Gramática

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"A [[linguagem]] viva não tem consciência de sua própria estrutura, gramática, sintaxe etc., portanto, de tudo aquilo que a [[ciência]] da linguagem tematiza. Uma das perversões típicas do [[natural]] aparece quando a escola [[modernidade | moderna]] introduz a gramática e a sintaxe em sua própra [[língua]] materna, em lugar de introduzi-la numa língua morta como o latim. Exige-se de todos um gigantesco esforço de abstração para tomar consciência expressa da gramática do idioma que se domina enquanto língua materna. A concretização efetiva da linguagem faz com que essa desapareça detrás daquilo que nela se diz." (1) Essa observação do pensador alemão é extremamente pertinente e atual. Além disso, a gramática se tornou um instrumento dos meios de comunicação, onde tudo se reduz a abstrações. Na medida em que a linguagem, manifestada em cada língua, sempre ultrapassa a gramática ou discurso da língua, sendo a língua originariamente [[arte]] e a arte linguagem, querer ensinar a arte como gramática ([[gênero | gêneros]] e estilos) é não respeitar a natureza da linguagem: ser arte.
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: "A [[linguagem]] viva não tem [[consciência]] de sua própria [[estrutura]], [[gramática]], [[sintaxe]] etc., portanto, de tudo aquilo que a [[ciência]] da [[linguagem]] tematiza. Uma das perversões típicas do [[natural]] aparece quando a [[escola]] [[moderno | moderna]] introduz a [[gramática]] e a [[sintaxe]] em sua [[própria]] [[língua]] materna, em lugar de introduzi-la numa [[língua]] morta como o [[latim]]. Exige-se de todos um gigantesco esforço de [[abstração]] para tomar [[consciência]] expressa da [[gramática]] do [[idioma]] que se domina enquanto [[língua]] materna. A concretização efetiva da [[linguagem]] faz com que essa desapareça detrás daquilo que nela se diz" (1).  
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: Essa observação de Hans-Georg Gadamer, [[pensador]] alemão, é extremamente pertinente e [[atual]]. Além disso, a [[gramática]] se tornou um instrumento dos [[meios]] de [[comunicação]], onde tudo se reduz a [[abstrações]]. Na medida em que a [[linguagem]], manifestada em cada [[língua]], [[sempre]] ultrapassa a [[gramática]] ou [[discurso]] da [[língua]], sendo a [[língua]] [[originariamente]] [[arte]] e a [[arte]] [[linguagem]], [[querer]] [[ensinar]] a [[arte]] como [[gramática]] ([[gênero|gêneros]] e [[estilos]]) é não respeitar a [[natureza]] da [[linguagem]]: [[ser]] [[arte]].
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:(1) GADAMER, Hans-Georg. ''Verdade e método II''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 178.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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==Discurso e retórica==
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: (1) GADAMER, Hans-Georg. '''Verdade e método II'''. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 178.
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:A questão da gramática fica mais clara quando se opõe [[discurso]] e proposição. O discurso remete para a [[retórica]], tanto no sentido originário como no sentido sofista. Mas no sofista já se dá a junção de discurso e proposição. Ver que Aristóteles é a sintese da relação discurso/gramática, mas sem o vigor do [[originário]], pois a sua ''Retórica'' trata do discurso e a sua ''Lógica'' trata de fundo gramatical, tanto que a sintaxe se chamava análise lógica, hoje travestida de [[coerência]] e [[coesão]] ou simplemente discurso. As [[teoria|teorias]] variam, mas o fundo permanece o mesmo: a visão [[metafísica]] do ''lógos''. Que coesão e coerência podemos encontrar numa constatação simples como: "Eu sou e eu não-sou"? A Poética seria a lógica do discurso da poiesis, isto é, do vigor do poético. Na retórica ainda temos a presença da força e vigor do ''rhema'' (do verbo ''eiro'', o dizer do sagrado) mas já não como [[poiésis]]/[[lógos]]/[[dzoé]]/[[phýsis]]. Limitou-se ao ''peitho'', persuadir, ligado ao ''pascho''/paixão da ''psyché'' como algo psíquico e sentimental. Na questão da gramática e suas variantes teóricas, o essencial é recuperar o vigor poético e a ambigüidade da ''phýsis'', e ir também para além de uma [[visão]] simplesmente [[epistemologia | epistemológica]].  
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: *[[Estruturalismo]]
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: A [[questão]] da [[gramática]] fica mais clara quando se opõe [[discurso]] e [[proposição]]. O [[discurso]] remete para a [[retórica]], tanto no [[sentido]] [[originário]] como no [[sentido]] [[sofista]]. Mas no [[sofista]] já se dá a junção de [[discurso]] e [[proposição]]. Em Aristóteles é a [[síntese]] da [[relação]] [[discurso]]/[[gramática]], mas sem o [[vigor]] do [[originário]], pois a sua ''[[Retórica]]'' trata do [[discurso]] e a sua ''[[Lógica]]'' trata de fundo [[gramatical]], tanto que a [[sintaxe]] se chamava [[análise]] [[lógica]], hoje travestida de [[coerência]] e [[coesão]] ou simplesmente [[discurso]]. As [[teoria|teorias]] variam, mas o fundo permanece o [[mesmo]]: a [[visão]] [[metafísica]] do ''[[lógos]]''. Que coesão e coerência podemos encontrar numa constatação [[simples]] como: "[[Eu]] sou e [[eu]] não-sou"? A [[Poética]] seria a [[lógica]] do [[discurso]] da ''[[poíesis]]'', isto é, do [[vigor]] do [[poético]]. Na [[retórica]] ainda temos a [[presença]] da força e [[vigor]] do ''[[rhema]]'' (do [[verbo]] ''[[eiro]]'', o [[dizer]] do [[sagrado]]) mas já não como ''[[poíesis]]''/ ''[[lógos]]''/ ''[[dzoé]]''/ ''[[phýsis]]''. Limitou-se ao ''[[peitho]]'', persuadir, ligado ao ''[[pascho]]''/[[paixão]] da ''[[psykhé]]'' como [[algo]] [[psíquico]] e [[sentimental]]. Na [[questão]] da [[gramática]] e suas variantes teóricas, o [[essencial]] é [[recuperar]] o [[vigor]] [[poético]] e a ambiguidade da ''[[phýsis]]'', e ir também para além de uma [[visão]] simplesmente [[epistemologia|epistemológica]].  
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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:Na questão da pro-posição gramático-formal é necessário estudar profundamente:
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a) como a gramática se relaciona com o tempo-verbo;
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b) como a gramática "pensa" (define) a relação entre sujeito e verbo;
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Exatamente essas questões vistas não conceitualmente mas como sintaxe poética é que permitirão um diálogo produtivo com a questão:
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a) gramatical;
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b) da linguagem;
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c) do sujeito;
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d) da funcionalidade.
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Para estudo do conceito de coisa que origina a proposição, onde se funda a gramática, ver abaixo.
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: a) como a gramática se relaciona com o tempo-verbo;
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: b) como a gramática "[[pensar|pensa]]" (define) a relação entre sujeito e verbo;
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: c) como os dois pontos anteriores se fazem presentes no [[conceito]].
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: Exatamente essas [[questões]] vistas não conceitualmente mas como [[sintaxe]] poética é que permitirão um diálogo produtivo com a [[questão]]:
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte'', primeira parte: o primeiro conceito de coisa. Tradução para consulta acadêmica, em tradução de Manuel Antonio de Castro e Idalina Azevedo da Silva, in: www.travessiapoetica.blogspot.com.
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: a) gramatical;
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: b) da [[linguagem]];
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: Para estudo do [[conceito]] de [[coisa]] que [[origina]] a [[proposição]], onde se [[funda]] a [[gramática]], ver a referência abaixo.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''A origem da obra de arte''', primeira parte: o primeiro [[conceito]] de [[coisa]]. [[Tradução]] para consulta acadêmica, em [[tradução]] de Manuel Antônio de Castro e Idalina Azevedo da Silva, disponível em: [http://www.travessiapoetica.blogspot.com Travessia Poética]
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:Ao tratar da gramática é essencial a interpretação da coisa como juízo/oração constituído de sujeito/predicado, porque aí se dá a relação entre a teoria da linguagem e o [[agir]], ou seja, por detrás da gramática temos uma teoria da essência do agir. Daí estar relacionada à lógica. Oração: enunciado/enunciação: agir - real ou verdade; physis/on: sujeito - predicado ou inteligível - senvível. A oração é a interpretação e explicação metafísica da essência do agir.
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:Ao tratar da gramática é essencial a [[interpretação]] da coisa como juízo/oração constituído de sujeito/predicado, porque aí se dá a relação entre a teoria da linguagem e o [[agir]], ou seja, por detrás da gramática temos uma teoria da essência do agir. Daí estar relacionada à lógica. Oração: enunciado/enunciação: agir real ou verdade; ''phýsis''/ ''on'': sujeito predicado ou inteligível – sensível. A oração é a interpretação e explicação metafísica da essência do agir.
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:- [[Manuel Antônio de Castro]]
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:"Libertar a linguagem da gramática, para um contexto essencial mais originário, está reservado ao pensar e poetizar" (1).
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: "[[Libertar]] a [[linguagem]] da [[gramática]], para um [[contexto]] essencial mais [[originário]], está reservado ao [[pensar]] e [[poetizar]]" (1).
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Carta sobre o humanismo''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 26.
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==Ver também==
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Carta sobre o humanismo'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 26.
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*[[Língua]]
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*[[Pensamento]]
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*[[Poética]]
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: '''Ver também:'''
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*[[Retórica]]
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: *[[Pensamento]]
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:"Essas três razões [a estética, a história, entendida como historiografia, e a análise] estabelecem as leis de desdobramento do real, em que não sobra lugar para a diferença, senão como exceção. Numa realidade dominada por leis e suas exceções, estas são vistas como instâncias sempre provisórias que tenderão a se enquadrar, a se comportar mediante a prescrição, até se converterem em novas leis" (1).
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: "Essas três razões (a [[estética]], a [[história]], entendida como historiografia, e a [[análise]]) estabelecem as leis de desdobramento do real, em que não sobra lugar para a diferença, senão como exceção. Numa realidade dominada por leis e suas exceções, são vistas como instâncias sempre provisórias que tenderão a se enquadrar, a se comportar mediante a prescrição, até se converterem em novas leis" (1).
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: (1) JARDIM, Antonio. '''Música: vigência do pensar poético'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p.30.
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: "O [[esquecimento]] do [[poder]] [[verbal]] da [[palavra]] é tão forte e dominante que, [[gramaticalmente]], o [[verbo]] [[ser]], o [[verbo]] de todos os [[verbos]], não passa de um [[verbo]] de ligação ou auxiliar de outros. Um parasita. Nessa [[tradição]], o [[esquecimento]] do [[destinar-se]] do [[sentido do ser]] nos projeta em [[interpretações]] [[substantivo]]-[[subjetivas]] e não em [[interpretações]] [[verbais]], como é o [[próprio]] [[acontecer]] da [[realidade]], ao qual devemos [[estar]] atentos e [[abertos]] para sua [[escuta]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, ''Dialética em questão I''. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 10.
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: "Quando a [[gramática]] reduz o [[ser]] a um [[verbo]] de ligação, comete aí, sem dúvida nenhuma, a maior das infidelidades, não ao [[ser]], porque nem por isso ele deixará de [[ser]], mas a [[nós]], a cada um de vocês. Será que a [[gramática]] escutou e [[escuta]] o ''[[Logos]]''? Será que a [[gramática]] é [[sábia]]? Será que a [[gramática]] [[ama]] a [[linguagem]]? Ela fala, fala sem [[escutar]]. Por quê? Há aí um [[questão]] [[ontológica]], e ligada a ela uma [[questão]] [[histórica]]: o surgimento da [[gramática]] como filha próxima e legítima da [[metafísica]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 7.
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: "A [[relação]] da [[gramática]] com a [[linguagem]] é muito complexa, porque ela nasce junto com a [[escrita]], a [[sofística]] e a [[metafísica]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 14.
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: "O que normalmente chamamos de [[memória]] ou [[lembrança]] é identificado com o [[passado]]. Mas se é [[memória]] não é [[passado]]. Pelo contrário, [[vige]] como [[memória]] e a qualquer [[momento]] se pode tornar [[presente]]. "[[Momento]]" e "[[presente]]" mostram a [[vigência]] do [[ser]] do [[ente]] e não algo [[passado]]. A denominação aí de [[passado]] é um equívoco gramatical que não leva em conta o aparente [[passado]] como [[ente]]-[[ser]] [[ontológico]]. Por outro lado, quando se olha o [[passado]] do ponto de vista do [[infinitivo]] - a [[memória]] do [[ser]] - pode-se [[perceber]] perfeitamente que o [[passado]] integra o [[presente]] e o [[futuro]]. Por isso, o [[ser]] / [[infinitivo]] como [[memória]] [[ontológica]] é o que foi, o que é e o que será. Daí podermos [[dizer]] que a [[linguagem]] - e eis aí o equívoco [[gramatical]] ao [[ler]] [[linguagem]] do ponto de vista da [[gramática]] e não do [[ser]] - é a [[memória]] como ''[[logos]]'' " (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 22.
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== 11 ==
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: "Podemos notar que, no [[infinitivo]], [[tempo]] e [[linguagem]] coincidem e são manifestações da ''[[poiesis]]'' da ''[[physis]]''/[[ser]]. É [[necessário]] começar a [[pensar]] a [[gramática]] do ponto de vista da [[linguagem]]/[[tempo]] e não o [[tempo]]/[[linguagem]] do ponto de vista da [[gramática]]" (1).
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:(1) JARDIM, Antônio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p.30.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.

Edição atual tal como 22h03min de 22 de Maio de 2024

1

"A linguagem viva não tem consciência de sua própria estrutura, gramática, sintaxe etc., portanto, de tudo aquilo que a ciência da linguagem tematiza. Uma das perversões típicas do natural aparece quando a escola moderna introduz a gramática e a sintaxe em sua própria língua materna, em lugar de introduzi-la numa língua morta como o latim. Exige-se de todos um gigantesco esforço de abstração para tomar consciência expressa da gramática do idioma que se domina enquanto língua materna. A concretização efetiva da linguagem faz com que essa desapareça detrás daquilo que nela se diz" (1).
Essa observação de Hans-Georg Gadamer, pensador alemão, é extremamente pertinente e atual. Além disso, a gramática se tornou um instrumento dos meios de comunicação, onde tudo se reduz a abstrações. Na medida em que a linguagem, manifestada em cada língua, sempre ultrapassa a gramática ou discurso da língua, sendo a língua originariamente arte e a arte linguagem, querer ensinar a arte como gramática (gêneros e estilos) é não respeitar a natureza da linguagem: ser arte.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 178.


Ver também:
*Estruturalismo

2

A questão da gramática fica mais clara quando se opõe discurso e proposição. O discurso remete para a retórica, tanto no sentido originário como no sentido sofista. Mas no sofista já se dá a junção de discurso e proposição. Em Aristóteles é a síntese da relação discurso/gramática, mas sem o vigor do originário, pois a sua Retórica trata do discurso e a sua Lógica trata de fundo gramatical, tanto que a sintaxe se chamava análise lógica, hoje travestida de coerência e coesão ou simplesmente discurso. As teorias variam, mas o fundo permanece o mesmo: a visão metafísica do lógos. Que coesão e coerência podemos encontrar numa constatação simples como: "Eu sou e eu não-sou"? A Poética seria a lógica do discurso da poíesis, isto é, do vigor do poético. Na retórica ainda temos a presença da força e vigor do rhema (do verbo eiro, o dizer do sagrado) mas já não como poíesis/ lógos/ dzoé/ phýsis. Limitou-se ao peitho, persuadir, ligado ao pascho/paixão da psykhé como algo psíquico e sentimental. Na questão da gramática e suas variantes teóricas, o essencial é recuperar o vigor poético e a ambiguidade da phýsis, e ir também para além de uma visão simplesmente epistemológica.


- Manuel Antônio de Castro

3

Na questão da pro-posição gramático-formal é necessário estudar profundamente:
a) como a gramática se relaciona com o tempo-verbo;
b) como a gramática "pensa" (define) a relação entre sujeito e verbo;
c) como os dois pontos anteriores se fazem presentes no conceito.
Exatamente essas questões vistas não conceitualmente mas como sintaxe poética é que permitirão um diálogo produtivo com a questão:
a) gramatical;
b) da linguagem;
c) do sujeito;
d) da funcionalidade.
Para estudo do conceito de coisa que origina a proposição, onde se funda a gramática, ver a referência abaixo.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte, primeira parte: o primeiro conceito de coisa. Tradução para consulta acadêmica, em tradução de Manuel Antônio de Castro e Idalina Azevedo da Silva, disponível em: Travessia Poética

4

Ao tratar da gramática é essencial a interpretação da coisa como juízo/oração constituído de sujeito/predicado, porque aí se dá a relação entre a teoria da linguagem e o agir, ou seja, por detrás da gramática temos uma teoria da essência do agir. Daí estar relacionada à lógica. Oração: enunciado/enunciação: agir – real ou verdade; phýsis/ on: sujeito – predicado ou inteligível – sensível. A oração é a interpretação e explicação metafísica da essência do agir.


- Manuel Antônio de Castro

5

"Libertar a linguagem da gramática, para um contexto essencial mais originário, está reservado ao pensar e poetizar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 26.


Ver também:
*Pensamento

6

"Essas três razões (a estética, a história, entendida como historiografia, e a análise) estabelecem as leis de desdobramento do real, em que não sobra lugar para a diferença, senão como exceção. Numa realidade dominada por leis e suas exceções, são vistas como instâncias sempre provisórias que tenderão a se enquadrar, a se comportar mediante a prescrição, até se converterem em novas leis" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p.30.

7

"O esquecimento do poder verbal da palavra é tão forte e dominante que, gramaticalmente, o verbo ser, o verbo de todos os verbos, não passa de um verbo de ligação ou auxiliar de outros. Um parasita. Nessa tradição, o esquecimento do destinar-se do sentido do ser nos projeta em interpretações substantivo-subjetivas e não em interpretações verbais, como é o próprio acontecer da realidade, ao qual devemos estar atentos e abertos para sua escuta" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 10.

8

"Quando a gramática reduz o ser a um verbo de ligação, comete aí, sem dúvida nenhuma, a maior das infidelidades, não ao ser, porque nem por isso ele deixará de ser, mas a nós, a cada um de vocês. Será que a gramática escutou e escuta o Logos? Será que a gramática é sábia? Será que a gramática ama a linguagem? Ela fala, fala sem escutar. Por quê? Há aí um questão ontológica, e ligada a ela uma questão histórica: o surgimento da gramática como filha próxima e legítima da metafísica" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 7.

9

"A relação da gramática com a linguagem é muito complexa, porque ela nasce junto com a escrita, a sofística e a metafísica" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 14.

10

"O que normalmente chamamos de memória ou lembrança é identificado com o passado. Mas se é memória não é passado. Pelo contrário, vige como memória e a qualquer momento se pode tornar presente. "Momento" e "presente" mostram a vigência do ser do ente e não algo passado. A denominação aí de passado é um equívoco gramatical que não leva em conta o aparente passado como ente-ser ontológico. Por outro lado, quando se olha o passado do ponto de vista do infinitivo - a memória do ser - pode-se perceber perfeitamente que o passado integra o presente e o futuro. Por isso, o ser / infinitivo como memória ontológica é o que foi, o que é e o que será. Daí podermos dizer que a linguagem - e eis aí o equívoco gramatical ao ler linguagem do ponto de vista da gramática e não do ser - é a memória como logos " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 22.

11

"Podemos notar que, no infinitivo, tempo e linguagem coincidem e são manifestações da poiesis da physis/ser. É necessário começar a pensar a gramática do ponto de vista da linguagem/tempo e não o tempo/linguagem do ponto de vista da gramática" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 23.
Ferramentas pessoais