Escrita

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Tanto o [[som]] como a [[letra]] em relação à ''phýsis'' são já manifestação do que em si se oculta. Mas como ''lógos'' e ''poíesis'', o [[som]] e a [[letra]] só o são na tensão [[linguagem]] / [[língua]]. O que nos pode fazer perceber o caráter [[originário]] ou não tanto de [[som]] como de [[letra]] é [[pensar]] o que significa etimologicamente o [[verbo]] latino ''fingere''. Os seus cinco significados principais: [[fingir]], [[dissimular]], [[educar]], [[formar]] e [[imaginar]] devem ser lidos no dar [[figura]] a algo pelo qual o [[vazio]] se dá como [[limite]] e muro, nisso consistindo o radical de ''fingere''. Mas, então, aí temos a tensão radical da ''[[phýsis]]'' como [[desvelamento]] e [[velamento]]. A [[questão]] central tanto do fonema como da [[letra]] se dá na exata extensão e profundidade da acolhida e recolhimento no ''[[lógos]]'' / ''[[poíesis]]'' como ''[[alétheia]]'' de ''[[éthos]]'' e ''[[sophía]]'', ou, então, no seu caráter restrito à ''[[tékhne]]'' sem ''[[poíesis]]''.
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: "Para a [[escrita]], os [[mitos]] são [[narrativas]] de [[fatos]] da [[natureza]], estórias de [[divindades]] ou de [[personagens]]. O [[mito]] como [[questão]] foi esquecido. Sem [[questão]] o [[mito]] não é [[mito]]. Não é sem [[sentido]] que a [[escrita]], o [[verbo]], tanto no judaísmo, quanto no islamismo passou a ser identificado com o próprio [[Deus]]. O [[sagrado]] torna-se [[suporte]], [[fundamento]], [[escrita]], [[escritura]]. Num e noutro caso fala-se sempre das [[sagradas]] [[escrituras]]. Onde há muito mais [[suporte]] escrito do que [[sagrado]], pois eles se dispersam nas [[versões]] das [[traduções]] e das [[interpretações]]. Toda [[tradução]] já é uma [[interpretação]]. Esses [[fatos]] têm também um [[lugar]] importante na [[questão]] [[essencial]] do [[próprio]] e dos [[atributos]]. A [[escrita]], ao [[representar]], entifica" (1).
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''' "O [[próprio]] como [[possibilidades]]". In:------. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 133.'''
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: Pensada a [[escrita]] na sua ligação com a [[memória]], fica impensada a sua importância para o surgimento e afirmação da ''[[pólis]]''. "Era a [[palavra]] que formava, no quadro da [[cidade]], o [[instrumento]] da [[vida]] [[política]]; é a [[escrita]] que vai fornecer, no plano propriamente [[intelectual]], o meio de uma [[cultura]] comum e permitir uma completa divulgação de [[conhecimentos]] previamente reservados ou interditos (ligados aos [[ritos]] [[míticos]] e [[religiosos]], onde a [[palavra]] era [[poder]]). Tomada dos fenícios e modificada por uma [[transcrição]] mais precisa dos sons [[gregos]], a [[escrita]] poderá satisfazer a essa [[função]] de [[publicidade]] porque ela [[própria]] se tornou, quase com o número [[direito]] da [[língua]] falada, o [[bem]] [[comum]] de todos os [[cidadãos]] (...) Ao lado da recitação decorada de [[textos]] de Homero ou Hesíodo - que continuava sendo [[tradicional]] - a [[escrita]] constituirá o elemento de base da ''[[paidéia]]'' [[grega]]" (1).
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: Pensada a [[escrita]] na sua ligação com a [[memória]], fica impensada a sua importância para o surgimento e afirmação da ''[[pólis]]''. "Era a [[palavra]] que formava, no quadro da [[cidade]], o [[instrumento]] da [[vida]] [[política]]; é a [[escrita]] que vai fornecer, no plano propriamente [[intelectual]], o meio de uma [[cultura]] comum e permitir uma completa divulgação de [[conhecimentos]] previamente reservados ou interditos (ligados aos [[ritos]] [[míticos]] e [[religiosos]], onde a [[palavra]] era [[poder]]). Tomada dos fenícios e modificada por uma transcrição mais precisa dos sons [[gregos]], a [[escrita]] poderá satisfazer a essa [[função]] de [[publicidade]] porque ela [[própria]] se tornou, quase com o número [[direito]] da [[língua]] falada, o [[bem]] [[comum]] de todos os [[cidadãos]] (...) Ao lado da recitação decorada de [[textos]] de Homero ou Hesíodo - que continuava sendo [[tradicional]] - a [[escrita]] constituirá o elemento de base da ''paidéia'' [[grega]]" (1).
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: Referência:
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: (1) VERNANT, Jean-Pierre. ''As origens do pensamento grego''. São Paulo: Difel, 1977, p. 36. Na página seguinte, fala da relação entre escrita e sabedoria.
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: (1) VERNANT, Jean-Pierre.'''As [[origens]] do [[pensamento]] [[grego]]. São Paulo: Difel, 1977, p. 36. Na página seguinte, fala da relação entre escrita e sabedoria.'''
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: A oposição [[oralidade]]/escrita é uma falsa oposição, porque, no fundo, acontecem duas coisas:
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: A [[oposição]] oralidade/[[escrita]] é uma falsa [[oposição]], porque, no fundo, acontecem duas [[coisas]]:
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: a) A questão reside na diferença entre [[imagem]] e [[conceito]], onde aquela é acontecer e esta apreende e compreende o real de um modo abstrato.
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: a) A [[questão]] reside na [[diferença]] [[entre]] [[imagem]] e [[conceito]], onde aquela é [[acontecer]] e esta apreende e compreende o [[real]] de um modo [[abstrato]].
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: b) A separação entre imagem e conceito tem de ser pensada a partir de duas instâncias: [[língua]] e [[linguagem]]. A imagem só é imagem quando radica na linguagem e o conceito só é conceito quando radica na língua como língua, ou seja, a imagem é radicando na linguagem ontologicamente ambígua, nela e por ela o [[real]] ainda acontece, ou seja, a imagem é sempre histórica, o conceito é sempre historiográfico.
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: b) A separação entre [[imagem]] e [[conceito]] tem de ser pensada a partir de duas [[instâncias]]: [[língua]] e [[linguagem]]. A [[imagem]] só é [[imagem]] quando radica na [[linguagem]] e o [[conceito]] só é [[conceito]] quando radica na [[língua]] como [[língua]], ou seja, a [[imagem]] é radicando na [[linguagem]] [[ontologicamente]] ambígua, nela e por ela o [[real]] ainda acontece, ou seja, a [[imagem]] é [[sempre]] [[histórica]], o [[conceito]] é [[sempre]] [[historiográfico]].
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: c) Pensar a escrita é também pensar a linguagem poética que se dá como imagem, [[paradoxo]] e [[ironia]], que não podem serem consideradas do ponto de vista retórico-formal. Ou seja, elas têm que ser pensadas a partir da [[história]] como acontecer (poético, de pensamento, mítico/místico, poético/jurídico/político).
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: c) [[Pensar]] a [[escrita]] é também [[pensar]] a [[linguagem]] [[poética]] que se dá como [[imagem]], [[paradoxo]] e [[ironia]], que não podem serem consideradas do ponto de vista [[retórico]]-[[formal]]. Ou seja, elas têm que ser pensadas a partir da [[história]] como [[acontecer]] ([[poético]], de [[pensamento]], [[mítico]]/[[místico]], [[poético]]/[[jurídico]]/[[político]]).
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: d) Na questão da escrita/oralidade, tanto numa como noutra, comparecem as questões fundamentais: [[natureza]], [[tempo]], linguagem, [[memória]], história. Heidegger dá um exemplo disso a propósito da questão "O que é uma coisa?" (1) e de suas respostas como vigência histórica e acontecer. Diz: "Perguntamos historicamente quando perguntamos pelo que ainda acontece, mesmo quando tal dá a aparência da já ter passado (...) Não perguntamos, em geral, pela fórmula, ou pela definição da essência da coisa. Tais fórmulas são apenas o apoio e o sedimento de posições fundamentais que num estar-aí histórico, no meio da totalidade do ente (''[[phýsis]]''). Lançou em relação a este e absorver em si mesmo?"(1). Depois, fala do real e de [[movimento]] x [[repouso]]. Ou seja: todo o parágrafo 10 é radicalmente essencial.
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: d) Na [[questão]] da escrita/oralidade, tanto numa como noutra, comparecem as [[questões]] [[fundamentais]]: [[natureza]], [[tempo]], [[linguagem]], [[memória]], [[história]]. [[Heidegger]] dá um exemplo disso a propósito da [[questão]] "O que é uma [[coisa]]?" (1) e de suas [[respostas]] como [[vigência]] [[histórica]] e [[acontecer]]. Diz: "Perguntamos historicamente quando perguntamos pelo que ainda acontece, mesmo quando tal dá a [[aparência]] da já ter passado (...) Não perguntamos, em geral, pela fórmula, ou pela [[definição]] da [[essência]] da [[coisa]]. Tais fórmulas são apenas o apoio e o sedimento de [[posições]] [[fundamentais]] que num [[estar]]-aí [[histórico]], no meio da totalidade do [[ente]] (''[[phýsis]]''). Lançou em [[relação]] a este e absorver em si mesmo?"(1). Depois, fala do [[real]] e de [[movimento]] x [[repouso]]. Ou seja: todo o parágrafo 10 é [[radicalmente]] [[essencial]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]   
: - [[Manuel Antônio de Castro]]   
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: Referênicia:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''O que é uma coisa?''. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 45.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''O que é uma [[coisa]]?. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 45.'''
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: (2) Idem, p. 49.
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: '''(2) Idem, p. 49.'''
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:O perdurar do ''lógos'', enquanto um de-por e propor consiste num reunir não só o que se manifesta ao que se oculta, mas também o que se manifesta em sua ''poíesis''. [[poíesis|''Poíesis'']] e [[lógos|''lógos'']], por isso, estão reunidos, por sua vez, enquanto [[tekhné|''tekhné'']]. O interessante e maravilhoso é que o ''lógos'' se desdobra nessas dimensões e pode ser visto como ''tekhné''. Mas esta não constituirá mais [[alétheia|''alétheia'']], porque lhe falta a ''poíesis''. O primeiro passo para isso consistiu no isolamento do [[ente]]; o segundo, na separação entre [[sensível]] e [[inteligível]]; o terceiro, na determinação do ente e da [[phýsis|''phýsis'']] como inteligível; o quarto, à junção da [[ideia]] com a matemática por um processo de abstração em três níveis: ''eîdos'', [[ideia]], ''máthesis'', enunciado e enunciação. Ou seja, o ''lógos'' se desdobra em três dimensões: primeira como ideia, segunda como medida (''máthesis'') e terceira como enunciado e enunciação.
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: O perdurar do ''[[lógos]]'', enquanto um de-por e propor consiste num reunir não só o que se manifesta ao que se oculta, mas também o que se manifesta em sua ''poíesis''. [[poíesis|''Poíesis'']] e [[lógos|''lógos'']], por isso, estão reunidos, por sua vez, enquanto [[tekhné|''tekhné'']]. O interessante e maravilhoso é que o ''lógos'' se desdobra nessas dimensões e pode ser visto como ''tekhné''. Mas esta não constituirá mais [[alétheia|''alétheia'']], porque lhe falta a ''poíesis''. O primeiro passo para isso consistiu no isolamento do [[ente]]; o segundo, na separação entre [[sensível]] e [[inteligível]]; o terceiro, na determinação do ente e da [[phýsis|''phýsis'']] como inteligível; o quarto, à junção da [[ideia]] com a matemática por um processo de abstração em três níveis: ''eîdos'', [[ideia]], ''máthesis'', enunciado e enunciação. Ou seja, o ''lógos'' se desdobra em três dimensões: primeira como ideia, segunda como medida (''máthesis'') e terceira como enunciado e enunciação.
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:Como isto foi possível? Por abstrações sucessivas: 1) [[Palavra]], [[verbo]] e [[ser]] constituíam e constituem, como ''poíesis'' e ''alétheia'', algo indissociável. Por isso, há o ''[[eiro]]'' que, como tal, é a ''alétheia'' da ''phýsis'' como desvelamento/velamento, que era o [[sagrado]]. 2) Separou-se palavra/verbo e ser/verbo na proposição. 3) Só fica o substantivo como núcleo da proposição e das qualidades sem o verbo ser/''poíesis'' da ''phýsis'', ou seja, como ideia/enunciado, enunciação e ''tekhné''. 4) Com a perda da [[memória]] pode ficar só a escrita como escrita. É o que Borges tematiza no conto "O imortal" de ''Aleph''. À perda da memória corresponde a perda do ser e do tempo.
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: Como isto foi possível? Por abstrações sucessivas: 1) [[Palavra]], [[verbo]] e [[ser]] constituíam e constituem, como ''poíesis'' e ''alétheia'', algo indissociável. Por isso, há o ''eiro'' que, como tal, é a ''alétheia'' da ''phýsis'' como desvelamento/velamento, que era o [[sagrado]]. 2) Separou-se palavra/verbo e ser/verbo na proposição. 3) Só fica o substantivo como núcleo da proposição e das qualidades sem o verbo ser/''poíesis'' da ''phýsis'', ou seja, como ideia/enunciado, enunciação e ''tekhné''. 4) Com a perda da [[memória]] pode ficar só a escrita como [[escrita]]. É o que Borges tematiza no conto "O [[imortal]]" de ''Aleph''. À perda da [[memória]] corresponde a perda do [[ser]] e do [[tempo]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Podemos considerar a escrita como uma [[análise]] da [[língua]] falada. Platão, no ''Fedro'', já aponta o fato de que a escrita elide a conjuntura, tornando-a por isso mesmo problemática. Ora, essa conjuntura pode ser considerada a unidade/sentido por oposição à identidade abstrata/ideia/significado. No entanto, a linguagem poética, como [[ambiguidade]] ontológica ou poética, pode, desfazendo a linguagem conceitual/analítica e instituindo a imagem/poética, retomar a [[unidade]], porque reconquista a medida poética, a [[identidade]] concreta como busca de identidade e diferenças, de manifestação e ocultamento, ultrapassando e desfazendo o poder abstratizante e analítico da escrita. É quando se torna escritura. Daí que se vê na escrita não o [[signo]] e [[ideia]], mas [[sentido]] e [[vida]]. Isto deve ser considerado a questão humanística, ou seja, a leitura e interpretação.
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: Podemos considerar a [[escrita]] como uma [[análise]] da [[língua]] falada. [[Platão]], no [[diálogo]] ''Fedro'', já aponta o fato de que a [[escrita]] elide a [[conjuntura]], tornando-a por isso mesmo problemática. Ora, essa [[conjuntura]] pode ser considerada a [[unidade]]/[[sentido]] por [[oposição]] à [[identidade]] [[abstrata]]/[[ideia]]/[[significado]]. No entanto, a [[linguagem]] poética, como [[ambiguidade]] [[ontológica]] ou [[poética]], pode, desfazendo a [[linguagem]] conceitual/analítica e instituindo a imagem/poética, retomar a [[unidade]], porque reconquista a [[medida]] [[poética]], a [[identidade]] [[concreta]] como [[procura]] de [[identidade]] e [[diferenças]], de [[manifestação]] e ocultamento, ultrapassando e desfazendo o [[poder]] abstratizante e analítico da [[escrita]]. É quando se torna [[escritura]]. Daí que se vê na [[escrita]] não o [[signo]] e [[ideia]], mas [[sentido]] e [[vida]]. Isto deve ser considerado a [[questão]] humanística, ou seja, a [[leitura]] e [[interpretação]].
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: "... no [[Egito]], houve um velho [[deus]]  deste [[país]], [[deus]] a quem é consagrada a ave que chamam ''[[íbis]]'', e a quem chamavam ''[[Thoth]]''. Dizem que foi ele quem [[inventou]] os [[números]] e o [[cálculo]], a [[geometria]] e a [[astronomia]], bem como o [[jogo]] das damas e dos dados e, finalmente, fica sabendo, os [[caracteres]] [[gráficos]] ([[escrita]])" (1).
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: "... no [[Egito]], houve um velho [[deus]]  deste [[país]], [[deus]] a quem é consagrada a ave que chamam ''[[íbis]]'', e a quem chamavam ''[[Thoth]]''. Dizem que foi ele quem inventou os [[números]] e o [[cálculo]], a geometria e a [[astronomia]], bem como o [[jogo]] das damas e dos dados e, finalmente, fica sabendo, os [[caracteres]] gráficos ([[escrita]])" (1).
: Referência:
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: (1) PLATÃO. ''Fedro''. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, ''Les Belles Lettres'', 1966.  Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 120, 274c.
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: (1) PLATÃO. '''Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966.  Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 120, 274c.'''
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: "Mas, quando chegou a vez da invenção da escrita, exclamou Thoth: ''Eis, oh Rei, uma arte que tornará os egípcios mais sábios e os ajudará a fortalecer a memória, pois com a escrita descobri o remédio para a memória''. ''- Oh, Thoth, mestre concomparável, uma coisa é  inventar uma arte, outra julgar os benefícios ou prejuízos que dela advirão para os outros! Tu, neste momento e como inventor da escrita, esperas dela, e com entusiasmo, todo o contrário do que ela pode vir a fazer! Ela tornará os homens mais esquecidos, pois que, sabendo escrever, deixarão de exercitar a memória, confiando apenas nas  escrituras, e só se lembrarão de um assunto por força de motivos exteriores, por meio de sinais, e não dos assuntos em si mesmos. Por isso, não  inventaste um remédio para a memória, mas, sim, para a rememoração. Quanto à transmissão do ensino, transmites aos teus alunos não a sabedoria em si mesma, mas apenas um aparência de sabedoria, pois passarão a receber um grande soma de informações sem a  respectiva educação! Hão-de parecer homens de saber, embora não passem de ignorantes em muitas matérias e tornar-se-ão, por consequência, sábios imaginários, em vez de sábios verdadeiros'' " (1).
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: "Mas, quando chegou a vez da [[invenção]] da [[escrita]], exclamou [[Thoth]]:
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: ''Eis, oh Rei, uma [[arte]] que tornará os [[egípcios]] mais [[sábios]] e os ajudará a fortalecer a [[memória]], pois com a [[escrita]] descobri o remédio para a [[memória]]''. ''- Oh, [[Thoth]], [[mestre]] incomparável, uma coisa é  inventar uma [[arte]], outra [[julgar]] os benefícios ou prejuízos que dela advirão para os [[outros]]! Tu, neste [[momento]] e como inventor da [[escrita]], esperas dela, e com entusiasmo, todo o contrário do que ela pode vir a [[fazer]]! Ela tornará os [[homens]] mais esquecidos, pois que, sabendo [[escrever]], deixarão de exercitar a [[memória]], confiando apenas nas  [[escrituras]], e só se lembrarão de um assunto por força de [[motivos]] exteriores, por meio de [[sinais]], e não dos assuntos em si mesmos. Por isso, não  inventaste um remédio para a [[memória]], mas, sim, para a [[rememoração]]. Quanto à transmissão do [[ensino]], transmites aos teus [[alunos]] não a [[sabedoria]] em si mesma, mas apenas uma [[aparência]] de [[sabedoria]], pois passarão a [[receber]] uma grande soma de [[informações]] sem a  respectiva [[educação]]! Hão-de [[parecer]] [[homens]] de [[saber]], embora não passem de ignorantes em muitas [[matérias]] e tornar-se-ão, por consequência, [[sábios]] imaginários, em vez de [[sábios]] [[verdadeiros]]'' " (1).
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: (1) PLATÃO. '''Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966.  Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 121, 274 e.'''
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: "- ''Sócrates'' - O maior inconveniente da [[escrita]] parece-se, caro Fedro, se bem julgo, com a [[pintura]]. As [[figuras]] pintadas têm [[atitudes]] de [[seres]] [[vivos]] mas, se alguém as [[interrogar]], manter-se-ão [[silenciosas]], o [[mesmo]] acontecendo com os [[discursos]]: falam das [[coisas]] como se estas estivessem [[vivas]], mas, se alguém os interroga, no intuito de obter um esclarecimento, limitam-se a repetir [[sempre]] a mesma [[coisa]]. Mais: uma vez escrito, um [[discurso]] chega a toda a [[parte]], tanto aos que o entendem como aos que não podem compreendê-lo e, assim, nunca se chega a [[saber]] a quem serve e a quem não serve. Quando é menoscabado, ou justamente censurado, tem sempre [[necessidade]] de ajuda do seu [[autor]], pois não é capaz de se defender nem de se proteger a si mesmo" (1).
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: (1) PLATÃO. '''Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966.  Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 122, 275 d.'''
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: Tanto o [[som]] como a [[letra]] em relação à ''phýsis'' são já manifestação do que em si se oculta. Mas como ''[[lógos]]'' e ''[[poíesis]]'', o [[som]] e a [[letra]] só o são na tensão [[linguagem]] / [[língua]]. O que nos pode fazer perceber o caráter [[originário]] ou não tanto de [[som]] como de [[letra]] é [[pensar]] o que significa etimologicamente o [[verbo]] latino ''fingere''. Os seus cinco [[significados]] principais: [[fingir]], [[dissimular]], [[educar]], [[formar]] e [[imaginar]] devem ser lidos no dar [[figura]] a algo pelo qual o [[vazio]] se dá como [[limite]] e muro, nisso consistindo o [[radical]] de ''fingere''. Mas, então, aí temos a tensão radical da ''[[phýsis]]'' como [[desvelamento]] e [[velamento]]. A [[questão]] central tanto do fonema como da [[letra]] se dá na exata extensão e [[profundidade]] da acolhida e [[recolhimento]] no ''[[lógos]]'' / ''[[poíesis]]'' como ''[[alétheia]]'' de ''[[éthos]]'' e ''[[sophía]]'', ou, então, no seu caráter restrito à ''[[tékhne]]'' sem ''[[poíesis]]''.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "A [[representação]] não está na [[letra]] nem no [[quadro]] do [[pintor]], mas na "[[leitura]]" gramático-metafísica da [[letra]] e do [[quadro]] ou pode [[estar]] com o que se faz com a [[letra]] ou com o [[quadro]]. Até porque a [[letra]] [[nada]] diz em si se não estiver já inscrita no [[manifestar-se]] da [[linguagem]] da ''[[physis]]''. A [[letra]] como [[escrita]] tem a mesma [[dimensão]] do [[ente]] em tensão com o [[ser]]: a tensão [[entre]] [[limite]] e [[não-limite]], manifestada em toda [[possibilidade]] de [[experienciação]]. Tanto a [[letra]] como o fonema manifestam o que se lhe oferece como [[manifestação]] enquanto ''[[poiesis]]'' desvelante e velante da ''[[physis]]''" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''[[Linguagem]]: nosso maior [[bem]]. Série Aulas [[Inaugurais]], 2o. s. de 2004. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras - UFRJ. Serviço de Publicações, outubro de 2004, p. 14.'''
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: "Apesar do caráter pictórico dos [[hieróglifos]], não se trata de uma [[escrita]] de imagens. A maioria dos desenhos em um texto é de [[valores]]  fonéticos - quase exclusivamente consonantais. Os [[textos]] podem, dependendo da [[posição]] ou da [[representação]] pictórica correspondente, serem escritos da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, ou [[escritos]] em linhas horizontais e colunas verticais. A direção da [[leitura]] tem de [[ser]] especialmente reconhecida pelos [[caracteres]] que representam animais ou [[pessoas]]: eles sempre olham para o começo" (1).
: Referência:
: Referência:
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: (1) PLATÃO. ''Fedro''. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, ''Les Belles Lettres'', 1966.  Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 121, 274e.
+
: (1) Texto distribuído no '''Neues Museum – Berlim.'''

Edição atual tal como 14h31min de 23 de janeiro de 2025

1

"Para a escrita, os mitos são narrativas de fatos da natureza, estórias de divindades ou de personagens. O mito como questão foi esquecido. Sem questão o mito não é mito. Não é sem sentido que a escrita, o verbo, tanto no judaísmo, quanto no islamismo passou a ser identificado com o próprio Deus. O sagrado torna-se suporte, fundamento, escrita, escritura. Num e noutro caso fala-se sempre das sagradas escrituras. Onde há muito mais suporte escrito do que sagrado, pois eles se dispersam nas versões das traduções e das interpretações. Toda tradução já é uma interpretação. Esses fatos têm também um lugar importante na questão essencial do próprio e dos atributos. A escrita, ao representar, entifica" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 133.

2

Pensada a escrita na sua ligação com a memória, fica impensada a sua importância para o surgimento e afirmação da pólis. "Era a palavra que formava, no quadro da cidade, o instrumento da vida política; é a escrita que vai fornecer, no plano propriamente intelectual, o meio de uma cultura comum e permitir uma completa divulgação de conhecimentos previamente reservados ou interditos (ligados aos ritos míticos e religiosos, onde a palavra era poder). Tomada dos fenícios e modificada por uma transcrição mais precisa dos sons gregos, a escrita poderá satisfazer a essa função de publicidade porque ela própria se tornou, quase com o número direito da língua falada, o bem comum de todos os cidadãos (...) Ao lado da recitação decorada de textos de Homero ou Hesíodo - que continuava sendo tradicional - a escrita constituirá o elemento de base da paidéia grega" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) VERNANT, Jean-Pierre.As origens do pensamento grego. São Paulo: Difel, 1977, p. 36. Na página seguinte, fala da relação entre escrita e sabedoria.

3

A oposição oralidade/escrita é uma falsa oposição, porque, no fundo, acontecem duas coisas:
a) A questão reside na diferença entre imagem e conceito, onde aquela é acontecer e esta apreende e compreende o real de um modo abstrato.
b) A separação entre imagem e conceito tem de ser pensada a partir de duas instâncias: língua e linguagem. A imagem só é imagem quando radica na linguagem e o conceito só é conceito quando radica na língua como língua, ou seja, a imagem é radicando na linguagem ontologicamente ambígua, nela e por ela o real ainda acontece, ou seja, a imagem é sempre histórica, o conceito é sempre historiográfico.
c) Pensar a escrita é também pensar a linguagem poética que se dá como imagem, paradoxo e ironia, que não podem serem consideradas do ponto de vista retórico-formal. Ou seja, elas têm que ser pensadas a partir da história como acontecer (poético, de pensamento, mítico/místico, poético/jurídico/político).
d) Na questão da escrita/oralidade, tanto numa como noutra, comparecem as questões fundamentais: natureza, tempo, linguagem, memória, história. Heidegger dá um exemplo disso a propósito da questão "O que é uma coisa?" (1) e de suas respostas como vigência histórica e acontecer. Diz: "Perguntamos historicamente quando perguntamos pelo que ainda acontece, mesmo quando tal dá a aparência da já ter passado (...) Não perguntamos, em geral, pela fórmula, ou pela definição da essência da coisa. Tais fórmulas são apenas o apoio e o sedimento de posições fundamentais que num estar-aí histórico, no meio da totalidade do ente (phýsis). Lançou em relação a este e absorver em si mesmo?"(1). Depois, fala do real e de movimento x repouso. Ou seja: todo o parágrafo 10 é radicalmente essencial.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. O que é uma coisa?. Lisboa: Edições 70, 1992, p. 45.
(2) Idem, p. 49.

4

O perdurar do lógos, enquanto um de-por e propor consiste num reunir não só o que se manifesta ao que se oculta, mas também o que se manifesta em sua poíesis. Poíesis e lógos, por isso, estão reunidos, por sua vez, enquanto tekhné. O interessante e maravilhoso é que o lógos se desdobra nessas dimensões e pode ser visto como tekhné. Mas esta não constituirá mais alétheia, porque lhe falta a poíesis. O primeiro passo para isso consistiu no isolamento do ente; o segundo, na separação entre sensível e inteligível; o terceiro, na determinação do ente e da phýsis como inteligível; o quarto, à junção da ideia com a matemática por um processo de abstração em três níveis: eîdos, ideia, máthesis, enunciado e enunciação. Ou seja, o lógos se desdobra em três dimensões: primeira como ideia, segunda como medida (máthesis) e terceira como enunciado e enunciação.
Como isto foi possível? Por abstrações sucessivas: 1) Palavra, verbo e ser constituíam e constituem, como poíesis e alétheia, algo indissociável. Por isso, há o eiro que, como tal, é a alétheia da phýsis como desvelamento/velamento, que era o sagrado. 2) Separou-se palavra/verbo e ser/verbo na proposição. 3) Só fica o substantivo como núcleo da proposição e das qualidades sem o verbo ser/poíesis da phýsis, ou seja, como ideia/enunciado, enunciação e tekhné. 4) Com a perda da memória pode ficar só a escrita como escrita. É o que Borges tematiza no conto "O imortal" de Aleph. À perda da memória corresponde a perda do ser e do tempo.


- Manuel Antônio de Castro

5

Podemos considerar a escrita como uma análise da língua falada. Platão, no diálogo Fedro, já aponta o fato de que a escrita elide a conjuntura, tornando-a por isso mesmo problemática. Ora, essa conjuntura pode ser considerada a unidade/sentido por oposição à identidade abstrata/ideia/significado. No entanto, a linguagem poética, como ambiguidade ontológica ou poética, pode, desfazendo a linguagem conceitual/analítica e instituindo a imagem/poética, retomar a unidade, porque reconquista a medida poética, a identidade concreta como procura de identidade e diferenças, de manifestação e ocultamento, ultrapassando e desfazendo o poder abstratizante e analítico da escrita. É quando se torna escritura. Daí que se vê na escrita não o signo e ideia, mas sentido e vida. Isto deve ser considerado a questão humanística, ou seja, a leitura e interpretação.


- Manuel Antônio de Castro

6

"... no Egito, houve um velho deus deste país, deus a quem é consagrada a ave que chamam íbis, e a quem chamavam Thoth. Dizem que foi ele quem inventou os números e o cálculo, a geometria e a astronomia, bem como o jogo das damas e dos dados e, finalmente, fica sabendo, os caracteres gráficos (escrita)" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 120, 274c.

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"Mas, quando chegou a vez da invenção da escrita, exclamou Thoth:
Eis, oh Rei, uma arte que tornará os egípcios mais sábios e os ajudará a fortalecer a memória, pois com a escrita descobri o remédio para a memória. - Oh, Thoth, mestre incomparável, uma coisa é inventar uma arte, outra julgar os benefícios ou prejuízos que dela advirão para os outros! Tu, neste momento e como inventor da escrita, esperas dela, e com entusiasmo, todo o contrário do que ela pode vir a fazer! Ela tornará os homens mais esquecidos, pois que, sabendo escrever, deixarão de exercitar a memória, confiando apenas nas escrituras, e só se lembrarão de um assunto por força de motivos exteriores, por meio de sinais, e não dos assuntos em si mesmos. Por isso, não inventaste um remédio para a memória, mas, sim, para a rememoração. Quanto à transmissão do ensino, transmites aos teus alunos não a sabedoria em si mesma, mas apenas uma aparência de sabedoria, pois passarão a receber uma grande soma de informações sem a respectiva educação! Hão-de parecer homens de saber, embora não passem de ignorantes em muitas matérias e tornar-se-ão, por consequência, sábios imaginários, em vez de sábios verdadeiros " (1).


Referência:
(1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 121, 274 e.

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"- Sócrates - O maior inconveniente da escrita parece-se, caro Fedro, se bem julgo, com a pintura. As figuras pintadas têm atitudes de seres vivos mas, se alguém as interrogar, manter-se-ão silenciosas, o mesmo acontecendo com os discursos: falam das coisas como se estas estivessem vivas, mas, se alguém os interroga, no intuito de obter um esclarecimento, limitam-se a repetir sempre a mesma coisa. Mais: uma vez escrito, um discurso chega a toda a parte, tanto aos que o entendem como aos que não podem compreendê-lo e, assim, nunca se chega a saber a quem serve e a quem não serve. Quando é menoscabado, ou justamente censurado, tem sempre necessidade de ajuda do seu autor, pois não é capaz de se defender nem de se proteger a si mesmo" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 122, 275 d.

9

Tanto o som como a letra em relação à phýsis são já manifestação do que em si se oculta. Mas como lógos e poíesis, o som e a letra só o são na tensão linguagem / língua. O que nos pode fazer perceber o caráter originário ou não tanto de som como de letra é pensar o que significa etimologicamente o verbo latino fingere. Os seus cinco significados principais: fingir, dissimular, educar, formar e imaginar devem ser lidos no dar figura a algo pelo qual o vazio se dá como limite e muro, nisso consistindo o radical de fingere. Mas, então, aí temos a tensão radical da phýsis como desvelamento e velamento. A questão central tanto do fonema como da letra se dá na exata extensão e profundidade da acolhida e recolhimento no lógos / poíesis como alétheia de éthos e sophía, ou, então, no seu caráter restrito à tékhne sem poíesis.


- Manuel Antônio de Castro

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"A representação não está na letra nem no quadro do pintor, mas na "leitura" gramático-metafísica da letra e do quadro ou pode estar com o que se faz com a letra ou com o quadro. Até porque a letra nada diz em si se não estiver já inscrita no manifestar-se da linguagem da physis. A letra como escrita tem a mesma dimensão do ente em tensão com o ser: a tensão entre limite e não-limite, manifestada em toda possibilidade de experienciação. Tanto a letra como o fonema manifestam o que se lhe oferece como manifestação enquanto poiesis desvelante e velante da physis" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais, 2o. s. de 2004. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras - UFRJ. Serviço de Publicações, outubro de 2004, p. 14.

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"Apesar do caráter pictórico dos hieróglifos, não se trata de uma escrita de imagens. A maioria dos desenhos em um texto é de valores fonéticos - quase exclusivamente consonantais. Os textos podem, dependendo da posição ou da representação pictórica correspondente, serem escritos da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, ou escritos em linhas horizontais e colunas verticais. A direção da leitura tem de ser especialmente reconhecida pelos caracteres que representam animais ou pessoas: eles sempre olham para o começo" (1).


Referência:
(1) Texto distribuído no Neues Museum – Berlim.
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