Destino

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 16h05min de 28 de Junho de 2019 por Profmanuel (Discussão | contribs)


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"Pensa-se que destino é o que a razão, fonte do livre agir do ser humano, não podia determinar nem controlar. Pela visão racionalista, o destino se opõe à liberdade humana. No existir o ser humano deve-se dar livremente a sua essência, o seu genos enquanto o seu quinhão. Nessa visão racionalista, a existência precede e determina a essência. O existir enquanto o como é deve determinar livremente o que é. O homem não tem um destino, dá-se um destino. Esta foi a utopia moderna, esquecida dos ensinamentos de mito de Édipo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26.

2

"Destino é o que no homem se destina, o que ele recebe sem ter decidido, assim como aquele a quem dirigimos uma carta é chamado de destinatário, quer tenha escolhido recebê-la ou não. O homem é o destinatário do destino. Destino é o que ele já recebeu para ser, suas origens, sem as quais ele não é. Não se pode pular a própria sombra: só se pode ser a partir das origens, que em nós se dão para que sejamos" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 134.

3

"O grande paradoxo em Édipo é que quanto mais foge mais cumpre o seu destino. Então o destino, ligado ao genos, à família, lhe traz o aprendizado de uma aprendizagem. Uma aprendizagem que o liberta para o que é pelo que não é nem pode por ele mesmo chegar a ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 27.

4

"Ser livre não é só fazer o que desejamos da vida, mas escutar o que a Vida, como dimensão que nos excede, quer de nós: Ela nos envia, como destino, um sentido de missão a se realizar. A Vida Incessante, que não cessa de nascer e perecer, é maior do que a vida de cada homem, pois outros seres viveram antes de mim e outros seres viverão quando não mais estiver aqui. Se o homem é o único entre todos os seres que recebeu o livre arbítrio, o arbítrio só é livre na medida em que é a escuta do interlúdio que constitui o seu destino" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.

5

Sentido é a tarefa que nos cabe realizar como o motivo do existir, do que desde sempre já somos. É nosso destino. Este é o deixar manifestar-se, eclodir, o sentido do que já somos. Nenhuma doutrina, nenhum modelo, nenhum sistema o pode dar. E não o pode dar porque o destino é nosso dote, nossa moira, é nossas possibilidades, é nossa essência humana. Destino enquanto sentido é o humano de todo ser humano.


- Manuel Antônio de Castro.

6

"Destino são nossas possibilidades contínuas que nenhuma ação, nenhuma escolha, nenhuma realização chega a cumprir e dissolver, a eliminar. Toda realização é retomar no realizado o não-realizado. Eis a ventura e aventura de existir, sempre nova, sempre inaugural, sempre desafiante" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antonio de. “Ser e estar”. In:----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 30.

7

Há sempre em tudo três questões prévias para o aprender a pensar: o que é o ser humano? o que é a realidade? o que é o destino? E a palavra exata para se dimensionar o aprender a pensar é a questão do sentido. Por isso, o destino é a linha diretriz do horizonte das duas outras questões prévias. No destino está o sentido do que somos e não somos e, existindo, estamos a caminho de o realizar para chegar a sê-lo. Destino é o caminho a ser trilhado para manifestação do sentido que já nos foi dado. Se o destino é nosso próprio, o sentido é o caminho necessário do que somos. Desse modo, é impossível separar as três questões: o sentido da realidade é o humano se realizando em seu destino. Isso se torna para nós o real ou mundo.


- Manuel Antônio de Castro

8

"Durante um momento nossas vidas navegam a favor ou contra a corrente. Porém, é a corrente que decide nosso destino" (1).


Referência:
(1) Fala da personagen Sofie, no filme Sofie, de Liv Ullmann.

9

O que é Destino? É desvelar enquanto presença o que nos foi presenteado. Cada presença-destino, enquanto questão, é um desvelamento do que não cessa de se velar no destinar-se do sentido do Ser, do Nada. Toda presença participa do desvelamento ou verdade na medida em que este é Destino do Ser. Por isso, toda presença, enquanto desvelamento ou verdade, vigora no diálogo e enquanto diálogo, pois não há desvelamento sem velamento ou verdade sem não-verdade. A presença-destino é o Ser se Essencializando enquanto Linguagem e Verdade. Isso é poiesis enquanto sentido ético, ou seja, o sentido do Ser.


- Manuel Antônio de Castro

10

"Hermenêutica tem a ver com Hermes, o mensageiro do destino. Destino é para os homens de todos os tempos o envio do mistério de ser e realizar-se no tempo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: -------. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 6.


11

"Não tem cada um o seu código genético e dentro deste a sua história, a sua travessia? A medida de nosso destino, de nosso próprio, de nossa identidade, é o princípio, ou seja, o vigorar da dobra de caos e cosmo" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.


12

"Quem diz que na vida tudo se escolhe? O que castiga, cumpre também" (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 13. e., 1979, p. 165.


13

"O mito é julgado e descartado a partir do logos, reduzido à razão. E o mito sempre falou do ser humano como pertencente a um genos (de onde se forma a palavra moderna genética). Indicava uma família, um gênero (formada também de genos), uma etnia. Como família tinha algo em comum, o genos, mas cada um dentro desse genos recebia um quinhão, a sua “cota” no genos da família. O nome para esse quinhão foi e é: Moira. A tradução mais tradicional não é quinhão, mas destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26.


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"O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser, mas nunca é a fatalidade de uma coação. Pois o homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino. A essência da liberdade não pertence originariamente à vontade e nem tampouco se reduz à causalidade do querer humano. A liberdade rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, des-encoberto. A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do desencobrimento, ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre, dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.


15

Lei é a vida enquanto destino. Quando dizemos "é" já estamos nos movendo na Essência. Mas o que é a Essência para que possamos dizer o que é a Lei, o que é a Vida, o que é o Destino? A Essência da Lei é a Lei da Essência. Nem sempre nos damos conta de que desde que nascemos já estamos vivendo sob o poder da Lei. Porém, ela, nesse domínio e poder, toma diferentes faces e dimensões, daí a impressão falsa da liberdade de nossa vontade e de que a lei é algo externo ao que há de mais profundo em nós.


- Manuel Antônio de Castro


16

Não se nota que, perante o destino, o tempo deixa de ser uma divisão tricotômica entre passado, presente e futuro. Em verdade, o destino se configura em três questões que são uma e a mesma: vida, morte, tempo. Falar da lei da vida, da morte ou do tempo é ainda se mover na questão radical da lei como destino.


- Manuel Antônio de Castro

17

"Jogar a questão e sua solução para a culpa é não querer se defrontar com outra dimensão em que se vive o viver: a vida da vida é um dote, um destino. Todo e qualquer destino já está inscrito no próprio destinar-se do ser como sentido. Receber a vida para morrer não é, repetimos sempre, algo negativo, mas é a lei do destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 211.


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"Neste sentido, por nele agir para que possa agir, a ação do entre é destino. Este entendido não como o previamente escrito que tornasse o homem um títere, e, sim, como o envio do que nele se destina. O homem é o destinatário da liberdade que o destino lhe envia, aviando-o para a travessia da existência" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "O homem e a interpretação: da escuta do destino à liberdade". In: CASTRO, Manuel Antônio de e Outros (Org.). O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 104.


19

"O destino jamais foi personificado e, em consequência, Moira e Aisa não foram antropomorfizadas: pairam soberanas acima dos deuses e dos homens, sem terem sido elevadas à categoria de divindades distintas. A Moira, o destino, em tese, é fixo, imutável, não podendo ser alterado nem pelos próprios deuses" (1).


Referência:
(1) BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega, vol. I. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986, p. 141.
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