Diferença ontológica
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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+ | : Note-se que cada [[ser humano]], enquanto um [[próprio]], é um [[enigma]] para ele mesmo "Conheço-me e não sou eu", diz Pessoa. Cada [[sou]] é um [[enigma]] [[poético]], um [[mistério]] acontecendo. Por isso não se confunde com o [[eu]]. | ||
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- | : "Por isso, no [[mito]], ''[[Cura]]'' é algo muito mais profundo do que os simples significados semânticos da [[palavra]] ''cura''. Em latim, ''cura'' diz cuidado, cuidar. Em torno de ''Cura'' acontece o próprio constituir-se e plenificar-se poético-ontológico do [[ser humano]]. Nesse sentido, qualquer determinação de [[gênero]] ou [[cultura]] identitária, para a [[ontologia]] do ser humano, é reducionista. A ''Cura'' que vigora em cada ser humano, sempre de uma maneira [[originária]], não se reduz, seja ao [[feminino]], seja ao [[masculino]], seja a uma [[identidade]] cultural. O que está em [[jogo]] no operar de ''Cura''' é sempre o [[destino]] de cada ser humano, que é o [[acontecer]] de seu [[próprio]]. E este é absolutamente original para cada um. Não dá para reduzi-lo a classificações. Na regência de | + | : "Por isso, no [[mito]], ''[[Cura]]'' é algo muito mais profundo do que os simples significados semânticos da [[palavra]] ''cura''. Em latim, ''cura'' diz cuidado, cuidar. Em torno de ''Cura'' acontece o próprio constituir-se e plenificar-se poético-ontológico do [[ser humano]]. Nesse sentido, qualquer determinação de [[gênero]] ou [[cultura]] identitária, para a [[ontologia]] do ser humano, é reducionista. A ''Cura'' que vigora em cada ser humano, sempre de uma maneira [[originária]], não se reduz, seja ao [[feminino]], seja ao [[masculino]], seja a uma [[identidade]] cultural. O que está em [[jogo]] no operar de ''Cura''' é sempre o [[destino]] de cada [[ser humano]], que é o [[acontecer]] de seu [[próprio]]. E este é absolutamente [[original]] para cada um. Não dá para reduzi-lo a classificações. Na regência de [[Cura]] se decide o [[destino]] do que cada um deve e consegue [[realizar]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". In: -------. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 227. |
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- | : "Então vemos que o [[ser humano]] se compõe em torno de três [[questões]] essenciais: [[Cura]], [[Céu]] e [[Terra]]. Porém, há uma quarta, e decisiva, que as reúne e gera a controvérsia: o dar [[nome]]. A disputa em torno do nome não quer dizer outra coisa senão que é na e com a [[linguagem]] que o ser humano chega a ser humano. Isso mostra o quanto é enganoso a redução da questão da linguagem a uma faculdade no homem: a discursiva, concebendo-a como mero instrumento comunicativo. Não há o ser humano dotado de algumas faculdades. Não. Ser humano é experienciar-se na linguagem, pois é ela (e somente ela!) que reúne e compõe as demais questões. A própria Cura só acontece vigorando no poder da linguagem. [[Figurar]] o ser humano é dimensionar-se na e pela linguagem" (1). | + | : "Então vemos que o [[ser humano]] se compõe em torno de três [[questões]] essenciais: [[Cura]], [[Céu]] e [[Terra]]. Porém, há uma quarta, e decisiva, que as reúne e gera a controvérsia: o dar [[nome]]. A disputa em torno do [[nome]] não quer dizer outra coisa senão que é na e com a [[linguagem]] que o [[ser humano]] chega a [[ser humano]], marcando a sua [[diferença ontológica]]. Isso mostra o quanto é enganoso a redução da [[questão]] da [[linguagem]] a uma faculdade no [[homem]]: a discursiva, concebendo-a como mero instrumento comunicativo. Não há o [[ser humano]] dotado de algumas faculdades. Não. [[Ser humano]] é experienciar-se na [[linguagem]], e como [[linguagem]], pois é ela (e somente ela!) que reúne e compõe as demais [[questões]]. A própria [[Cura]] só acontece vigorando no poder da [[linguagem]]. [[Figurar]] o [[ser humano]] é dimensionar-se na e pela [[linguagem]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Arte: o humano e o destino | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". -------. In: [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 230.''' |
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- | : Quando da [[necessidade]] de comer para [[viver]] faço comida, preparada e transformada a partir de uma arte culinária, transformo não só a necessidade em [[arte]], mas faço da arte uma [[libertação]] que é a [[dimensão]] da [[experienciação]] frente a toda [[vivência]]. Necessidade de comer, minha e de todo ser vivo é vivência. Fazer dela uma arte culinária é experienciação, inerente ao ser humano. É a sua diferença ontológica. | + | : Quando da [[necessidade]] de comer para [[viver]] faço comida, preparada e transformada a partir de uma arte culinária, transformo não só a necessidade em [[arte]], mas faço da arte uma [[libertação]] que é a [[dimensão]] da [[experienciação]] frente a toda [[vivência]]. Necessidade de comer, minha e de todo ser vivo é vivência. Fazer dela uma arte culinária é [[experienciação]], inerente ao [[ser humano]]. É a sua [[diferença ontológica]]. |
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+ | : "O [[ser humano]], o único que [[procura]], vive e se experiencia em um dilema, em uma [[dobra]] constitutiva do [[entre]]. De um lado, é constituído pela [[Cura]], que é seu [[destino]] histórico, de [[outro]], ele não se manifesta nem advém à [[presença]] se não houver [[procura]], onde a [[procura]] é “chocar” o que já é. Esse [[entre]], essa [[dobra]], se manifesta de muitas maneiras e sempre em uma radicalidade inaugural pela qual não cessa de [[mudar]] e de se tornar uma caminhada de [[realização]]" (1). | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "O [[mito]] de [[Cura]] e o [[ser humano]]". In: ------. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 218.''' | ||
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+ | : "Falamos porque [[falar]] nos é [[natural]]. [[Falar]] não provém de uma [[vontade]] especial. Costuma-se [[dizer]] que por [[natureza]] o [[homem]] possui [[linguagem]]. Guarda-se a [[concepção]] de que, à [[diferença]] da planta e do [[animal]], o [[homem]] é o [[ser]] [[vivo]] dotado de [[linguagem]]. Essa [[definição]] não diz apenas que, dentre muitas outras [[faculdades]], o [[homem]] também possui a de [[falar]]. Nela se diz que a [[linguagem]] é o que faculta ao [[homem]] [[ser]] o [[ser]] [[vivo]] que ele é enquanto [[homem]]. Enquanto aquele que fala, o homem [[é]]: [[homem]]. Essas [[palavras]] são de Wilhelm von Humboldt. Mas ainda resta [[pensar]] o que se chama assim: o [[homem]]" (1). | ||
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+ | : (1) HEIDEGGER, Martin.'''"A [[linguagem]]". In: ----. A [[caminho]] da [[Linguagem]]. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 7.''' | ||
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+ | : "Para [[Heidegger]], até agora só se fez, através da [[história]], uma [[metafísica]] do [[ente]] e nunca se falou do [[ser]] como [[fundamento]] do [[ente]]. É a famosa ''[[diferença ontológica]]'', tanto focalizada por [[Heidegger]] em todos os seus [[escritos]]" (1). | ||
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+ | : (1) [[HUMMES]], Frei Cláudio, ofm.''' "[[Heidegger]]". ----. In: [[História]] da [[filosofia]]. Curso proferido em 1964, em Daltro Filho, hoje cidade de Imigrantes, RS. Depois foi sagrado Bispo e posteriormente, nomeado Cardeal. Já faleceu.''' | ||
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+ | : "A [[pergunta]] revelou a [[diferença ontológica]] [[entre]] o [[ente]] e o [[ser]]: o [[ente]] “[[é]]”, está posto no [[ser]] e em virtude do [[ser]], mas ele não é o [[ser]] mesmo, o ser-na-sua-totalidade. Ora, com esta [[diferença ontológica]] está posta igualmente a [[finitude]] do [[ente]]: a [[finitude]] do perguntador e do perguntado" (1). | ||
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+ | : (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio.''' [[Metafísica]]. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.''' |
Edição atual tal como 22h27min de 29 de março de 2025
1
- A lógica a que foi reduzido o logos não pode tudo abranger, pois o sentido de unidade, originado no ser, só nos advém na medida em que nos deixamos tomar pelo pensar do ser. Isto Parmênides sintetizou na famosa sentença III: "Pois ser e pensar são o mesmo". Pensar, aí, traduz o poderoso verbo noein, de onde se originou o substantivo nous, traduzido geralmente por espírito, intelecto (que se diferencia de razão). É que no pensamento (nous) o ser se torna linguagem e, dessa maneira, a linguagem (logos) se torna a casa do ser. Em sua habitação mora o ser humano. É impossível falar de linguagem sem o pensamento, pois é neste que o ser se torna linguagem. É o nous e o logos que constituem a diferença ontológica, aquela diferença pela qual somente o ser humano habita na clareira do ser (a-letheia) e, por isso, é nele que os demais entes passam a encontrar o seu sentido. É ela que diferencia o ser humano dos demais entes, sejam eles quais forem.
2
- Por ser ontológica, a questão da diferença entre o ser humano e os demais entes, não é só pensada pela filosofia, mas por todas as artes também. É radicalmente uma questão poética. Eis como o genial poeta que é Fernando Pessoa a pensa num pequeno e enigmático poema de apenas três estrofes. É extraordinária a sua capacidade - própria dos verdadeiros poetas - de manifestá-la tão simples e radicalmente:
- Gato que brincas na rua
- Como se fosse na cama,
- Invejo a sorte que é tua
- Porque nem sorte se chama.
- Bom servo das leis fatais
- Que regem pedras e gentes,
- Que tens instintos gerais
- E sentes só o que sentes.
- És feliz porque és assim,
- Todo o nada que és é teu.
- Eu vejo-me e estou sem mim,
- Conheço-me e não sou eu.
- (PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar Editora, 1965, p. 156.
- Note-se que cada ser humano, enquanto um próprio, é um enigma para ele mesmo "Conheço-me e não sou eu", diz Pessoa. Cada sou é um enigma poético, um mistério acontecendo. Por isso não se confunde com o eu.
3
- "Por isso, no mito, Cura é algo muito mais profundo do que os simples significados semânticos da palavra cura. Em latim, cura diz cuidado, cuidar. Em torno de Cura acontece o próprio constituir-se e plenificar-se poético-ontológico do ser humano. Nesse sentido, qualquer determinação de gênero ou cultura identitária, para a ontologia do ser humano, é reducionista. A Cura que vigora em cada ser humano, sempre de uma maneira originária, não se reduz, seja ao feminino, seja ao masculino, seja a uma identidade cultural. O que está em jogo no operar de Cura' é sempre o destino de cada ser humano, que é o acontecer de seu próprio. E este é absolutamente original para cada um. Não dá para reduzi-lo a classificações. Na regência de Cura se decide o destino do que cada um deve e consegue realizar" (1).
- Referência bibliográfica:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 227.
4
- "Então vemos que o ser humano se compõe em torno de três questões essenciais: Cura, Céu e Terra. Porém, há uma quarta, e decisiva, que as reúne e gera a controvérsia: o dar nome. A disputa em torno do nome não quer dizer outra coisa senão que é na e com a linguagem que o ser humano chega a ser humano, marcando a sua diferença ontológica. Isso mostra o quanto é enganoso a redução da questão da linguagem a uma faculdade no homem: a discursiva, concebendo-a como mero instrumento comunicativo. Não há o ser humano dotado de algumas faculdades. Não. Ser humano é experienciar-se na linguagem, e como linguagem, pois é ela (e somente ela!) que reúne e compõe as demais questões. A própria Cura só acontece vigorando no poder da linguagem. Figurar o ser humano é dimensionar-se na e pela linguagem" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". -------. In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 230.
5
- Quando da necessidade de comer para viver faço comida, preparada e transformada a partir de uma arte culinária, transformo não só a necessidade em arte, mas faço da arte uma libertação que é a dimensão da experienciação frente a toda vivência. Necessidade de comer, minha e de todo ser vivo é vivência. Fazer dela uma arte culinária é experienciação, inerente ao ser humano. É a sua diferença ontológica.
6
- "O ser humano, o único que procura, vive e se experiencia em um dilema, em uma dobra constitutiva do entre. De um lado, é constituído pela Cura, que é seu destino histórico, de outro, ele não se manifesta nem advém à presença se não houver procura, onde a procura é “chocar” o que já é. Esse entre, essa dobra, se manifesta de muitas maneiras e sempre em uma radicalidade inaugural pela qual não cessa de mudar e de se tornar uma caminhada de realização" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 218.
7
- "Falamos porque falar nos é natural. Falar não provém de uma vontade especial. Costuma-se dizer que por natureza o homem possui linguagem. Guarda-se a concepção de que, à diferença da planta e do animal, o homem é o ser vivo dotado de linguagem. Essa definição não diz apenas que, dentre muitas outras faculdades, o homem também possui a de falar. Nela se diz que a linguagem é o que faculta ao homem ser o ser vivo que ele é enquanto homem. Enquanto aquele que fala, o homem é: homem. Essas palavras são de Wilhelm von Humboldt. Mas ainda resta pensar o que se chama assim: o homem" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin."A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 7.
8
- "Para Heidegger, até agora só se fez, através da história, uma metafísica do ente e nunca se falou do ser como fundamento do ente. É a famosa diferença ontológica, tanto focalizada por Heidegger em todos os seus escritos" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, Frei Cláudio, ofm. "Heidegger". ----. In: História da filosofia. Curso proferido em 1964, em Daltro Filho, hoje cidade de Imigrantes, RS. Depois foi sagrado Bispo e posteriormente, nomeado Cardeal. Já faleceu.
9
- "A pergunta revelou a diferença ontológica entre o ente e o ser: o ente “é”, está posto no ser e em virtude do ser, mas ele não é o ser mesmo, o ser-na-sua-totalidade. Ora, com esta diferença ontológica está posta igualmente a finitude do ente: a finitude do perguntador e do perguntado" (1).
- Referência:
- (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal. Já faleceu.