Obra

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "... não podemos confundir “obra” nem com [[suporte]] material, escrito ou oral, nem com o [[discurso]] entendido gramatical ou até ficcionalmente, e muito menos com [[objeto]] ou [[forma]] estética" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.
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Edição de 15h25min de 22 de Junho de 2018

1

A obra não é, opera, mas só opera enquanto é. Um tal operar no qual ela consiste se dá enquanto linguagem e verdade. Como a linguagem e a verdade não são, mas dão-se, uma tal doação nos advém como imagem-questão e sintaxe-questão ou poética. Quando digo que a obra não é, quero acentuar sua dimensão verbal. Nesse sentido, um tal verbal lhe advém do ser. Por isso, o que a phýsis destina à ação do homem para ser, não consiste num ente como, por exemplo, todo sendo-se dotado de um código genético. Mas este código genético não dá a substantividade objetual, mas a singularidade do sendo na dinâmica da ciranda. O encontro do ón seja como código genético, seja como obra/instrumento está no fato de o ser ser sempre verbal e fundar o hèn pánta. A instrumentalidade/intensidade objetual vem da obra e na dimensão da obra dentro da sintaxe-poética. Nesta, como ciranda, tudo se harmoniza na medida dos quatro.
No fundo, trata-se apenas de uma questão: sair do caráter substantivo/subjetivo a que a metafísica reduziu o ser e que a tradução latina só fez acentuar. Por isso, toda questão do enigma do ser não está no ser, mas no seu destinar-se no ser humano, daí a insistência da ligação de obra de arte ao ser humano não enquanto o ser humano a produz, mas enquanto um tal destino produz como cura o ser humano.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:

2

A palavra obra, do latim opus, operis, substantivo do verbo operari (operar), se diz em alemão Werk. "Operar", em alemão, wirken, pertence à raiz indo-européia uerg, de onde provém a palavra "obra", "Werk", e o grego ergon. Para ver o que é ergon para Aristóteles, confira essa palavra (1).


- Manuel Antônio de Castro


3

"Pode-se alegar que um texto não passa da realização de um discurso em uma ordem sintática coesa e coerente. Não basta coesão e coerência sintática, toda obra de arte vai além disso. Uma obra só é obra se, em sua constituição originária, opera. O operar de toda obra exige e solicita um diálogo, não qualquer diálogo, mas um diálogo poético. Neste somos provocados a nos deixarmos tomar pelo nada criativo a partir do qual toda obra de arte opera" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: ---------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 225.

4

"A moral tende ao estático e estabelecido, ao sistema auto-referenciado. É bem o contrário da ética, onde o essencial é o poético. Não há ético sem poético e não há poético sem ético. E é isso que desde sempre se denominou obra de arte, se pusermos em primeiro lugar o que a palavraobra” diz, aliás, o mesmo que poético no grego: o que age, o que faz acontecer, o que realiza, o que opera. É necessário pensar a essência do agir, horizonte onde nos aparece a condição humana" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O humano, o poético e a contracultura". In: www.travessiapoetica.Blogspot.com.

5

"... não podemos confundir “obra” nem com suporte material, escrito ou oral, nem com o discurso entendido gramatical ou até ficcionalmente, e muito menos com objeto ou forma estética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.

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língua como corpo vivo que é mundo é que denomino vocabulário. A grande diferença que aí acontece está em que mundo passa a ser o sentido do ser. Sentido se constitui então no sangue do corpo vivo, porque nele o ser acontece permanentemente. Surpreender numa obra o seu vocabulário não é uma tarefa gramatical, nem semântica, nem lexical, nem sintática. É poética, enquanto corpo vivo; mundo, enquanto sentido. Este não provém do vocabulário, mas do logon [ver logos] do ser, da voz do sagrado. Logon [ver logos] mais do que vocabulário é sentido".


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.


7

"O vigor permanente da obra (verdade) como figura (a disputa de delimitação e vazio/nada) está aí para ser manifestado, operado. Mas tem que ser uma operação que deixe a obra ser obra. A esta operação que não impõe uma perspectiva nem uma vontade subjetiva nem objetiva, é que Heidegger denomina Bewahrung. Nós escolhemos uma palavra portuguesa aproximada, pois toda tradução é sempre um aproximar: desvelo. Desvelo: grande cuidado, carinho, vigilância, dedicação sem impor, deixando ser, aguardar o que é próprio e persiste, resguardar o deixar acontecer. Nela ressoa o cuidado e doação amorosa como ocorre, por exemplo, no desvelo da mãe para com o filho, o que pressupõe também no leitor o desvelo para com o que na obra Se dá, presenteia (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.


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Ora, aí é que entra também o tempo da arte. Que tempo é esse? Confunde-se o tempo da arte com a arte dos tempos, onde a conjuntura e a época determinariam o sentido das obras de arte. Diga-se logo que não são as épocas e suas conjunturas que determinam a memória e a história, pois sem memóriaunidade e sentido das diferenças – não há nem época nem conjunturas enquanto sentido do acontecer do tempo, memória e história, enfim, obra de arte.


- Manuel Antônio de Castro


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"Operar, wirken (em alemão), pertence à raiz indo-europeia werg, de onde provem a palavra obra, "Werk", e o grego ergon. Mas nunca será demais repetir: o traço fundamental de operar, "wirken", e de obra, Werk, não reside no efficere e no effectus (palavras latinas: ser eficiente e efeito), mas em algo vir a des-encobrir-se e manter-se desencoberto" (1).


Referência:
( ) HEIDEGGER, Martin. “Ciência e pensamento do sentido”, Trad. Emmanuel Carneiro Leão: In: -----. Ensaios e conferências. Petrópolis R / J: Vozes, 2002, p. 43.


10

"A essência do ser humano é a sua referência ao ser. Daí não poder ficar determinada pelo instrumental ditado seja lá por qual sistema for. Nesse sentido de disciplina e sistema, a dança é o não-conhecimento porque é o não-sistema, porque é o livre dar-se e manifestar-se do que cada um já desde sempre é. Dança é sempre travessia, história, obra. E obra é o que opera. Opera o quê? A educação do humano pelo deixar vigorar o seu princípio constitutivo. Aqui está a questão. O princípio constitutivo do humano é o estético ou o poético? Dança não pode ficar reduzida a vivências estético-sentimentais, a um espetáculo para os olhos ou prazeres dos sentidos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.
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