Coração

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Frase escutada popularmente: "[[Coração]] da gente é [[terra]] que ninguém habita". Como [[ler]] e [[interpretar]] essa afirmação de profunda [[sabedoria]]? O [[coração]] é muito mais do que a [[compreensão]], pois também abriga e se torna a não-[[compreensão]], não como simples negação, mas como o [[não-limite]] de todo [[limite]], como o inacessível de todo acolhimento, de toda [[identidade]] da [[diferença]], da [[proximidade]] de toda [[distância]]. O [[coração]] é muito mais do que a [[compreensão]] porque é [[fonte]] de toda [[compreensão]], assim como o [[silêncio]] é a [[fonte]] de toda [[fala]]. O [[coração]] nunca se pode tornar um [[conceito]], ele, ao ser “[[terra]] que ninguém habita”, é a [[concretização]] da [[questão]], em que o [[mistério]] se dá como [[presença]]. O [[sou]] do [[eu]] nunca pode ser ocupado por qualquer [[outro]] [[sou]]. Caso isso acontecesse algum [[sou]] seria anulado, deixaria de [[ser]], porque todo [[sou]] é único, é um [[próprio]], e abismalmente solitário, porque [[possibilidade]] de [[plenitude]], ''[[eros]]'', [[amor]]. Eis o [[motivo]] pelo qual nossos [[sentimentos]] são tão indefinidos, pois têm sua [[fonte]] no [[coração]] e não simplesmente na [[razão]], no [[sentido]] racional e [[moderno]]. E nesse [[horizonte]] o [[sentimento]], tendo [[origem]] no [[coração]], é [[vida]].  
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: "''[[Energia]] do [[coração]]''. Por sua [[essência]], esta é a [[energia]] mais difícil de [[nomear]] e caracterizar. Na verdade, as [[palavras]] existentes já referem [[algo]] que esta [[energia]] ultrapassa. Até a [[palavra]] [[energia]] já lhe é [[imprópria]]. Ela [[é]], mas não sabemos o que seja, embora seja larga e continuamente [[experienciada]]. Sua [[presença]] é [[indiscutível]]. Mas foge totalmente ao alcance da [[ciência]], porque não é [[experimentável]] e [[calculável]]. Ela se [[caracteriza]] por nos [[afetar]] enquanto [[algo]] de qualidade e [[simplicidade]], sem jamais [[poder]] ser quantificada, como acontece com nossos [[afetos]]. Ela pode-se [[denominar]] com [[propriedade]] como [[energia]] do [[coração]], porque nos [[afeta]] e [[afeta]] as nossas [[relações]] com os [[outros]] e com todo o [[universo]] nas [[dimensões]] de [[proximidade]] e [[distância]]. De algum modo ela contém todas as demais [[energias]]. Seria ''[[Qi]]'' em sua [[plenitude]] de [[atuação]] e [[presença]]. As [[relações]] não são apenas [[funcionais]], mas também [[existenciais]]. A [[tradicional]] [[divisão]] do [[corpo]] em [[matéria]] e [[psique]], [[matéria]] e [[espírito]] etc., é-lhe totalmente [[estranha]], inadequada, [[imprópria]]. É [[algo]] que nos impulsiona e arrasta e toma e envolve de uma maneira inexplicada, mas efetiva e [[real]]. Na sua [[presença]] deixa de [[haver]] [[tempo]] e [[espaço]], [[limite]] e [[não-limite]], bem como a tricotomia [[temporal]] de [[passado]], [[presente]] e [[futuro]]. [[Ocidentalmente]] foi denominada ''[[libido]]'' e a melhor [[apreensão]] e [[experienciação]] [[acontece]] no [[mito]] de [[Eros]]" (1).
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: "''[[Energia]] do [[coração]]''. Por sua [[essência]], esta é a [[energia]] mais difícil de [[nomear]] e caracterizar. Na verdade, as [[palavras]] existentes já referem [[algo]] que esta [[energia]] ultrapassa. Até a [[palavra]] [[energia]] já lhe é [[imprópria]]. Ela [[é]], mas não sabemos o que seja, embora seja larga e continuamente [[experienciada]]. Sua [[presença]] é indiscutível. Mas foge totalmente ao alcance da [[ciência]], porque não é experimentável e [[calculável]]. Ela se caracteriza por nos [[afetar]] enquanto [[algo]] de qualidade e [[simplicidade]], sem jamais [[poder]] ser quantificada, como acontece com nossos [[afetos]]. Ela pode-se [[denominar]] com [[propriedade]] como [[energia]] do [[coração]], porque nos [[afeta]] e [[afeta]] as nossas [[relações]] com os [[outros]] e com todo o [[universo]] nas [[dimensões]] de [[proximidade]] e [[distância]]. De algum modo ela contém todas as demais [[energias]]. Seria ''[[Qi]]'' em sua [[plenitude]] de [[atuação]] e [[presença]]. As [[relações]] não são apenas [[funcionais]], mas também [[existenciais]]. A [[tradicional]] divisão do [[corpo]] em [[matéria]] e [[psique]], [[matéria]] e [[espírito]] etc., é-lhe totalmente estranha, inadequada, [[imprópria]]. É [[algo]] que nos impulsiona e arrasta e toma e envolve de uma maneira inexplicada, mas efetiva e [[real]]. Na sua [[presença]] deixa de haver [[tempo]] e [[espaço]], [[limite]] e [[não-limite]], bem como a tricotomia [[temporal]] de [[passado]], [[presente]] e [[futuro]]. [[Ocidentalmente]] foi denominada ''[[libido]]'' e a melhor [[apreensão]] e [[experienciação]] [[acontece]] no [[mito]] de [[Eros]]" (1).
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:  (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 58.
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: "E que outra [[coisa]] não é a [[oração]] senão a [[habilidade]] de [[falar]] e [[escutar]] o [[próprio]] [[coração]]? É daí que tudo começa" (1).
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: (1) GALLIAN, Dante. "É próprio do humano saber refletir e discernir". In: "---. '''É próprio do humano'''. Rio de Janeiro: Editora Record, 2022, 1. e., p. 111.

Edição atual tal como 22h50min de 25 de Agosto de 2022

Tabela de conteúdo

1

Frase escutada popularmente: "Coração da gente é terra que ninguém habita". Como ler e interpretar essa afirmação de profunda sabedoria? O coração é muito mais do que a compreensão, pois também abriga e se torna a não-compreensão, não como simples negação, mas como o não-limite de todo limite, como o inacessível de todo acolhimento, de toda identidade da diferença, da proximidade de toda distância. O coração é muito mais do que a compreensão porque é fonte de toda compreensão, assim como o silêncio é a fonte de toda fala. O coração nunca se pode tornar um conceito, ele, ao ser “terra que ninguém habita”, é a concretização da questão, em que o mistério se dá como presença. O sou do eu nunca pode ser ocupado por qualquer outro sou. Caso isso acontecesse algum sou seria anulado, deixaria de ser, porque todo sou é único, é um próprio, e abismalmente solitário, porque possibilidade de plenitude, eros, amor. Eis o motivo pelo qual nossos sentimentos são tão indefinidos, pois têm sua fonte no coração e não simplesmente na razão, no sentido racional e moderno. E nesse horizonte o sentimento, tendo origem no coração, é vida.


- Manuel Antônio de Castro

2

"A primeira etapa para dar início à criação teve o objetivo de fazer o Ser Objetivo Divino (Atum) conceber em seu próprio coração (que, em termos cósmicos, é o local onde se encontra o intelecto, a mente e a consciência) o conceito do múltiplo (seres divinos) a partir do Um, isto é, o Big Bang " (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "O Ser Humano". In: ------. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 93.

3

"Lutar contra o coração é difícil, pois se paga com a vida" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 85. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 81.

4

"O coração tem razões que a própria razão desconhece" (1).


(1) PASCAL, Blaise. Pensador francês, 1623-1662.

5

"Energia do coração. Por sua essência, esta é a energia mais difícil de nomear e caracterizar. Na verdade, as palavras existentes já referem algo que esta energia ultrapassa. Até a palavra energia já lhe é imprópria. Ela é, mas não sabemos o que seja, embora seja larga e continuamente experienciada. Sua presença é indiscutível. Mas foge totalmente ao alcance da ciência, porque não é experimentável e calculável. Ela se caracteriza por nos afetar enquanto algo de qualidade e simplicidade, sem jamais poder ser quantificada, como acontece com nossos afetos. Ela pode-se denominar com propriedade como energia do coração, porque nos afeta e afeta as nossas relações com os outros e com todo o universo nas dimensões de proximidade e distância. De algum modo ela contém todas as demais energias. Seria Qi em sua plenitude de atuação e presença. As relações não são apenas funcionais, mas também existenciais. A tradicional divisão do corpo em matéria e psique, matéria e espírito etc., é-lhe totalmente estranha, inadequada, imprópria. É algo que nos impulsiona e arrasta e toma e envolve de uma maneira inexplicada, mas efetiva e real. Na sua presença deixa de haver tempo e espaço, limite e não-limite, bem como a tricotomia temporal de passado, presente e futuro. Ocidentalmente foi denominada libido e a melhor apreensão e experienciação acontece no mito de Eros" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Filosofia e o pensamento do corpo". In: Desdobramentos do corpo no século XXI. MONTEIRO, Maria Conceição & GIUCCI, Guilhermo (orgs.). Rio de Janeiro: FAPERJ, Editora Caetés, 2016, p. 24.

6

"O jejum do coração esvazia as faculdades, liberta-as dos liames e das preocupações. O jejum do coração é a origem da unidade e da liberdade" (1).


Referência:
(1) MERTON, Thomas. "Quando o sapato se adapta". In: A via de Chuang Tzu, 9.e. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999, p. 71.

7

se alguém não tem coração
não adianta você sair por aí
oferecendo o seu (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 58.

8

"E que outra coisa não é a oração senão a habilidade de falar e escutar o próprio coração? É daí que tudo começa" (1).


Referência:
(1) GALLIAN, Dante. "É próprio do humano saber refletir e discernir". In: "---. É próprio do humano. Rio de Janeiro: Editora Record, 2022, 1. e., p. 111.