Época
De Dicionrio de Potica e Pensamento
Edição feita às 19h52min de 28 de Julho de 2016 por Profmanuel (Discussão | contribs)
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- Época é um conceito e uma questão. Como conceito reduz a obra aos seus aspectos formais, seja sob o ponto de vista de estilo, seja sob o ponto de vista do conteúdo. Na sucessão de estilos, a obra é vista enquanto um produto do tempo cronológico e historiográfico. Porém, a obra, sendo uma questão, se dá como época a partir do que esta palavra significa: retenção, o que se dando se guarda, suspensão. Do quê? Do que na obra opera enquanto no desvelar-se se vela. Por isso, a melhor atitude em relação à obra é considerá-la como lugar, onde este diz a abertura do ser humano, como entre, para o ser. A tal abertura ou lugar se dá o nome de clareira. Época diz sempre clareira. A esse respeito, cabe consultar o que Heidegger diz no ensaio "A sentença de Anaximandro" (1) para ver como a época se relaciona à História.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Pré-socráticos – Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 28.
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- "História do ser significa destino do ser. Nessas destinações, tanto o destinar quanto o ser que se destina retêm-se com a manifestação de si mesmos. Em grego, reter-se equivale a epoché. Por isso se fala da época do destino do ser" (1). Fica bem claro que época, o reter-se, se refere ao que se dando se guarda, isto é, retém-se como o velado de desvelado. Ao se atentar só para a forma dos estilos ou temas, na caracterização e estudo das obras de arte, o que lhes é essencial não se pensa. Época, em sentido essencial, é sempre destino do ser. Nesse sentido, as obras de arte, como vigência do destino, são sempre inaugurais e só podem ser inaugurais porque justamente elas são epocais, isto é, como destino, não cessam de revelar a realidade dizendo-a de muitas maneiras. Estas maneiras é que são propriamente os estilos, mas que não têm sua fonte em si, mas no poder das obras. Nos estilos só enquanto o manifesto nas formas, não se pensa propriamente a epoché, daí a dificuldade de pensar a epoché sem o dar-se. Por isso afirma Ronaldes de Melo e Souza: "Este acontecimento propriamente histórico-ontológico de um dar que somente dá seu dom e a si mesmo se subtrai é o destinar (das Schicken) do evento criptofânico (das Ereignis), a que Heidegger reporta o evento epifânico da Presença (das Sein)" (2).
- Referências:
- (1) HEIDEGGER, Martin apud SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro: 95, out.-dez., 1988, p. 14.
- (2) SOUZA, Ronaldes de Melo e. "O saber em memória do ser". In: Revista Tempo Brasileiro, nº 95. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1988, p. 14.
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- "O Ser se vela, como destino, ao destinar-se no homem, pois é essencialmente destino. O velamento é o vigor do destinar-se. A época, para Heidegger, expressa o movimento dialético de desvelar-se e velar-se. A compreensão, portanto, das diferentes épocas só é possível através da dialética que o próprio Ser instaura" (1). "É no destino epocal do Ser que se essencializa a história dos homens" (2).
- Referências:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
- (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 131.
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- "A época é o ilimitado instituindo limites e o humano emergindo em sua historicidade. Por isso, a verdade do literário, o que vale dizer do humano, radica no ser da historicidade" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético - a história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 63.
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- Em nossa vida de travessia, a cada escolha, a cada ação, a cada passo, não é um caminho que se abre, mas muitos. A possibilidade dos muitos caminhos não só pessoais, mas reais, porque igualmente epocais, é a realidade acontecendo enquanto memória. Misteriosamente, a memória é a morte se dando em vida, manifestando-se nos viventes. Ela é muito mais do que a cronologia e a causalidade. Ela é o acontecer poético, que é sem por quê.
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- Época é toda interpretação nova e coletiva que é feita a partir do destinar-se do sentido do ser. O sentido do ser acontece na interpretação pelo vigorar da linguagem.
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- Arte é desafio humano de criação. Mas o que é criar? O que é ser humano? Por etapas: A concepção de criar ressente-se dos humanismos, frutos de uma metafísica do esquecimento do sentido do Ser. Por metafísica entenda-se aí fundamento. O Cristianismo, via Judaísmo, traduziu o Ser / Physis como fundamento e este como Deus, o Criador. Logo, Deus é o criador de entes e como fundamento tornou-se o ente absoluto, ou seja, o "Então". O que ficou aí esquecido é o sentido do Ser em seu mistério, irredutível à totalidade dos entes, a um "Então". Portanto, a criação não depende de um fundamento, tradicionalmente identificado com sujeito (em grego hypokeimenon e em latim subjectum). Então em arte, o ser humano, identificado ao sujeito, tornou-se o criador das obras de arte, que é uma contradição metafísica. Em verdade o ser humano não cria nada. Ele tem de enfrentar o grande desafio. Qual? De um lado, não nos criamos, de outro, já estamos projetados nas questões, que não criamos, ninguém cria, pois são elas que nos têm, se apossam de nós, independentemente de nossa vontade. É então que entra aí o propriamente humano, ou seja, o artístico: responder ao desafio das questões. Cada obra de arte manifesta o humano porque cada uma é uma tentativa de resposta às questões. E nisso consiste a "criação" artística, ou seja, manifestação do humano. Mas nenhuma resposta dá conta e elimina a questão, porque somos o fundamento ou sujeito das respostas, não das questões. As questões são fundadas pelo Nada. Somos fundados pelo nada. Então criar é responder às questões originárias de modo original, porque cada situação, sempre diferente em seu acontecer, exige de nós novas respostas, ou seja, novas obras de arte, onde o humano se manifesta como destinado pelas questões do sentido do Ser, do Inesperado, no dizer de Heráclito (frag. 18). Cada obra de arte produz manifestação de mundo, o sentido do Ser que se destina no ser humano enquanto pensar. Eis aí a essência verbal da arte em suas épocas e, portanto, da necessidade do contemporâneo.
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- "A época da linguagem instrumental reproduz a forma formulada no telos como finalidade ou objetivo. O objeto do objetivo é o tempo da subjetividade racional como medida da representação conceitual da realidade. Sua realidade temporal e histórica se representa na objetividade da subjetividade, enquanto relações e funcionamento das funções das diferentes instâncias das teorias ou disciplinas, em que as realizações da realidade são apreendidas: social, econômica, antropológica, psicológica, política etc." (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.