Distância

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Jamais a [[proximidade]] será a [[realização]] de todas as [[possibilidades]]. Nunca haverá uma [[anulação]] da [[distância]] nem uma [[plenitude]] [[total]] na [[proximidade]], simplesmente porque é [[impossível]] tanto a [[distância]] [[total]] quanto a [[proximidade]] total" (1).  
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: Daí surge a [[angústia]] e a [[ansiedade]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 307.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 307.
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:Distância e [[proximidade]] se fundam no [[paradoxo]] do [[entre]]. É que toda [[diferença]] se dá num entre. Na [[relação]] do [[leitor]] com a [[obra]], essa [[proximidade]] e distância é [[concreta]]. Então devemos afirmar a distinção fundamental pela qual a primeira condição para haver o [[diálogo]] é que haja em primeiro lugar o [[autodiálogo]] e a [[autoescuta]]. Se ainda não sei o que sou, mas procuro, daí a proximidade, como saber o que sou e não sou em relação ao [[outro]]?, daí a distância. A condição para [[eu]] [[apreender]] e [[escutar]] o [[outro]] é [[eu]] me [[procurar]] e [[escutar]] continuamente, no estar sendo o que sou: [[proximidade]] e distância.
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: [[Distância]] e [[proximidade]] se fundam no [[paradoxo]] do [[entre]]. É que toda [[diferença]] se dá num [[entre]]. Na [[relação]] do [[leitor]] com a [[obra]], essa [[proximidade]] e [[distância]] é [[concreta]]. Então devemos afirmar a distinção [[fundamental]] pela qual a primeira condição para haver o [[diálogo]] é que haja em primeiro lugar o [[autodiálogo]] e a [[auto-escuta]]. Se ainda não sei o que [[sou]], mas procuro, daí a [[proximidade]], como [[saber]] o que [[sou]] e [[não sou]] em [[relação]] ao [[outro]]?, daí a [[distância]]. A condição para [[eu]] [[apreender]] e [[escutar]] o [[outro]] é [[eu]] me [[procurar]] e [[escutar]] continuamente, no [[estar]] [[sendo]] o que [[sou]]: [[proximidade]] e [[distância]].
: [[Manuel Antônio de Castro]]
: [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "O [[vigorar]] da inclusão é que faz a [[proximidade]] e [[distância]] tornarem-se sempre presentes no [[amar]] e não [[parecer]] no [[aparecer]]. É o [[dar-se]] da união amorosa. Só há [[aparência]] do [[aparecer]] quando há o [[esquecimento]] do [[sentido do ser]], porque o [[aparecer]] se move no plano dos [[entes]]. E estes nunca podem [[fundar]] [[ser]], porque só este é [[vigorar]], [[acontecer]]. [[Amar]] é [[acontecer]]" (1).
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: "O [[vigorar]] da inclusão é que faz a [[proximidade]] e [[distância]] tornarem-se sempre presentes no [[amar]] e não [[parecer]] no [[aparecer]]. É o dar-se da união amorosa. Só há [[aparência]] do [[aparecer]] quando há o [[esquecimento]] do [[sentido]] do [[ser]], porque o [[aparecer]] se move no plano dos [[entes]]. E estes nunca podem [[fundar]] [[ser]], porque só este é [[vigorar]], [[acontecer]]. [[Amar]] é [[acontecer]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 308.
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: "Não é possível haver [[medição]] sem dois pontos distantes entre si. Essa [[distância]] (''dia-stare'', o entre-estar) diz respeito à [[totalidade]] do [[Universo]], que é [[infinita]] e é inimaginável, segundo a Física Clássica. É o [[Todo]]. Já na [[Física Quântica]] a [[distância]] é a fronteira [[entre]] a [[extensão]] e o [[vazio]], isto é, o [[Nada]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 308.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 278.
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: "Com a [[linguagem]], dá-se algo muito estranho: ela faz lembrar o [[começo]] precisamente quando apresenta uma [[diferença]], um desdobramento do [[começo]]. A [[palavra]] só pode ser [[referência]] a uma [[coisa]] porque traz para a [[proximidade]] as [[coisas]], lembrando, ao mesmo tempo, que elas continuam sendo [[distantes]]. Como o [[dia]] não consegue apagar a [[noite]], a [[palavra]] e todo o seu [[mundo]] de aproximações não consegue apagar as [[distâncias]], os [[limites]] a partir dos quais ela se pronuncia. E é até por isso que toda [[palavra]] pede [[explicações]], de que nenhuma [[palavra]] consegue [[ser]] [[final]]. Uma [[palavra]] só poderia ser [[final]] se conseguisse apagar todo [[vestígio]] de [[distanciamento]], de [[limite]], de infinição. Uma [[palavra]] só poderia [[ser]] [[final]] se o [[dia]] fosse [[eterno]] e apagasse para [[sempre]] a [[noite]]" (1).
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: "Jamais a [[proximidade]] será a [[realização]] de todas as [[possibilidades]]. Nunca haverá uma anulação da [[distância]] nem uma [[plenitude]] total na [[proximidade]], simplesmente porque é impossível tanto a [[distância]] total quanto a [[proximidade]] total" (1).
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: (1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente?". In: '''O que nos faz pensar. Homenagem a Martin Heidegger'''. Rio de Janeiro: '''Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, nº 10, out. 1996, v. I''', p. 62.
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: Quem [[pergunta]] é porque já quer ([[saber]]) e este [[querer]] não nos vem de nossa [[vontade]], mas do [[ser]]/[[saber]] (em Parmênides: ''[[einai]]''/''[[noein]]'') que nos foi [[doado]] e o qual tendemos já desde [[sempre]] a [[realizar]] completamente, mas porque somos [[limitados]] nunca conseguimos de maneira completa, pois nele não mais poderia haver [[saber]] e [[não-saber]]. Daí surge a [[dialética]] enquanto [[procura]] incessante de [[proximidade]] e [[distância]], de [[completude]] e [[falta]], de [[sentido]] e [[não-sentido]], de [[verdade]] e [[não-verdade]], onde um tal ''não'' não indica [[falta]], mas o que já se tem e tem demais e nunca cabe em nossos [[limites]]. Por isso, dentro deles só fazemos nos entregar incessantemente à [[procura]] da [[plenitude]] para a qual tendemos por sermos e não-sermos, e jamais como uma [[decisão]] de nossa [[vontade]], que só aparentemente é que quer.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "[[Tristeza]] pertence à [[renúncia]], desde que tomemos a [[renúncia]] em seu peso mais [[próprio]]. Esse é o não recusar-se ao [[mistério]] da [[palavra]], [[mistério]] que é a [[condição]] das [[coisas]].
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: Sendo [[mistério]], é [[distante]]. Sendo [[experiência]] de [[mistério]], a [[distância]] é [[próxima]]. O [[suporte]] que sustenta [[distância]] e [[proximidade]] é o não recusar-se ao [[mistério]] da [[palavra]]. Para esse [[mistério]] não há [[palavras]], ou seja, não há um [[dizer]] capaz de trazer à [[linguagem]] a [[essência]] [[vigorosa]] da [[linguagem]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 307.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. '''A caminho da Linguagem'''. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 187.
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: " A [[questão]] da [[proximidade]] e da [[distância]] é o grande [[enigma]] da [[arte]], é o grande [[enigma]] da [[vida]].  Só o [[ser humano]] se sente [[próximo]] ou [[distante]].  Só o [[ser humano]] pode [[sentir]] [[solidão]] e se sente em [[solidão]] porque a [[distância]] é maior do que a [[proximidade]].  Seja como for, se não houvesse [[proximidade]] e [[distância]] não poderia haver [[solidão]].  E é pensando a [[proximidade]] e a [[distância]] que podemos [[pensar]] a [[verdade]] [[poética]] e a [[globalização]]" (1).
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: Referência:
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:"Com a [[linguagem]], dá-se algo muito estranho: ela faz lembrar o começo precisamente quando apresenta uma [[diferença]], um desdobramento do [[começo]]. A [[palavra]] só pode ser [[referência]] a uma [[coisa]] porque traz para a [[proximidade]] as [[coisas]], lembrando, ao mesmo tempo, que elas continuam sendo distantes. Como o [[dia]] não consegue apagar a [[noite]], a [[palavra]] e todo o seu [[mundo]] de aproximações não consegue apagar as [[distâncias]], os [[limites]] a partir dos quais ela se pronuncia. E é até por isso que toda [[palavra]] pede [[explicações]], de que nenhuma [[palavra]] consegue ser final. Uma [[palavra]] só poderia ser final se conseguisse apagar todo vestígio de distanciamento, de [[limite]], de infinição. Uma [[palavra]] só poderia ser final se o [[dia]] fosse eterno e apagasse para sempre a [[noite]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. In: ---. "Verdade poética e globalização". '''Ensaio''' não publicado.
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: "É [[possível]] ficar [[perto]] de quem está [[longe]], [[distância]] não é um [[conceito]] [[exato]]" (1).
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:(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente?". In: ''O que nos faz pensar. Homenagem a Martin Heidegger''. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, nº 10, out. 1996, v. I, p. 62.
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: (1) MEDEIROS, Martha. "Crônica": Filhos 'Estrangeiros'. In: Jornal '''O Globo''', Revista ''Ela'', p. 10, 5-2-2024.

Edição atual tal como 15h53min de 19 de Abril de 2024

Tabela de conteúdo

1

"Jamais a proximidade será a realização de todas as possibilidades. Nunca haverá uma anulação da distância nem uma plenitude total na proximidade, simplesmente porque é impossível tanto a distância total quanto a proximidade total" (1).
Daí surge a angústia e a ansiedade.


- Manuel Antônio de Castro.
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 307.

2

Distância e proximidade se fundam no paradoxo do entre. É que toda diferença se dá num entre. Na relação do leitor com a obra, essa proximidade e distância é concreta. Então devemos afirmar a distinção fundamental pela qual a primeira condição para haver o diálogo é que haja em primeiro lugar o autodiálogo e a auto-escuta. Se ainda não sei o que sou, mas procuro, daí a proximidade, como saber o que sou e não sou em relação ao outro?, daí a distância. A condição para eu apreender e escutar o outro é eu me procurar e escutar continuamente, no estar sendo o que sou: proximidade e distância.


Manuel Antônio de Castro

3

"O vigorar da inclusão é que faz a proximidade e distância tornarem-se sempre presentes no amar e não parecer no aparecer. É o dar-se da união amorosa. Só há aparência do aparecer quando há o esquecimento do sentido do ser, porque o aparecer se move no plano dos entes. E estes nunca podem fundar ser, porque só este é vigorar, acontecer. Amar é acontecer" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 308.

4

"Não é possível haver medição sem dois pontos distantes entre si. Essa distância (dia-stare, o entre-estar) diz respeito à totalidade do Universo, que é infinita e é inimaginável, segundo a Física Clássica. É o Todo. Já na Física Quântica a distância é a fronteira entre a extensão e o vazio, isto é, o Nada" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 278.

5

"Com a linguagem, dá-se algo muito estranho: ela faz lembrar o começo precisamente quando apresenta uma diferença, um desdobramento do começo. A palavra só pode ser referência a uma coisa porque traz para a proximidade as coisas, lembrando, ao mesmo tempo, que elas continuam sendo distantes. Como o dia não consegue apagar a noite, a palavra e todo o seu mundo de aproximações não consegue apagar as distâncias, os limites a partir dos quais ela se pronuncia. E é até por isso que toda palavra pede explicações, de que nenhuma palavra consegue ser final. Uma palavra só poderia ser final se conseguisse apagar todo vestígio de distanciamento, de limite, de infinição. Uma palavra só poderia ser final se o dia fosse eterno e apagasse para sempre a noite" (1).


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente?". In: O que nos faz pensar. Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, nº 10, out. 1996, v. I, p. 62.

6

Quem pergunta é porque já quer (saber) e este querer não nos vem de nossa vontade, mas do ser/saber (em Parmênides: einai/noein) que nos foi doado e o qual tendemos já desde sempre a realizar completamente, mas porque somos limitados nunca conseguimos de maneira completa, pois nele não mais poderia haver saber e não-saber. Daí surge a dialética enquanto procura incessante de proximidade e distância, de completude e falta, de sentido e não-sentido, de verdade e não-verdade, onde um tal não não indica falta, mas o que já se tem e tem demais e nunca cabe em nossos limites. Por isso, dentro deles só fazemos nos entregar incessantemente à procura da plenitude para a qual tendemos por sermos e não-sermos, e jamais como uma decisão de nossa vontade, que só aparentemente é que quer.


- Manuel Antônio de Castro.

7

"Tristeza pertence à renúncia, desde que tomemos a renúncia em seu peso mais próprio. Esse é o não recusar-se ao mistério da palavra, mistério que é a condição das coisas.
Sendo mistério, é distante. Sendo experiência de mistério, a distância é próxima. O suporte que sustenta distância e proximidade é o não recusar-se ao mistério da palavra. Para esse mistério não há palavras, ou seja, não há um dizer capaz de trazer à linguagem a essência vigorosa da linguagem" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 187.

8

" A questão da proximidade e da distância é o grande enigma da arte, é o grande enigma da vida. Só o ser humano se sente próximo ou distante. Só o ser humano pode sentir solidão e se sente em solidão porque a distância é maior do que a proximidade. Seja como for, se não houvesse proximidade e distância não poderia haver solidão. E é pensando a proximidade e a distância que podemos pensar a verdade poética e a globalização" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. In: ---. "Verdade poética e globalização". Ensaio não publicado.

9

possível ficar perto de quem está longe, distância não é um conceito exato" (1).


Referência:
(1) MEDEIROS, Martha. "Crônica": Filhos 'Estrangeiros'. In: Jornal O Globo, Revista Ela, p. 10, 5-2-2024.
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