Ação
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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+ | : "O [[pensamento]] não se transforma em [[ação]] por dele emanar um efeito ou por vir a ser aplicado. O [[pensamento]] age enquanto pensa. Seu [[agir]] é, de certo, o que há de mais [[simples]] e elevado, por afetar a [[re-ferência]] do [[Ser]] ao [[homem]]. Toda [[produção]] se funda no [[Ser]] e se dirige ao [[ente]]. O [[pensamento]], ao contrário, se deixa requisitar pelo [[Ser]] a fim de proferir-lhe a [[Verdade]]. O [[pensamento]] con-suma esse deixar-se" (1). | ||
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+ | : A [[ação]] está ligada ao [[movimento]]. Os [[gregos]] distinguiram quatro tipos de [[movimento]]: 1º. O local, a mudança de [[lugar]]; 2º. O quantitativo: o aumento e diminuição; 3º. O qualitativo ou alteração; 4º. O substancial: a geração e a corrupção. Se pensarmos todos esses [[movimentos]] numa única [[questão]], na união de [[ser]] e [[saber]], de ''[[lógos]]'' e ''poíesis'', teremos a [[questão]] [[fundamental]] da [[sabedoria]]. Esta é a [[questão]] que atravessa [[mito]], ''[[poíesis]]'' e [[filosofia]]. E então joga o [[ser humano]] no [[horizonte]] do [[sagrado]], onde o [[ser]] do [[ser humano]] acontece. | ||
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+ | : "Quando o [[fato]] precede e determina o [[ato]], deixa de haver [[liberdade]] [[essencial]], deixa de haver a [[essência]] do [[agir]]. Há, portanto, o [[agir]] dos [[fatos]] e o [[agir]] dos [[atos]]. Que falamos é um [[fato]], que podemos [[falar]] é um [[ato]]. Também podemos [[silenciar]]. Neste convivem muito bem [[ato]] e [[fato]]. Em todo [[ato]] de [[fala]] quem [[vigora]] sempre é a [[linguagem]], falemos em que [[língua]] ([[fato]]) falemos" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Liberdade]], [[vontade]] e uso de drogas". In: ----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 274.''' | ||
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+ | : "Temos assim encontrado um ponto de partida: o [[homem]] enquanto exerce o [[sentido]] do seu [[ser]] na [[ação]]. É, portanto, na [[ação]] que encontramos o [[homem]] e o [[sentido]] do seu [[ser]]. E [[realmente]] a [[ação]] constitui um [[legítimo]] ponto de partida porque é o único dado imediatamente captado e por isto não pressupõe [[nada]], porque [[tudo]] o mais nos é dado através da [[ação]], ela implica todo o resto. Assim a [[ação]] aparece como único ponto de partida [[legítimo]]" (1). | ||
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+ | : (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio.''' Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado cardeal. [[Metafísica]]. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963.''' | ||
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+ | : "O nosso ponto de partida para toda a [[metafísica]] é o [[homem]] assim como realiza o [[sentido]] do seu [[ser]] através da [[ação]]. [[Entre]] as [[ações]] [[humanas]] escolhemos a [[pergunta]] porque ela é eminentemente característica do [[homem]]" (1). | ||
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+ | : (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio. '''[[Metafísica]]. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.''' | ||
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+ | : "O [[sentido do Ser]] torna a [[questão]] da [[essência]] do [[agir]] o fio condutor para repensar não só a [[filosofia]], mas também a [[poesia]] e o seu exercício de [[leitura]] e [[interpretação]]. É porque [[ação]] em seu [[sentido]] não pode [[ser]] apenas algo [[racional]], [[abstrato]] e distante, implica a [[presença]] do ''[[Dasein]]'' [[concreto]] e [[vital]]" (1). | ||
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- | : | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.''' |
Edição atual tal como 19h13min de 31 de março de 2025
- Ação, ver também Agir.
1
- O agir, o vir-a-ser da phýsis, do ser, sempre provocou o nosso espanto. Este espanto ao longo do percurso ocidental permaneceu e permanece, apesar das diferentes teorias e respostas. A teoria, enquanto um ver/saber, percorre diversas disciplinas. Na física, o agir se indaga como força. Para ela há quatro forças fundamentais. A primeira delas é a gravidade, que sustenta a órbita dos planetas em torno do sol ou atrai os corpos para o centro da terra. A segunda é a força eletromagnética, que mantém os átomos inteiros. A terceira, a força nuclear fraca, é responsáve pela produção de energia solar. A quarta, a força nuclear forte, é a que mantém unidas as partículas fundamentais de toda a matéria, os quarks. Esta é ambígua, porque quanto mais se tenta quebrar essas partículas, mais poderosa fica a força. Por isso é impossível isolá-los. Estas forças remetem para o enigma da phýsis como ser, vir-a-ser e não-ser. Como achar uma teoria que explique, sozinha, como a matéria se combina, se mantém unida e se repele? Não seria fundamental pensar a essência da matéria no seu sentido de ser?
2
- "No princípio era o Verbo. É esta a letra expressa;
- aqui está... No sentido é que a razão tropeça.
- Como hei de progredir? Há 'í quem tal me aclare?
- O Verbo!! Mas o Verbo é coisa inacessível.
- Se apurar a razão, talvez me depare
- para o lugar de Verbo um termo inteligível...
- Ponho isto: No princípio era o Senso... Cautela
- nessa primeira linha; às vezes se atropela
- a verdade e a razão coa rapidez da pena;
- pois o Senso faz tudo, e tudo cria e ordena?...
- É melhor: No princípio era a Potência... Nada!
- Contra isso que pus interna voz me brada.
- (Sempre a almejar por luz, e sempre na escuridão)
- ...Agora é que atinei: No princípio era a Ação..." (1)
- Referência:
- (1) GOETHE, Johann W. Fausto, trad. Antônio Feliciano de Castilho. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1969, p. 113. Quadro IV, Cena I.
3
- "... toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada" (1).
- Referência:
4
- "... para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa. Aquilo está no encoberto; mas, fora dessa consequência, tudo o que eu fizer, o que o senhor fizer, o que o beltrano fizer, o que todo-o-mundo fizer, ou deixar de fazer, fica sendo falso, e é errado" (1).
- Referência:
5
- "O pensamento não se transforma em ação por dele emanar um efeito ou por vir a ser aplicado. O pensamento age enquanto pensa. Seu agir é, de certo, o que há de mais simples e elevado, por afetar a re-ferência do Ser ao homem. Toda produção se funda no Ser e se dirige ao ente. O pensamento, ao contrário, se deixa requisitar pelo Ser a fim de proferir-lhe a Verdade. O pensamento con-suma esse deixar-se" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER. Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 25.
6
- A ação está ligada ao movimento. Os gregos distinguiram quatro tipos de movimento: 1º. O local, a mudança de lugar; 2º. O quantitativo: o aumento e diminuição; 3º. O qualitativo ou alteração; 4º. O substancial: a geração e a corrupção. Se pensarmos todos esses movimentos numa única questão, na união de ser e saber, de lógos e poíesis, teremos a questão fundamental da sabedoria. Esta é a questão que atravessa mito, poíesis e filosofia. E então joga o ser humano no horizonte do sagrado, onde o ser do ser humano acontece.
7
- "Quando o fato precede e determina o ato, deixa de haver liberdade essencial, deixa de haver a essência do agir. Há, portanto, o agir dos fatos e o agir dos atos. Que falamos é um fato, que podemos falar é um ato. Também podemos silenciar. Neste convivem muito bem ato e fato. Em todo ato de fala quem vigora sempre é a linguagem, falemos em que língua (fato) falemos" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 274.
8
- "Temos assim encontrado um ponto de partida: o homem enquanto exerce o sentido do seu ser na ação. É, portanto, na ação que encontramos o homem e o sentido do seu ser. E realmente a ação constitui um legítimo ponto de partida porque é o único dado imediatamente captado e por isto não pressupõe nada, porque tudo o mais nos é dado através da ação, ela implica todo o resto. Assim a ação aparece como único ponto de partida legítimo" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado cardeal. Metafísica. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963.
9
- "O nosso ponto de partida para toda a metafísica é o homem assim como realiza o sentido do seu ser através da ação. Entre as ações humanas escolhemos a pergunta porque ela é eminentemente característica do homem" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois passou por uma ordenação Episcopal e posteriormente foi nomeado Cardeal.
10
- "O sentido do Ser torna a questão da essência do agir o fio condutor para repensar não só a filosofia, mas também a poesia e o seu exercício de leitura e interpretação. É porque ação em seu sentido não pode ser apenas algo racional, abstrato e distante, implica a presença do Dasein concreto e vital" (1).
- Referência: