Metafísica

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "''[[Metafísica]'' é a [[ciência]] que tem por tarefa [[descobrir]] [[tematicamente]] e [[explicar]] o [[saber]] [[original]] e vivido do [[ser]] que, como [[fundamento]], já está implicado em todo [[saber]] particular sobre algum [[ente]], ou em [[outras]] [[palavras]], que é condição ''[[apriori]]'' de [[possibilidade]] de todo [[saber]] [[particular]] sobre algum [[ente]]" (1).
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: "''[[Metafísica]]'' é a [[ciência]] que tem por tarefa [[descobrir]] [[tematicamente]] e [[explicar]] o [[saber]] [[original]] e vivido do [[ser]] que, como [[fundamento]], já está implicado em todo [[saber]] particular sobre algum [[ente]], ou em [[outras]] [[palavras]], que é condição ''[[apriori]]'' de [[possibilidade]] de todo [[saber]] [[particular]] sobre algum [[ente]]" (1).
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: (1) HUMMES ofm, Dom Cláudio. ''Metafísica''.
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: O país da Razão se transformou todo na paisagem dis-posta dos [[conceito|conceitos]], porque o país da Metafísica transformou tudo na paisagem da Razão. Uma [[teia]] de razões, conceitos e funções organizou a realidade, ocupou todos os espaços e recantos na instrumentalidade comunicativa da linguagem e cobriu todo o planeta e encobriu toda a Terra num aparente engravidamento de realizações. "Em seus ''Cahiers'' (cadernos) 1917-1952, George Braque nos traz à lembrança a exigência de toda criação: 'écrire n'est pas décrire. Peindre n'est pas dépeindre'" (escrever não é descrever. Pintar não é [[representar]]). Por isso, definir uma coisa também consiste, no fundo, no fundo, em substituí-la por vocábulos" (1).  
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: O país da [[Razão]] se transformou todo na paisagem dis-posta dos [[conceito|conceitos]], porque o país da [[Metafísica]] transformou [[tudo]] na paisagem da [[Razão]]. Uma [[teia]] de [[razões]], [[conceitos]] e [[funções]] organizou a [[realidade]], ocupou todos os [[espaços]] e recantos na instrumentalidade comunicativa da [[linguagem]] e cobriu todo o [[planeta]] e encobriu toda a [[Terra]] num aparente engravidamento de [[realizações]]. "Em seus '''Cahiers''' (cadernos) 1917-1952, George Braque nos traz à lembrança a exigência de toda [[criação]]: 'écrire n'est pas décrire. Peindre n'est pas dépeindre'" (escrever não é descrever. Pintar não é [[representar]]). Por isso, definir uma [[coisa]] também consiste, no fundo, no fundo, em substituí-la por [[vocábulos]]" (1).  
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 125.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''Aprendendo a pensar II'''. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 125.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "''Poíesis'', sujeito e metafísica". In: ______ (org). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 14.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "''Poíesis'', [[sujeito]] e [[metafísica]]". In: ___. '''A construção poética do real''' (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 14.
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: "Por isso quando se fala em superação da metafísica não se trata de construir um [[sistema]] mais amplo e completo. Nada disso. Aí mora o perigo maior da chamada desconstrução da metafísica. Superar não significa, portanto, ressentir-se ou revoltar-se. Diz com [[simplicidade]] a tarefa de pensar o a-ser-pensado: o esquecimento e silenciamento do Ser nas diversas instâncias. Trata-se, portanto, de fazer a experiência da experienciação do Ser em seu sentido. Não rejeita a metafísica, mas parte dela para dar um passo atrás e à frente, e tentar, como pensamento, corresponder ao apelo das questões já desde sempre vigentes em nosso [[horizonte]], em nossa condição. Intenta-se fazer da [[filosofia]] o cuidado pensante e não o pensamento calculante" (1).
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: "Por isso quando se fala em superação da [[metafísica]] não se trata de construir um [[sistema]] mais amplo e completo. Nada disso. Aí mora o perigo maior da chamada desconstrução da [[metafísica]]. Superar não significa, portanto, ressentir-se ou revoltar-se. Diz com [[simplicidade]] a tarefa de pensar o a-ser-pensado: o esquecimento e silenciamento do Ser nas diversas instâncias. Trata-se, portanto, de fazer a experiência da experienciação do Ser em seu sentido. Não rejeita a metafísica, mas parte dela para dar um passo atrás e à frente, e tentar, como pensamento, corresponder ao apelo das questões já desde sempre vigentes em nosso [[horizonte]], em nossa condição. Intenta-se fazer da [[filosofia]] o cuidado pensante e não o pensamento calculante" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "''Poíesis'', sujeito e metafísica". In: ______ (org). ''A construção poética do real''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 27.   
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "''Poíesis'', [[sujeito]] e [[metafísica]]". In: ___. '''A construção poética do real''' (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 27.   
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: '''Ver também:'''
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: *[[Estudos culturais]]
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Heráclito''. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 265.
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: *[[Lógica]]
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: * [[Lógica]]
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: "Assim posto, em que consiste, portanto, a [[essência]] da metafísica? Ela é o modo de pensar que '[...] pensa o [[ente]] enquanto ente [...] (e) pelo fato de a metafísica interrogar o ente enquanto ente [[permanência|permanece]] ela junto ao ente e não se volta para o [[ser]] enquanto [[ser]]'" (1). Cf. também (2).
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: (1) MICHELAZZO, José Carlos. '''Do um como princípio ao dois como unidade'''. São Paulo: Annablume, 1999, p. 36.
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: (2) HEIDEGGER, Martin. '''Introdução à metafísica'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, pp. 61-2.
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: "É muito conhecida a estranha [[história]] deste [[nome]] ''[[metafísica]]''. Quando Andrônico de Rodes, no séc. I a. C. tenta pôr em ordem os [[escritos]] de Aristóteles, encontra alguns [[livros]] cuja [[denominação]] e colocação dentro do [[conjunto]] da [[obra]] aristotélica resultam problemáticos. Por fim, Andrônico decide pô-los “depois dos [[livros]] da [[física]]”, ou seja, ''ta meta ta physika'' (“os [[livros]] depois dos [[livros]] sobre [[física]]”). Esta expressão ''Ta meta ta physika'', que não é um título, não [[significa]] ainda [[nada]] de [[filosófico]], nem chega ainda a ser [[nome]] e, no entanto, viria a converter-se, pouco a pouco, através da [[história]], na [[denominação]] da [[disciplina]] [[filosófica]] mais importante, identificada muitas vezes com a [[filosofia]] simplesmente dita, ou também chamada de ''[[filosofia]] primeira'' " (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: "E porque, como dissemos, todos os [[entes]], sem exceção, seja qual for a região ou [[dimensão]] do [[ser]] a que pertencem, concordam nisto que são [[entes]], por isto a [[metafísica]] trata de todos os [[entes]] simplesmente, mas não num [[sentido]] de uma soma extrínseca de [[entes]] e campos de [[entes]], mas à [[luz]] do [[pré-saber]] [[fundamental]] sobre aquilo que faz de todo [[ente]] um [[ente]] e por isto é  comum a todo [[ente]]: o [[saber]] sobre o [[ser]] do [[ente]]" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: "Por isto a [[metafísica]] [[é]] - precisamente porque é [[ciência]] [[fundamental]] - a [[ciência]] da [[totalidade]], sem mais; ela abraça, portanto, fundamentalmente, a [[totalidade]] da [[realidade]] e, por isto, também todas as [[ciências]] particulares e todo [[saber]] particular [[empírico]] e [[sensível]], abraça a [[tudo]] e a [[tudo]] [[fundamenta]]" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: "A elaboração [[perfeita]] de qualquer [[ciência]] depende, naturalmente, em máxima parte do uso do [[método]] acertado.  Qual é o [[método]] da [[metafísica]]?  A esta [[pergunta]] não podemos fugir se queremos [[elaborar]] uma [[metafísica]] que deve [[ser]] [[ciência]] do [[ser]]. O resultado de qualquer [[ciência]] é [[mediado]] pelo [[método]] que ela usa, por isto um [[método]] [[falso]] levará necessariamente a [[falsos]] resultados" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: "Quando perguntamos sobre a [[possibilidade]] de uma [[ciência]] que abrange [[tudo]] [[simplesmente]], então já abrangemos [[tudo]] [[simplesmente]] no [[pré-saber]] de tal [[pergunta]]. E quando [[perguntamos]] sobre a [[possibilidade]] de uma [[ciência]] do [[ente]] enquanto [[ente]], isto pressupõe que já sabemos germinativamente algo sobre aquilo que determina o [[ente]] precisamente como [[ente]]: o [[ser]] dos [[entes]] [[simplesmente]]. Temos, portanto, já um certo [[saber]] do [[objeto]] da [[metafísica]], um [[saber]] que tornará [[possível]] começar a determinar o [[método]] que levará a este “[[objeto]]”. E mais uma vez, já temos um [[pré-saber]] [[a-temático]] do [[sentido do ser]], um [[pré-saber]] que espontaneamente exercemos na [[vida]] cotidiana e que nos orienta suficientemente para podermos, sem [[saber]] [[metafísica]] sistemática, alcançar a [[realização]] do [[sentido]] de nossa [[vida]]" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: "Concluindo, podemos [[dizer]] que na [[Metafísica]] não se trata propriamente de [[inventar]] algo de [[radicalmente]] [[novo]], de descobrir algo absolutamente desconhecido até o [[momento]]. Trata-se antes de algo já sempre [[a-tematicamente]] conhecido, mas ainda não conhecido [[tematicamente]] em [[forma]] de [[saber]] explícito e claro. Trata-se de algo [[inteligível]] por si mesmo e em si mesmo, que em qualquer outro [[saber]] está [[presente]] como o [[saber]] [[fundamental]]. A [[Metafísica]] manifesta assim o [[homem]] como um [[ente]] [[metafísico]] e o [[saber]] do [[homem]] como um [[saber]] [[metafísico]], oferecendo assim a [[possibilidade]] de, por uma [[reflexão]] [[transcendental]] sobre o [[homem]], constituir a [[Metafísica]] como [[ciência]]" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: "[[Metafísica]] é uma [[palavra]] [[enigmática]], porque nela nos advém a [[experienciação]] do [[mundo]] como [[sentido]], onde vigora a [[dobra]] de [[ser]] e [[essência]] do [[ser humano]]. Porém, ao longo de sua permanente [[vigência]], predominou uma [[interpretação]] que se tornou [[paradigmática]] e deu [[origem]] a numerosos [[desdobramentos]], todos [[atributivos]]. É a [[interpretação]] do [[ser]] como [[fundamento]]. Foi nessa trilha que se deu uma das [[caminhadas]] do [[Ocidente]]. Daí a identificar-se este com essa [[caminhada]] foi [[fácil]], porque se tornou uma [[verdade]] pronta, mutável apenas nos [[atributos]]. Isto levou à [[ingenuidade]] de que mudando o [[atributo]] já teríamos uma [[realidade]] nova e seu [[mundo]] [[diferente]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: ---. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 126.
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: [[Metafísica]]: [[revelação]] da [[verdade]] e do [[sentido do ser]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "O nosso ponto de partida para toda a [[metafísica]] é o [[homem]] assim como realiza o [[sentido]] do seu [[ser]] através da [[ação]]. Entre as [[ações]] [[humanas]] escolhemos a [[pergunta]] porque ela é eminentemente característica do [[homem]]" (1).
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.
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: "A [[metafísica]] pensa o [[ente]] enquanto tal, quer [[dizer]], em [[geral]]. A [[metafísica] pensa o [[ente]] enquanto tal, quer [[dizer]], no [[todo]]. A [[metafísica]] pensa o [[ser]] do [[ente]], tanto na [[unidade]] exploradora do mais [[geral]], quer [[dizer]], do que em toda [[parte]] é in-diferente, como na [[unidade]] fundante da [[totalidade]], quer [[dizer]], do supremo acima de [[tudo]]. Assim é previamente pensado o [[ser]] do [[ente]] como [[fundamento]] fundante. Por isso, toda a [[metafísica]] é, basicamente, desde o [[fundamento]], o [[fundar]] que presta contas do [[fundamento]]; que lhe presta contas e finalmente lhe exige contas" (1).
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A constituição onto-teo-lógica da metafísica". In: _____. '''Identidade e Diferença''', tradução Ernildo Stein. Vozes / Petrópolis / RJ em co-edição com Livraria Duas Cidades, São Paulo, 2006, p. 65.

Edição atual tal como 22h05min de 5 de Julho de 2023

1

"Metafísica é a ciência que tem por tarefa descobrir tematicamente e explicar o saber original e vivido do ser que, como fundamento, já está implicado em todo saber particular sobre algum ente, ou em outras palavras, que é condição apriori de possibilidade de todo saber particular sobre algum ente" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

2

O país da Razão se transformou todo na paisagem dis-posta dos conceitos, porque o país da Metafísica transformou tudo na paisagem da Razão. Uma teia de razões, conceitos e funções organizou a realidade, ocupou todos os espaços e recantos na instrumentalidade comunicativa da linguagem e cobriu todo o planeta e encobriu toda a Terra num aparente engravidamento de realizações. "Em seus Cahiers (cadernos) 1917-1952, George Braque nos traz à lembrança a exigência de toda criação: 'écrire n'est pas décrire. Peindre n'est pas dépeindre'" (escrever não é descrever. Pintar não é representar). Por isso, definir uma coisa também consiste, no fundo, no fundo, em substituí-la por vocábulos" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 125.

3

Os grandes filósofos do ocidente nada mais fizeram do que sempre e de novo e como novo o elogio da metafísica. Qualquer tentativa de dizer o que a palavra metafísica oculta é uma decisão pelo fracasso. E, no entanto, a palavra é simples, muito simples. Compõe-se do prefixo grego metá-, que significa: entre, além, para, junto a; e da palavra grega phýsis. Esta palavra é, propriamente, intraduzível, embora predomine certa tradução - como natureza -, que a empobrece muito. É a matriz de muitas outras palavras no ocidente. A meta-física diz respeito à subjetividade porque o ser-humano é o Entre-da-phýsis. Porém, tal Entre é ambíguo e a phýsis é misteriosa e enigmática. Ela possibilita muitas leituras. Inclusive a metafísica. Nenhuma semântica, nenhuma lógica consegue abarcá-la e apreendê-la.


- Manuel Antônio de Castro

4

"A palavra metafísica é ambígua. Por isso gerou as atitudes mais extremas e opostas. Na boca do materialista vulgar é tudo que está para além do que é imediato, palpável, força cega e irracional, isto é, material. Na boca do espiritualista vulgar é tudo que transcende a matéria, é o permanente, o eterno, o ideal. Diante destas atitudes dicotômicas e totalmente contraditórias, a sabedoria aconselha o desvelo pela phýsis, numa atitude espirituosa e equilibrada que deixe a tensão vigorar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: ___. A construção poética do real (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 14.

5

"Por isso quando se fala em superação da metafísica não se trata de construir um sistema mais amplo e completo. Nada disso. Aí mora o perigo maior da chamada desconstrução da metafísica. Superar não significa, portanto, ressentir-se ou revoltar-se. Diz com simplicidade a tarefa de pensar o a-ser-pensado: o esquecimento e silenciamento do Ser nas diversas instâncias. Trata-se, portanto, de fazer a experiência da experienciação do Ser em seu sentido. Não rejeita a metafísica, mas parte dela para dar um passo atrás e à frente, e tentar, como pensamento, corresponder ao apelo das questões já desde sempre vigentes em nosso horizonte, em nossa condição. Intenta-se fazer da filosofia o cuidado pensante e não o pensamento calculante" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poíesis, sujeito e metafísica". In: ___. A construção poética do real (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 27.
Ver também:
* Estudos culturais

6

"A visão da aparência pela qual se pode olhar o que é uma casa, e não esta ou aquela casa percebida sensivelmente, a visão da aparência do que constitui a casa é algo não sensível, é supra(meta) - sensível (phýsis): supra-sensível = metaphýsis, metafísica. Pensar o ente a partir da ideia, do supra-sensível, é o que distingue o pensamento que recebe o nome de 'metafísica' " (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 265.


Ver também:
* Lógica

7

"Assim posto, em que consiste, portanto, a essência da metafísica? Ela é o modo de pensar que '[...] pensa o ente enquanto ente [...] (e) pelo fato de a metafísica interrogar o ente enquanto ente permanece ela junto ao ente e não se volta para o ser enquanto ser'" (1). Cf. também (2).


Referências:
(1) MICHELAZZO, José Carlos. Do um como princípio ao dois como unidade. São Paulo: Annablume, 1999, p. 36.
(2) HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, pp. 61-2.

8

"É muito conhecida a estranha história deste nome metafísica. Quando Andrônico de Rodes, no séc. I a. C. tenta pôr em ordem os escritos de Aristóteles, encontra alguns livros cuja denominação e colocação dentro do conjunto da obra aristotélica resultam problemáticos. Por fim, Andrônico decide pô-los “depois dos livros da física”, ou seja, ta meta ta physika (“os livros depois dos livros sobre física”). Esta expressão Ta meta ta physika, que não é um título, não significa ainda nada de filosófico, nem chega ainda a ser nome e, no entanto, viria a converter-se, pouco a pouco, através da história, na denominação da disciplina filosófica mais importante, identificada muitas vezes com a filosofia simplesmente dita, ou também chamada de filosofia primeira " (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

9

"E porque, como dissemos, todos os entes, sem exceção, seja qual for a região ou dimensão do ser a que pertencem, concordam nisto que são entes, por isto a metafísica trata de todos os entes simplesmente, mas não num sentido de uma soma extrínseca de entes e campos de entes, mas à luz do pré-saber fundamental sobre aquilo que faz de todo ente um ente e por isto é comum a todo ente: o saber sobre o ser do ente" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

10

"Por isto a metafísica é - precisamente porque é ciência fundamental - a ciência da totalidade, sem mais; ela abraça, portanto, fundamentalmente, a totalidade da realidade e, por isto, também todas as ciências particulares e todo saber particular empírico e sensível, abraça a tudo e a tudo fundamenta" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

11

"A elaboração perfeita de qualquer ciência depende, naturalmente, em máxima parte do uso do método acertado. Qual é o método da metafísica? A esta pergunta não podemos fugir se queremos elaborar uma metafísica que deve ser ciência do ser. O resultado de qualquer ciência é mediado pelo método que ela usa, por isto um método falso levará necessariamente a falsos resultados" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

12

"Quando perguntamos sobre a possibilidade de uma ciência que abrange tudo simplesmente, então já abrangemos tudo simplesmente no pré-saber de tal pergunta. E quando perguntamos sobre a possibilidade de uma ciência do ente enquanto ente, isto pressupõe que já sabemos germinativamente algo sobre aquilo que determina o ente precisamente como ente: o ser dos entes simplesmente. Temos, portanto, já um certo saber do objeto da metafísica, um saber que tornará possível começar a determinar o método que levará a este “objeto”. E mais uma vez, já temos um pré-saber a-temático do sentido do ser, um pré-saber que espontaneamente exercemos na vida cotidiana e que nos orienta suficientemente para podermos, sem saber metafísica sistemática, alcançar a realização do sentido de nossa vida" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

13

"Concluindo, podemos dizer que na Metafísica não se trata propriamente de inventar algo de radicalmente novo, de descobrir algo absolutamente desconhecido até o momento. Trata-se antes de algo já sempre a-tematicamente conhecido, mas ainda não conhecido tematicamente em forma de saber explícito e claro. Trata-se de algo inteligível por si mesmo e em si mesmo, que em qualquer outro saber está presente como o saber fundamental. A Metafísica manifesta assim o homem como um ente metafísico e o saber do homem como um saber metafísico, oferecendo assim a possibilidade de, por uma reflexão transcendental sobre o homem, constituir a Metafísica como ciência" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

14

"Metafísica é uma palavra enigmática, porque nela nos advém a experienciação do mundo como sentido, onde vigora a dobra de ser e essência do ser humano. Porém, ao longo de sua permanente vigência, predominou uma interpretação que se tornou paradigmática e deu origem a numerosos desdobramentos, todos atributivos. É a interpretação do ser como fundamento. Foi nessa trilha que se deu uma das caminhadas do Ocidente. Daí a identificar-se este com essa caminhada foi fácil, porque se tornou uma verdade pronta, mutável apenas nos atributos. Isto levou à ingenuidade de que mudando o atributo já teríamos uma realidade nova e seu mundo diferente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 126.

15

Metafísica: revelação da verdade e do sentido do ser.


- Manuel Antônio de Castro.

16

"O nosso ponto de partida para toda a metafísica é o homem assim como realiza o sentido do seu ser através da ação. Entre as ações humanas escolhemos a pergunta porque ela é eminentemente característica do homem" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Faleceu dia 4 de julho de 2022.

17

"A metafísica pensa o ente enquanto tal, quer dizer, em geral. A [[metafísica] pensa o ente enquanto tal, quer dizer, no todo. A metafísica pensa o ser do ente, tanto na unidade exploradora do mais geral, quer dizer, do que em toda parte é in-diferente, como na unidade fundante da totalidade, quer dizer, do supremo acima de tudo. Assim é previamente pensado o ser do ente como fundamento fundante. Por isso, toda a metafísica é, basicamente, desde o fundamento, o fundar que presta contas do fundamento; que lhe presta contas e finalmente lhe exige contas" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A constituição onto-teo-lógica da metafísica". In: _____. Identidade e Diferença, tradução Ernildo Stein. Vozes / Petrópolis / RJ em co-edição com Livraria Duas Cidades, São Paulo, 2006, p. 65.
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