Poíesis

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 28.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 28.
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: "Quem não cultiva o [[silêncio]] não pode [[falar]] a [[fala]] do que [[é]]. E que desafio maior existe para cada um senão [[ser]]? Não qualquer [[coisa]] ou um [[outro]] qualquer, e até um [[outro]] que amamos. [[Ser]] só se é própria e apropriadamente quando marcamos um encontro sempre inadiável com o que nos é [[próprio]]. E o que nos é [[próprio]] ninguém pode dizê-lo nem [[ensinar]]. [[Silêncio]] não é falta de [[voz]] ou som, não é [[pausa]] de [[música]] ou [[fala]]. O [[silêncio]] é ruidoso, oprime e liberta, é [[dor]] e [[alegria]], dissolve a [[subjetividade]] e plenifica o [[ser]] de cada um. O [[silêncio]] é o máximo de [[fala]], quando [[falar]] só se consegue calando. O [[silêncio]] é o mergulho no mais [[profundo]] do [[entre]]/[[interior]] de todo [[horizonte]] em que já estamos sempre lançados e projetados e aliciados. O [[silêncio]] é o [[silêncio]] do culpado e do inocente. O [[silêncio]] é a concentração máxima da ''[[poiesis]]'' como [[essência]] de todo [[agir]]. A [[verdadeira]] e [[fundante]] [[poesia]] é [[sempre]] [[poesia]] do [[silêncio]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: ''Confraria'' - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 19.

Edição de 22h33min de 25 de Outubro de 2020

1

"Também a phýsis, o surgir e elevar-se por si mesmo, é uma pro-dução, é poíesis. A phýsis é até a máxima poíesis. Pois o vigente da phýsis tem em si mesmo o eclodir da produção. Enquanto o que é pro-duzido pelo artesanato e pela arte, por exemplo, o cálice de prata, não possui o eclodir da pro-dução em si mesmo, mas em um outro, no artesão e no artista" (1). Mas o artista só tem em si a poíesis na medida em que ele é o que ele é no vigorar do ser. A obra de arte opera na medida em que ela contém em si a poíesis, o vigorar da phýsis enquanto mediação, medida, linguagem.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: -----. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 16.

2

Poíesis é o vigorar da mediação como medida de tudo que é e não-é. O vigorar da medida denominou-se em grego logos, sendo uma tradução possível para o português linguagem. Por isso a poíesis se torna em arte a medida de toda obra uma vez que ela opera o manifestar a realidade e o humano de todo ser humano no e enquanto diálogo.


- Manuel Antônio de Castro

3

A melhor frequentação do silêncio nos advém da poíesis, das produções poéticas. A poíesis é o sentido de toda fala, porque a poíesis é o próprio silêncio vigorando. A poíesis é a sabedoria da fala do silêncio.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"A palavra grega “poíesis”, que gerou a palavra portuguesa poesia, em sentido amplo, não diz originariamente uma atividade cultural entre outras. Na e pela “poíesis” o próprio real se destina no homem para que este o realize numa plenitude que o próprio real por si não realiza. Na e pela “poíesis”, o próprio real se constitui como linguagem, mundo, verdade, sentido, tempo e história, em qualquer cultura" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 12.

5

"O que se dá a ver é, para os gregos, a physis; para nós, a realidade. Para mostrar o que se dá a ver (a realidade, a physis), o ser humano recebe da própria physis duas dimensões que o constituem, circunscrevem e determinam: o pensamento (nous, em grego) e a linguagem (logos, em grego). O nous é o pensamento que permite ver o não visto. E este pode ser dito enquanto sentido e mundo porque somos constituídos pelo logos, a linguagem. É o nous e o logos, na vigência da poíesis da realidade, que constituem o seu sentido e mundo, manifestados nos paradigmas. Chamamos poiesis a permanência e transformação da realidade, daí ser ela originária e radicalmente poética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 19.

6

"Diversas disciplinas tratam do sentir e da dor como conhecimento. Porém, a dor e o sentir como identidade e diferença só se manifestam no poietizar do poeta. É que a poiesis é o logos enquanto entre. Poietizar é entrear" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 29.

7

"O poético diz sempre a essência do agir, não mecânico, funcional, mas realização no e pelo sentido da compreensão e compreensão do sentido. Por isso, poíesis diz a energia de sentido e compreensão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

8

"Con-sumar o que somos é uma tarefa poética, isto é, não causal. A poiesis consiste propriamente em apropriar-se do que é próprio, do que cada um é. A poiesis é pensamento, pois no pensamento se con-suma a referência da Essência do homem ao sentido do Ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Espelho: o penoso caminho do auto-diálogo. Ensaio não publicado.

9

"Será que sabemos o que é poíesis? Poíesis é todo agir que tem como medida o ético" (1).


Referência:
(1) : CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 186.

10

"A poiesis tem um estranho caminho no Ocidente, porque ela foi esquecida e silenciada pela metafísica. Por isso, a teoria literária e a estética bem como a poética aristotélica não falam de e a partir da poiesis. Falam a fala da metafísica e, por isso, é uma fala da ciência sobre a poiesis. Onde está o estranho e contraditório? É que poiesis nunca, jamais, significou expressão linguística, não é um expressão da língua. Isso a música prova largamente, como outras artes. Por que, então, se identifica o poeta como aquele que escreve poemas numa língua, se expressa a partir da língua, tem o trato com a língua? Isso é um equívoco desastroso. Poiesis diz essência do agir como ethos ligado à physis / ser, é o produzir e desvelar da physis / ser enquanto se vela. Quem nos diz isso? Platão, e no Diálogo O Banquete, cuja temática é o amor:
Todo deixar-viger o que passa e procede do não-vigente para a vigência é poiesis, é pro-dução (205 b).
Por isso, afirma Heidegger: "Também a physis, o surgir e elevar-se por si mesmo, é uma produção, é poiesis. A physis é até a máxima poiesis" (2) (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 27.
(2) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica", trad. Emmanuel Carneiro Leão. In: -----. Ensaios e conferências. Petrópolis/RJ: Vozes, 2002, p. 16.

11

"Conjugar um verbo é, pois, conjugar identidades e diferenças. Até porque o verbo é o dizer da physis / ser enquanto tempo. E isso é a poiesis, porque poiesis é a essência do agir como tempo da physis / ser "(1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.

12

"Ao traduzirem para o latim o tratado de Aristóteles sobre as obras poéticas: Peri poietikés technés, ocorreu o seguinte: esqueceram que o principal e decisivo, conforme Platão já o afirmara em O Banquete, é a poiesis. E optaram pela techné, pelo conhecimento, ao traduzirem-na como ars, artis (arte). Vejam a ironia, o Ocidente estuda a arte num tratado de Poética, como techné e não como poiesis" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 28.

13

"Quem não cultiva o silêncio não pode falar a fala do que é. E que desafio maior existe para cada um senão ser? Não qualquer coisa ou um outro qualquer, e até um outro que amamos. Ser só se é própria e apropriadamente quando marcamos um encontro sempre inadiável com o que nos é próprio. E o que nos é próprio ninguém pode dizê-lo nem ensinar. Silêncio não é falta de voz ou som, não é pausa de música ou fala. O silêncio é ruidoso, oprime e liberta, é dor e alegria, dissolve a subjetividade e plenifica o ser de cada um. O silêncio é o máximo de fala, quando falar só se consegue calando. O silêncio é o mergulho no mais profundo do entre/interior de todo horizonte em que já estamos sempre lançados e projetados e aliciados. O silêncio é o silêncio do culpado e do inocente. O silêncio é a concentração máxima da poiesis como essência de todo agir. A verdadeira e fundante poesia é sempre poesia do silêncio" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio. "As três pragas do século XXI". In: Confraria - 2 anos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2007, p. 19.
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