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De Dicionrio de Potica e Pensamento
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+ | : O leitor encontra aqui ensaios que questionam e pensam essencialmente o ''[[símbolo]]''. | ||
+ | : HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010. | ||
+ | : HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar”. In: ---. '''Ensaios e conferências'''. Trad. Márcia Sá Cavalcente Schuback Petrópolis: Vozes,2002. | ||
+ | : FOGEL, Gilvan. “O desaprendizado do símbolo (a poética do ver imediato)". In: '''Permanência e atualidade da poética'''. Revista '''Tempo Brasileiro, 171''', out.-dez., 2007. | ||
+ | : BACHELARD, Gaston. '''A psicanálise do fogo''' (PF). Trad. Maria Isabel Braga. Lisboa: Estúdios Cor, 1971. | ||
+ | : BACHELARD, Gaston. '''A poética do espaço''' (PE). Trad. Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos LEAL. Rio de Janeiro: Eldorado, s / d. | ||
+ | : DE FARIA, Maria Lúcia Guimarães. “Bachelard e a permanência da poética”. In: '''Permanência e atualidade da poética'''. Revista '''Tempo Brasileiro, 171''', out.-dez., 2007. | ||
+ | : JUNG, Carl G e Outros. '''O homem e seus símbolos''', 10. e., especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d. | ||
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+ | : Eis aí um [[conceito]] nuclear, embora seja portador de uma ampla [[semântica]]. "Todas as [[identidade|identidades]] estão localizadas no [[espaço]] e no [[tempo]] [[simbólicos]]. Elas têm aquilo que Edward Said chama de suas geografias [[imaginário|imaginárias]]" (1). O [[simbólico]] não tem o [[vigor]] em si mesmo. Há, por exemplo, [[silêncio]] [[simbólico]]. Porém, não é o [[simbólico]] que fala, mas o [[vigor]] do [[silêncio]]. | ||
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+ | : (1) HALL, Stuart. '''A [[identidade]] [[cultural]] na [[pós-modernidade]]. Rio de Janeiro: DP7A, 2001, p. 71.''' | ||
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- | :Heidegger em ''A origem da [[obra]] de [[arte]]'' trata do símbolo, em que ocorre uma separação entre a [[coisa]], o [[suporte]] e o que além disso ela "expressa": o símbolo. Ele se coloca contra essa separação, na medida em que não aceita a noção de "coisa" como "suporte". Nos ensaios "A coisa" e "Construir, habitar, pensar", desenvolve o que entende por "coisa". E no ensaio "Construir, habitar, pensar" retorna à questão do símbolo. Só podemos apreender e compreender os equívocos que o conceito de símbolo possui se aprofundarmos o que é "coisa" poética e originariamente. Heidegger nesse ensaio dá o exemplo de uma "ponte" como "coisa". E então diz: "Enquanto expressão, a ponte pode tornar-se, por exemplo, símbolo para tudo aquilo que mencionamos anteriormente. Se for autêntica, a ponte nunca é primeiro e apenas ponte e depois um símbolo. A ponte tampouco é, de antemão, um símbolo, no sentido de exprimir algo que, em sentido rigoroso, a ela não pertence. Tomada em sentido, a ponte nunca se mostra como expressão. A ponte é uma coisa e somente isso" (1). | + | : [[Heidegger]] em ''A [[origem]] da [[obra]] de [[arte]]'' trata do [[símbolo]], em que ocorre uma separação entre a [[coisa]], o [[suporte]] e o que além disso ela "expressa": o [[símbolo]]. Ele se coloca contra essa separação, na medida em que não aceita a noção de "[[coisa]]" como "suporte". Nos [[ensaios]] "A [[coisa]]" e "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]", desenvolve o que entende por "[[coisa]]". E no [[ensaio]] "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]" retorna à [[questão]] do [[símbolo]]. Só podemos apreender e [[compreender]] os equívocos que o conceito de [[símbolo]] possui se aprofundarmos o que é "[[coisa]]" [[poética]] e originariamente. [[Heidegger]] nesse [[ensaio]] dá o exemplo de uma "ponte" como "[[coisa]]". E então diz: |
+ | : "Enquanto expressão, a ponte pode tornar-se, por exemplo, [[símbolo]] para tudo aquilo que mencionamos anteriormente. Se for autêntica, a ponte nunca é primeiro e apenas ponte e depois um [[símbolo]]. A ponte tampouco é, de antemão, um [[símbolo]], no [[sentido]] de exprimir [[algo]] que, em [[sentido]] rigoroso, a ela não pertence. Tomada em [[sentido]], a ponte nunca se mostra como expressão. A ponte é uma [[coisa]] e somente isso" (1). | ||
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- | :A questão | + | : A [[questão]] do [[símbolo]] está fundamentalmente ligada à discussão do [[significado]] e do [[sentido]] convencional ou natural das [[palavra|palavras]]. A [[questão]] é que não se pode confundir [[sentido]] e significado. Tudo isso radica nos muitos significados que a [[palavra]] [[grega]] ''[[lógos]]'' foi sofrendo pela visão [[metafísica]] e racionalista. O mesmo se pode dizer da outra [[palavra]] fundamental: ''[[phýsis]]''. A [[tradução]] por [[natureza]] pode desfigurar completamente o seu [[sentido]] [[poético]] e [[originário]]. Dessas duas [[palavras]] há duas visões básicas: a epistemológica e a ontológica. Segundo cada uma destas posições, o [[símbolo]] terá [[sentidos]] radicalmente diferentes. Para uma [[visão]] epistemológica e [[metafísica]] [[ver]] (1). Para uma visão ontológica, [[ver]] (2). |
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- | :"No grego ''symbolon'' (de ''symbálleo'', juntar, fazer conjunto) era um cubo ou um osso que se repartia entre dois hóspedes, como sinal de um compromisso. Transmitindo-se aos descendentes de ambos, podiam estes conferir os seus 'símbolos' e ter assim a prova de antigos liames de hospitalidade" (1). Como ocorre muito com a criação poética e de pensamento, as palavras são engravidadas de sentidos originários. É o que ocorre com o uso da palavra símbolo por Platão em ''O Banquete''. De maneira alguma aí a palavra símbolo significa algo que remete ou representa outra coisa ou realidade. Platão nesse contexto fala de complementaridade, de um "entre si", de que é constituído o ser humano. O "entre-si" remete, no caso, para a conjunção no homem e na mulher, do masculino e do feminino, eroticamente vistos. O símbolo como símbolo destaca sempre os constituintes e não o vigor e vigência ambígua do que como princípio pode constituir. Daí o sentido genérico de representação e representado. | + | : "No [[grego]] ''symbolon'' (de ''symbálleo'', juntar, fazer conjunto) era um cubo ou um osso que se repartia entre dois hóspedes, como sinal de um compromisso. Transmitindo-se aos descendentes de ambos, podiam estes conferir os seus '[[símbolos]]' e ter assim a prova de antigos liames de hospitalidade" (1). |
+ | : Como ocorre muito com a [[criação]] [[poético|poética]] e de [[pensamento]], as [[palavras]] são engravidadas de [[sentido|sentidos]] [[originário|originários]]. É o que ocorre com o uso da [[palavra]] [[símbolo]] por [[Platão]] em ''O Banquete''. De maneira alguma aí a palavra [[símbolo]] significa [[algo]] que remete ou representa outra [[coisa]] ou [[realidade]]. [[Platão]] nesse contexto fala de complementaridade, de um "[[entre]] si", de que é constituído o [[ser]] [[humano]]. O "entre-si" remete, no caso, para a conjunção no [[homem]] e na [[mulher]], do [[masculino]] e do [[feminino]], eroticamente vistos. O [[símbolo]] como [[símbolo]] destaca sempre os constituintes e não o vigor e [[vigência]] ambígua do que como [[princípio]] pode constituir. Daí o [[sentido]] genérico de [[representação]] e representado. | ||
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+ | : "Ver pela primeira vez é [[ver]] ''des-habitualmente'', ver imediatamente, ou seja, ver, ter presente e [[evidente]] sem a [[mediação]], sem a intermediação do velho, do já visto e já sabido, porque já dado e já previamente constituído, ao qual é reduzido ou reconduzido - subsumido! - o novo, o inédito, que é também sempre singular. Enfim, ver pela primeira vez é não ter e não ver através da mediação do [[conceito]], do ''[[símbolo]]''. [[Conceito]] é [[símbolo]]. O saber representativo-conceptual - o [[conhecimento]] - é simbólico" (1). | ||
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+ | : (1) FOGEL, Gilvan.''' "O desaprendizado do [[símbolo]] (A [[poética]] do [[ver]] imediato)". In: Revista Tempo Brasileiro, 171, [[Permanência]] e atualidade da [[Poética]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 43.''' | ||
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+ | : "O papel dos [[símbolos]] religiosos é dar [[significação]] à [[vida]] do [[homem]]. Os índios pueblos acreditam que são filhos do Pai [[Sol]], e esta [[crença]] dá a suas [[vidas]] uma [[perspectiva]] (e um [[objetivo]]) que ultrapassa a sua limitada [[existência]]; abre-lhes [[espaço]] para um maior desdobramento das suas [[personalidades]] e permite-lhes uma [[vida]] plena como [[seres humanos]]" (1). | ||
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+ | : (1) JUNG, Carl G. "A [[alma]] do [[homem]]". In: JUNG, Carl G e Outros. '''O [[homem]] e seus [[símbolos]]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.''' | ||
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+ | : Só o [[sentido]] possibilita [[plenitude]], a plena [[realização]] das [[possibilidades]] que todo [[ser humano]] já recebeu, ou seja, seu [[destino]]. Portanto, [[destino]] diz a morte como [[horizonte]] de [[possibilidade]] de [[realização]] do [[sentido]] da [[vida]], que nos advém no [[saber]] inerente a todo [[questionar]]. Há [[questionar]] quando se fazem e assumem [[perguntas]] essenciais, aquelas que só se podem [[fundar]] no [[sentido]], uma vez que este se diferencia do [[significado]], ou seja, o [[sentido]] reduzido a uma [[representação]] sígnica. Em vista disso todo [[sentido]] remete para uma [[significação]], que não pode ser reduzida a uma [[representação]] sígnica e, sim, pode remeter para um [[símbolo]], sobretudo religioso. | ||
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+ | : "O [[mito]] que se apoderou de São Paulo fez dele algo muito maior que um mero artesão. | ||
+ | : Um [[mito]] assim, no entanto, consiste de [[símbolos]] que não foram conscientemente inventados. Aconteceram. Não foi o [[homem]] Jesus que criou o [[mito]] do homem-deus: este já existia muitos séculos antes do seu nascimento. E ele mesmo foi dominado por esta [[ideia]] simbólica que, segundo São Marcos, o elevou para muito além da obscura [[vida]] de um carpinteiro de Nazaré" (1). | ||
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+ | : (1) JUNG, Carl G. "A [[alma]] do [[homem]]". In:''' JUNG, Carl G e Outros. O [[homem]] e seus [[símbolos]]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.''' | ||
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+ | : "O que chamamos [[símbolo]] é um termo, um [[nome]] ou mesmo uma [[imagem]] que nos pode ser familiar na [[vida]] diária, embora possua conotações especiais além de seu [[significado]] evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós. Muitos monumentos cretenses, por exemplo, trazem o desenho de um duplo enxó. Conhecemos o [[objeto]], mas ignoramos suas implicações [[simbólicas]]" (1). | ||
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+ | : (1) JUNG, Carl G.''' "A importância dos [[sonhos]]". In: JUNG, Carl G e Outros. O [[homem]] e seus [[símbolos]], 10. e. especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 20.''' | ||
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+ | : "Por existirem inúmeras [[coisas]] fora do alcance da [[compreensão]] [[humana]] é que frequentemente utilizamos termos [[simbólicos]] como [[representação]] de um [[conceito]] que não podemos [[definir]] ou [[compreender]] integralmente. Esta é uma das [[razões]] por que todas as [[religiões]] empregam uma [[linguagem]] [[simbólica]] e se exprimem através de [[imagens]]. Mas este uso consciente que fazemos de [[símbolos]] é apenas um aspecto de um [[fato]] [[psicológico]] de grande importância: o [[homem]] também produz [[símbolos]], insconsciente e espontaneamente, na [[forma]] e [[sonhos]]" (1). | ||
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+ | : (1) JUNG, Carl G.''' "A importância dos [[sonhos]]". In: JUNG, Carl G e Outros. O [[homem]] e seus [[símbolos]], 10. e., especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 21.''' | ||
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+ | : "Por [[definição]], um [[símbolo]] não é aquilo que representa, mas o que significa, o que sugere. Um [[símbolo]] mostra à [[mente]] uma [[realidade]] diferente de si [[próprio]]. As [[palavras]] transmitem [[informações]], os [[símbolos]] evocam a [[compreensão]]" (1). | ||
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+ | : (1) GADALLA, Moustafa.''' "Neteru, os [[Anjos]] de [[Deus]]". In: -----. [[Cosmologia]] egípcia - o [[universo]] animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 64.''' | ||
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+ | : "E como foi resolvida a incompatibilidade [[entre]] o que diziam as [[obras]] [[mítico]]-[[poéticas]] e as [[obras]] [[religiosas]]? Claro que estas deveriam determinar aquelas, numa [[sociedade]] dominada pela [[religião]]. Além do [[suporte]] [[filosófico]]-[[teológico]], a sua [[exegese]] se baseou em um recurso usado até hoje para classificar, comentar, [[interpretar]] e [[analisar]] as [[obras de arte]]: Estas, é claro, também diziam a [[verdade]] (e nem poderia ser de outra maneira, dada a excelência e [[profundidade]] do seu [[conteúdo]]). As [[obras]] [[mítico]]-[[poéticas]] foram reduzidas a [[símbolos]] e [[alegorias]]. [[Tudo]] o que elas diziam era [[simbólico]] e [[alegórico]]. Isso para os [[gregos]] e para o [[Helenismo]] era [[algo]] totalmente desconhecido. Essas [[palavras]] não aparecem no [[diálogo]] ''[[Íon]]'' de [[Platão]]. As [[obras]] eram a própria [[manifestação]] da [[realidade]]. E essa era a sua [[verdade]]. Por isso, em [[grego]], [[verdade]] diz-se: ''[[a-letheia]]'', [[desvelamento]], des-encobrimento" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Leitura]] e [[Crítica]]". In: ---------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 126.''' | ||
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+ | : "O [[homem]] [[grego]] não via na [[tragédia]] de [[Sófocles]] ''[[Édipo Rei]]'' (e nas outras [[obras]]) nenhum [[símbolo]] e nenhuma [[alegoria]]. O que acontecia no palco era um [[espelho]]/[[reflexão]] do que poderia [[acontecer]] com ele. Daí a [[questão]] apontada por Aristóteles em sua ''[[Poética]]'', a ''[[catarsis]]''. As [[questões]] que as [[obras]] abordavam eram as suas [[questões]], pois também não havia de maneira alguma o termo [[ficção]]. Isso foi uma [[invenção]] [[moderna]], para [[diferenciar]] a [[realidade]] das [[obras poéticas]] e a [[realidade]] positivista estabelecida pela [[verdade]] [[científica]]. Para o [[homem]] [[grego]] em geral, para os grandes [[pensadores]] e grandes [[poetas]], não havia a [[verdade]] qualificada ou [[atributiva]]. [[Verdade]] é simplesmente [[verdade]]" (1). | ||
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- | :(1) | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Leitura]] e [[Crítica]]". In: ---------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 126.''' |
Edição atual tal como 20h47min de 2 de janeiro de 2025
0
- Bibliografia.
- O leitor encontra aqui ensaios que questionam e pensam essencialmente o símbolo.
- HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010.
- HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar”. In: ---. Ensaios e conferências. Trad. Márcia Sá Cavalcente Schuback Petrópolis: Vozes,2002.
- FOGEL, Gilvan. “O desaprendizado do símbolo (a poética do ver imediato)". In: Permanência e atualidade da poética. Revista Tempo Brasileiro, 171, out.-dez., 2007.
- BACHELARD, Gaston. A psicanálise do fogo (PF). Trad. Maria Isabel Braga. Lisboa: Estúdios Cor, 1971.
- BACHELARD, Gaston. A poética do espaço (PE). Trad. Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos LEAL. Rio de Janeiro: Eldorado, s / d.
- DE FARIA, Maria Lúcia Guimarães. “Bachelard e a permanência da poética”. In: Permanência e atualidade da poética. Revista Tempo Brasileiro, 171, out.-dez., 2007.
- JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos, 10. e., especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d.
1
- Eis aí um conceito nuclear, embora seja portador de uma ampla semântica. "Todas as identidades estão localizadas no espaço e no tempo simbólicos. Elas têm aquilo que Edward Said chama de suas geografias imaginárias" (1). O simbólico não tem o vigor em si mesmo. Há, por exemplo, silêncio simbólico. Porém, não é o simbólico que fala, mas o vigor do silêncio.
- Referência:
- (1) HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP7A, 2001, p. 71.
2
- Heidegger em A origem da obra de arte trata do símbolo, em que ocorre uma separação entre a coisa, o suporte e o que além disso ela "expressa": o símbolo. Ele se coloca contra essa separação, na medida em que não aceita a noção de "coisa" como "suporte". Nos ensaios "A coisa" e "Construir, habitar, pensar", desenvolve o que entende por "coisa". E no ensaio "Construir, habitar, pensar" retorna à questão do símbolo. Só podemos apreender e compreender os equívocos que o conceito de símbolo possui se aprofundarmos o que é "coisa" poética e originariamente. Heidegger nesse ensaio dá o exemplo de uma "ponte" como "coisa". E então diz:
- "Enquanto expressão, a ponte pode tornar-se, por exemplo, símbolo para tudo aquilo que mencionamos anteriormente. Se for autêntica, a ponte nunca é primeiro e apenas ponte e depois um símbolo. A ponte tampouco é, de antemão, um símbolo, no sentido de exprimir algo que, em sentido rigoroso, a ela não pertence. Tomada em sentido, a ponte nunca se mostra como expressão. A ponte é uma coisa e somente isso" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 133.
3
- A questão do símbolo está fundamentalmente ligada à discussão do significado e do sentido convencional ou natural das palavras. A questão é que não se pode confundir sentido e significado. Tudo isso radica nos muitos significados que a palavra grega lógos foi sofrendo pela visão metafísica e racionalista. O mesmo se pode dizer da outra palavra fundamental: phýsis. A tradução por natureza pode desfigurar completamente o seu sentido poético e originário. Dessas duas palavras há duas visões básicas: a epistemológica e a ontológica. Segundo cada uma destas posições, o símbolo terá sentidos radicalmente diferentes. Para uma visão epistemológica e metafísica ver (1). Para uma visão ontológica, ver (2).
- Referências:
- (1) NEVES, Maria Helena de Moura. A vertente grega da gramática tradicional. São Paulo: Hucitec, 1987.
- (2) BEAUFRET, Jean. Dialogue avec Heidegger III. Paris: Minuit, 1974, especialmente o ensaio: "Du logos au langage".
4
- "No grego symbolon (de symbálleo, juntar, fazer conjunto) era um cubo ou um osso que se repartia entre dois hóspedes, como sinal de um compromisso. Transmitindo-se aos descendentes de ambos, podiam estes conferir os seus 'símbolos' e ter assim a prova de antigos liames de hospitalidade" (1).
- Como ocorre muito com a criação poética e de pensamento, as palavras são engravidadas de sentidos originários. É o que ocorre com o uso da palavra símbolo por Platão em O Banquete. De maneira alguma aí a palavra símbolo significa algo que remete ou representa outra coisa ou realidade. Platão nesse contexto fala de complementaridade, de um "entre si", de que é constituído o ser humano. O "entre-si" remete, no caso, para a conjunção no homem e na mulher, do masculino e do feminino, eroticamente vistos. O símbolo como símbolo destaca sempre os constituintes e não o vigor e vigência ambígua do que como princípio pode constituir. Daí o sentido genérico de representação e representado.
- Referência:
- (1) SOUZA, José Cavalcante de. Nota de tradução. "O Banquete" In: Os Pensadores. Platão. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 24.
- Ver também:
5
- "... o símbolo, como a alegoria, de que nos fala Walter Benjamin, não é apenas a face inquieta de uma operação linguística, mas, e aqui reside a sua força, é antes o processamento dialético da realidade, a apreensão global do movimento alternado das contradições. O símbolo não é somente uma instauração, porque é a força instauradora" (1).
- Referência:
- (1) PORTELLA, Eduardo. Limites ilimitados da teoria literária. In: PORTELLA, Eduardo e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991, p. 13.
6
- "Ver pela primeira vez é ver des-habitualmente, ver imediatamente, ou seja, ver, ter presente e evidente sem a mediação, sem a intermediação do velho, do já visto e já sabido, porque já dado e já previamente constituído, ao qual é reduzido ou reconduzido - subsumido! - o novo, o inédito, que é também sempre singular. Enfim, ver pela primeira vez é não ter e não ver através da mediação do conceito, do símbolo. Conceito é símbolo. O saber representativo-conceptual - o conhecimento - é simbólico" (1).
- Referência:
- (1) FOGEL, Gilvan. "O desaprendizado do símbolo (A poética do ver imediato)". In: Revista Tempo Brasileiro, 171, Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 43.
7
- "O papel dos símbolos religiosos é dar significação à vida do homem. Os índios pueblos acreditam que são filhos do Pai Sol, e esta crença dá a suas vidas uma perspectiva (e um objetivo) que ultrapassa a sua limitada existência; abre-lhes espaço para um maior desdobramento das suas personalidades e permite-lhes uma vida plena como seres humanos" (1).
- Referência:
- (1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.
8
- Só o sentido possibilita plenitude, a plena realização das possibilidades que todo ser humano já recebeu, ou seja, seu destino. Portanto, destino diz a morte como horizonte de possibilidade de realização do sentido da vida, que nos advém no saber inerente a todo questionar. Há questionar quando se fazem e assumem perguntas essenciais, aquelas que só se podem fundar no sentido, uma vez que este se diferencia do significado, ou seja, o sentido reduzido a uma representação sígnica. Em vista disso todo sentido remete para uma significação, que não pode ser reduzida a uma representação sígnica e, sim, pode remeter para um símbolo, sobretudo religioso.
9
- "O mito que se apoderou de São Paulo fez dele algo muito maior que um mero artesão.
- Um mito assim, no entanto, consiste de símbolos que não foram conscientemente inventados. Aconteceram. Não foi o homem Jesus que criou o mito do homem-deus: este já existia muitos séculos antes do seu nascimento. E ele mesmo foi dominado por esta ideia simbólica que, segundo São Marcos, o elevou para muito além da obscura vida de um carpinteiro de Nazaré" (1).
- Referência:
- (1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.
10
- "O que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além de seu significado evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós. Muitos monumentos cretenses, por exemplo, trazem o desenho de um duplo enxó. Conhecemos o objeto, mas ignoramos suas implicações simbólicas" (1).
- Referência:
- (1) JUNG, Carl G. "A importância dos sonhos". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos, 10. e. especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 20.
11
- "Por existirem inúmeras coisas fora do alcance da compreensão humana é que frequentemente utilizamos termos simbólicos como representação de um conceito que não podemos definir ou compreender integralmente. Esta é uma das razões por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica e se exprimem através de imagens. Mas este uso consciente que fazemos de símbolos é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância: o homem também produz símbolos, insconsciente e espontaneamente, na forma e sonhos" (1).
- Referência:
- (1) JUNG, Carl G. "A importância dos sonhos". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos, 10. e., especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 21.
12
- "Por definição, um símbolo não é aquilo que representa, mas o que significa, o que sugere. Um símbolo mostra à mente uma realidade diferente de si próprio. As palavras transmitem informações, os símbolos evocam a compreensão" (1).
- Referência:
- (1) GADALLA, Moustafa. "Neteru, os Anjos de Deus". In: -----. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 64.
13
- "E como foi resolvida a incompatibilidade entre o que diziam as obras mítico-poéticas e as obras religiosas? Claro que estas deveriam determinar aquelas, numa sociedade dominada pela religião. Além do suporte filosófico-teológico, a sua exegese se baseou em um recurso usado até hoje para classificar, comentar, interpretar e analisar as obras de arte: Estas, é claro, também diziam a verdade (e nem poderia ser de outra maneira, dada a excelência e profundidade do seu conteúdo). As obras mítico-poéticas foram reduzidas a símbolos e alegorias. Tudo o que elas diziam era simbólico e alegórico. Isso para os gregos e para o Helenismo era algo totalmente desconhecido. Essas palavras não aparecem no diálogo Íon de Platão. As obras eram a própria manifestação da realidade. E essa era a sua verdade. Por isso, em grego, verdade diz-se: a-letheia, desvelamento, des-encobrimento" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 126.
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- "O homem grego não via na tragédia de Sófocles Édipo Rei (e nas outras obras) nenhum símbolo e nenhuma alegoria. O que acontecia no palco era um espelho/reflexão do que poderia acontecer com ele. Daí a questão apontada por Aristóteles em sua Poética, a catarsis. As questões que as obras abordavam eram as suas questões, pois também não havia de maneira alguma o termo ficção. Isso foi uma invenção moderna, para diferenciar a realidade das obras poéticas e a realidade positivista estabelecida pela verdade científica. Para o homem grego em geral, para os grandes pensadores e grandes poetas, não havia a verdade qualificada ou atributiva. Verdade é simplesmente verdade" (1).
- Referência: