Amar

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 22h42min de 3 de Junho de 2019 por Profmanuel (Discussão | contribs)

1

O amado será um inquilino como o próximo, ainda que sempre como o mais próximo. Este é o paradoxo do amar, só vigorar na proximidade, mas isto não é uma questão de individualismo e isolamento, mas a nossa condição de jamais podermos ser senão o ser que somos e só como proximidade sermos o amado. A proximidade não é negativa, mas a possibilidade máxima de poder afirmar no amar a diferença que é o amado. Amar não é anular mas afirmar originariamente aquele que sendo o que não sou me é o mais próximo. Só assim podemos co-habitar na proximidade do coração. Amar é co-habitar o coração, é Ser coração-co-habitante. A unidade dos amantes é o Amar assim como a unidade do sou de cada amante é o Ser. A proximidade é mais do que compreender o outro, é aceitá-lo como ele é e não pode deixar de ser.


- Manuel Antônio de Castro


2

"É preciso aprender a viver. Eu pratico todo dia. Meu maior obstáculo é não saber quem sou. Eu tateio cegamente. Se alguém me ama como eu sou, posso finalmente ter coragem de olhar para mim mesma. Essa possibilidade é pouco viável" (1).


Referência:
(1) BERGMAN, Ingmar. Sonata de outono.

3

"Amar é Eros, porque sempre se dá obliquamente, dissimulando-se. Sem amar nada somos e como amar é o nada do que já somos e não somos, em seu dar-se dissimulando ele sempre se retrai e mais nos atrai e arrasta na paixão amorosa. É que em toda paixão amorosa só amamos ao outro quando acontece a unidade e vigor das diferenças: o amar" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 293.

4

"Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passsa a acontecer dentro de nós" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Texto publicado numa montagem artística de fotos com textos de Clarice, sem indicação da fonte.


5

O amar em que consiste o doar não doa algo, presentifica a proximidade que aproxima e diferencia, pois é no diferenciar que o amar se torna amar enquanto este realiza a presentificação do que como proximidade de diferenças nos foi doado. Amar é essencialmente dialogar pelo qual não nos comunicamos em primeiro lugar e nisso nos igualamos ou nos tornamos uniformes, mas o dialogar faz eclodir a proximidade que nos aproxima tanto do que somos como do que não somos, isto é, amar é aproximar enquanto a realização do mesmo de apropriar e diferenciar.


- Manuel Antônio de Castro


6

"Seja para o pensamento, seja para as artes, Eros sempre foi a grande questão, sendo a mais tematizada, interpretada e aprofundada. Por detrás do seu agir, como aquilo que o move, está sempre o Amor do amar. Dessa maneira, há uma certa impropriedade em se falar de Eros como algo substantivo, pois remete facilmente para a sua interpretação e compreensão como algo, como um ente. E não é isso Eros. Como essência do agir é total e completa energia de realização, é luz irradiante em contínuo acontecer" (1).


CASTRO, Manuel Antônio de. "Eros, o humano e os humanismos". In: Eros, tecnologia, transumanismo. Org. Maria Conceição e Outros. Rio de Janeiro: Caetés, 2015, 45.


7

"E o que nos é próprio? A poético-ecologia enquanto cura poético-amorosa, pois apropriarmo-nos do que nos é próprio é amar. Amar é levar à plenitude de sentido o que nos foi dado e é próprio: o tempo enquanto o ser, o nossso destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Arte: corpo, mundo e terra. CASTRO, Manuel Antônio de (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 29.


8

"Amar é mistério. E como mistério, para os seres humanos, constitui sempre uma questão. O amar como mistério nos lança na angústia e paradoxo da finitude: o mundo como escuridão e luminosidade, como amor e ódio, como bem e mal. Amar é ser. Por isso, não cessamos de nos perguntar: o que é o amor? Porém, só o amar habita a questão, a questão de ser e amar..." (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 291.


9

"Toda dobra desdobrando-se é um contínuo discernir, isto é, um pensar no desvelado o velado, nas vivências do vivente a sua fonte, a Vida. Discernir é sempre um ato corajoso e necessário de apreender e compreender, no que se dá a ver, o que se retrai e vela. Discernir é deixar-se tomar pela carência em meio à riqueza originária da realidade. Radicalmente, discernir é deixar-se tomar pela morte como medida do viver. Discernir é pensar e pensar é amar. Amar é o vigorar do entre na referência do amante e da amada" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 246.


10

"A essência da questão é o mistério. Só questionamos porque já vigoramos nele. Porém, o amar é a mais completa realização do mistério que, fundando toda proximidade, sempre se retrai, jogando-nos na distância, o entre ser e estar. No e pelo amar o mistério acontece naqueles que amam e se amam no e a partir do mistério" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 292.


11

"O vigorar da inclusão é que faz a proximidade e distância fazerem-se sempre presentes no amar e não parecer no aparecer. É o dar-se união amorosa. Só há aparência do aparecer quando há o esquecimento do sentido do ser, porque o aparecer se move no plano dos entes. E estes nunca podem fundar ser, porque só este é vigorar, acontecer. Amar é acontecer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 308.
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