Enigma

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 21h53min de 17 de Novembro de 2020 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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Enigma é o que se coloca como questão originária. Toda questão, como o próprio enigma, nos precede: já nascemos e nos movemos no enigma. A questão originária ou enigma jamais se resolve em qualquer conceito ou teoria. A questão, que é prévia a qualquer ver, solicita sempre o ver originário. Aquele em que Édipo mergulhou quando se cegou, cumprindo o seu destino. O melhor caminho para pensar toda questão, que é sempre enigma, é constatar como já desde sempre nos movemos no destino. Todo destino já solicita nosso questionar, porque não é algo sem o qual se possa viver. E é então que o destino que é nossa vida se manifesta como enigma.


- Manuel Antônio de Castro

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A realidade, o nada criativo, é um enigma que permeia o labirinto em que a verdade poética acontece, desvelando a realidade em mundo e velando-se como enigma, mistério. É o que denominamos questão.


- Manuel Antônio de Castro

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"Não é a cultura que faz o homem nem ela se opõe à phýsis. Se o homem, parece, está referenciado à cultura, na verdade, pela cultura o homem se referencia à phýsis. Isso fica, de novo, evidente pelo fato de que diante do enigma e mistério da phýsis, o ser humano não só cultiva, mas, sobretudo e em primeiro lugar, ele cultua. O culto na e pela cultura já evidencia que tudo provém dela porque nela se funda: o ser humano, o cultivado, a cultura e o culto. Nesta evidência não é a identidade cultural que faz o ser humano nem ele se dá essa identidade, mas o ser humano manifestando na cultura a phýsis, manifesta-se como humano e, manifestando-se como humano, eleva a phýsis ao seu grau máximo de realização (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. " Phýsis e humano: a arte”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 264.

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"Na medida em que a arte é um enigma, ela se constitui fundamentalmente de questões e jamais pode ser abordada por meio de conceitos. A emergência do homem e o âmbito de sua atuação e de seu lugar dentro do real – e o enigma do seu destino – são as questões que perpassam todas as culturas em todos os tempos e suas obras de arte" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 13.

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"É a luta simbólica de Rei Édipo. Ei-lo diante da Esfinge. Ou decifra o enigma e se salva, libertando a cidade do tormento, ou morre. Que é a Esfinge? É a própria interrogação? O desvendar o enigma era tão importante que seu decifrador ganha o reino, o símbolo do que de mais importante um homem podia desejar. Ao resolver o enigma, Édipo realiza o mais alto grau de poder de conhecimento, conhecimento que no fim se revela aparente e fonte de erro e culpa: só lhe resta arrancar a visão. É a cegueira trágica" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "As faces do trágico em Vidas Secas". In: -----. Travessia Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977, p. 75.

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Édipo, em fuga porque ouvira de um bêbado que ele mataria o pai e casaria com a mãe, foge de Corinto e vai para Tebas. Mas ele não sabia que os pais com que vivia eram adotivos. Em Tebas todos estão apavorados com a Esfinge, que propõe os Enigmas e mata quem não os resolve. Édipo resolve ir ao encontro da Esfinge, que lhe propõe os famosos enigmas. Caso os solucionasse viveria, em caso contrário, seria morto pela Esfinge. Eis os enigmas:
"Face a face com a Esfinge, ouve a misteriosa pergunta:
- Qual é o animal que tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três ao entardecer?
E, sem hesitar, responde: O Homem que, na infância, arrasta-se sobre os pés e as mãos;
na idade adulta mantém-se sobre os dois pés; e na velhice precisa usar um bastão para
andar. A Esfinge, aflita com aquela inteligência clara e rápida, recobra o fôlego e
propõe novo enigma: - São duas irmãs. Uma gera a outra. E a segunda, por seu turno, é
gerada pela primeira. Quem são elas? A Luz e a Escuridão, responde Édipo. A luz do dia,
clareira aberta no céu, gera a escuridão da noite, que, por sua vez, precede a luz do
dia" (1).
Os cidadãos de Tebas lhe dão o trono que estava vazio, pois seu rei tinha sido morto numa estrada. Fora justamente Édipo que o matara. E assim se cumpriu o vaticínio do Oráculo.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) ÉDIPO. In: Mitologia, volumes: 1, 2, 3. São Paulo: Abril Cultural, Editor Victor Civita, 1973, v. 3, p. 554.

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"O destino e a fuga ao destino constituem enigmas. Édipo e todo ser humano, em algum momento, se deparam com esses enigmas, que são, essencialmente, dois: 1º. O próprio homem; 2º. A verdade. São os dois enigmas/questões propostos pela esfinge" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 23.

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" Qual é o animal (dzoion) que tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três ao entardecer? . A tradução metafísica da palavra grega dzoion por animal é muito pobre (Conferir o livro Heráclito de Heidegger). Dzoion é a própria vida em seu vigor como physis. Mas o que distingue este ente da physis/dzoion são os pés. Há a ligação entre o nome, a procura, o caminho, o sofrimento, o sentido do agir. Há uma ligação “entre” o andar, os pés diferentes e o tempo. Um dzoion se desdobra, manifesta no tempo com um número de pés diferentes. Este número não é gratuito. O “um/he” (identidade) de Heráclito se manifesta no andar de 2,3,4 pés (multiplicidade/panta). O enigma, como questão, contém em si a resposta e a não-resposta, porque o enigma não pode ser resolvido num conceito nem no plano do ente. Nenhuma questão pode ser resolvida, só recolocada em nova e inaugural dimensão. A questão como questão, a obra de arte como obra de arte se move sempre no “entrequestão e resposta. A resposta re-põe a questão. Só então há obra de arte e jamais conceitos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 26.
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