Fala

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 131.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 131.
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: "Na [[palavra]], na [[fala]] o [[sendo]] [[mesmo]] se apresenta em sua [[abertura]]. Nem somente o [[sendo]], e junto com ele a [[palavra]], nem a [[palavra]] como um [[sinal]] sem ele. Nenhum dos dois está separado, nem a nenhum dos dois o [[outro]] é dado isoladamente, mas ''[[sendo]] na [[palavra]]''" (1).
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: Referência:
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: (1) HEIDEGGER, Martin. ''Ser e verdade''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, p. 126.

Edição de 22h56min de 6 de Agosto de 2020

1

Para experienciar a escuta é necessário dar ouvidos à fala. Há duas falas: a do poeta e a da musa. Há então a escuta da fala e a fala da escuta. No diálogo se dá uma dupla fala e uma dupla escuta, mas que supõe uma outra fala e uma outra escuta. No dizer de Emmanuel Carneiro Leão: "Assim a Linguagem é o éthos, a estância onde o extraordinário visita o homem... A partir desta estância, os filósofos dizem sempre a mesma coisa sobre a mesma coisa" (1). Para chegar "à mesma coisa", Emmanuel propõe três leituras e é na terceira que se pode chegar à "mesma coisa" que ele identifica com o que Parmênides nos propõe em seu pensamento: o "[...] coração intrépido da verdade de circularidade perfeita!" (2). Esta fala é o silêncio da Linguagem. Por isso acrescenta: "É que a compreensão só se instala no instante em que começa a brilhar em nós o que o texto não diz mas quer dizer em tudo quanto diz" (3). Essa fala, esse núcleo é a medida. Há a fala, o silêncio e a escuta: estes são articulados em todos os empenhos (agir) de perguntar e desempenhos de responder.
Há a fala intramundana: a linguagem instrumental e reprodutiva/cotidiana. E há a fala como manifestação: a linguagem poética. Aqui o que fala é o que se manifesta no vigor do que se oculta, o silêncio da linguagem como a fala poética. A escuta é a eclosão da compreensão do sentido e da verdade do ser, do sentido e da verdade do outro, do TU/EU, tanto em relação ao hétero-diálogo quanto ao auto-diálogo, onde cada eu é também um tu, porque é e não-é. Tanto no hétero-diálogo como no auto-diálogo a possibilidade da compreensão acontece porque ambos se dão na identidade e unidade do logos, fundamento de todos os diálogos. O logos fala, não o homem. O homem só fala quando escutando, corresponde à fala do logos (4).


Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O pensamento de Heiddeger no silêncio de hoje". In: Revista Vozes, nº 4. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 6.
(2) Idem, p. 7.
(3) Idem.
(4) Cf. HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2008.


Ver também:
*Dicção

2

A história do Ser é fala e escuta. A escuta, no essencial, é a abertura de toda ek-sistência, é o Da (entre) - de todo Sein (ser): Da-sein ou Entre-ser, onde quem fala, pensa, age, sente é o silêncio enquanto velamento e Noite, que se retrai para que o dia apareça como dia da Noite. Na história do Ser, esse retraimento nos FALA nas Ideias de Platão, no Ens Creatum da Idade Média, no Cogito de Descartes ou ideias claras e distintas da Modernidade. Por isso A. R. Buzzi diz: "O processamento do Ser em sua história é sempre uma fábula. A fábula moderna, isto é, a via em que o homem hoje se colocou para processar a verdade de seu ser é o Discours de la méthode (Discurso do método), onde as figuras exponenciais não são táteis como na fábula mítica, nem deuses, anjos e demônios como na fábula teológica; são as ideias claras e distintas. As ideias claras e distintas são as figuras exponenciais da fábula do cogito" (1). Até onde as ideias claras e distintas nos lançam no abismo da Noite? Até onde a fábula do cogito (penso, raciocino) admite-se como fala do que se dá a escutar como fala, não do cogito, do penso, da razão, mas do silêncio?
No sintagma: fala E escuta, que lugar ocupa o "E"? Como conciliar os dois sintagmas: fala E escuta/ fala E silêncio? Não é a escuta a mediação ou o E de fala E silêncio? A escuta pressupõe sempre a fala e o silêncio. A questão é em que níveis eles se dão.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) BUZZI, A. R. "A modernidade". In: Revista Vozes, nº 4. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 26.


3

A fala é filha sempre original da mãe/pai que é o silêncio. A voz mais poderosa do silêncio em todos os tempos e da realidade como tempo é enunciada, pronunciada e anunciada na poiesis, a fala de sentido de todas as artes. A poiesis é a voz do silêncio. Mas só ouve uma tal voz quem cultiva-cultua o silêncio. A fala do silêncio é o originário de todas as culturas e cultos, a identidade de todas as diferenças, a voz crítica de toda libertação.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"Para os mortais, falar é evocar pelo nome, é chamar, a partir da simplicidade da diferença, coisa e mundo para vir. Na fala dos mortais, o dito do poema é puro chamado. Poesia nunca é propriamente apenas um modo (melos) mais elevado da linguagem cotidiana. Ao contrário. É a fala cotidiana que consiste num poema esquecido e desgastado, que quase não mais ressoa" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 24.


5

"É o eu que fala ou é a fala que fala o eu? Já disse Heidegger: “Em sentido próprio, a linguagem é que fala. O homem fala apenas e somente à medida que cor-responde à linguagem, à medida que escuta e pertence ao apelo da linguagem” (2002: 167)" (2) " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 29.
(2) HEIDEGGER, Martin. "... poeticamente o homem habita...". In: ----.In: -------. Ensaios e conferências. Trad. deste ensaio: Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 167.


6

"A fala, cada fala, pressupõe a rede e nela toda a rede se faz presente/ausente. Porém, essa presença e ausência se sustenta e vigora a partir do vazio ou silêncio. Este é o tempo originário, o tempo que continuamente se triparte e não triparte, se o pensamos como memória, se pensamos que essa tripartição vive de um entre-tempo, que é o presente, que nada mais é do que o presentificado em tensão (“entre”) com o presentificável (Os gregos denominaram esse tempo presente eterno: aion, onde o eterno é o entre, a memória)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 33.


7

"Para pensar a linguagem é preciso penetrar na fala da linguagem, a fim de conseguirmos morar na linguagem, isto é, na sua fala e não na nossa. Somente assim é possível alcançar o âmbito no qual pode ou não acontecer que, a partir desse âmbito, a linguagem nos confie o seu modo de ser, a sua essência" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 9.

8

"A linguagem fala. O que acontece com essa fala? Onde encontramos a fala da linguagem? Sobremaneira no que se diz. No dito, a fala se consuma, mas não acaba. No dito, a fala se resguarda. No dito, a fala recolhe e reúne tanto os modos em que ela perdura como o que pela fala perdura - seu perdurar, seu vigorar, sua essência. Contudo, na maior parte das vezes e com frequência, o dito nos vem ao encontro como uma fala que passou" (1).
Não podemos esquecer que o vigorar da linguagem é o sentido e a verdade que orientam nossas ações, nosso, enfim, agir. Daí o seu perdurar. E é nesse perdurar que o tempo é e acontece em seu desdobrar-se em épocas. A cada desdobramento, a cada manifestação do vigorar do sentido e da verdade corresponde mundo, de modo que o perdurar evidencia o vigorar do sentido, da verdade e do mundo que se manifesta e é horizonte de nosso viver, de nosso realizar-se. Mundo e sentido e verdade são para nós a realidade: vigorar da linguagem.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 11.

9

Escrever poesia é um diálogo contínuo onde mais do que falar é escutar a voz do silêncio. Ler poesia é um diálogo contínuo onde mais do que querer achar mensagens e comunicar, é se deixar tomar pelo vigorar do silêncio. As falas das Musas pressupõem a escuta do vigorar do silêncio. Nela é que se dá o sentido da realidade.


- Manuel Antônio de Castro

10

"Toda posição é posição em mudança. Esta não se resolve numa sucessividade justaposta. A justaposição de dez mil tijolos ainda não é uma casa. Esta implica mais do que as suas posições. Exige em primeiro lugar o vazio, onde eles poderão ocupar uma posição. Sem vazio não há posição. Sem silêncio não há fala nem canto. Portanto, a posição exige sempre algo prévio que possibilite fazer de dez mil tijolos não uma reunião confusa, mas uma casa: o prévio é o sentido e o mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.

11

"Se linguagem, sentido e mundo já vigoram em toda manifestação de qualquer ser, de qualquer coisa, de qualquer ser humano, esse vigorar diz justamente o que na gramática se chamou de verbo. A palavra grega é rhema. Ela indica todo aquele que fala. Temos de considerar aí a fala de quem fala e as possibilidades de quem fala. E agora podemos notar como em toda fala já vigora também a escuta, sem a qual toda fala é inútil e até impossível. Isso quer dizer que a escuta já é uma posição possível anterior a toda e qualquer fala, melhor: sem uma não há a outra. Portanto, fala e escuta já vigoram na linguagem, sentido e mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 131.

12

"Na palavra, na fala o sendo mesmo se apresenta em sua abertura. Nem somente o sendo, e junto com ele a palavra, nem a palavra como um sinal sem ele. Nenhum dos dois está separado, nem a nenhum dos dois o outro é dado isoladamente, mas sendo na palavra" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ser e verdade. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, p. 126.
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