Édipo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) ÉDIPO. In: ''Mitologia, volumes: 1, 2, 3''. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 547.
: (1) ÉDIPO. In: ''Mitologia, volumes: 1, 2, 3''. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 547.
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Edição de 22h08min de 17 de Maio de 2020

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"No dia do parto, mal o frágil vagido anuncia nova vida, Jocasta entrega o filho a um servo, ordenando que o conduza para bem longe. Laio perfura violentamente os pezinhos da criança e amarra-os com uma correia apertada. O escravo parte e Jocasta deixa-se cair prostrada sobre o leito.
Ao pé do monte Citerão, o servo encontra alguns pastores de Corinto e, apiedado, entrega-lhes o príncipe cuja herança era desgraça. Depois empreende a viagem de volta a Tebas, onde o rei e a rainha acreditavam ter enganado o oráculo.
No poder do mundo, o Destino vê o sangue escorrer da carne inocente, mas já decidiu: aquele será Édipo, o maldito, que há de caminhar sempre para a fatalidade do sofrimento e carregar toda a infâmia dos homens nesse planeta sonâmbulo" (1).


Referência:
(1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 545.

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" Oidipous, Édipo, segundo o mito é assim chamado porque tivera "os pés furados e atados", o que provocara "a tumefação dos mesmos, derivando-se, pois, o antrôponimo do verbo oidein, "inchar"; e de pus, podos, "pé', donde o de pés inchados, conforme etimologiza Sófocles no diálogo entre o Mensageiro e Édipo (Édipo Rei, 1030-1036), cuja tradução estampamos em Mitologia Grega, Vol.III, p. 243" (1).


Referência:
(1) BRANDÃO, Junito. Dicionário Mítico-Etimológico, volume I, A - I. 4. e. Petrópolis / RJ: Vozes, 2000, p. 303.

3

"Pensa-se que destino é o que a razão, fonte do livre agir do ser humano, não podia determinar nem controlar. Pela visão racionalista, o destino se opõe à liberdade humana. No existir o ser humano deve-se dar livremente a sua essência, o seu genos enquanto seu quinhão. Nessa visão, a existência precede e determina a essência. O existir enquanto o como é deve determinar livremente o que é. O homem não tem um destino, dá-se um destino. Esta foi a utopia moderna, esquecida dos ensinamentos do mito de Édipo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26.

4

"O ser humano, desde Édipo - o mito imemorial que pensa o humano no que lhe é próprio em sua essência psíco-sócio-político-histórica - sempre teve a pretensão de ser o sujeito das suas escolhas e realizações. A Moira sorri, em silêncio, diante de tais pretensões, deixando-o iludir-se, em seu pseudo-poder racional de dar-se a existência, segundo a liberdade fundada na sua vontade. É uma ilusão que custa caro e gera o sofrimento de muitos fracassos inúteis" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 40.

5

"Mas vem Édipo e, impulsionado pela procura da verdade e convicto de sua inteligência, certo de que é o mais inteligente dos homens, defronta-se com a Esfinge. Brilhando na luminosidade da inteligência e da razão, decifra os enigmas e passa a ser aclamado como o salvador de Tebas. Sem rei, pois Laio, o rei, seu pai, ele o matara. Naturalmente desposa a viúva, sua mãe. É o mais dócil e cuidadoso dos reis para com seu povo, para com seu genos. O seu corpo se confunde com o da pólis. Com o saber da razão achava que tinha resolvido os enigmas. Será que hoje o saber da razão é suficiente para resolver nossos enigmas ou apenas nossos problemas funcionais?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 31.

6

Édipo, em fuga porque ouvira de um bêbado que ele mataria o pai e casaria com a mãe, foge de Corinto e vai para Tebas. Mas ele não sabia que os pais com que vivia eram adotivos. Em Tebas todos estão apavorados com a Esfinge, que propõe os Enigmas e mata quem não os resolve. Édipo resolve ir ao encontro da Esfinge, que lhe propõe os famosos enigmas. Caso os solucionasse viveria, em caso contrário, seria morto pela Esfinge. Eis os enigmas:
" - Qual é o animal que tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três ao entardecer?
E, sem hesitar, responde: O Homem que, na infância, arrasta-se sobre os pés e as mãos;
na idade adulta mantém-se sobre os dois pés; e na velhice precisa usar um bastão para
andar. A Esfinge, aflita com aquela inteligência clara e rápida, recobra o fôlego e
propõe novo enigma: - São duas irmãs. Uma gera a outra. E a segunda, por seu turno, é
gerada pela primeira. Quem são elas? A Luz e a Escuridão, responde Édipo. A luz do dia,
clareira aberta no céu, gera a escuridão da noite, que, por sua vez, precede a luz do
dia" (1).
Os cidadãos de Tebas lhe dão o trono que estava vazio, pois seu rei tinha sido morto numa estrada. Fora justamente Édipo que o matara.


- Manuel Antônio de Castro.
(1) MITOLOGIA. São Paulo: Abril Cultural, 1973, Volume III, p. 554.

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"Por isso, Édipo, exilado e cego, acompanhado apenas por Antígona, sua filha, perde-se em Colona, no bosque sagrado das Eumênides. Lá poderá descansar na felicidade dos bons. Já atravessou os limites da "vida inconstante": perdeu o trono, a esposa, tudo. Os sofrimentos mostraram-lhe que a vontade consciente de nada vale contra os desígnios divinos, a ordem cósmica que regula o mundo dos mortais" (1).


Referência:
(1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 548.

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"Que culpa tinha, efetivamente, Édipo? Matara Laio sem saber que era seu pai. Casara com Jocasta sem saber que era sua mãe. Arriscando a própria vida, livrara Tebas da voracidade da Esfinge. Se, para ter culpa, é necessário aderir conscientemente à prática do mal, Édipo não era culpado. Mas a concepção dos antigos gregos não era essa: para eles, a culpa era como uma doença, que se adquire sem o concurso da vontade individual" (1).


Referência:
(1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 547.

9

"Édipo é, justamente, o anti-herói que, ao afirmar-se destrói-se; ao vencer, perde. E, ao lutar pela justiça, pela paz e pelo bem-estar, é derrubado pelos horrores da realidade cotidiana, cheia de malícias e dores imprevisíveis" (1).
Sem dúvida nenhuma, Édipo é o grande exemplo do aparente poder da vontade do homem, que, perante o destino é impotente e cheia de aparências. A principal diz respeito ao poder da razão humana diante do poder verdadeiro que é o do destino. Em Édipo temos o jogo profundo entre aparência e a verdade da realidade, entre aparência e verdade. Ele só na aparência decifrou os enigmas. O grande enigma continua sendo o homem. Nele temos o embate maior entre consciência e inconsciente. Entre profano e sagrado, manifestado no mito de Édipo tanto pela Esfinge quanto pelo destino, a Moira, diziam os gregos. Até hoje o maior enigma da realidade é o ser humano.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 547.

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No ensaio "... poeticamente habita o homem..." (1), há um poema de Hölderlin que Heidegger interpreta, fazendo referência ao terceiro olho de Édipo. A fim de aprofundar a questão, confira o ensaio "Diana e Heráclito" (2), de Emmanuel Carneiro Leão.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente habita o homem...". In:______. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Diana e Heráclito". In: Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, pp. 187-8.
Ver também:
* Aparência
* Olhar
* Édipo Rei, de Sófocles

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O mito do homem é a estrutura fundamental da cultura ocidental, daí a vigência do humanismo. A questão fundamental metafísica é o Humanismo. A poíesis (o vigor poético) não é metafísica nem humanista, mas defende a realização do humano do homem. E o maior exemplo é Édipo. Édipo realiza o humano do homem, porque toda a sua vida se funda numa disputa com o destino, para no final deixar que este o tome e dê o sentido da sua vida, quando então ele faz do humano do homem a liberdade como libertação, dimensionando-se pelo destino enquanto sabedoria. Arrancar os olhos é um ato livre de negação do saber e de se deixar tomar pela sabedoria.


- Manuel Antônio de Castro
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