Imaginação
De Dicionrio de Potica e Pensamento
Edição feita às 02h16min de 25 de Abril de 2021 por Profmanuel (Discussão | contribs)
Tabela de conteúdo |
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- "Mentira e realidade são uma coisa só. Tudo pode acontecer. Tudo é sonho e verdade. Tempo e espaço não existem. Sobre a frágil base da realidade, a imaginação tece sua teia e desenha novas formas, novos destinos" (1).
- (1) Referência:
- Strindberg. Peça teatral Sonhos. Passagem citada no filme de Ingmar Bergman Fanny e Alexander, 1982.
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- A construção do homem e da realidade, através da imaginação, pode levar ao equívoco. Primeiro, porque a imaginação pode aparecer como uma mediação na tensão finito/infinito. Segundo, porque, no parecer de Kierkegaard, "... a imaginação é geralmente o agente da infinitização, não é uma faculdade como as outras... mas, por assim dizer, é o seu proten" (1). Fundando imaginação está a abertura do ser humano ao ser, que se dá como clareira. Clareira é também imaginação.
- Referência:
- (1) KIERKEGAARD, Soren Aabye. O desespero humano. 6.e. Porto: Livraria Tavares Martins, 1979, p. 62.
- Ver também:
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- "O olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê" (1)
- Referência:
- (1) BARROS, Manoel de. "Livro sobre nada". In: ----. Poesia completa. São Paulo, Leya, 2013, p. 324.
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- "Não são só os infantes que fabulam, alguns adultos também. Também eles constroem narrativas fabulosas, imaginárias, ou, numa palavra geralmente mais aceita pelos teóricos literários, ficcionais. Até se fala em gênero ficcional, o que julgamos impróprio, pois a ficção não é um gênero, é a própria essência do literário. A ficcionalidade é a literariedade " (1). Mas fique claro, no caso ficção jamais quer dizer algo inventado, não verdadeiro nem real. Muito pelo contrário, a ficção, como literário, se torna o campo fecundo de manifestação da verdade, naquilo que ela tem de poder de eclosão da realidade.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ------------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 133.
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- "Quando a galinha choca o ovo, é o próprio ovo que eclode no que já é e será, o pinto, e este não é uma criação da imaginação da galinha. O mesmo acontece com a criação poética: o autor apenas choca o que a linguagem cria. A dita faculdade criativa da imaginação é um desvio enganoso do sujeito racional prepotente" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 218.
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- "O sentido atual de fantasiar é tanto imaginar como vestir uma fantasia. Porém, a palavra vem do grego phantasia. É um substantivo formado do verbo grego phaino, que significa manifestar, daí também se origina a palavra fenômeno. Fantasiar é poder manifestar o quê? Fantasiar diz imaginar e vestir uma fantasia. Os dois sentidos não se excluem, integram-se. Revestir-se de uma fantasia como imaginar, isto é, apropriar-se do que é próprio) é realizar a travessia enquanto destino (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Grande Ser-Tao: diálogos amorosos”. In: SECCHIN, Antônio Carlos et alii. Veredas no sertão rosiano. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, p. 153.
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- "... a poesia fala por 'imagens'. Assim e num sentido muito privilegiado, as imagens poéticas são imaginações. Imaginações e não meras fantasias ou ilusões. Imaginações entendidas não apenas como inclusões do estranho na fisionomia do que é familiar, mas também como inclusões passíveis de serem visualizadas. O dizer poético das imagens reúne integrando a claridade e a ressonância dos muitos aparecimentos celestes numa unidade com a obscuridade e a silenciosidade do estranho" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: -----. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 177.
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- Hoje com a denominada realidade virtual, fica difícil distinguir o que é irreal, fantasia, ilusão, imaginação, ficção e, até mesmo, ideal. A tradicional apreensão científica e verdadeira para dizer o que é real ou não se diluiu. E mais interessante ainda: a realidade virtual parte de um suporte fundamentado no matemático, tomando como base o "zero" e o "um", enquanto compõem a unidade mínima ou "bit". A fronteira desse poder todo está contido no sentido da emoção enquanto eros em seu sentido ontológico.
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- "A imaginação é uma força extraordinária. Uma força ilimitada... Apenas grandes poetas, artistas e músicos a possuem..." (1).
- Referência:
- In filme de Ingmar Bergman: Fanny e Alexander, 1982. Fala do personagem Bispo Vergerus. No caso refere-se ao jovem personagem Alexander, dotado de muita imaginação.
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- "Também melhor se entende a ficcionalidade se atentarmos para o terceiro significado do verbo latino fingere: imaginar. O imaginar é o contraponto do formar. O contraponto indica a presença da tensão do limite e do ilimitado, da diferença e da identidade, da língua e da Linguagem. O formar sem o imaginar origina os formalismos, provocando equívocos sobre o fazer literário. Já o literário se realiza quando o imaginário irrompe em produções. É isto o que caracteriza fundamentalmente a literatura infantil: uma presença marcante e irrefreável do imaginário. Porque a criança é mais sensível ao imaginário. Nela, o sonho é realidade e a realidade é sonho. Nela, o imaginário é realidade e a realidade é imaginário. Ainda não sofreu o processo de formação que a deforma para o real-imaginário e a deseduca para a humanização. Pelo imaginar, o homem consuma a sua humanização, na medida em que manifesta o sentido do que ele é. Isso se chama libertação. Na realidade ficcional-literária o imaginar é o real vigorando" (1).
- Referência:
- CASTRO, Manuel Antônio de. "Ficção e literatura infantil". In: ------------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 134.
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- O homem moderno criará a partir da imaginação. Contudo, para isto haverá uma profunda transformação. E a grande metáfora para indicar e conduzir esta mudança será o universo como um gigantesco relógio. Nesta mudança o Ser é substituído pelo Tempo, mas agora um tempo que pode ser conhecido, medido e até se podem efetuar intervenções, fundamentadas, claro, desde então, nesse novo conhecimento que passou a ser denominado científico, porque objetivo. E desde então só será verdadeiro o que for científico. A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeiro “criador”. Um tal conhecimento é exercido pela razão crítica, que se fundamenta na Razão Crítica de Kant.
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- "J - A imaginação só poderá vagar se abandonarmos a pura representação. Quando, porém, a imaginação jorra como fonte do pensamento, parece-me que, ao invés de vagar, a imaginação recolhe" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem...". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 114.
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- "Fazer um homem é criá-lo, e 'criar' não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade' (1).
- Referência:
- (1) LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 19.