Cura
De Dicionrio de Potica e Pensamento
(Diferença entre revisões)
(→3) |
(→3) |
||
(40 edições intermediárias não estão sendo exibidas.) | |||
Linha 1: | Linha 1: | ||
__NOTOC__ | __NOTOC__ | ||
== 1 == | == 1 == | ||
- | :Para tratar da [[realidade]], é importante tomar como referência o [[corpo]], porque nele está contida toda a realidade. Por isso, Cura figura o homem. Nesse sentido, enquanto o corpo/homem é um figurar de Cura, o corpo, como tal, e a realidade são uma | + | : Para tratar da [[realidade]], é importante tomar como [[referência]] o [[corpo]], em [[sentido]] [[poético]], porque nele está contida toda a [[realidade]]. Por isso, [[Cura]] [[figura]] o [[homem]]. Nesse sentido, enquanto o [[corpo]]/[[homem]] é um [[figurar]] de [[Cura]], o [[corpo]], como tal, e a [[realidade]] são uma [[metáfora]] do que é isto - o [[humano]] do [[homem]]. A [[metáfora]] [[corpo]]/[[real]] remete também para o [[entre]] enquanto [[figurar]] de [[Cura]]. Daí que o vai caracterizar - enquanto [[entre]] de [[cura]] como [[metáfora]]/[[corpo]], o [[paradoxo]]/[[pensamento]] - a [[palavra]], o [[verbo]], a [[ironia]]/[[linguagem]]. [[Cura]] se torna assim o [[princípio]] da [[sintaxe]] das três [[questões]] fundamentais que nos constituem: [[corpo]], [[terra]] e [[mundo]], manifestadas na ''[[poíesis]]'', isto é, no [[vigor]] [[poético]]. Aqui nos referimos à [[Cura]] a partir do [[mito]] de "[[Cura]]", de Higino. |
- | :- [[Manuel Antônio de Castro]] | + | : - [[Manuel Antônio de Castro]] |
- | + | ||
== 2 == | == 2 == | ||
- | :A essência da cura é deixar-se | + | : A [[essência]] da [[cura]] é deixar-se tomar, [[possuir]] pela [[questão]]. Não somos nós que temos [[questões]]. São as [[questões]] que nos têm. Quando isto [[acontece]] então nos movemos nos [[elementos]] da [[Cura]], ou seja, o [[homem]] é de-finido por ela na medida em que deixa [[eclodir]] nele as [[questões]]. [[Estar]] aberto ao [[apelo]] da [[cura]] é a [[questão]] maior. Como esta [[abertura]] gera um [[limiar]] e se dá numa [[tensão]], nós nos movemos na [[cura]] na medida e na proporção em que estamos já [[sempre]] e desde [[sempre]] na [[procura]], onde não somos nós que pro-curamos, mas na qual nos apropriamos do que nos é [[próprio]]: o que nos é [[próprio]] é o que somos. [[Ser]] para o [[homem]] significa tornar-se [[homem]] na e pela [[procura]]. Por isso, é [[necessário]] distinguir [[querer]] e [[desejar]]. O [[desejar]] é do [[homem]]. O [[querer]] é da [[cura]]. |
- | :- [[Manuel Antônio de Castro]] | + | : - [[Manuel Antônio de Castro]] |
+ | == 3 == | ||
+ | : "A [[Cura]] é um [[cuidar]], [[desejar]], [[amar]] o que se quer pelo [[vigorar]] da [[questão]]. O que radicalmente queremos e amamos é o que [[é]]. O que é, antes de [[tudo]], [[é]] o [[ser]]. Esse é o [[sentido]] poético-ontológico de [[Cura]], ou seja, [[cuidar]], guardar e chocar, [[amar]] para que surja a [[figura]]" (1). | ||
- | == | + | : Referência: |
- | : " | + | |
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 232.''' | ||
+ | |||
+ | == 4 == | ||
+ | : "É de nossa constituição de [[vida]] enquanto [[travessia]] estarmos o [[tempo]] todo à [[procura]] e nos experienciamos em muitas [[pro-curas]], até descobrirmos, se descobrirmos, que uma só e só uma é a [[procura]] única e [[necessária]]: a [[Cura]]. É nesse sentido que [[cuidar]], curar e [[salvar]] radicam no [[mesmo]]. Quando nossa [[vida]] está em perigo, surge o [[cuidado]] e procuramos a [[cura]], uma [[Cura]] que já vigora dentro de nós. Não é nunca o [[cuidado]] do médico que nos [[cura]]. Sua tarefa consiste em nos ajudar a [[pensar]] e [[procurar]] a [[cura]], isto é, a restabelecer o equilíbrio das [[energias]] da [[luz]] que em nós vigoram " (1). | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Arte: o humano e o destino | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 232.''' |
+ | == 5 == | ||
+ | : "Felizmente, em [[português]], ainda ressoa em [[desvelo]] não só a intensidade do [[velar]] o que é digno de ser velado e [[cuidado]], mas, ao mesmo tempo, a intensidade no deixar [[ser]], isto é, o deixar [[eclodir]] no que [[é]], no [[desvelamento]]" (1). | ||
- | == | + | : Referência: |
- | : " | + | |
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "Notas". In: [[HEIDEGGER]], Martin. A [[origem]] da [[obra de arte]]. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 237.''' | ||
+ | |||
+ | == 6 == | ||
+ | : "O [[mito de Cura]] é o [[mito]] latino para [[explicar]] o surgimento e [[criação]] do [[ser humano]], que não é uma [[criação]] de um [[Deus]], mas uma plasmação, [[obra]], de [[Cura]], ou seja, de ''[[Eros]]'', entendido como aquilo que nos projeta na [[procura]] [[poética]] da [[realização]] em [[plenitude]] " (1). | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '' | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Eros]], o [[humano]] e os [[humanismos]]". In: [[Eros]], [[tecnologia]], transumanismo. MONTEIRO, Maria Conceição e Outros (org.). Rio de Janeiro: Caetés, 2015, p. 47.''' |
+ | |||
+ | == 7 == | ||
+ | : "O [[ser humano]] como [[corpo]] se move já desde [[sempre]] no [[horizonte]] da [[Cura]]. O [[corpo]] é uma [[figuração]] da [[Cura]]. Nós não sabemos o que é a [[Cura]], porque somos uma [[doação]] sua. A [[Cura]] é [[sempre]] [[Cura]] do que sentimos e não sentimos, do que sabemos e não sabemos, queremos e não queremos, somos e não somos. | ||
+ | : A [[Cura]] é o [[enigma]] de todo [[corpo]]. O [[corpo]] só [[é]] [[corpo]] como [[questão]] da [[Cura]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Corpo]]". [[Ensaio]] não publicado.''' | ||
+ | |||
+ | == 8 == | ||
+ | : "O grito de [[dor]] de [[Édipo]], arrancando os [[olhos]], leva à [[plenitude]] de [[sentido]], porque o leva à [[Cura]] de todas as [[procuras]] de afirmação da negação do que lhe fora [[destinado]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Poético]]-[[ecologia]]". In: [[Arte]]: [[corpo]], [[mundo]] e [[terra]]. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 33.''' | ||
+ | |||
+ | == 9 == | ||
+ | : "O que age em [[todo]] [[ser humano]], em [[todo]] [[artista]], [[é]] a [[Cura]]. A [[Cura]] é um [[cuidar]], [[desejar]], [[amar]] o que se quer pelo [[vigorar]] da [[questão]]. O que radicalmente queremos e amamos [[é]] [[o que é]]. [[O que é]], antes de [[tudo]], [[é]] o [[ser]]. Esse [[é]] o [[sentido]] [[poético]]-[[ontológico]] de [[Cura]], ou seja, [[cuidar]], guardar e chocar, [[amar]] para que surja a [[figura]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[diálogo]] com o [[mito]]". In: [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 2011, p. 229.''' |
Edição atual tal como 04h29min de 7 de fevereiro de 2025
1
- Para tratar da realidade, é importante tomar como referência o corpo, em sentido poético, porque nele está contida toda a realidade. Por isso, Cura figura o homem. Nesse sentido, enquanto o corpo/homem é um figurar de Cura, o corpo, como tal, e a realidade são uma metáfora do que é isto - o humano do homem. A metáfora corpo/real remete também para o entre enquanto figurar de Cura. Daí que o vai caracterizar - enquanto entre de cura como metáfora/corpo, o paradoxo/pensamento - a palavra, o verbo, a ironia/linguagem. Cura se torna assim o princípio da sintaxe das três questões fundamentais que nos constituem: corpo, terra e mundo, manifestadas na poíesis, isto é, no vigor poético. Aqui nos referimos à Cura a partir do mito de "Cura", de Higino.
2
- A essência da cura é deixar-se tomar, possuir pela questão. Não somos nós que temos questões. São as questões que nos têm. Quando isto acontece então nos movemos nos elementos da Cura, ou seja, o homem é de-finido por ela na medida em que deixa eclodir nele as questões. Estar aberto ao apelo da cura é a questão maior. Como esta abertura gera um limiar e se dá numa tensão, nós nos movemos na cura na medida e na proporção em que estamos já sempre e desde sempre na procura, onde não somos nós que pro-curamos, mas na qual nos apropriamos do que nos é próprio: o que nos é próprio é o que somos. Ser para o homem significa tornar-se homem na e pela procura. Por isso, é necessário distinguir querer e desejar. O desejar é do homem. O querer é da cura.
3
- "A Cura é um cuidar, desejar, amar o que se quer pelo vigorar da questão. O que radicalmente queremos e amamos é o que é. O que é, antes de tudo, é o ser. Esse é o sentido poético-ontológico de Cura, ou seja, cuidar, guardar e chocar, amar para que surja a figura" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 232.
4
- "É de nossa constituição de vida enquanto travessia estarmos o tempo todo à procura e nos experienciamos em muitas pro-curas, até descobrirmos, se descobrirmos, que uma só e só uma é a procura única e necessária: a Cura. É nesse sentido que cuidar, curar e salvar radicam no mesmo. Quando nossa vida está em perigo, surge o cuidado e procuramos a cura, uma Cura que já vigora dentro de nós. Não é nunca o cuidado do médico que nos cura. Sua tarefa consiste em nos ajudar a pensar e procurar a cura, isto é, a restabelecer o equilíbrio das energias da luz que em nós vigoram " (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 232.
5
- "Felizmente, em português, ainda ressoa em desvelo não só a intensidade do velar o que é digno de ser velado e cuidado, mas, ao mesmo tempo, a intensidade no deixar ser, isto é, o deixar eclodir no que é, no desvelamento" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 237.
6
- "O mito de Cura é o mito latino para explicar o surgimento e criação do ser humano, que não é uma criação de um Deus, mas uma plasmação, obra, de Cura, ou seja, de Eros, entendido como aquilo que nos projeta na procura poética da realização em plenitude " (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eros, o humano e os humanismos". In: Eros, tecnologia, transumanismo. MONTEIRO, Maria Conceição e Outros (org.). Rio de Janeiro: Caetés, 2015, p. 47.
7
- "O ser humano como corpo se move já desde sempre no horizonte da Cura. O corpo é uma figuração da Cura. Nós não sabemos o que é a Cura, porque somos uma doação sua. A Cura é sempre Cura do que sentimos e não sentimos, do que sabemos e não sabemos, queremos e não queremos, somos e não somos.
- A Cura é o enigma de todo corpo. O corpo só é corpo como questão da Cura" (1).
8
- "O grito de dor de Édipo, arrancando os olhos, leva à plenitude de sentido, porque o leva à Cura de todas as procuras de afirmação da negação do que lhe fora destinado" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 33.
9
- "O que age em todo ser humano, em todo artista, é a Cura. A Cura é um cuidar, desejar, amar o que se quer pelo vigorar da questão. O que radicalmente queremos e amamos é o que é. O que é, antes de tudo, é o ser. Esse é o sentido poético-ontológico de Cura, ou seja, cuidar, guardar e chocar, amar para que surja a figura" (1).
- Referência: