Princípio

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"Arcaica, no sentido etimológico, leva-nos a envolver a ideia de ''[[arkhé]]''. Um princípio inaugural, constitutivo e dirigente. ''Arkhé'' significa o que está à frente e por isso é o começo ou princípio de tudo. A [[Noite]] está à frente, nasce de ''Kháos''. O que está à frente tem o comando de todo o restante. É também ''arkhé'': o fundamento, a origem, o que está no começo de modo absoluto, o ponto de partida de um caminho, o fundamento das ações. Como tem comando, tem o poder, é a autoridade" (1). Como a autora torna claro, a compreensão de ''arkhé'' como princípio e origem só é princípio porque, por estar à frente e comandar é que é inaugural, originário. Por isso reina vigorosamente da origem ao fim. Princípio diz, então, o estar sempre principiando como [[tempo]] [[originário]].
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: "Arcaica, no sentido etimológico, leva-nos à [[ideia]] de ''[[arkhé]]''. Um [[princípio]] inaugural, constitutivo e dirigente. ''[[Arkhé]]'' significa o que está à frente e por isso é o começo ou [[princípio]] de [[tudo]]. A [[Noite]] está à frente, nasce de ''[[Kháos]]''. O que está à frente tem o comando de todo o restante. É também ''[[arkhé]]'': o [[fundamento]], a [[origem]], o que está no começo de modo [[absoluto]], o ponto de partida de um [[caminho]], o [[fundamento]] das [[ações]]. Como tem comando, tem o [[poder]], é a autoridade" (1).  
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: Como a [[autora]] torna claro, a [[compreensão]] de ''[[arkhé]]'' como [[princípio]] e [[origem]] só é [[princípio]] porque, por estar à frente e comandar é que é inaugural, [[originário]]. Por isso reina vigorosamente da [[origem]] ao [[fim]]. [[Princípio]] diz, então, o [[estar]] sempre principiando como [[tempo]] [[originário]].
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:(1) GROETAERS, Elenice. ''A poética da noite em Vinicius de Moraes''. São Paulo: Scortecci, 2007, p. 72.
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: (1) GROETAERS, Elenice. '''A poética da noite em Vinicius de Moraes'''. São Paulo: Scortecci, 2007, p. 72.
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:"Só é possível [[pensar]] em [[princípio]], porque a [[realidade]] (physis) não é estática, é dinâmica. Só é possível [[pensar]] em [[princípio]], porque a dinâmica da [[realidade]] não é linear, é circular. Só é possível [[pensar]] em [[princípio]], porque a [[circulação]] da [[realidade]] não é [[finita]], é [[infinita]]. Só é possível pensar em [[princípio]], porque a [[finitude]] da [[realidade]] não é de exclusão, é de inclusão. Assim não é possível não [[pensar]] em [[princípio]], quando  a [[realidade]] faz [[pensar]], em profundidade, a [[realização]] ([[ousia]]) do [[real]] ([[on]])" (1).
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: "Só é possível [[pensar]] em [[princípio]], porque a [[realidade]] ([[physis]]) não é estática, é dinâmica. Só é possível [[pensar]] em [[princípio]], porque a dinâmica da [[realidade]] não é linear, é [[circular]]. Só é possível [[pensar]] em [[princípio]], porque a [[circulação]] da [[realidade]] não é [[finita]], é [[infinita]]. Só é possível pensar em [[princípio]], porque a [[finitude]] da [[realidade]] não é de exclusão, é de inclusão. Assim não é possível não [[pensar]] em [[princípio]], quando  a [[realidade]] faz [[pensar]], em profundidade, a [[realização]] ([[ousia]]) do [[real]] ([[on]])" (1).
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:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A luz na arte grega". In: -------. ''Filosofia grega - uma introdução''. Teresópolis: Daimon, 2010, p. 89.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A luz na arte grega". In: -------. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis: Daimon, 2010, p. 89.
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:"O princípio surge e se impõe ao longo de todo o [[processo]], pois só alcança a [[plenitude]] no [[fim]]. [[Início]] é o princípio em busca de realização, fim é o princípio plenamente realizado como princípio” (1).  
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: "[[Início]] não é [[princípio]]. [[Início]] é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma [[coisa]] começa. Enquanto [[princípio]] é [[origem]]. Remete-nos à [[fonte]] de onde uma [[coisa]] brota. O [[início]], mal inicia e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do [[processo]] de [[criar]] e [[produzir]]. O [[princípio]], ao contrário, surge e se impõe ao longo de todo o [[processo]], pois só alcança a [[plenitude]] no [[fim]]. [[Início]] é o [[princípio]] em busca de [[realização]], [[fim]] é o [[princípio]] plenamente realizado como [[princípio]]" (1).  
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: O [[início]] se dá [[sempre]] enquanto [[técnica]], já o [[princípio]] é o [[vigorar]] da ''[[poíesis]]''. Por isso é que não se pode [[ler]] uma [[obra de arte]] apenas atentando para o [[início]], isto é, apenas para a [[técnica]] ou [[forma]], mas é [[necessário]] [[ver]] e [[compreender]] que o [[início]] já é uma [[doação]] da ''[[poíesis]]'' ou [[princípio]]. Toda [[técnica]] se move no [[agir]] [[causal]], já a ''[[poíesis]]'' vigora no [[agir]] [[originário]], isto é, no que se denomina [[princípio]] ou ''[[arkhé]]'', em [[grego]]. A [[história da arte]] no [[ocidente]] nunca se mede pela ''[[poíesis]]'', mas tão-somente pela ''[[tekhné]]'', daí [[ser]] uma [[concepção]] [[retórica]] e [[formal]] da [[arte]], pois nela sempre fica esquecido o [[princípio]].
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:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Apendendo a pensar II''. Petrópolis, Vozes, 1992, p. 242.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: ------. '''Aprendendo a pensar II'''. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 241.
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:"Ora, um princípio constitui algo inato, pois é a partir de um princípio que necessariamente assume [[existência]] tudo aquilo que existe, ao passo que o princípio não provém de coisa alguma, pois, se começasse a ser partindo de qualquer outra [[fonte]], não seria princípio" (1).
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: "Ora, um [[princípio]] constitui [[algo]] [[inato]], pois é a partir de um [[princípio]] que [[necessariamente]] assume [[existência]] [[tudo]] aquilo que existe, ao passo que o [[princípio]] não provém de coisa alguma, pois, se começasse a ser partindo de qualquer outra [[fonte]], não seria [[princípio]]" (1).
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:(1) PLATÃO. ''Fedro''. 5ª ed. Lisboa: Guimarães, 1994, p. 57, 245d.
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: (1) PLATÃO. '''Fedro'''. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, ''Les Belles Lettres'', 1966.  Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 57, 245d.
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:"Os princípios, confundidos com as [[lei|leis]], acabam por se deixar arbitrar, desde uma espácio-temporalidade arbitrária. Os princípios, para serem, enquanto tais, não se deixam arbitrar nem tampouco arbitram. Para serem princípios, o que eles só não podem ser é, de modo nenhum, a [[determinação]] de 'um [[caminho]], de uma [[verdade]] e de uma [[vida]]'. Princípios não determinam nem são determinados, apenas se apresentam para que sejam ou não [[perceber|percebidos]], considerados e estabelecidos efetivamente enquanto princípios" (1).
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: "Os [[princípios]], confundidos com as [[lei|leis]], acabam por se deixar arbitrar, desde uma espácio-temporalidade arbitrária. Os [[princípios]], para serem, enquanto tais, não se deixam arbitrar nem tampouco arbitram. Para serem [[princípios]], o que eles só não podem [[ser]] [[é]], de modo nenhum, a [[determinação]] de 'um [[caminho]], de uma [[verdade]] e de uma [[vida]]'. [[Princípios]] não determinam nem são determinados, apenas se apresentam para que sejam ou não [[perceber|percebidos]], considerados e estabelecidos efetivamente enquanto [[princípios]]" (1).
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:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 206.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 206.
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:"Princípios são apenas a [[vigência]] das possibilidades para que algo seja viável, isto é, para que algo possa percorrer vias, os [[caminho|caminhos]] em trânsito, possa, enfim, transitar. O que não tem [[origem]] ou não começa, não pode transitar. Transitar diz do que vai sempre além, do que, portanto, não se deixa determinar desde sua origem até a sua possibilidade de [[ser]] sem [[fim]]" (1).
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: "Princípios são apenas a [[vigência]] das possibilidades para que algo seja viável, isto é, para que algo possa percorrer vias, os [[caminho|caminhos]] em trânsito, possa, enfim, transitar. O que não tem [[origem]] ou não começa, não pode transitar. Transitar diz do que vai sempre além, do que, portanto, não se deixa determinar desde sua origem até a sua possibilidade de [[ser]] sem [[fim]]" (1).
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:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 206-7.
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: (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 206-7.
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:"Começo não é princípio. Começo é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma [[coisa]] começa. Enquanto princípio é origem. Remete-nos à fonte de onde uma coisa brota. O começo mal começa e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do [[processo]] de [[criar]] e [[produzir]]. O princípio ao contrário surge e se impõe ao longo de todo o processo, pois só alcança a [[plenitude]] no fim. Começo é o princípio em busca de realizar-se, fim é o princípio plenamente realizado como princípio" (1).
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: "Começo não é [[princípio]]. Começo é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma [[coisa]] começa. Enquanto [[princípio]] é [[origem]]. Remete-nos à [[fonte]] de onde uma [[coisa]] brota. O começo mal começa e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do [[processo]] de [[criar]] e [[produzir]]. O [[princípio]] ao contrário surge e se impõe ao longo de todo o [[processo]], pois só alcança a [[plenitude]] no [[fim]]. Começo é o [[princípio]] em busca de realizar-se, [[fim]] é o princípio plenamente realizado como [[princípio]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Filosofia grega - uma introdução''. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 23.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 23.
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:"O que significa princípio? Seu [[nome]] grego é ''arche'', isto é, o primeiro a partir do qual começa algo com [[referência]] a seu [[ser]], seu [[vir-a-ser]], sua cognoscibilidade. Esta "a partir de" domina, determina e conduz o que começa" (1).
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: "O que significa [[princípio]]? Seu [[nome]] [[grego]] é ''[[arche]]'', isto é, o primeiro a partir do qual começa algo com [[referência]] a seu [[ser]], seu [[vir-a-ser]], sua cognoscibilidade. Esta "a partir de" domina, determina e conduz o que começa" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Seminários de Zollikon - Protocolos - Diálogos - Cartas''. 2. ed. revista. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 114.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Seminários de Zollikon - Protocolos - Diálogos - Cartas'''. 2. e. revista. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 114.
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: (1) Versos 116 e seguintes da ''Teogonia'' de Hesíodo, citados e traduzidos por Emmanuel Carneiro Leão no ensaio "O sentido grego do caos", que faz parte de seu livro: ''Filosofia grega - uma introdução''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 39.
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: (1) Versos 116 e seguintes da '''Teogonia''' de Hesíodo, citados e traduzidos por Emmanuel Carneiro Leão no ensaio "O sentido grego do caos", que faz parte de seu livro: '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 39.
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: " O autêntico [[princípio]] é sempre como salto um salto-prévio, no qual tudo que está por vir, ainda que velado, já se acha traspassado. O [[princípio]] já contém velado o fim" (1).
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: " O autêntico [[princípio]] é sempre como salto um salto-prévio, no qual [[tudo]] que está por vir, ainda que velado, já se acha traspassado. O [[princípio]] já contém velado o [[fim]]" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 195.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''A origem da obra de arte'''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 195.
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: (1) FAGUNDES, Igor. "A experiência ioruba do sagrado - Provocações para um rito de raspagem do Ocidente". In: Revista Tempo Brasileiro, 194, ''Dialética em questão II''. Rio de Janeiro,jul.-set., 2013, p. 142.
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: (1) FAGUNDES, Igor. "A experiência ioruba do sagrado - Provocações para um rito de raspagem do Ocidente". In: Revista '''Tempo Brasileiro, 194, Dialética em questão II'''. Rio de Janeiro,jul.-set., 2013, p. 142.
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: "[[Princípio]] são as [[possibilidades]] de tudo que [[é]] e acontece. Sem [[princípio]] não há [[dialética]] verbal" (1).
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: "[[Princípio]] são as [[possibilidades]] de [[tudo]] que [[é]] e acontece. Sem [[princípio]] não há [[dialética]] verbal" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, ''Dialética em questão I''. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 11.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista '''Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I'''. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 11.
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: "No [[mundo]] animado do [[Antigo Egito]], os [[números]] não designavam apenas [[quantidades]], pelo contrário, eram considerados [[definições]] [[concretas]] de [[princípios]] energéticos que formavam a [[natureza]]. Os [[egípcios]] chamavam esses [[princípios]] energéticos de '''neteru'' ([[deuses]])" (1).
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== 13 ==
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: "No [[mundo]] animado do Antigo Egito, os [[números]] não designavam apenas [[quantidades]], pelo contrário, eram considerados [[definições]] [[concretas]] de [[princípios]] energéticos que formavam a [[natureza]]. Os egípcios chamavam esses [[princípios]] energéticos de '''neteru'' ([[deuses]])" (1).
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: (1) GADALLA, Moustafa. "Tudo é número". In: -----. '''Cosmologia egípcia - o universo animado'''. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 29.
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: "É a [[realidade]] enquanto [[princípio]] que de-termina o [[horizonte]], ou seja, aquilo que se vê. De-terminar é pôr [[limite]], término. Porém, o [[princípio]] é sem [[limite]], embora o possibilite e o inclua. O que é [[princípio]]? [[Princípio]] é o que vigora como [[universal]], ou seja, aquilo que se verte e realiza como [[identidade]] das [[diferenças]]. Sem [[princípio]] não há [[diferenças]].  Desse modo o [[princípio]] é [[medida]] enquanto a [[unidade]] da [[multiplicidade]]" (1).
: Referência:
: Referência:
-
: (1) GADALLA, Moustafa. ''Cosmologia egípcia - o universo animado''. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 29.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). '''Além dos limites - ensaios para o século XXI'''. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 231.
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== 15 ==
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: "[[Princípio]] e [[fim]] se reúnem na [[circunferência]] do [[círculo]]" (1).
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== 14 ==
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: Referência:
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: "É a [[realidade]] enquanto [[princípio]] que de-termina o [[horizonte]], ou seja, aquilo que se vê. De-terminar é pôr [[limite]], término. Porém, o [[princípio]] é sem [[limite]], embora o possibilite e o inclua. O que é [[princípio]]? [[Princípio]] é o que vigora como [[universal]], ou seja, aquilo que se verte e realiza como [[identidade]] das [[diferenças]]. Sem [[princípio]] não [[diferenças]].  Desse modo o [[princípio]] é [[medida]] enquanto a [[unidade]] da [[multiplicidade]]" (1).
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 +
: (1) HERÁCLITO. Fragmento  103. In: '''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito'''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p.  87.
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: "A característica [[essencial]] da [[dicotomia]] é que parte [[sempre]] de [[oposições]] excludentes. Mas desde a formulação lapidar de [[Aristóteles]] do que seja [[princípio]] ('''arché''') em sua [[consumação]] (''[[telos]]'') somos convocados a [[pensar]] a [[realidade]] sem exclusões, pois afirma na '''[[Metafísica]]''': “Só é [[possível]] [[pensar]] em [[princípio]] porque ''[[physis]]'', a [[realidade]], não é [[estática]], é [[dinâmica]]. é [[possível]] [[pensar]] em [[princípio]] porque a [[dinâmica]] da ''[[physis]]'' não é linear, é [[circular]]. Só é [[possível]] [[pensar]] em [[princípio]] porque a circulação da ''[[physis]]'' não é [[finita]], é [[infinita]]. Só é [[possível]] [[pensar]] em [[princípio]] porque a [[infinitude]] da ''[[physis]]'' não é de exclusão, mas de inclusão” (In: Leão, 2010, 89 (1))" (2).
: Referência:
: Referência:
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). ''Além dos limites'' - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 231.
+
: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 89.
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: (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética". In: ..... e outros. '''O educar poético'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 16.

Edição atual tal como 23h09min de 18 de março de 2024

1

"Arcaica, no sentido etimológico, leva-nos à ideia de arkhé. Um princípio inaugural, constitutivo e dirigente. Arkhé significa o que está à frente e por isso é o começo ou princípio de tudo. A Noite está à frente, nasce de Kháos. O que está à frente tem o comando de todo o restante. É também arkhé: o fundamento, a origem, o que está no começo de modo absoluto, o ponto de partida de um caminho, o fundamento das ações. Como tem comando, tem o poder, é a autoridade" (1).
Como a autora torna claro, a compreensão de arkhé como princípio e origem só é princípio porque, por estar à frente e comandar é que é inaugural, originário. Por isso reina vigorosamente da origem ao fim. Princípio diz, então, o estar sempre principiando como tempo originário.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) GROETAERS, Elenice. A poética da noite em Vinicius de Moraes. São Paulo: Scortecci, 2007, p. 72.

2

"Só é possível pensar em princípio, porque a realidade (physis) não é estática, é dinâmica. Só é possível pensar em princípio, porque a dinâmica da realidade não é linear, é circular. Só é possível pensar em princípio, porque a circulação da realidade não é finita, é infinita. Só é possível pensar em princípio, porque a finitude da realidade não é de exclusão, é de inclusão. Assim não é possível não pensar em princípio, quando a realidade faz pensar, em profundidade, a realização (ousia) do real (on)" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A luz na arte grega". In: -------. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon, 2010, p. 89.

3

"Início não é princípio. Início é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma coisa começa. Enquanto princípio é origem. Remete-nos à fonte de onde uma coisa brota. O início, mal inicia e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do processo de criar e produzir. O princípio, ao contrário, surge e se impõe ao longo de todo o processo, pois só alcança a plenitude no fim. Início é o princípio em busca de realização, fim é o princípio plenamente realizado como princípio" (1).
O início se dá sempre enquanto técnica, já o princípio é o vigorar da poíesis. Por isso é que não se pode ler uma obra de arte apenas atentando para o início, isto é, apenas para a técnica ou forma, mas é necessário ver e compreender que o início já é uma doação da poíesis ou princípio. Toda técnica se move no agir causal, já a poíesis vigora no agir originário, isto é, no que se denomina princípio ou arkhé, em grego. A história da arte no ocidente nunca se mede pela poíesis, mas tão-somente pela tekhné, daí ser uma concepção retórica e formal da arte, pois nela sempre fica esquecido o princípio.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Arte e filosofia". In: ------. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 241.

4

"Ora, um princípio constitui algo inato, pois é a partir de um princípio que necessariamente assume existência tudo aquilo que existe, ao passo que o princípio não provém de coisa alguma, pois, se começasse a ser partindo de qualquer outra fonte, não seria princípio" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 57, 245d.

5

"Os princípios, confundidos com as leis, acabam por se deixar arbitrar, desde uma espácio-temporalidade arbitrária. Os princípios, para serem, enquanto tais, não se deixam arbitrar nem tampouco arbitram. Para serem princípios, o que eles só não podem ser é, de modo nenhum, a determinação de 'um caminho, de uma verdade e de uma vida'. Princípios não determinam nem são determinados, apenas se apresentam para que sejam ou não percebidos, considerados e estabelecidos efetivamente enquanto princípios" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 206.

6

"Princípios são apenas a vigência das possibilidades para que algo seja viável, isto é, para que algo possa percorrer vias, os caminhos em trânsito, possa, enfim, transitar. O que não tem origem ou não começa, não pode transitar. Transitar diz do que vai sempre além, do que, portanto, não se deixa determinar desde sua origem até a sua possibilidade de ser sem fim" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, pp. 206-7.

7

"Começo não é princípio. Começo é alavanca. Remete-nos ao empuxo e arranque com que uma coisa começa. Enquanto princípio é origem. Remete-nos à fonte de onde uma coisa brota. O começo mal começa e já está superado. Desaparece e fica para trás nas peripécias do processo de criar e produzir. O princípio ao contrário surge e se impõe ao longo de todo o processo, pois só alcança a plenitude no fim. Começo é o princípio em busca de realizar-se, fim é o princípio plenamente realizado como princípio" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 23.

8

"O que significa princípio? Seu nome grego é arche, isto é, o primeiro a partir do qual começa algo com referência a seu ser, seu vir-a-ser, sua cognoscibilidade. Esta "a partir de" domina, determina e conduz o que começa" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon - Protocolos - Diálogos - Cartas. 2. e. revista. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 114.

9

"Como princípio de tudo, gerou-se o caos, a seguir, então, a terra de amplo seio acolhedor, sede para sempre inabalável de tudo que é imortal..." (1).


Referência:
(1) Versos 116 e seguintes da Teogonia de Hesíodo, citados e traduzidos por Emmanuel Carneiro Leão no ensaio "O sentido grego do caos", que faz parte de seu livro: Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 39.

10

" O autêntico princípio é sempre como salto um salto-prévio, no qual tudo que está por vir, ainda que velado, já se acha traspassado. O princípio já contém velado o fim" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 195.

11

"A fonte de um rio não se esgota em ser começo: é como correnteza que permanece e se atualiza em todo o curso, deixando o rio riar, correr, chegar ao mar. Este lhe é o sentido: a plena realização do princípio como princípio" (1)


Referência:
(1) FAGUNDES, Igor. "A experiência ioruba do sagrado - Provocações para um rito de raspagem do Ocidente". In: Revista Tempo Brasileiro, 194, Dialética em questão II. Rio de Janeiro,jul.-set., 2013, p. 142.

12

"Princípio são as possibilidades de tudo que é e acontece. Sem princípio não há dialética verbal" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 11.

13

"No mundo animado do Antigo Egito, os números não designavam apenas quantidades, pelo contrário, eram considerados definições concretas de princípios energéticos que formavam a natureza. Os egípcios chamavam esses princípios energéticos de 'neteru (deuses)" (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "Tudo é número". In: -----. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 29.

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"É a realidade enquanto princípio que de-termina o horizonte, ou seja, aquilo que se vê. De-terminar é pôr limite, término. Porém, o princípio é sem limite, embora o possibilite e o inclua. O que é princípio? Princípio é o que vigora como universal, ou seja, aquilo que se verte e realiza como identidade das diferenças. Sem princípio não há diferenças. Desse modo o princípio é medida enquanto a unidade da multiplicidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser humano e seus limites". In: MONTEIRO, Maria da Conceição e Outros (org.). Além dos limites - ensaios para o século XXI. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013, p. 231.

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"Princípio e fim se reúnem na circunferência do círculo" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 103. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 87.

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"A característica essencial da dicotomia é que parte sempre de oposições excludentes. Mas desde a formulação lapidar de Aristóteles do que seja princípio (arché) em sua consumação (telos) somos convocados a pensar a realidade sem exclusões, pois afirma na Metafísica: “Só é possível pensar em princípio porque physis, a realidade, não é estática, é dinâmica. Só é possível pensar em princípio porque a dinâmica da physis não é linear, é circular. Só é possível pensar em princípio porque a circulação da physis não é finita, é infinita. Só é possível pensar em princípio porque a infinitude da physis não é de exclusão, mas de inclusão” (In: Leão, 2010, 89 (1))" (2).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2010, p. 89.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Educar poético: diálogo e dialética". In: ..... e outros. O educar poético. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 16.