Época

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 242.

Edição de 15h38min de 14 de Abril de 2017

1

Época é um conceito e uma questão. Como conceito reduz a obra aos seus aspectos formais, seja sob o ponto de vista de estilo, seja sob o ponto de vista do conteúdo. Na sucessão de estilos, a obra é vista enquanto um produto do tempo cronológico e historiográfico. Porém, a obra, sendo uma questão, se dá como época a partir do que esta palavra significa: retenção, o que se dando se guarda, suspensão. Do quê? Do que na obra opera enquanto no desvelar-se se vela. Por isso, a melhor atitude em relação à obra é considerá-la como lugar, onde este diz a abertura do ser humano, como entre, para o ser. A tal abertura ou lugar se dá o nome de clareira. Época diz sempre clareira. A esse respeito, cabe consultar o que Heidegger diz no ensaio "A sentença de Anaximandro" (1) para ver como a época se relaciona à História.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Pré-socráticos – Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 28.


2

"História do ser significa destino do ser. Nessas destinações, tanto o destinar quanto o ser que se destina retêm-se com a manifestação de si mesmos. Em grego, reter-se equivale a epoché. Por isso se fala da época do destino do ser" (1). Fica bem claro que época, o reter-se, se refere ao que se dando se guarda, isto é, retém-se como o velado de desvelado. Ao se atentar só para a forma dos estilos ou temas, na caracterização e estudo das obras de arte, o que lhes é essencial não se pensa. Época, em sentido essencial, é sempre destino do ser. Nesse sentido, as obras de arte, como vigência do destino, são sempre inaugurais e só podem ser inaugurais porque justamente elas são epocais, isto é, como destino, não cessam de revelar a realidade dizendo-a de muitas maneiras. Estas maneiras é que são propriamente os estilos, mas que não têm sua fonte em si, mas no poder das obras. Nos estilos só enquanto o manifesto nas formas, não se pensa propriamente a epoché, daí a dificuldade de pensar a epoché sem o dar-se. Por isso afirma Ronaldes de Melo e Souza: "Este acontecimento propriamente histórico-ontológico de um dar que somente dá seu dom e a si mesmo se subtrai é o destinar (das Schicken) do evento criptofânico (das Ereignis), a que Heidegger reporta o evento epifânico da Presença (das Sein)" (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin apud SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro: 95, out.-dez., 1988, p. 14.
(2) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 95. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1988, p. 14.


3

"O Ser se vela, como destino, ao destinar-se no homem, pois é essencialmente destino. O velamento é o vigor do destinar-se. A época, para Heidegger, expressa o movimento dialético de desvelar-se e velar-se. A compreensão, portanto, das diferentes épocas só é possível através da dialética que o próprio Ser instaura" (1). "É no destino epocal do Ser que se essencializa a história dos homens" (2).


Referências:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 131.


4

"A época é o ilimitado instituindo limites e o humano emergindo em sua historicidade. Por isso, a verdade do literário, o que vale dizer do humano, radica no ser da historicidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 63.


5

Em nossa vida de travessia, a cada escolha, a cada ação, a cada passo, não é um caminho que se abre, mas muitos. A possibilidade dos muitos caminhos não só pessoais, mas reais, porque igualmente epocais, é a realidade acontecendo enquanto memória. Misteriosamente, a memória é a morte se dando em vida, manifestando-se nos viventes. Ela é muito mais do que a cronologia e a causalidade. Ela é o acontecer poético, que é sem por quê.


- Manuel Antônio de Castro


6

Época é toda interpretação nova e coletiva que é feita a partir do destinar-se do sentido do ser. O sentido do ser acontece na interpretação pelo vigorar da linguagem.


- Manuel Antônio de Castro


7

Arte é desafio humano de criação. Mas o que é criar? O que é ser humano? Por etapas: A concepção de criar ressente-se dos humanismos, frutos de uma metafísica do esquecimento do sentido do Ser. Por metafísica entenda-se aí fundamento. O Cristianismo, via Judaísmo, traduziu o Ser / Physis como fundamento e este como Deus, o Criador. Logo, Deus é o criador de entes e como fundamento tornou-se o ente absoluto, ou seja, o "Então". O que ficou aí esquecido é o sentido do Ser em seu mistério, irredutível à totalidade dos entes, a um "Então". Portanto, a criação não depende de um fundamento, tradicionalmente identificado com sujeito (em grego hypokeimenon e em latim subjectum). Então em arte, o ser humano, identificado ao sujeito, tornou-se o criador das obras de arte, que é uma contradição metafísica. Em verdade o ser humano não cria nada. Ele tem de enfrentar o grande desafio. Qual? De um lado, não nos criamos, de outro, já estamos projetados nas questões, que não criamos, ninguém cria, pois são elas que nos têm, se apossam de nós, independentemente de nossa vontade. É então que entra aí o propriamente humano, ou seja, o artístico: responder ao desafio das questões. Cada obra de arte manifesta o humano porque cada uma é uma tentativa de resposta às questões. E nisso consiste a "criação" artística, ou seja, manifestação do humano. Mas nenhuma resposta dá conta e elimina a questão, porque somos o fundamento ou sujeito das respostas, não das questões. As questões são fundadas pelo Nada. Somos fundados pelo nada. Então criar é responder às questões originárias de modo original, porque cada situação, sempre diferente em seu acontecer, exige de nós novas respostas, ou seja, novas obras de arte, onde o humano se manifesta como destinado pelas questões do sentido do Ser, do Inesperado, no dizer de Heráclito (frag. 18). Cada obra de arte produz manifestação de mundo, o sentido do Ser que se destina no ser humano enquanto pensar. Eis aí a essência verbal da arte em suas épocas e, portanto, da necessidade do contemporâneo.


- Manuel Antônio de Castro


8

"A época da linguagem instrumental reproduz a forma formulada no telos como finalidade ou objetivo. O objeto do objetivo é o tempo da subjetividade racional como medida da representação conceitual da realidade. Sua realidade temporal e histórica se representa na objetividade da subjetividade, enquanto relações e funcionamento das funções das diferentes instâncias das teorias ou disciplinas, em que as realizações da realidade são apreendidas: social, econômica, antropológica, psicológica, política etc." (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.


9

"A época é uma dádiva do vazio, um entre céu e terra. E o que o vazio nos doa? O sentido poético, o ético da eks-sistência e de toda ação poética. No sentido ético-poético se manifesta o humano do ser humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.


10

"A época não é jamais algo geral que está aí para nos tomar e nos determinar. A época só é época enquanto acontecer poético. E todo acontecer é sempre acontecer do mesmo. A época é o mesmo acontecendo. É o humano se desdobrando poeticamente. Quando o humano acontece poeticamente, então o pensar do ser e seu sentido se dá. O ler poético aconteceu" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 283.


11

"Dentro de uma mesma época, pode haver diferentes vocabulários, mas, enquanto época, eles estarão interligados por esse vocabulário mais geral. Então, uma época começa a mudar quando um novo vocabulário começa a se impor. Talvez nenhuma época seja mais exemplar do que a Idade Média, nesse caso. Um vocabulário bem específico a configura e até os pretensos fatos dessa época são lidos, colhidos e organizados já dentro dos limites desse vocabulário. Mas será que sabemos o que esse vocabulário nos diz ou o lemos a partir de nossa atual conjuntura, isto é, a partir de um outro vocabulário?


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 242.
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