Caos

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Ninguém nunca consegue [[pensar]] sobre o [[caos]], por mais que se deseje e se empenhe. Quem o pretendesse nem mesmo saberia o que estaria fazendo, i.e., que não estaria pensando sobre o [[caos]], mas sobre uma [[coisa]]. Pois só é possível [[pensar]] sobre o que tem [[sentido]], nunca sobre o [[princípio]] de [[ordem]] e articulação da [[possibilidade]] de haver [[sentido]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ----. ''Filosofia grega - uma introdução''. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 37.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ---. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 37.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. O "sentido grego do cáos". In: ----. ''Filosofia grega - uma introdução''. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. O "sentido grego do cáos". In: ---. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.
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:"A palavra caos, ''to khaos'', tem o mesmo radial do verbo ''khasko'' que nos envia para a experiência de manter-se continuamente abrindo-se, de [[estar]], portanto, sempre em aberto. É o [[princípio]] de todo cindir e separar, de todo distinguir e discriminar, e por isso mesmo gerador e constitutivo de todo bico e qualquer bifurcação. Diz, portanto, o [[hiato]] do ser, o abismo hiante que a [[realidade]] é, no sentido transitivo de fazer ser e realizar" (1).
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: "A [[palavra]] [[caos]], ''to [[khaos]]'', tem o mesmo [[radical]] do [[verbo]] ''khasko'' que nos envia para a [[experiência]] de manter-se continuamente abrindo-se, de [[estar]], portanto, sempre em aberto. É o [[princípio]] de todo cindir e separar, de todo distinguir e discriminar, e por isso mesmo gerador e constitutivo de todo bico e qualquer bifurcação. Diz, portanto, o [[hiato]] do [[ser]], o [[abismo]] hiante que a [[realidade]] é, no sentido transitivo de fazer [[ser]] e [[realizar]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ----. ''Filosofia grega - uma introdução''. Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ---. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.
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: "Do caos provém, para o caos remete, no caos se mantém e de volta ao caos retorna toda [[ordem]] e toda desordem, o [[mundo]] e o imundo, tudo que está sendo como tudo que não está sendo" (1).
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: "Do [[caos]] provém, para o [[caos]] remete, no [[caos]] se mantém e de volta ao [[caos]] retorna toda [[ordem]] e toda desordem, o [[mundo]] e o imundo, tudo que está sendo como tudo que não está sendo" (1).
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:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ----. ''Filosofia grega - uma introdução''. Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ---. '''Filosofia grega - uma introdução'''. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.
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: "Não tem cada um o seu código genético e dentro deste a sua [[história]], a sua [[travessia]]? A [[medida]] de nosso [[destino]], de nosso [[próprio]], de nossa [[identidade]], é o [[princípio]], ou seja, o [[vigorar]] da [[dobra]] de [[caos]] e [[cosmo]]" (1).
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: "Não tem cada um o seu [[código]] [[genético]] e dentro deste a sua [[história]], a sua [[travessia]]? A [[medida]] de nosso [[destino]], de nosso [[próprio]], de nossa [[identidade]], é o [[princípio]], ou seja, o [[vigorar]] da [[dobra]] de [[caos]] e [[cosmo]]" (1).
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: CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.
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: CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). ''O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro''. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte: corpo, mundo e terra''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 12.
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte: corpo, mundo e terra''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 12.
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: "Os [[textos]] [[egípcios]] afirmam que o [[caos]] anterior à [[criação]] possuía características que se identificavam com quatro pares de [[forças]]/[[poderes]] primordiais. Cada par representa os gêmeos [[primitivos]] de [[gêneros]] dualistas - o aspecto [[masculino]]/[[feminino]]. Os quatro pares equivalem às quatro [[forças]] do [[Universo]] (a [[força]] fraca, a [[força]] forte, a gravidade e o eletromagnetismo)" (1).
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: (1) GADALLA, Moustafa. "A Estabilidade dos Quatro". In: ------. ''Cosmologia egípcia - o universo animado''. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 47.
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: "A vigília do [[Homem]] que, refletindo, vem a ser [[poeta]] e [[artista]], o leva a defrontar-se com sua trilogia: [[Esquecimento]], [[Sono]] e [[Morte]], por intermédio do [[dom]] da [[Poesia]], a ele outorgado pelas [[Musas]], filhas da [[Memória]]. A [[deusa]] [[Memória]], ordenadora do [[Caos]], preservando a [[Verdade]] do eixo [[sagrado]], surgirá como a [[medida]] [[ontológica]] do [[Cosmos]], posto que seu [[atributo]] é reter o [[desvelado]] do qual o [[Homem]] participa, dirigindo-o rumo à [[recordação]] do [[essencial]], continuamente à espera de ser repensado" (1).
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: (1) BEAINI, Thais Curi. ''A Memória, Medida Ontológica do Cosmos''. São Paulo: Palas Athena, 1989, p. 15.
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: [[Kaos]] é o que em si se abre, se fende, doando-se como [[cosmos]], [[mundo]], [[sentido]], [[luz]]. Algo o “precede” e “sucede” ([[palavras]] impróprias porque já se trabalha com uma certa “[[experienciação]]” de “[[tempo]]”): o impensado e o impensável, embora vigorando em [[tudo]] que se pensa ou pode [[pensar]]. Por isso o ''[[genos]]'' do [[cosmos]]/''[[kaos]]'' se dá por [[cissiparidade]]. Isso é muito importante, porque mostra que ''[[mythos]]'', ''[[kaos]]''/''[[cosmos]]'' e ''[[aletheia]]'' não são um [[princípio]] do outro. Não há [[princípio]]. Há o “[[uno]] diferente de si mesmo”.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "O [[rito]], em sua [[etimologia]], está ligado ao [[sagrado]] e expressa nas [[religiões]] o [[advento]] da [[ordem]] do que, em [[princípio]], é caótico, encantador e [[misterioso]]. [[Caos]] não é [[desordem]]. É [[fonte]] inesgotável de toda [[ordem]]. Os [[ritos]] concretizam a [[cultura]] enquanto [[culto]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.

Edição atual tal como 22h24min de 17 de Outubro de 2021

1

"Kháos é a potência que preside à procriação por cissiparidade" (1). "Kháos origina-se de khaíno ou khásko: abrir-se, entreabrir-se, abrir a boca ou bico" (2).


Referências:
(1) TORRANO, Jaa. "Introdução". In: Teogonia: A origem dos deuses - Hesíodo. São Paulo: Iluminuras, 1992, p. 43.
(2) Idem, p. 45.

2

"Ninguém nunca consegue pensar sobre o caos, por mais que se deseje e se empenhe. Quem o pretendesse nem mesmo saberia o que estaria fazendo, i.e., que não estaria pensando sobre o caos, mas sobre uma coisa. Pois só é possível pensar sobre o que tem sentido, nunca sobre o princípio de ordem e articulação da possibilidade de haver sentido" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 37.

3

"O caos é sobretudo o princípio da possibilidade de tudo. Trata-se de uma experiência de ser e de realidade tão rica e inaugural que dela se origina tudo, o que é e não é , nela se nutre toda a criação em qualquer área ou nível, seja do real ou irreal, seja do necessário ou contingente" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. O "sentido grego do cáos". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.

4

"A palavra caos, to khaos, tem o mesmo radical do verbo khasko que nos envia para a experiência de manter-se continuamente abrindo-se, de estar, portanto, sempre em aberto. É o princípio de todo cindir e separar, de todo distinguir e discriminar, e por isso mesmo gerador e constitutivo de todo bico e qualquer bifurcação. Diz, portanto, o hiato do ser, o abismo hiante que a realidade é, no sentido transitivo de fazer ser e realizar" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.

5

"Do caos provém, para o caos remete, no caos se mantém e de volta ao caos retorna toda ordem e toda desordem, o mundo e o imundo, tudo que está sendo como tudo que não está sendo" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido grego do cáos". In: ---. Filosofia grega - uma introdução. Daimon Editora: Teresópolis/RJ: 2010, p. 38.

6

"Não tem cada um o seu código genético e dentro deste a sua história, a sua travessia? A medida de nosso destino, de nosso próprio, de nossa identidade, é o princípio, ou seja, o vigorar da dobra de caos e cosmo" (1).


Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.

7

"Os caminhos a tomar não estão fora, estão dentro do que está em crise. Achar os caminhos que estão dentro é trazer para cena a interdisciplinaridade, onde as disciplinas devem se abrir para o vigor que vigora no prefixo da interdisciplinaridade: o “inter-”, o “entre”. Este não é um mero prefixo gramatical. Que “entre” é este? Ele traz o apelo da liminaridade de todo humano do homem, porque traz a possibilidade do vazio que une e reúne todos os fios e nós em que se entretecem as disciplinas como rede de conhecimentos e destino do humano do homem. A princípio, esse vazio causa estranheza e perplexidade. Como pode haver ciência do vazio, do silêncio? Mas inevitavelmente os cientistas já se defrontam com ele, embora lhe deem outro nome: caos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 12.


8

"Os textos egípcios afirmam que o caos anterior à criação possuía características que se identificavam com quatro pares de forças/poderes primordiais. Cada par representa os gêmeos primitivos de gêneros dualistas - o aspecto masculino/feminino. Os quatro pares equivalem às quatro forças do Universo (a força fraca, a força forte, a gravidade e o eletromagnetismo)" (1).


Referência:
(1) GADALLA, Moustafa. "A Estabilidade dos Quatro". In: ------. Cosmologia egípcia - o universo animado. Trad. Fernanda Rossi. São Paulo: Madras Editora, 2003, p. 47.

9

"A vigília do Homem que, refletindo, vem a ser poeta e artista, o leva a defrontar-se com sua trilogia: Esquecimento, Sono e Morte, por intermédio do dom da Poesia, a ele outorgado pelas Musas, filhas da Memória. A deusa Memória, ordenadora do Caos, preservando a Verdade do eixo sagrado, surgirá como a medida ontológica do Cosmos, posto que seu atributo é reter o desvelado do qual o Homem participa, dirigindo-o rumo à recordação do essencial, continuamente à espera de ser repensado" (1).


Referência:
(1) BEAINI, Thais Curi. A Memória, Medida Ontológica do Cosmos. São Paulo: Palas Athena, 1989, p. 15.


10

Kaos é o que em si se abre, se fende, doando-se como cosmos, mundo, sentido, luz. Algo o “precede” e “sucede” (palavras impróprias porque já se trabalha com uma certa “experienciação” de “tempo”): o impensado e o impensável, embora vigorando em tudo que se pensa ou pode pensar. Por isso o genos do cosmos/kaos se dá por cissiparidade. Isso é muito importante, porque mostra que mythos, kaos/cosmos e aletheia não são um princípio do outro. Não há princípio. Há o “uno diferente de si mesmo”.


- Manuel Antônio de Castro.

11

"O rito, em sua etimologia, está ligado ao sagrado e expressa nas religiões o advento da ordem do que, em princípio, é caótico, encantador e misterioso. Caos não é desordem. É fonte inesgotável de toda ordem. Os ritos concretizam a cultura enquanto culto" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 155.
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