Perguntar

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) HUMMES o.f.m., Dom Cláudio. ''Metafísica''. Tratado transcrito datilograficamente por Manuel Antônio de Castro. Daltro Filho [Hoje Imigrantes]/RS: 1964, p. 113.  
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: (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. ''Aprendendo a pensar 2''. Petrópolis: Vozes, 1992.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em ''Vidas Secas''". In: -----. ''Travessia Poética''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 73.
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: "A [[unidade]] da [[pergunta]] supõe a [[unidade]] do perguntado.  Por isto, podemos concluir: se a [[possibilidade]] de [[perguntar]] por [[tudo]] está implicada como condição de [[possibilidade]] de toda [[pergunta]] singularmente determinada, e se a [[possibilidade]] de [[perguntar]] por [[tudo]] se [[funda]] na [[unidade]] de [[tudo]] enquanto este [[tudo]] é perguntável, então devemos [[dizer]] que a [[unidade]] da [[totalidade]] do perguntável é condição de [[possibilidade]] de qualquer [[pergunta]]" (1).
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: "De todas as [[coisas]] [[eu]] posso [[perguntar]]: o que “[[é]]”?  O que “[[é]]” isto?  O que “[[é]]” aquilo?  Também posso [[perguntar]] por [[tudo]] de uma só vez: o que “[[é]]” isto [[tudo]]?  O que “[[é]]” a [[totalidade]] e a [[unidade]] de [[tudo]] aquilo sobre o que posso [[perguntar]]?  [[Nada]] de [[tudo]] o que é pode fugir à [[possibilidade]] de [[ser]] perguntado se “[[é]]” e o que “[[é]]”. E enquanto ela é perguntável justamente por seu “[[é]]”, ela é de todo perguntável, pois todo o que ela [[é]] entra neste seu “[[é]]”.  E também posso [[perguntar]] para além de todos os [[limites]] por [[tudo]] [[simplesmente]], e [[sempre]] de novo esta [[pergunta]] será sobre o “[[é]]” de [[tudo]] o que ultrapassa os [[limites]] imagináveis.  Significa que [[tudo]] aquilo a que posso dirigir minha [[pergunta]] - e isto significa [[tudo]] o que “[[é]]” de uma ou de outra [[forma]] - tem sua [[unidade]] [[fundamental]] no [[fato]] de que “[[é]]”; de cada [[coisa]] da [[realidade]] em [[particular]] e da [[realidade]] como [[totalidade]], devo [[dizer]] que é perguntável por seu “[[é]]”. Ora, o que “[[é]]”, nós chamamos de [[ente]]" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "Assim o [[ser]] - como [[horizonte]] fundamental e [[original]] sabido e não-sabido ao mesmo [[tempo]] - deve constituir para o [[homem]] um [[mistério]] original, fundamental e como tal, inesgotável. Nunca meu [[saber]] poderá [[compreender]] exaustivamente o [[horizonte]] do [[ser]]. Por isto nunca se esgotará minha capacidade de [[perguntar]] e ao mesmo tempo minha [[necessidade]] de [[perguntar]] pelo [[ser]] dos [[entes]].  A [[pergunta]] pelo [[ser]] é [[essencial]] ao [[homem]], expressão de sua [[essência]]: o [[homem]] é o perguntador [[simplesmente]], é quem pode e deve [[simplesmente]] [[perguntar]], é quem pergunta pelo [[ser]], é quem pode e deve [[simplesmente]] [[perguntar]] pelo [[ser]] - esta é sua [[essência]], vista através do prisma do [[exercício]] da [[pergunta]], como típico [[exercício]] do [[sentido do ser]] do [[homem]] pelo [[homem]] mesmo.  Karl Rahner (2) diz: “O [[homem]] existe como [[pergunta]] pelo [[ser]].” " (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. '''Metafísica'''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: (2) Karl Rahner, cf. seu livro '''Geist in Welt''': '''Espírito no Mundo'''.
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: "Quando perguntamos, perguntamos de dentro e só aparentemente queremos [[conhecer]] o que está fora. Não e mil vezes só isso não. As [[perguntas]] mais [[essenciais]] dizem respeito ao que é preciso [[descobrir]] dentro de nós. Nós somos um [[verdadeiro]] continente desconhecido. E todo [[perguntar]] é, quando [[essencial]], um [[querer]] adentrar esse nosso continente desconhecido, esse [[próprio]] que cada um recebe, que é o que recebemos para [[ser]] ao [[nascer]]. Em ''Grande sertão: veredas'', [[Rosa]] diz explicitamente isso: só pergunta e dialoga é mesmo para se [[conhecer]] melhor. E isso é a [[essência]] de toda [[obra de arte]]. Ela integra fora e dentro e nos joga no fundo de nós [[mesmos]], de onde surgimos transfigurados. Toda as grandes [[obras]] da [[Modernidade]] fazem este [[percurso]], que é muito encoberto pelas preocupações externas e ditas [[sociais]]. Está na hora de desmascarar isso e penetrar fundo nesse [[mundo]] [[interior]], o a-ser-descoberto. É nesse [[sentido]] que surge a ''Física quântica'' e a [[obra]] de Caeiro, Freud e Proust, Musil. Infelizmente isso foi desviado e perdido pela atenção para a [[disputa]] da [[forma]] e [[conteúdo]]. Um desvio onde se perde o rumo do [[sentido do ser]] e, portanto, do [[ser humano]]" (1).
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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:  Referência:
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "Só podemos [[perguntar]] porque, [[ontologicamente]], já estamos [[abertos]] para o [[ser]], não sendo, portanto, consequência desta ou daquela [[circunstância]], [[conjuntura]] ou decisão histórica ou [[social]]. Tal [[abertura]] é o [[saber]] que liberta" (1).
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: Referência bibliográfica:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 193.
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: "Fique claro: o [[perguntar]] enquanto [[poder]] [[perguntar]] move-se no [[ser]], mas cada [[pergunta]] [[concreta]] já se exerce sempre no âmbito e na [[conjuntura]] do [[sendo]]. Por isso, é que a [[pergunta]] pelo [[ser]] se dá sempre no âmbito do [[sendo]]: o que é ser? Daí a única [[resposta]] [[possível]]: o ser não é" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 194.

Edição atual tal como 20h49min de 27 de Outubro de 2022

Tabela de conteúdo

1

"Quando pergunto pergunto pelo “é”: se é e o que é. Se pergunto assim, então posso fundamentalmente perguntar por tudo. Porém, o perguntar não é só um exercício do saber, pois se já soubesse tudo nem mais poderia perguntar. O perguntar é também um exercício do querer, enquanto tendo para o perguntado e quero atingi-lo e exercê-lo pelo saber. O tender e o querer, no entanto, supõem que o seu objeto seja algo para o qual se possa tender e o qual se possa querer. Mas perguntar eu só posso se já anteriormente sei, não só que o perguntado pode ser sabido, mas também se posso tender a ele para tentar sabê-lo mais e mais. Ora, se posso perguntar, sem mais, por tudo, isto supõe que tudo não somente é inteligível, mas também que tudo pode ser objeto da tendência, do querer, do meu espírito, ou seja, que tudo, além do ser inteligível é também “apetecível”. Ora, o que é apetecível ou objeto de uma tendência em vista da auto-realização chamamos de “bem”. Portanto, tudo o que é, enquanto é, é bom. “Omne ens est bonum”. O “bom” é, portanto, uma propriedade transcendental do ente" (1). [Ver o ensaio do Emmanuel: “O problema da Poética de Aristóteles” (2)].


Referências:
(1) HUMMES o.f.m., Dom Cláudio. Metafísica. Tratado transcrito datilograficamente por Manuel Antônio de Castro. Daltro Filho [Hoje Imigrantes]/RS: 1964, p. 113.
(2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar 2. Petrópolis: Vozes, 1992.

2

"Pelo perguntar o homem está sempre adiante dele mesmo: o homem que pergunta radicalmente é o homem trágico: as respostas não o esgotam nem o definem: evidenciam o humano" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em Vidas Secas". In: ---. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 73.

3

"Só podemos perguntar porque já vigoramos no ser, na memória do sentido do ser. É que o ser, a memória ou sentido do ser, é questão. É que a questão não é apenas saber e não-saber, ser e não-ser, ela é também a unidade de saber e ser, de não-saber e não-ser. E só por ser unidade é que a questão pode advir à pergunta. Advir à pergunta é advir à linguagem, a partir da memória. Memória é unidade e sendo unidade é linguagem. Linguagem, enquanto unidade, não é, em primeira instância, fala ou elocução. Só se fala na e a partir da linguagem. Então podemos dizer que a quarta dimensão do tempo é a memória, e esta é a unidade do tempo enquanto o tempo se faz linguagem. É. O tempo édiz, originariamente, linguagem, unidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Espelho: o perigoso caminho do auto-diálogo". Ensaio ainda não publicado.

4

"Para a questão, a resposta só é resposta se tiver a dimensão de recolocar a questão em novo horizonte. Por isso, é imprescindível perguntar e responder. Tudo e sempre se torna diferente" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.

5

"Todo perguntar é tornado possível e orientado por um pré-saber do perguntado. Quando perguntamos sobre a possibilidade de uma ciência que abrange tudo simplesmente, então já abrangemos tudo simplesmente no pré-saber de tal pergunta" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

6

No perguntar e no poder perguntar vamos ter a nítida referência entre einai e noein de que nos fala Parmênides na sentença III. Assim se dá necessariamente, no e pelo perguntar, a referência entre ser e conhecer, e também como somente o ser humano pergunta, o que ele é essencialmente: possibilidades de e para possibilidades.


- Manuel Antônio de Castro.

7

"Disto podemos concluir também que quanto mais se desenvolver no homem a capacidade de perguntar, mais humano ele se torna, mais ele se realiza como homem, mais ele se humaniza" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

8

"Ora, a pergunta sobre a pergunta já nos mostrou: perguntar por isto ou por aquilo singularmente só posso se posso perguntar simplesmente. Perguntar simplesmente só posso se posso perguntar sobre todo o perguntável, simplesmente. A pergunta sobre todo o perguntável simplesmente é a pergunta pela totalidade" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

9

"Perguntar por tudo simplesmente só posso enquanto pergunto em uma pergunta por tudo: o que é tudo? O que é a totalidade do perguntável? Perguntar por tudo numa só pergunta eu só posso se a totalidade implica uma unidade fundamental" (1). Unidade é sentido, é linguagem, é mundo, em que eu já estou vigorando.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

10

"A unidade da pergunta supõe a unidade do perguntado. Por isto, podemos concluir: se a possibilidade de perguntar por tudo está implicada como condição de possibilidade de toda pergunta singularmente determinada, e se a possibilidade de perguntar por tudo se funda na unidade de tudo enquanto este tudo é perguntável, então devemos dizer que a unidade da totalidade do perguntável é condição de possibilidade de qualquer pergunta" (1).
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

11

"De todas as coisas eu posso perguntar: o que “é”? O que “é” isto? O que “é” aquilo? Também posso perguntar por tudo de uma só vez: o que “é” isto tudo? O que “é” a totalidade e a unidade de tudo aquilo sobre o que posso perguntar? Nada de tudo o que é pode fugir à possibilidade de ser perguntado se “é” e o que “é”. E enquanto ela é perguntável justamente por seu “é”, ela é de todo perguntável, pois todo o que ela é entra neste seu “é”. E também posso perguntar para além de todos os limites por tudo simplesmente, e sempre de novo esta pergunta será sobre o “é” de tudo o que ultrapassa os limites imagináveis. Significa que tudo aquilo a que posso dirigir minha pergunta - e isto significa tudo o que “é” de uma ou de outra forma - tem sua unidade fundamental no fato de que “é”; de cada coisa da realidade em particular e da realidade como totalidade, devo dizer que é perguntável por seu “é”. Ora, o que “é”, nós chamamos de ente" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

12

"Assim o ser - como horizonte fundamental e original sabido e não-sabido ao mesmo tempo - deve constituir para o homem um mistério original, fundamental e como tal, inesgotável. Nunca meu saber poderá compreender exaustivamente o horizonte do ser. Por isto nunca se esgotará minha capacidade de perguntar e ao mesmo tempo minha necessidade de perguntar pelo ser dos entes. A pergunta pelo ser é essencial ao homem, expressão de sua essência: o homem é o perguntador simplesmente, é quem pode e deve simplesmente perguntar, é quem pergunta pelo ser, é quem pode e deve simplesmente perguntar pelo ser - esta é sua essência, vista através do prisma do exercício da pergunta, como típico exercício do sentido do ser do homem pelo homem mesmo. Karl Rahner (2) diz: “O homem existe como pergunta pelo ser.” " (1).


Referências:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
(2) Karl Rahner, cf. seu livro Geist in Welt: Espírito no Mundo.

13

"Quando perguntamos, perguntamos de dentro e só aparentemente queremos conhecer o que está fora. Não e mil vezes só isso não. As perguntas mais essenciais dizem respeito ao que é preciso descobrir dentro de nós. Nós somos um verdadeiro continente desconhecido. E todo perguntar é, quando essencial, um querer adentrar esse nosso continente desconhecido, esse próprio que cada um recebe, que é o que recebemos para ser ao nascer. Em Grande sertão: veredas, Rosa diz explicitamente isso: só pergunta e dialoga é mesmo para se conhecer melhor. E isso é a essência de toda obra de arte. Ela integra fora e dentro e nos joga no fundo de nós mesmos, de onde surgimos transfigurados. Toda as grandes obras da Modernidade fazem este percurso, que é muito encoberto pelas preocupações externas e ditas sociais. Está na hora de desmascarar isso e penetrar fundo nesse mundo interior, o a-ser-descoberto. É nesse sentido que surge a Física quântica e a obra de Caeiro, Freud e Proust, Musil. Infelizmente isso foi desviado e perdido pela atenção para a disputa da forma e conteúdo. Um desvio onde se perde o rumo do sentido do ser e, portanto, do ser humano" (1).


- Manuel Antônio de Castro.

14

"E perguntar só posso se sei que pergunto, do contrário a pergunta não seria um exercício consciente e mais uma vez deixaria de ser possível. Mas, também, perguntar eu só posso quando quero saber. E quando de fato pergunto, sei que quero saber. Porém, quando quero saber, isto supõe que posso saber. Isto significa, portanto, que a pergunta se dirige a algo que pode ser sabido – e este último elemento é importante para nossa questão da verdade do ser. A pergunta se dirige a algo que pode ser sabido e que eu já sei até certo ponto, mas não plenamente, não exaustivamente. E que, por isto, quero saber mais plenamente. Isto me impele a perguntar. Vemos como o saber está na base da pergunta. Pois pergunta pressupõe um saber anterior. Implica este mesmo saber anterior e se dirige para um novo saber. Assim temos como uma primeira forma de exercício espiritual o saber" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

15

"Só podemos perguntar porque, ontologicamente, já estamos abertos para o ser, não sendo, portanto, consequência desta ou daquela circunstância, conjuntura ou decisão histórica ou social. Tal abertura é o saber que liberta" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 193.

16

"Fique claro: o perguntar enquanto poder perguntar move-se no ser, mas cada pergunta concreta já se exerce sempre no âmbito e na conjuntura do sendo. Por isso, é que a pergunta pelo ser se dá sempre no âmbito do sendo: o que é ser? Daí a única resposta possível: o ser não é" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 194.