Rito

De Dicionário de Poética e Pensamento

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: "O [[rito]], em sua [[etimologia]], está ligado ao [[sagrado]] e expressa nas [[religiões]] o advento da ''[[ordem]]'' do que, em [[princípio]], é caótico, encantador e misterioso. [[Caos]] não é desordem. É [[fonte]] inesgotável de toda [[ordem]]. Os [[ritos]] concretizam a [[cultura]] enquanto [[culto]]" (1).
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: "O [[rito]], em sua [[etimologia]], está ligado ao [[sagrado]] e expressa nas [[religiões]] o [[advento]] da ''[[ordem]]'' do que, em [[princípio]], é [[caótico]], encantador e [[misterioso]]. [[Caos]] não é [[desordem]]. É [[fonte]] inesgotável de toda [[ordem]]. Os [[ritos]] [[concretizam]] a [[cultura]] enquanto [[culto]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a escuta do canto das sereias". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a escuta do canto das sereias". In: -------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
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:Os ritos são atos, mas atos primordiais, atualização de um exemplar mítico (não qualquer ato), segundo Eliade. Os ritos atualizam atos de [[deuses]], [[herói|heróis]] ou antepassados. Ao mostrar o valor transcendente dos atos, Mircea Eliade está falando, na realidade, dos ritos (1). "Um ritual qualquuiera... se desarolla no sólo en um espacio consagrado, es decir, essencialmente distinto del espacio profano, sino además en un 'tiempo sagrado', 'en aquel tiempo' (In illo tempore, ab origine), es decir, cuando el ritual fue llevado a cabo, por vez primera por un dios, un antepasado o un heroe" (2).  "... se considera que los actos religiosos han sido fundados por los dioses, héroes civilizados o antepassados míticos" (3). "Hemos visto que todos los rituales imitan un arquetipo divino y que su reactualización continua ocurre en el mismo instante mítico atemporal" (4). A separação entre o sagrado e o profano deu lugar ao [[símbolo|simbólico]] e preparou a fuga dos deuses, pelo advento da [[secularização]] da [[realidade]]. No dizer de Heráclito, o [[extraordinário|extra-ordinário]] habita o habitual e diário.  
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: Os [[ritos]] são [[atos]], mas [[atos]] primordiais, [[atualização]] de um [[exemplar]] [[mítico]] (não qualquer [[ato]]), segundo Eliade. Os [[ritos]] atualizam atos de [[deuses]], [[herói|heróis]] ou antepassados. Ao [[mostrar]] o [[valor]] [[transcendente]] dos [[atos]], Mircea Eliade está falando, na [[realidade]], dos [[ritos]] (1). "Un [[ritual]] qualquiera... se desarolla no sólo en un espacio consagrado, es decir, essencialmente distinto del espacio [[profano]], sino además en un '[[tiempo]] [[sagrado]]', 'en aquel [[tiempo]]' (In illo [[tempore]], ab [[origine]]), es [[decir]], cuando el [[ritual]] fue llevado a cabo, por vez primera por un [[dios]], un antepasado o un [[heroe]]" (2).  "... se considera que los [[actos]] [[religiosos]] han sido fundados por los [[dioses]], héroes civilizados o [[antepassados]] [[míticos]]" (3). "Hemos visto que todos los [[rituales]] imitan un arquetipo divino y que su reactualización continua ocurre en el mismo instante mítico atemporal" (4). A separação [[entre]] o [[sagrado]] e o [[profano]] deu lugar ao [[símbolo|simbólico]] e preparou a fuga dos [[deuses]], pelo [[advento]] da [[secularização]] da [[realidade]]. No [[dizer]] de [[Heráclito]], o [[extraordinário|extra-ordinário]] habita o [[habitual]] e diário.  
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) ELIADE, Mircea. '''El mito del eterno retorno'''. Madrid, Alianza, 1972, p. 15.
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: (2) Idem, p. 28.
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: (3) Idem, p. 29.
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: (4) Idem, p. 75.
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:(1) ELIADE, Mircea. ''El mito del eterno retorno''. Madrid, Alianza, 1972, p. 15.
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: *[[Mesmo]]
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: *[[Identidade]]
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" O que é um [[rito]]? É o [[vigor]] de [[manifestação]] do [[mito]] na [[palavra]], na [[dança]], na [[música]] etc. O [[rito]] traz, assim, todo o [[vigor]] do [[mito]], toda a [[presença]] do [[mito]]. No [[rito]] somos diretamente postos na [[presença]] do [[mistério]], ou seja, não há [[representação]] nem [[mediação]]. Um [[rito]] não é [[símbolo]]. Nâo precisa de [[elementos]] além de si mesmo. Ao contrário, [[diz]] por si mesmo, coloca plenamente na presença do [[sagrado]]. [[Rito]] é [[experienciação]] do [[sagrado]]. Não é uma mera [[experiência]] sensorial ou [[intelectual]]. Não pode ser vivido senão como [[vigor]] da tensão [[mito]] ''e''[[rito]]" (1).
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" O que é um [[rito]]? É o [[vigor]] de [[manifestação]] do [[mito]] na [[palavra]], na [[dança]], na [[música]] etc. O [[rito]] traz, assim, todo o [[vigor]] do [[mito]], toda a [[presença]] do [[mito]]. No [[rito]] somos diretamente postos na [[presença]] do [[mistério]], ou seja, não há [[representação]] nem [[mediação]]. Um [[rito]] não é [[símbolo]]. Não precisa de [[elementos]] além de si mesmo. Ao contrário, [[diz]] por si [[mesmo]], coloca plenamente na presença do [[sagrado]]. [[Rito]] é [[experienciação]] do [[sagrado]]. Não é uma mera [[experiência]] sensorial ou [[intelectual]]. Não pode ser vivido senão como [[vigor]] da tensão [[mito]] ''e''[[rito]]" (1).
: Referência:
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: (1) TAVARES, Renata. ''Do silêncio à liberdade - Uma Aprendizagem ou O livro dos prazeres''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2012, p. 83.
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: (1) TAVARES, Renata. '''Do silêncio à liberdade - Uma Aprendizagem ou O livro dos prazeres'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2012, p. 83.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: *[[Sagrado]]
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: *[[Ritual]]
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: Só o rito começa e termina, mas como o começar e terminar não provêm dele mas do [[mito]], todo começar e terminar  - enquanto rito – nos lançam no [[principiar]] e [[consumar]]. E é nesse ''[[entre]]'' que o [[sagrado]] enquanto [[poietizar]] e temporalizar nos aparece como circular.
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: Só o [[rito]] começa e termina, mas como o começar e terminar não provêm dele mas do [[mito]], todo começar e terminar  - enquanto [[rito]] – nos lançam no [[principiar]] e [[consumar]]. E é nesse ''[[entre]]'' [[principiar]] e [[consumar]] que o [[sagrado]] enquanto [[poietizar]] e [[temporalizar]] nos aparece como [[circular]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: Mas por que o rito é tão importante? O que diz em sua [[etimologia]] o rito? Ordem. Mas o que é ordem? Eis o que diz Aristóteles: ''taksis dè paza logos'': Toda ordem, porém, é uma força de [[reunião]].
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: Mas por que o [[rito]] é tão importante? O que diz em sua [[etimologia]] o [[rito]]? [[Ordem]]. Mas o que é [[ordem]]? Eis o que diz Aristóteles: ''taksis dè paza logos'': Toda [[ordem]], porém, é uma força de [[reunião]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: O que é o ritual? Se bem notarmos é o que é no como é, mas em que este tem por [[fim]], por ''[[telos]]'', realizar o [[princípio]] enquanto [[comemoração]]. O rito não representa [[nada]], não lembra nada, não encena nada, não busca nenhuma [[explicação]], nenhuma [[causa]], nenhuma [[fundamento]]. É puro [[comemorar]], é total [[realizar]]. Também não há separação entre os três ''[[telos]]'', nem separação entre [[figura]] (estrutura como função, mas em vista do terceiro ''[[telos]]'', onde o funcionar é “o como é†de “o que éâ€, mas tanto da figura como da configuração em que cada povo acontece. Num tal [[acontecer]] acontece [[tudo]] e [[nada]], pois o circular do [[tempo]], ''póiesis'', [[linguagem]] e [[memória]] nasce de nada e volta ao [[nada]]. Mas neste percurso e [[discurso]] do [[tempo]] enquanto ''[[póiesis]]'' e [[linguagem]] em que se dá a [[memória]] se presentifica ao mesmo tempo o presentificado e o presentificável, onde não há [[causalidade]] nem [[fundamento]].
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: O que é o [[ritual]]? Se bem notarmos é [[o que é]] n'[[o como é]], mas em que este tem por [[fim]], por ''[[telos]]'', [[realizar]] o [[princípio]] enquanto [[comemoração]]. O [[rito]] não representa [[nada]], não lembra nada, não encena nada, não busca nenhuma [[explicação]], nenhuma [[causa]], nenhum [[fundamento]]. É puro [[comemorar]], é total [[realizar]]. Também não há separação entre os três ''[[telos]]'' (ver), nem separação entre [[figura]] ([[estrutura]] como [[função]], mas em vista do terceiro ''[[telos]]'', onde o [[funcionar]] é “[[o como é]]†de “[[o que é]]â€, mas tanto da [[figura]] como da [[configuração]] em que cada [[povo]] acontece. Num tal [[acontecer]] acontece [[tudo]] e [[nada]], pois o [[circular]] do [[tempo]], ''[[póiesis]]'', [[linguagem]] e [[memória]] nasce de [[nada]] e volta ao [[nada]]. Mas neste [[percurso]] e [[discurso]] do [[tempo]] enquanto ''[[póiesis]]'' e [[linguagem]] em que se dá a [[memória]] se presentifica ao mesmo [[tempo]] o presentificado e o presentificável, onde não há [[causalidade]] nem [[fundamento]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "Mas note-se que essas [[questões]] não são [[propriedade]] única dos gregos. Cada conjunto de [[mitos]] em todas as [[culturas]] já são modos diferentes de se defrontarem com as mesmas [[questões]]. Em nenhuma [[cultura]] [[mito]] quer ser [[explicação]] de algo. A redução dos [[mitos]] a [[explicações]] já é uma [[visão]] fundamentada na [[metafísica]] do [[fundamento]], da [[causalidade]]. O [[mito]] manifesta a [[questão]] e estabelece a [[referência]] de [[ser]] e [[essência]] do [[ser humano]]. Todo [[mito]] é uma [[referência]] onde se manifesta a [[questão]]. Todo [[rito]] é uma [[narração]] não de uma [[história]], mas da [[manifestação]] da [[questão]]. A [[questão]] é prévia a todo [[mito]] e [[rito]]. Porém, ela nunca é a-temporal, nem a-espacial e nem a-histórica. Onde houver [[acontecer]] de [[tempo]] e [[espaço]] aí se fará presente sempre a [[história]]" (1).
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: "Mas note-se que essas [[questões]] não são [[propriedade]] única dos [[gregos]]. Cada conjunto de [[mitos]] em todas as [[culturas]] já são modos diferentes de se defrontarem com as mesmas [[questões]]. Em nenhuma [[cultura]] [[mito]] quer ser [[explicação]] de algo. A redução dos [[mitos]] a [[explicações]] já é uma [[visão]] fundamentada na [[metafísica]] do [[fundamento]], da [[causalidade]]. O [[mito]] manifesta a [[questão]] e estabelece a [[referência]] de [[ser]] e [[essência]] do [[ser humano]]. Todo [[mito]] é uma [[referência]] onde se manifesta a [[questão]]. Todo [[rito]] é uma [[narração]] não de uma [[história]], mas da [[manifestação]] da [[questão]]. A [[questão]] é prévia a todo [[mito]] e [[rito]]. Porém, ela nunca é a-temporal, nem a-espacial e nem a-histórica. Onde houver [[acontecer]] de [[tempo]] e [[espaço]] aí se fará presente sempre a [[história]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: --------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 128.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: --------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 128.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 158.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 158.
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: " As [[referências]] “[[entre]]†o [[mito]] do [[real]] e o [[mito do homem]] constituem a [[essência]], [[sentido]] e trajetória da [[cultura]] [[ocidental]]. Aí [[cultura]] é empregada no [[sentido]] de [[experienciações]] do [[sagrado]]. Os [[ritos]] são a sintaxe [[poética]] dos [[mitos]], enquanto [[narrações]] das  [[questões]]" (1).
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: Referência:
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 23.
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: Os [[ritos]] são isso e nada mais do que isso: a [[presença]] no [[limite]] do que não cabe em nenhum [[limite]]. Os [[ritos]] no [[tempo]] e como [[tempo]], no [[espaço]] e como [[espaço]], na [[memória]] e como [[memória]], são as [[narrações]] [[míticas]] da [[presença]] do [[sagrado]].
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: - Manuel Antônio de Castro.

Edição de 22h59min de 12 de março de 2024

1

"O rito, em sua etimologia, está ligado ao sagrado e expressa nas religiões o advento da ordem do que, em princípio, é caótico, encantador e misterioso. Caos não é desordem. É fonte inesgotável de toda ordem. Os ritos concretizam a cultura enquanto culto" (1).


(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a escuta do canto das sereias". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.

2

Os ritos são atos, mas atos primordiais, atualização de um exemplar mítico (não qualquer ato), segundo Eliade. Os ritos atualizam atos de deuses, heróis ou antepassados. Ao mostrar o valor transcendente dos atos, Mircea Eliade está falando, na realidade, dos ritos (1). "Un ritual qualquiera... se desarolla no sólo en un espacio consagrado, es decir, essencialmente distinto del espacio profano, sino además en un 'tiempo sagrado', 'en aquel tiempo' (In illo tempore, ab origine), es decir, cuando el ritual fue llevado a cabo, por vez primera por un dios, un antepasado o un heroe" (2). "... se considera que los actos religiosos han sido fundados por los dioses, héroes civilizados o antepassados míticos" (3). "Hemos visto que todos los rituales imitan un arquetipo divino y que su reactualización continua ocurre en el mismo instante mítico atemporal" (4). A separação entre o sagrado e o profano deu lugar ao simbólico e preparou a fuga dos deuses, pelo advento da secularização da realidade. No dizer de Heráclito, o extra-ordinário habita o habitual e diário.


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) ELIADE, Mircea. El mito del eterno retorno. Madrid, Alianza, 1972, p. 15.
(2) Idem, p. 28.
(3) Idem, p. 29.
(4) Idem, p. 75.


Ver também:
*Mesmo
*Identidade
*Diferença
*Festa

3

" O que é um rito? É o vigor de manifestação do mito na palavra, na dança, na música etc. O rito traz, assim, todo o vigor do mito, toda a presença do mito. No rito somos diretamente postos na presença do mistério, ou seja, não há representação nem mediação. Um rito não é símbolo. Não precisa de elementos além de si mesmo. Ao contrário, diz por si mesmo, coloca plenamente na presença do sagrado. Rito é experienciação do sagrado. Não é uma mera experiência sensorial ou intelectual. Não pode ser vivido senão como vigor da tensão mito erito" (1).


Referência:
(1) TAVARES, Renata. Do silêncio à liberdade - Uma Aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2012, p. 83.

4

O rito é substancial, real em seus limites. O mito é a energia criativa sempre inaugural, sempre verbal, pois possibilita todas as substantivações dos ritos. O mito enquanto mito é um princípio de transformação, porque, originariamente, já é e, sendo, vigora, é verbal.


- Manuel Antônio de Castro

5

O rito e o culto são possíveis concretizações do poder manifestador do mito. E neles o agenciamento das diferentes manifestações e meios de realização evocam implicitamente uma poética, a poética mítica.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
* Sagrado
* Ritual

6

Só o rito começa e termina, mas como o começar e terminar não provêm dele mas do mito, todo começar e terminar - enquanto rito – nos lançam no principiar e consumar. E é nesse entre principiar e consumar que o sagrado enquanto poietizar e temporalizar nos aparece como circular.


- Manuel Antônio de Castro

7

Mas por que o rito é tão importante? O que diz em sua etimologia o rito? Ordem. Mas o que é ordem? Eis o que diz Aristóteles: taksis dè paza logos: Toda ordem, porém, é uma força de reunião.


- Manuel Antônio de Castro

8

O que é o ritual? Se bem notarmos é o que é n'o como é, mas em que este tem por fim, por telos, realizar o princípio enquanto comemoração. O rito não representa nada, não lembra nada, não encena nada, não busca nenhuma explicação, nenhuma causa, nenhum fundamento. É puro comemorar, é total realizar. Também não há separação entre os três telos (ver), nem separação entre figura (estrutura como função, mas em vista do terceiro telos, onde o funcionar é “o como é†de “o que éâ€, mas tanto da figura como da configuração em que cada povo acontece. Num tal acontecer acontece tudo e nada, pois o circular do tempo, póiesis, linguagem e memória nasce de nada e volta ao nada. Mas neste percurso e discurso do tempo enquanto póiesis e linguagem em que se dá a memória se presentifica ao mesmo tempo o presentificado e o presentificável, onde não há causalidade nem fundamento.


- Manuel Antônio de Castro

9

"Mas note-se que essas questões não são propriedade única dos gregos. Cada conjunto de mitos em todas as culturas já são modos diferentes de se defrontarem com as mesmas questões. Em nenhuma cultura mito quer ser explicação de algo. A redução dos mitos a explicações já é uma visão fundamentada na metafísica do fundamento, da causalidade. O mito manifesta a questão e estabelece a referência de ser e essência do ser humano. Todo mito é uma referência onde se manifesta a questão. Todo rito é uma narração não de uma história, mas da manifestação da questão. A questão é prévia a todo mito e rito. Porém, ela nunca é a-temporal, nem a-espacial e nem a-histórica. Onde houver acontecer de tempo e espaço aí se fará presente sempre a história" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 128.

10

"O ritual do mito – a palavra cantada - não encena, não representa, como o faz o saber da ciência. O ritual do mito se torna a manifestação do sentido da Escuta da palavra cantada. Não há o rito e a Escuta, mas o rito – a palavra cantada – é a própria Escuta enquanto manifestação do vigorar do mito. Desta maneira, a realidade da Escuta é a realidade do mito enquanto rito" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereiasâ€. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 158.

11

" As referências “entre†o mito do real e o mito do homem constituem a essência, sentido e trajetória da cultura ocidental. Aí cultura é empregada no sentido de experienciações do sagrado. Os ritos são a sintaxe poética dos mitos, enquanto narrações das questões" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arteâ€. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 23.

12

Os ritos são isso e nada mais do que isso: a presença no limite do que não cabe em nenhum limite. Os ritos no tempo e como tempo, no espaço e como espaço, na memória e como memória, são as narrações míticas da presença do sagrado.


- Manuel Antônio de Castro.
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