Logosâ€. O entendimento da ecologia como o estudo e a preservação do meio natural – em geral o conceito veiculado – decorre da dicotomia metafÃsica e moderna pela qual se operam as separações das diferentes instâncias da realidade. No caso presente, é a separação entre natureza e cultura. Isso é falso e prejudicial ao entendimento e alcance da ecologia" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.
8
- "Quando o diálogo é tomado em sua essência, devemos sair do âmbito superficial do ciclo da comunicação e nos perguntarmos pelo logos de todo diá-logo. No diálogo e na ecologia já temos uma base comum: o logos, a linguagem. Porém, a linguagem como apelo do mesmo nos é ofertado no poietizar dos poetas, nas obras poéticas. Então se quisermos saber o que é ecologia devemos necessariamente nos voltar para as obras poéticas, morada da linguagem, afastando de nossa mente a dicotomia moderna pela qual se opõe natureza e cultura" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 17.
9
- "A pandemia foi uma surpresa para todos (em particular para os astrólogos e quiromantes), mas não para os cientistas. Há anos que epidemiologistas vinham alertando para a eventualidade de uma pandemia semelhante à atual, como consequência direta da degradação e destruição de diferentes ecossistemas.
- Se não formos capazes de criar novos modelos de gestão dos recursos naturais do planeta, enfrentaremos outras pandemias, mais perigosas do que a atual" (1).
- Referência:
- (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Recomeçando o mundo". In: O Globo, Segundo Caderno, 2-1-2021, p. 6.
10
- o solo abriu bem os braços
- e disse levante os pés
- a árvore disse vou te dar vida
- o ar disse me respire
- a terra disse
- cuide do que cuida de você
- e nós lhes demos as costas (1)
- - traÃção
- Referência:
- (1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 103.
11
- nós destruÃmos
- nosso único lar
- por conveniência e lucro
- mas nada disso será útil
- quando a terra
- ficar sem ar (1)
- Referência:
- (1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 104.
12
- "Acredito muito na meditação como um processo de transformação social, polÃtica e econômica, porque a pessoa que desperta percebe que estamos interligados a tudo e a todos, que somos a vida da Terra. E que, se cuidarmos de tudo à nossa volta, estamos cuidando de nós" (1).
- Referência:
- (1) MONJA COEN. "Você só cura uma coisa se reconhecer que ela existe", Entrevista, David Barbosa. In: O Globo, Segundo Caderno, 26-01-2021, p. 4.
13
- "... a ecologia como a casa da linguagem exige radicalmente o corpo Terra-Céu-Mundo originário de Eros. Isso é o poético. Eros é o poético. O poético, sendo Eros, é a energia que cinde, é a dor paixão. Por isso, a obra de arte é mundo porque é Eros e é Eros porque é mundo. Não podemos reduzir de modo algum a obra de arte a formas de linguagem. Obra de arte é corpo-mundo enquanto reunião das diferenças de Céu e Terra, de Homem e Mulher" (1).
- Referência: