Identidade
De Dicionário de Poética e Pensamento
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticosâ€. In: TAVARES, Renata (org.). ''O que me move, de Pina Bausch'' – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82. | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticosâ€. In: TAVARES, Renata (org.). ''O que me move, de Pina Bausch'' – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82. | ||
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Edição de 16h00min de 19 de Dezembro de 2019
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- Identidade é possibilidade de ser. O possÃvel é o que já nos foi doado pelo Ser para sermos e constitui nosso próprio. Somente somos sendo, existindo numa constante travessia, como nos diz Guimarães Rosa em Grande Sertão: veredas. E os sábios chineses a denominaram caminho ou Tao. Toda caminhada inclui o histórico, o cultural e o social sem lhes ficar dependente, pelo contrário, transfigurando-os. A identidade é o que nos foi doado pelo ser, de uma maneira única e própria, enfim, aquilo que nos foi destinado e, por isso, constitui nosso destino.
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- "A palavra grega homologia se compõe de dois étimos: hom- e lg. O primeiro remete para a igualdade que, em união com as diferenças, constitui a identidade. Na homologia prevalece a concordância sobre a divergência. É que tanto a igualdade quanto a diferença vivem, na identidade, de uma tensão de contrários. A igualdade não somente tolera a diferenciação como se nutre das diferenças para elaborar uma identidade fecunda, que não apenas partilha, mas compartilha com os homens de todas as épocas. Pois é a dinâmica desta união matriz que cumpre o segundo étimo lg, de homo-logia" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: -----. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 7.
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- A identidade é a unidade das diferenças. Só como diferença pode vigorar identidade, pois esta pressupõe a diferença na qual e pela qual cada um é ele mesmo, para si mesmo, o mesmo. Se bem observarmos, há sempre a necessidade de uma mediação, mas em que o o que é é referenciado a o como é, noutras palavras o que é se dá, manifesta, enquanto o pensar-se, sendo este então o o como é. A mediação é o entre originário de ser e pensar, de einai e noein, segundo Parmênides no frag. III. Na referenciação de ser e pensar vigora sempre o mesmo. O mesmo é o próprio, que é originariamente verbal, pois o mesmo é sempre o vigorar da unidade. Então identidade, como conceito, representação, ideia geral, gênero, se reduz a uma igualdade ou uniformidade. Identidade se torna conhecimento apenas, isto é, a manifestação objetiva de uma subjetividade. É o sentido do especular filosófico-cientÃfico moderno. Nesse sentido, identidade é sempre uma falsa questão, pois perde o sentido concreto de experienciar-se enquanto próprio. Todo próprio é uma essência verbal.
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- "É primeiramente imprescindÃvel que seja marcada uma diferença inicial entre identidade e unidade. Identidade, por um lado, se relaciona com a unidade, mas, por outro, substantivamente, difere desta. Esta diferença está presente desde o idioma grego. O uno se diz em grego hén, e o idêntico se diz tò autós. É para se notar que o um é apenas ele mesmo e tem sua vigência, portanto, como um substantivo. O uno é substantivo e é concreto, isto é, é capaz de desencadear sua própria realidade, e portanto é capaz de desencadear realidade. O idêntico, tò autós, por sua vez, é, em grego, um pronome ou um adjetivo que vem substantivado, em geral, por um artigo. A identidade, por sua vez, só pode ser compreendida em decorrência de um processo de comparação de, no mÃnimo, uma unidade com outra. Ela tem por caracterÃstica localizar-se no plano abstrato das comparações, e desse modo, impõe a presença necessária de uma instância ajuizadora, essa instância ajuizadora é por sua vez uma ideia ou, num sentido que pode ser mais amplo, a constituição de um gênero. A identidade, portanto só é capaz de se estabelecer a partir de uma mediação, quer dizer, a identidade não prescinde de um termo de comparação de um termo médio" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 38-9.
- Ver também:
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- Identidade é a unidade das diferenças. Só como diferença pode haver identidade, pois a identidade pressupõe a diferença na qual e pela qual cada um é ele mesmo para si mesmo o mesmo. O mesmo é o vigorar da unidade. Então identidade como conceito se reduz a uma igualdade ou uniformidade, ou seja, é uma falsa questão e um esquecimento do próprio de toda diferença. A igualdade pressupõe o modelo, mas sem que possa apreender e compreender o que é a realidade acontecendo.
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- "A identidade tem funcionado sempre como um operacionalizador, isto é: é por meio da identidade que se torna possÃvel à dimensão, subsumindo qualquer relacionamento do que é dimensionado com e pelo concreto, operar sua conversão a um aspecto meramente quantitativo. A identidade, por seus traços mais marcantes, converte as unidades concretas em unidades ideais, e, desse modo, faz compreender, na possibilidade de exercer um processo de mediação, pelo gênero, isto é, pelo conceito genérico. Fundada na semelhança, a identidade busca operar, no sentido da constituição de gêneros, uma redução do real, desde uma multiplicidade de unidades concretas até unidades ideais e gerais" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 38.
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- "É no espelho que se decide a identidade de Narciso. A leitura popular de Narciso como narcisismo oculta o próprio sentido do mito: subjetividade e morte, ou seja, a identidade. A volta para si faz do homem moderno um ser às voltas com seu interior e subjetividade. E nela mergulha até atingir o inculto terreno do inconsciente" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Machado de Assis e a identidade brasileira". In: ------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 202.
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- "A dança jamais pode se por a serviço de qualquer sistema, caso contrário perderá sua identidade, seu próprio. E qual é o próprio da dança, a sua identidade? Esta identidade não pode ser diferente da identidade de todo ser humano. O próprio é a medida de cada um. À realização dessa medida corresponde a história de cada um, que é sempre singular e irrepetÃvel. Ou ao menos deveria ser. A medida é o destino" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticosâ€. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.
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- "A identidade não tira. A identidade dá. Dá a riqueza do crescimento, por não se perder nem dispersar, mas se conservar e manter nas diferenças que gera. O perigo do crescimento é dissipar-se tanto nas diferenças que se perde da identidade. Este perigo é uma constante em nossos esforços de pensar, sempre à procura de novidades" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A Morte do Pensador". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 1977, p. 146.
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- "Por detrás de todo humanismo há uma questão maior, porque essencial e não apenas atributiva e acidental. É o desafio de pensar o humano de todo ser humano, em todas as épocas e culturas no seu ético. Como não se pode separar o humano histórico de todo e qualquer ser humano, houve a necessidade de se pensar o universal de uma maneira não apenas epistemológica, mas ontológica, isto é, onde haja uma unidade do universal com o singular e próprio, da identidade com a diferença, numa permanente dialética e diálogo" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 20.
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- "Ensinar é um dar e prestar. Mas o que no ensino se dá e se presta, não são conteúdos, doutrinas, técnicas, em uma palavra, informações apenas. São condições e indicações para se tomar e aprender por si mesmo o que já se tem. Por isso, se alguém aprende e toma apenas conteúdos e doutrinas, técnicas e know how, se armazena apenas informações, não aprende. Pois aprender não é acumular, como crescer não é aumentar de tamanho. Só aprende quem sabe no que compreende, o sabor do que já possui, a riqueza misteriosa de sua identidade" (1).
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e ensinar". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 48.
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- "O entre do diálogo é a possibilidade do diálogo como mundo, como o sentido do eu e do tu que dialogam, mas também do que no diálogo se dialoga. Esse “entre†aparece na terceira estrofe do poema Autopsicografia (de Fernando Pessoa) como entre-ter. Este, porém, surge da força que previamente nos estabelece o caminho, ao girarmos nas calhas de roda. Estas são uma imagem-questão do que chamamos de há muito e desde sempre: destino. Com ele advém o sentido profundo e ambÃguo de “girar a entreterâ€. E aqui podemos “ler†o “entre-ter†num outro sentido mais profundo: no jogar do destino somos tidos e entre-tecidos no horizonte do “entreâ€: o logos abismal de todas as identidades. O que no diálogo se entretece é o que somos como mundo, não aquele em que já estamos lançados, mas o que no entretecer se tece como aprender e ensinar, ou seja, como o que devemos tecer na teia da vida, isto é, ser o que já desde sempre somos (destino)" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 30.
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- "Energia ancestral. Esta é a que recebemos ao sermos concebidos e provém de nossos pais, que a receberam de seus pais e assim sucessivamente, ou seja, temos uma ligação profunda e originária com a famÃlia. Ela é memória imemorial. Os gregos denominavam a unidade e origem das famÃlias e das pessoas: genos. Este genos (de onde se forma a palavra genética) passa, como energia, a ser tudo, a própria energia Qi. É ela também que faz com que cada um tenha um próprio, aquilo que cada um é, sua identidade e essência. Em si, a energia Qi é infinita e inesgotável. Contudo, aquela que cada um recebe do genos e pais é finita, originando a morte. E então se coloca a questão da relação essencial entre infinito e finito para nós" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Filosofia e o pensamento do corpo". In: Desdobramentos do corpo no século XXI. MONTEIRO, Maria Conceição & GIUCCI, Guilhermo (orgs.). Rio de Janeiro: FAPERJ, Editora Caetés, 2016, p. 23.