Originário
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : "Não podemos confundir o [[conceito]] [[metafísico]] de [[origem]] com a [[questão]] do [[originário]]. A [[origem]] é [[causal]] e linear. O [[originário]] não. Ele é como a [[fonte]] que alimenta [[sempre]] o [[rio]], esteja em que altura estiver a sua correnteza, da [[nascente]] à | + | : "Não podemos confundir o [[conceito]] [[metafísico]] de [[origem]] com a [[questão]] do [[originário]]. A [[origem]] é [[causal]] e linear. O [[originário]] não. Ele é como a [[fonte]] que alimenta [[sempre]] o [[rio]], esteja em que altura estiver a sua correnteza, da [[nascente]] à foz. [[Originária]] é a [[Terra]], que [[sempre]] é a permanente [[fonte]] de toda [[vida]] e de [[todos]] os [[viventes]], inclusive nós [[seres humanos]]. [[Originária]] é a [[mulher]]-[[mãe]] ao conceber, gestar e dar à [[luz]] um [[filho]]. [[Entre]] a primeira [[mulher]] que deu à [[luz]] um [[filho]] e a que hoje dá à [[luz]] um [[filho]] não há [[diferença]] nenhuma do ponto de vista de [[ser]] [[mãe]]-[[mulher]]. A [[mãe]]-[[mulher]] é [[sempre]] [[originária]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poíesis]], [[sujeito]] e [[metafísica]]". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). A [[construção]] [[poética]] do [[real]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 19.''' |
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- | : "[[Originário]] diz algo bem [[diferente]] de [[origem]], pois foge a uma [[interpretação]] [[metafísica]]. Não se identifica nem com [[começo]] nem com [[causa]] enquanto [[essência]]. Por isso, outra [[é]] a [[compreensão]] do [[tempo]]. É um [[tempo]] [[poético]]-[[ontológico]] que consiste em [[estar]] [[sempre]] principiando e constituindo [[realidade]]. Ele não provém de nenhuma [[essência]] essencialista, mas de uma [[Essência]] [[poético]]-[[ontológica]], que consiste em estar [[sempre]] principiando (anfangen) enquanto [[acontecimento]] apropriante (Ereignis). Ele é sem [[fundamento]], é ''Ab-grund'', é abissal, é [[misterioso]]. É nesse sentido que o alemão diz ''Ur-sprung'': o salto-[[originário]], primordial. Ele não diz, portanto, nenhuma [[essência]] essencialista ([[metafísica]]). É | + | : "[[Originário]] diz algo bem [[diferente]] de [[origem]], pois foge a uma [[interpretação]] [[metafísica]]. Não se identifica nem com [[começo]] nem com [[causa]] enquanto [[essência]]. Por isso, outra [[é]] a [[compreensão]] do [[tempo]]. É um [[tempo]] [[poético]]-[[ontológico]] que consiste em [[estar]] [[sempre]] principiando e constituindo [[realidade]]. Ele não provém de nenhuma [[essência]] essencialista, mas de uma [[Essência]] [[poético]]-[[ontológica]], que consiste em estar [[sempre]] principiando (anfangen) enquanto [[acontecimento]] apropriante ([[Ereignis]]). Ele é sem [[fundamento]], é ''Ab-grund'', é abissal, é [[misterioso]]. É nesse sentido que o alemão diz ''Ur-sprung'': o salto-[[originário]], primordial. Ele não diz, portanto, nenhuma [[essência]] essencialista ([[metafísica]]). É puro [[agir]], [[acontecer]]" (1). |
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- | :(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Notas de [[tradução]]. In: [[HEIDEGGER]], Martin. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' Notas de [[tradução]]. In: [[HEIDEGGER]], Martin. A [[origem]] da [[obra de arte]]. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 226.''' |
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- | : “[...]: o [[original]] é o que necessita de um marco inicial e ruma para o limite de um ponto final, logo, estabelece-se uma [[relação]] em que o original é o novo, o último produto de uma linha de montagem. Por outro lado, o [[originário]] é pincelado pela ubiquidade, ou seja, sem antes ou depois, é o [[entre]] que costura o nunca e o sempre na totalidade do Ser enquanto simultaneamente se realiza nos [[ente|entes]], portanto, enquanto está sendo” (1). | + | : “[...]: o [[original]] é o que necessita de um marco inicial e ruma para o limite de um ponto final, logo, estabelece-se uma [[relação]] em que o [[original]] é o novo, o último produto de uma linha de montagem. Por outro lado, o [[originário]] é pincelado pela ubiquidade, ou seja, sem antes ou depois, é o [[entre]] que costura o nunca e o sempre na totalidade do Ser enquanto simultaneamente se realiza nos [[ente|entes]], portanto, enquanto está sendo” (1). |
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- | : (1) PESSANHA, Fábio Santana. ''A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos | + | : (1) PESSANHA, Fábio Santana. '''A [[hermenêutica]] do [[mar]] – Um estudo sobre a [[poética]] de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 163.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidade”. In: ---. | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “A menina e a bicicleta: [[arte]] e confiabilidade”. In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 281.''' |
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- | : "[[Mistério]] vem do [[verbo]] [[grego]] ''myo''. E ''myo'' diz: trancar-se no centro, | + | : "[[Mistério]] vem do [[verbo]] [[grego]] ''myo''. E ''myo'' diz: trancar-se no centro, concentrar-se; diz: encerrar-se no âmago, recolher-se ao [[íntimo]]. Aqui, centro, âmago, [[íntimo]], evocam a [[raiz]] da intensidade, o sumo da [[plenitude]]. [[Mistério]] não diz uma [[coisa]], diz um [[movimento]], o [[movimento]] de [[con-sumar]], de concentrar-se na [[origem]], de [[recolher-se]] à natividade da [[raiz]], de retornar ao sem fundo e [[fundamento]], ao a-bismo de [[ser]]. As [[palavras]], [[Deus]], [[Absoluto]], [[Transcendência]], [[Inconsciente]], [[Espírito]], [[Matéria]], [[Psique]], [[Estrutura]], [[Ser]] são outras tantas [[redes]] em cujas malhas o [[poder]] do [[saber]] [[ocidental]] na [[teologia]], na [[filosofia]], na [[ciência]], [[sempre]] de novo tentou, mas nunca conseguiu, [[prender]] e segurar a [[natividade]] do [[mistério]]" (1). |
: Tentar [[dizer]] o que é [[mistério]] é o [[mesmo]] que tentar [[dizer]] o que é [[originário]], ou seja, [[originário]] é uma outra [[palavra]] para tentar [[dizer]] o que é [[mistério]]. | : Tentar [[dizer]] o que é [[mistério]] é o [[mesmo]] que tentar [[dizer]] o que é [[originário]], ou seja, [[originário]] é uma outra [[palavra]] para tentar [[dizer]] o que é [[mistério]]. | ||
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- | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “[[Heidegger]] e a [[modernidade]]: a correlação de [[sujeito]] e [[objeto]]”. In: ---. | + | : (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro.''' “[[Heidegger]] e a [[modernidade]]: a correlação de [[sujeito]] e [[objeto]]”. In: ---. [[Aprendendo]] a [[pensar]], II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 180.''' |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 28.''' |
Edição atual tal como 19h47min de 9 de Abril de 2025
1
- "Não podemos confundir o conceito metafísico de origem com a questão do originário. A origem é causal e linear. O originário não. Ele é como a fonte que alimenta sempre o rio, esteja em que altura estiver a sua correnteza, da nascente à foz. Originária é a Terra, que sempre é a permanente fonte de toda vida e de todos os viventes, inclusive nós seres humanos. Originária é a mulher-mãe ao conceber, gestar e dar à luz um filho. Entre a primeira mulher que deu à luz um filho e a que hoje dá à luz um filho não há diferença nenhuma do ponto de vista de ser mãe-mulher. A mãe-mulher é sempre originária" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: CASTRO, Manuel Antônio de (org.). A construção poética do real. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 19.
2
- "Originário diz algo bem diferente de origem, pois foge a uma interpretação metafísica. Não se identifica nem com começo nem com causa enquanto essência. Por isso, outra é a compreensão do tempo. É um tempo poético-ontológico que consiste em estar sempre principiando e constituindo realidade. Ele não provém de nenhuma essência essencialista, mas de uma Essência poético-ontológica, que consiste em estar sempre principiando (anfangen) enquanto acontecimento apropriante (Ereignis). Ele é sem fundamento, é Ab-grund, é abissal, é misterioso. É nesse sentido que o alemão diz Ur-sprung: o salto-originário, primordial. Ele não diz, portanto, nenhuma essência essencialista (metafísica). É puro agir, acontecer" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Notas de tradução. In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 226.
3
- "Originário significa aqui aquilo a partir de onde e através do que algo é o que ele é e como ele é. A isto o que algo é, como ele é, chamamos sua essência" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 35.
4
- “[...]: o original é o que necessita de um marco inicial e ruma para o limite de um ponto final, logo, estabelece-se uma relação em que o original é o novo, o último produto de uma linha de montagem. Por outro lado, o originário é pincelado pela ubiquidade, ou seja, sem antes ou depois, é o entre que costura o nunca e o sempre na totalidade do Ser enquanto simultaneamente se realiza nos entes, portanto, enquanto está sendo” (1).
- Referência:
- (1) PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 163.
5
- "Toda obra de arte é originária. Ela não é a-temporal. Pelo contrário, é o tempo em sua densidade máxima, porque na obra de arte acontece poeticamente o tempo da memória. É isso o que nos diz a palavra originário. A dificuldade em compreender e apreender o originário de toda obra de arte decorre de que nosso olhar já está, a priori, armado com algum suporte ou paradigma estético-formal ou ideológico intervencionista, para achar a sua função ou para classificá-la" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidade”. In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 281.
6
- "Mistério vem do verbo grego myo. E myo diz: trancar-se no centro, concentrar-se; diz: encerrar-se no âmago, recolher-se ao íntimo. Aqui, centro, âmago, íntimo, evocam a raiz da intensidade, o sumo da plenitude. Mistério não diz uma coisa, diz um movimento, o movimento de con-sumar, de concentrar-se na origem, de recolher-se à natividade da raiz, de retornar ao sem fundo e fundamento, ao a-bismo de ser. As palavras, Deus, Absoluto, Transcendência, Inconsciente, Espírito, Matéria, Psique, Estrutura, Ser são outras tantas redes em cujas malhas o poder do saber ocidental na teologia, na filosofia, na ciência, sempre de novo tentou, mas nunca conseguiu, prender e segurar a natividade do mistério" (1).
- Tentar dizer o que é mistério é o mesmo que tentar dizer o que é originário, ou seja, originário é uma outra palavra para tentar dizer o que é mistério.
- Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. “Heidegger e a modernidade: a correlação de sujeito e objeto”. In: ---. Aprendendo a pensar, II. Petrópolis / RJ: Vozes, 1992, p. 180.
7
- "As obras de arte não são atemporais. O que é o tempo para que algo esteja ou possa estar fora dele? As obras de arte vigoram a partir do tempo ontológico, originário, e o manifestam em seu vigor. Ao afirmarem o tempo como questão, vão de encontro aos postulados teóricos, conceituais, reducionistas e ideológicos. E para permanentemente afirmarem as questões" (1).
- Referência: